CAPÍTULO 4
V.1 - De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos
prazeres que militam na vossa carne?
V.2 - Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar
e a fazer guerras. Nada tendes, porque não pedis;
V.3 - pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos
prazeres.
V.4 - Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus?
Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.
V.5 - Ou supondes que em vão afirma a Escritura: É com ciúme que por nós anseia
o Espírito, que ele fez habitar em nós?
V.6 - Antes, ele dá maior graça; pelo que diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá
graça aos humildes.
V.7 - Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.
V.8 - Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos,
pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração.
V.9 - Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa
alegria, em tristeza.
V.10 - Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará.
Com uma linguagem franca e severa, nos Vs. 1 e 2, a Bíblia faz mais uma afirmação que, de certo modo, nos surpreende. É o fato de que as guerras e contendas têm origem nos prazeres da carne, isto é, no gosto de fazer tudo para satisfazer os desejos humanos. São, portanto, mais um resultado da cobiça interior.
As fortes acusações contidas em todo este parágrafo, ao lado do ensino de como corrigir o mal, lembram a mensagem dos profetas do Velho Testamento. A correção proposta pela sabedoria de Deus é o arrependimento, a mudança de atitude do pecador, uma vez que não se pode conciliar a vontade da carne com a vontade de Deus, ou a amizade do mundo com a amizade de Deus.
A muitos leitores pode surgir a seguinte pergunta: por quê aparece este trecho na carta, com linguagem tão incisiva, tratando de problemas tão específicos? É verdade que alguns problemas como homicídios e guerras entre grupos cristãos não são frequentes. Mas, também, é verdade que, às vezes, eles aparecem, quando a vontade de Deus é posta de lado. Por esta razão, o ensino dirigido aos destinatários originais desta carta são sempre válidos.
Para esclarecer as possíveis condições que deram ensejo a estas advertências, transcrevemos em seguida a explicação do professor Taylor: “O partidarismo em Israel quase provocou a guerra civil da nação, o que se refletiu até na diáspora. Houve lutas partidárias e guerrilhas de facções e verdadeiras batalhas. Embora fossem guerras de palavras, o ódio, os ciúmes e a cobiça provocaram homicídios e combates entre facções rivais que se prolongaram numa luta que parecia não ter mais fim”. Assim, podemos compreender melhor a razão do tratamento deste assunto na carta.
Por meio das duas perguntas retóricas que se encontram no primeiro versículo, a Bíblia nos aponta as fontes das constantes disputas que existem, tanto entre os indivíduos em particular, como na sociedade, entre grupos. As fontes estão no interior de cada um. O que visam as pessoas que entram em guerras e em contendas, que só conseguem provocar divisões? A resposta está no final do V.3: a satisfação dos prazeres. Quando pessoas se empenham individualmente em satisfazer os seus desejos de prazer, ou quando pessoas se unem em grupos para esse mesmo fim, o resultado são as brigas, disputas, competições, querelas, batalhas e guerras.
As palavras originais que foram traduzidas por guerras e contendas (polemoi e machai, respectivamente) têm, ambas, particularmente, o mesmo significado de batalhas, conflito, querela ou contenda. É curioso observar que as disputas, contendas, guerras e batalhas não estão desvinculadas entre si. De pequenas lutas e contendas, aparecem grandes divisões e, até mesmo, guerras.
Os Vs. 2 e 3 mostram o resultado que alcançaram aqueles que procuram o prazer. Estes dois versículos afirmam que tudo se resume em frustações: um grande transtorno na vida espiritual, com os resultados mais negativos possíveis!
No V.18 do capitulo 3 aprendemos que o supremo desejo, na vida cristã é a paz. Mas, quando lemos os Vs, 2 e 3, que agora estudamos, percebemos que esse objetivo nunca poderá ser alcançado pelos caminhos da satisfação do prazer de cada um, mediante a aplicação da sabedoria do mundo, e a rejeição da vontade de Deus. Nesta passagem encontramos, no V.3, uma pequena explicação das cláusulas negativas do V.2.
