quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

JESUS DEIXA A JUDÉIA

                                               JESUS DEIXA A JUDÉIA
                                                         JOÃO 4:1-3

V.1 – Quando, pois, o Senhor veio a saber, que os fariseus tinham ouvido dizer
          que ele, Jesus, fazia e batizava mais discípulos que João
V.2 – (se bem que Jesus mesmo não batizava, e, sim, os seus discípulos),
V.3 – Deixou a Judéia, retirando-se outra vez para a Galiléia
 Os outros três Evangelhos confirmam que a decisão de Jesus voltar para a Galiléia ocorreu quando João Batista foi preso (Mateus 4:12; Marcos 1:14; 6:17; Lucas 3:19-20). O Seu ministério na Judéia transcorreu paralelamente ao de João Batista, no mesmo esquema de pregação de batismo de arrependimento. Mas o fato de Jesus ter maior sucesso do que João chamou a atenção dos Fariseus. Para evitar perseguição, o Mestre retirou-se para a Galiléia, território que não estava sob jurisdição daqueles perseguidores. Não se trata, aqui, de uma fuga, mas de uma retirada estratégica porque Ele ainda devia exercer o seu Ministério por mais de dois anos. Aqui termina o Seu Ministério da Judéia. Nesse período Ele fez muitos discípulos mas deixava os batismos a cargo dos que o acompanhavam. Jesus agia, assim, com muita prudência. Se Ele tivesse batizado alguém, esse alguém poderia considerar-se pessoa especial e com isto poderia assumir o controle da igreja como se fosse o seu próprio dono. Convém lembrar o que diz o apóstolo João em 2:25 : “E não precisava que alguém lhe desse testemunho a respeito do homem, porque ele mesmo sabia o que era a natureza humana”.

A PASSAGEM POR SAMARIA

                                           A PASSAGEM POR SAMARIA
                                                        JOÃO 4:4-42

V.4 – E era-lhe necessário atravessar a província de Samaria

Para chegar à Galiléia, Jesus escolheu o caminho que passava por Samaria. Esta era uma província localizada entre a Galiléia, ao norte, e a Judéia ao sul.  Não era essa a única rota que ligava aquelas duas regiões, mas Ele decidiu atravessar o território de Samaria e logo nós veremos por quê.
Os Judeus evitavam usar aquele roteiro devido a uma inimizade que vinha de séculos com os samaritanos. Tudo começou em 722 A.C., quando o rei    Sargão II da Assíria conquistou Samaria e, para evitar levantes nacionalistas posteriores, desterrou quase toda a população daquela província, levando-a para cativeiro na Média e na Mesopotâmia, de onde eles nunca mais voltaram. Em seguida ele colocou na terra outros cativos de outros países, de modo que, com o passar do tempo, Samaria tornou-se território ocupado por um povo de raça indefinida, formada pelos israelitas remanescentes e pelos estrangeiros que ali foram introduzidos. Era um povo diferente, que os judeus nunca reconheceram como irmãos. Este povo criou um culto próprio, muito influenciado pelas religiões pagãs que os estrangeiros trouxeram consigo ( 2º Reis 17:24-41 ). Isto era inaceitável aos judeus que continuavam observando a Lei de Moisés.
Quando Zorobabel voltou do cativeiro da Babilônia e iniciou a reconstrução do Templo destruído por Nabucodonosor, os samaritanos ofereceram ajuda para a obra mas foram recusados porque eles nada tinham a ver com aquele trabalho que devia ser feito pelos próprios judeus. Quando Neemias veio também da Babilônia para restaurar os muros de Jerusalém, ele impediu o casamento misto de judeus com estrangeiros. A situação ficou mais tensa quando um neto do sumo-sacerdote Eliasibe foi afugentado  por Neemias porque estava casado com a filha de Sambalá, um samaritano que fazia grande oposição à restauração de Jerusalém. Fontes extra-bíblicas informam que um homem judeu desnaturado chamado Manassés liderou a construção de um templo para fazer concorrência com o Templo de Jerusalém. Aquele templo situava-se no monte Jeresim a que se refere a mulher samaritana em João 4:20. Mas ele foi destruído em 128 A.C., no período dos Macabeus, por João Hircano.
Estes fatos históricos mostram uma barreira quase intransponível para qualquer aproximação imaginável entre um judeu e um samaritano.