Tiago está escrevendo para cristãos, muito embora eles estejam longe de serem centralizados em Deus. Por isso, o escritor faz mesão daqueles cuja vida está totalmente sob o controle dos prazeres, e não sob o controle da vontade de Deus. Pessoas que, embora tenham-se convertido, não permitem a atuação do Espírito Santo em suas vidas e não deixam que a Palavra seja implantada em seus corações. Tais são as pessoas que não resistem o forte desejo da carne, atuando sobre si (cf. Romanos 8:5-7). Esse é pendor da carne, um fator desintegram-te na vida do cristão, que tende a separá-lo de Deus e do seu propósito. Quando o homem se inclina para os desejos da carne, as suas orações não serão aquelas que Deus deseja ouvir e atender, porque os motivos pelas quais ele pede são cousas para a sua satisfação pessoal como: tempo, saúde, recursos financeiro, posição social, mas, com o fim de atender aos seus propósitos e, não, ao propósito de Deus que, em última análise, é a salvação da humanidade (Romanos 8:28-30).
Quando estamos sujeito à vontade de Deus, estamos integrados no Seu Eterno Propósito, e saberemos pedir para esse propósito. Então, Ele nos atenderá. Mas, do contrário, não! A Bíblia deixa bem claro quais são as pessoas que Deus está pronto para ouvir: Salmo 34:15; 145:18; Lucas 18:13-14; I João 5:14. Há muitas maneiras de pedir mal:
1 – Pedir sem fé (Hebreus 11:6; Tiago 1:6-8)
2 – Sem humildade e submissão (4:6b)
Há ocasiões de pedir e motivos para pedir:
1 – Uns pelos outros em todo o tempo, no Espírito (Efésios 6:18)
2 – Pelos pregadores, para que eles preguem a palavra, e levem o conhecimento do Evangelho (Efésios 6:19-20)
3 – Em todo lugar, sem ira e sem animosidade (I Timóteo 2:8)
4 – Para vários tipos de pessoas (I Timóteo 2:1-4)
Os Vs. 2 e 3 mostram que é necessário tanto pedir, como saber pedir.
Observação: no V.2, alguns entendem “matar”, não no sentido literal, mas no sentido de guardar ódio mortal contra outra pessoa (Mateus 5:21-22).
O V.4 deixa uma verdade muito clara: Quando um cristão ou mesmo uma igreja começa a esfriar, a perder sua fé, começa ao mesmo tempo enamorar-se das cousas do mundo. Muitas vezes, o início de uma vida cristã é marcado por demonstrações de amor tão forte do novo convertido para com Deus, que Ele é capaz de desfazer-se de qualquer compromisso com o mundo. Mas nem sempre isso continua assim. Bem-Aventurado o que permanece nesse caminho. Em Apocalipse 2:4-5, Jesus adverte a igreja de Éfeso a voltar ao seu primeiro amor (cf. Efésios 1:15). Jesus insistiu sobre o aspecto da fidelidade para com Deus, quando usou a figura do servo que serve a dois senhores (Mateus 6:24). Em João 15:19 notamos que os filhos de Deus e o mundo se incompatibilizam. É importante aplicar esta ideia para a igreja de hoje. Nunca, mais do que nos nossos dias, certas pessoas que se chamam cristãs foram mais influenciadas pelas cousas do mundo, sejam teólogos, pregadores, professores, sejam os outros membros das igrejas em geral. Devemos estar vigilantes, para não permitir que o Liberalismo Religioso e a Nova Moralidade penetrem em nossas igrejas.
Observação: mundo, no V.4, refere-se às coisas pecaminosas do mundo e às pessoas incrédulas. A amizade do mundo significa a escolha deliberada que certos cristãos de procedimento mundano fazem das oportunidades do mundo. Isto significa inimizade contra Deus.
O V.5 é o mais difícil de interpretar de toda a Epístola. Tiago faz uma afirmação baseada na Escritura, mas, ele não cita palavras de uma determinada passagem, e sim, um ensino extraído do Velho Testamento. Podemos entender que Deus tem ciúmes do seu povo e que, o Espírito Santo em nós anseia com esse mesmo zelo (Oséias 11:1-9; Zacarias 1:14; 2:1-12). Fazendo ligação do V.5 com o V.4, podemos entender que, se Deus dá o Seu Espírito a um filho, Ele sente-se enciumado, quando esse filho começa a voltar-se apara as cousas do mundo, quando o inimigo começa a interpor-se entre o filho e Ele.