 V.5 – Chegou pois, a uma cidade samaritana chamada Sicar, perto das terras
           Que Jacó dera a seu filho José.
V.6 – Estava ali a fonte de Jacó. Cansado da viagem, assentara-se Jesus junto         
           à fonte, por volta da hora sexta.

Nestes versos temos uma impressionante descrição que o apóstolo João faz de Jesus junto ao poço de Jacó. Ele O descreve com poucas e simples palavras, como um verdadeiro ser humano, cansado da caminhada e assentado sobre uma pedra. É um quadro verdadeiramente belo e singular, em que podemos perceber a natureza humana d’Aquele que desceu das alturas para salvar seres humanos de natureza tão diversa da Sua natureza divina.

 V.7 – Nisto veio uma mulher samaritana para tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá- me de beber.
V.8 – Pois seus discípulos tinham ido à cidade para comprar alimentos.
V.9 – Então lhe disse a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, pedes de
          beber a mim que sou mulher samaritana (porque os judeus não se dão
          comos samaritanos).
V.10-Replicou-lhe Jesus: Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te
         pede:Dá-me de beber, tu lhe pedirias e ele te daria água viva.
V.11-Respondeu-lhe ela: Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é
         fundo;onde, pois, tens a água viva?
V.12- És tu, porventura, maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, do
          qual ele mesmo bebeu e, bem assim, seus filhos e seu gado?
V.13- Afirmou-lhe Jesus: Quem beber dessa água tornará a ter sede;
V.14- Aquele, porém, que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede,
           para sempre; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para 
            a  vida eterna.
V.15- Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água para que eu não mais               
           tenha sede, nem precise vir aqui buscá-la.
V.16- Acudiu-lhe Jesus: Vai, chama teu marido e vem cá;
V.17- ao que lhe respondeu a mulher: Não tenho marido. Replicou-lhe Jesus:
          Bem disseste, não tenho marido;
V.18- porque cinco maridos já tivestes, e esse que agora tens não é teu                    
          marido; isto disseste com verdade.
 Jesus tinha que resolver uma série de problemas para ter um relacionamento bem sucedido com aquela mulher samaritana.
1°) Havia o problema racial: Os judeus podiam mostrar certa tolerância em relação a qualquer outra raça, menos em relação aos samaritanos, para os quais eles eram extremamente arrogantes. Eles ficavam furiosos ao ouvi-los falar, com orgulho, que eram descendentes dos patriarcas judeus, como por exemplo, de Jacó.
2°) Havia o problema sócio-cultural: Um homem conversar prolongadamente com uma mulher, fora de casa, seja na rua ou em qualquer lugar público, até mesmo com a própria esposa, era algo que causava espanto e indignação para um judeu. Eles consideravam isso uma falta de estudo e de respeito à Lei, motivo de maldição e até de condenação ao inferno. Imaginem Jesus dialogando com uma mulher num lugar esquisito, numa hora imprópria para elas andarem na rua, ainda mais se ela tivesse um passado duvidoso. Por outro lado, ela tinha até razão de recusar-se a dar atenção a qualquer homem, porque pelo menos cinco já a haviam desprezado, como quem descarta algo sem valor.
3°) Havia o problema religioso: Era a rivalidade que se estabeleceu entre o Monte Jeresim, ao lado do Monte Ebal, perto de Siquém, e o Monte Sião em Jerusalém. Isto, porque a Lei determinou a construção de um santuário no Monte Ebal para sacrifícios e ofertas pacíficas, onde também devia estar escrita em pedras uma cópia da lei, o que Josué cumpriu (Deuteronômio 27:4-8; Josué 8:30-32). Os samaritanos sentiam-se magoados porque, mais tarde, o culto ficou centralizado em Jerusalém.