Algumas passagens do Novo Testamento ajudam-nos a entender a atuação do Espírito nesse sentido:
a) - Onde abundou o pecado, superabundou a graça (Romanos 5:20)
b) - ... quem rejeita estas cousas não rejeita ao homem e sim a Deus, que também vos dá o Seu Espírito Santo (I Tessalonicenses 4:8). A ideia aqui é que Deus continua dando o Espírito Santo ao cristão, mesmo quando este O está rejeitando.
c) - ... o Espírito milita contra a carne... (Gálatas 5:17). Neste caso, alguns estudiosos entendem que se trata do próprio espírito do homem, numa luta travada no seu interior.
d) - ... zelo por vós com zelo de Deus (II Coríntios 11:2).
O trecho dos Vs. 6 a 10 faz entender como é que Deus, no Seu zelo e na Sua sabedoria, propõe ao homem que se afastou d’Ele, a reintegração no Seu divino propósito. É por meio da humildade e do arrependimento. De fato, quando o homem sente a necessidade da graça de Deus e pede com humildade que Ele lhe dê, certamente Deus o ouvira. Esta verdade é comprovada pessoalmente por todos nós cristãos. Pelo contrário, o soberbo não poderá alcançar a Sua misericórdia. Este princípio encontra-se em Provérbios 3:34 e é repetido mais uma vez no Novo Testamento em I Pedro 5:5. O soberbo considera-se superior aos outros homens. Diante de Deus ele não reconhece as suas necessidades, cultiva a própria independência e não reconhece o seu próprio pecado.
A citação do V.6, que mostra a diferença da atitude de Deus para com soberbos e humildes seve de oportunidade para advertir os leitores, no sentido de se humilharem diante de Deus, enfim, de mudarem a sua atitude para com Ele, como é explicado até o V.10.
Os Vs. 7 e 8 explicam-se do seguinte modo:
1 – Sujeitai-vos a Deus: submeter-se completamente à vontade de Deus, conforme é o desejo do Espírito Santo (Vs. 4-5).
2 – resisti ao diabo: enfrentar o diabo com destemor, até que ele se acovarde. A humildade, ou submissão a Deus implica em ferrenha oposição ao adversário. Portanto, a submissão cristã não é passiva. Ela leva a lutar contra o mal, especialmente quando este ameaça desviar o cristão do propósito de servir a Deus.
3 – Chegai-vos a Deus e Ele se achegará a vós outros: este é um dos aspectos da justiça de Deus, e pode ser observado na parábola do filho pródigo. Deus está pronto para receber o filho que volta para Ele. Mas, primeiramente é necessário que o filho volte. Deus quer os Seus filhos sempre ao seu lado (Salmos 73:27,28).
4 – Purificai as mãos: para aproximar-se de Deus é necessário purificar as mãos. De outro modo não é possível entrar no Seu Santuário (Salmo 15:1-5; 24:4). A ideia vem do cerimonial judaico (Êxodo 30:19-21; Levíticos 16:4). Em sentido espiritual, encontramos ainda esta ideia em Salmo 26:6; Isaías 1:16; I Timóteo 2:8. Em I Pedro 2:1 temos uma explicação do que significa “purificar-se”.
5 – vós que sois de animo dobre, limpai o coração: não pode haver hesitação, mas deve haver decisão firme, sem vacilação, pois só os limpos de coração verão a Deus (Mateus 5:8). A causa do animo dobre é o coração impuro. É necessário purificar o coração para corrigir o erro (cf. 3:11). Ânimo dobre é dupla disposição.
As exortações do V.9 estão bem ligadas com o sermão da montanha: “Bem-aventurados os que choram porque serão consolados” (Mateus 5:4; Lucas 6:20-26). Esta é uma exortação enérgica para que aqueles negligentes se arrependessem do modo por que vinham-se conduzindo. “Afligi-vos”, significa assumir uma posição sóbria, em contraste com o luxo, com o excesso de conforto que o mundo pode oferecer. É passar a ter uma vida modesta, ao invés de continuar a viver no luxo. “Lamentai, chorai, converta-se o vosso riso em pranto e a vossa alegria em tristeza”: isto deve acontecer como resultado de compreender a situação devedora, isto é, pecaminosa diante de Deus.
Assim, todas estas ideias estão concorrendo para despertar nos leitores o arrependimento, isto é, a mudança de atitude para com Deus.
O V.10 insiste, mais uma vez, na necessidade de submeter-se à vontade de Deus, repetindo a mesma exortação de Jesus, em Mateus 23:12 e 18:1-5.
V.11 - Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Aquele que fala mal do irmão ou
observador da lei, mas juiz.
V.12 - Um só é Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e fazer perecer; tu,
porém, quem és, que julgas o próximo?
Neste parágrafo, a Sabedoria de Deus mostra que não se deve falar mal, um do outro, não só por causa das consequências na comunidade em que ocorrem as contendas, mas também, por causa das consequências para aquele que as provoca. A expressão “falar mal” (katalalein), que aparece neste versículo, significa também “murmurar”, no sentido de criticar, caluniar ou difamar alguém na sua ausência, quando esse alguém nem tem oportunidade de defender-se das acusações. Trata-se de um pecado que a Bíblia condena severamente (Salmos 50:20-22; Salmos 101:5; Provérbios 6:16,19b; Romanos 1:28-32;).
Vistas estas passagens em que a maledicência é condenada, transcrevemos em seguida uma citação do professor Rudd a respeito desse vício: “Este péssimo costume de infamar-nos uns aos outros, por desgraça, existe e ainda não foi abandonado por completo no círculo dos religiosos, confissão que dá vergonha admitir, mas que se faz em virtude da própria verdade”.
Porque Deus condena tanto esta atitude entre os homens? Há, pelo menos, três razões evidentes nesta passagem:
1 – caluniar um irmão é fazer baixar o alto conceito em que os outro irmãos devem tê-lo. Isto é pecar contra o amor fraternal, é, portanto, desobediência ao mais elevado e fundamental preceito da lei de Deus: “...que vos ameis uns aos outros” (João 13:34-35), “amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Levítico 19:18; Tiago 2:8). Dentro da igreja é necessário que um irmão tenha o outro em grande consideração, não só pelo mandamento do amor fraternal, mas por causa do nome de Cristo, que nos acolhe igualmente a todos e nos coloca ao seu lado, no reino espiritual (Mateus 18:5; Efésios 2:5-6).
2 – Quem fala mal de outro irmão está julgando-o, colocando-se acima da Lei para fazer valer a sua própria opinião. Com isto ele está julgando a própria Lei. Neste caso ele não lhe esta obedecendo, antes está atuando como juiz.
3 – Quem fala mal do seu irmão está pronunciando condenação sobre ele. Neste caso, está colocando-se na posição de juiz, como Deus. Mas que qualidades tem o homem para pretender tal posição. É só o Senhor que tem poder para salvar ou fazer perecer qualquer pessoa (Mateus 10:28; Deuteronômio 32:39; I Samuel 2:6; II Reis 5:7; Salmos 68:1).
É de todo conveniente para qualquer cristão guardar bem vivos na memória estas advertências contra a maledicência. Isto, por causa da responsabilidade que a negligência faz assumir, vista a facilidade com que qualquer pessoa pouco experiente na vida cristã pode, de uma hora para outra, incorrer nestas condenações. Para conclusão destes dois versículos, leia-se o que Jesus ensinou sobre o julgamento de um irmão para com o outro, em Mateus 7:1-5.
V.13 - Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e
lá passaremos um ano, e negociaremos, e teremos lucros.
V.14 - Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas,
como neblina que aparece por instante e logo se dissipa.
V.15 - Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como
também faremos isto ou aquilo.
V.16 - Agora, entretanto, vos jactais das vossas arrogantes pretensões. Toda
jactância semelhante a essa é maligna.
V.17 - Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está
pecando.
Pelo teor desta carta em geral e especialmente pelas advertências mais severas do Capítulo 4, podemos imaginar que tipo de vida e que maneira de pensar tinham certos leitores a que ela se destinava. Muitos deles usavam a sabedoria terrena. Orgulho e soberba eram as suas principais características. Não conheciam necessidade diante de Deus, não consideravam seus defeitos e, tão pouco, se submetiam à vontade do Senhor, procurando alimentar uma independência injustificada (V.16). Com essa mentalidade, evidentemente não podiam considerar o propósito de Deus para as suas vidas, e nem procurar encaixar as suas vidas dentro do propósito de Deus.
“Os judeus da dispersão, desde o princípio, haviam abandonado a agricultura, visto que se congregavam principalmente nas cidades. Era o comércio que mais lhes interessava. O Egito era o principal centro de atração e muitos judeus ricos faziam parte da numerosa população israelita de Alexandria. Filo escreve de judeus que eram donos de navios e negociantes nesta cidade. Quando tais judeus abraçaram o cristianismo, certamente não havia motivo de abandonar sua carreira... Esta sessão visava mais aos judeus comuns, do que os judeus cristãos” (cf. Expositor’s greek testament).
O V.13 explica bem o seu modo de fazer planos, isto é, seu modo de pensar para agir. O V.15 completa a ideia de que seus objetivos eram egoísticos, sem levar em consideração quais iniciativas deviam tomar, para que as suas atividades fossem compatíveis com a vontade de Deus. Neste verso, obviamente, a expressão “se Deus quiser” não propõe um ditado de origem supersticiosa. Qualquer cristão submisso à vontade de Deus sabe que não deve fazer nada que contrarie o Seu plano, seja na vida social, fora ou dentro da igreja, seja na sua vida particular mais intima.
O V.14 mostra a razão de termos que deixar o controle das nossas vidas nas mãos de Deus, ao invés de tomarmos, nós mesmos, a iniciativa da nossa orientação. A razão é simplesmente que não podemos, nem se quer, imaginar a respeito do nosso futuro, como também não temos nenhum meio de determinar a nossa existência. Para estas finalidades, não contamos com recursos, de maneira absoluta. Além disso, considerando o curto espaço de tempo que ocupamos na incessante sucessão de gerações, vemos que não nos cabe definir o rumo das nossas ações. Somos como neblina que aparece e logo desaparece.
Observação: Deixar o controle da vida nas mãos de Deus significa deixar-se controlar por Sua vontade, revelada na Palavra. Não significa, portanto, deixar-se ao acaso e esperar a iniciativa divina para ser acionado por Ele, mas buscar a orientação do Evangelho, para controlar as nossas próprias ações.
A conclusão do V.17 é muito correta. Depois de conhecer a vontade de Deus, depois de saber como devemos agir ou o que devemos fazer, não podemos deixar de lado a vontade de Deus, para agir de outro modo. Quem deixa de fazer como deve está pecando. Este versículo encerra todo o conteúdo da carta, de maneira lógica e concludente. Nele está resumida toda a verdade a respeito da sabedoria aplicada à vida cristã.
APÉNDICE AO CAPÍTULO 4
Qual é o propósito de Deus do qual vimos falando?
1 – Ler Romanos 8:28-30; Efésios 1:3-14.
a) – É de redenção de uma comunidade formada em torno de Cristo
É a glorificação dessa comunidade, chamada igreja (Mateus 16:18),
descrita com o restritivo “de Cristo”, porque é propriedade d’Ele (Atos
20:28) e tem origem n’Ele.
a.1- Deus a conheceu de antemão e ela é prevista por Ele, desde antes da
fundação do mundo (Romanos 8:28-30; Efésios 1:4).
a.2- Ela é predestinada para Ele, em amor (não em guerras e contendas,
inveja, orgulho, soberba etc. (Efésios 1:5). Essa predestinação é por
meio de Cristo, não de Buda, não de Calvino nem de Lutero, John
Wesley ,o Papa ou outro homem qualquer.
a.3- A predestinação é no sentido de sermos à semelhança de Cristo, o
irmão mais velho e em amor(Efésios 1:4b-5). Esse amor não nasce da
bondade do homem, mas é derramado no coração pelo Espírito Santo
(Romanos 5:5). É o Espírito Santo que trabalha com esse amor, para
que nos transformemos na imagem de Cristo, o primogênito entre
muitos irmãos (Romanos 8:29).
b) – Deus faz concorrer todas as cousas para o bem daqueles que o amam e são
chamados segundo o Seu propósito (Romanos 8:28).
c) – Nesse propósito o Espírito Santo trabalha a nosso favor, assistindo-nos,
porque somos fracos (Romanos 8:26).
2 – Nesse propósito de redenção tudo está previsto por Deus, isto é, Ele já tem
conhecimento de tudo, desde antes da fundação do mundo (I Pedro 1:18-21).
3 – O papel da igreja é tornar conhecido o propósito de Deus (Efésios 3:10-11),
distribuindo o amor e o Espírito Santo que Deus lhe outorgou juntamente com
a Palavra do Evangelho. Por isso não nos cansemos de fazer o bem, porque
todos os nossos trabalhos, grandes ou pequenos, toda a nossa cooperação com
o Evangelho e todas as nossas orações atendidas por Deus fazem parte do Seu
Eterno Propósito, e Ele já as conhece desde antes da fundação do mundo.