Com muita sabedoria, assim como Jesus escolheu o caminho passando por Samaria, Ele escolheu também o tema da água para iniciar o diálogo com aquela mulher samaritana. A água, elemento tão importante para a sobrevivência do homem sobre a face da Terra, era essencial especialmente para os povos da Palestina, devido a escassez deste produto em muitas partes daquela região. Neste sentido não há termo de comparação com a abundância da qual dispomos na maior parte das Américas e da Europa nos dias de hoje. A história bíblica comprova isto. Muitos reis tiveram que construir aquedutos para satisfazer às necessidades das populações. Em Jerusalém, por exemplo, eram famosos, entre outros, os tanques de betesda (João 5:2) e de Siloé (João 9:7). Os próprios patriarcas de Israel tiveram que furar poços para abastecer suas famílias e seu gado (Gênesis 21:25,30; Gênesis 26:15,18-21,32; Números 21:16-18).
Mas a água era também utilizada na linguagem bíblica para figurar aquilo que podia satisfazer às necessidades espirituais (Salmo 42:1-2; Isaías 44:3; Jeremias 2:13; Ezequiel 47:1-12; Joel 3:18; Zacarias 13:1; 14:8).
O pedido de Jesus: “dá-me de beber” causou espanto à samaritana. Era como se ela tivesse sido agredida por um estranho judeu que se infiltrasse no seu ambiente. Jesus, apesar de cansado e sedento, não recebeu da mulher uma resposta positiva de solidariedade. Até porque, ela mesma não imaginava que um judeu estivesse disposto a contaminar-se, usando uma vasilha de um samaritano para comer ou beber qualquer cousa. Mas Jesus reverteu a situação dirigindo a conversa para um nível superior, dizendo que, se ela soubesse o que Deus tem para oferecer e quem era Ele, ela é quem pediria e Ele lhe daria água viva.
Ora, Jesus não tinha com que tirar água porque certamente os seus discípulos tinham levado para a cidade o equipamento necessário para isso. E, mesmo que tivesse, como poderia Ele encontrar ali água viva (água corrente)? Esta oferta de Jesus soou para ela como uma brincadeira. Esta é a razão dela replicar que Ele não tinha nem com que tirar a água e nem havia ali água viva. Também, Ele não era maior do que o patriarca Jacó que havia cavado aquele poço  que ficou para os samaritanos.
A próxima afirmação de Jesus nos versos 13 e 14 sobre a Sua água que mata a sede para sempre e se torna uma fonte a jorrar para a vida eterna deixou-a ainda mais intrigada, e ela respondeu frivolamente, pedindo com ironia: então me dê dessa água para eu não ter mais sede e nem ter mais o trabalho de vir sempre aqui para buscá-la.
 Jesus que conhece a natureza humana e sabe o quê se passa dentro de cada um (João 2:25), sabia qual era a palavra necessária para despertá-la para a vida espiritual. Por isso Ele a impactou com essa ordem: “Vai, chama o teu marido e vem cá’’. A sua resposta foi pela metade: “ Não tenho marido”. Jesus concordou com ela. Talvez ela estivesse constrangida. Por isso Ele acrescentou: “cinco maridos já tiveste; e esse que agora tens não é teu marido, isto disseste com verdade”.

V.19 – Senhor, disse-lhe a mulher: Vejo que tu és profeta.
V.20 – Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em
            Jerusalém é o lugar onde se deve adorar.
V.21 – Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me, que a hora vem, quando nem
            neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai.
V.22 – Vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos,
             porque a salvação vem dos judeus.
V.23 – Mas vem a hora e já chegou, quando os verdadeiros adoradores                       
             adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura 
             para seus adoradores.
V.24 – Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em                     
             espírito e em verdade.
V.25 – Eu sei, respondeu a mulher, que há de vir o Messias, chamado Cristo;
             quando ele vier nos anunciará todas as cousas.
V.26 – Disse-lhe Jesus: Eu o sou, eu que falo contigo.
V.27 - Neste ponto chegaram os seus discípulos e se admiraram de que                    
             estivesse falando com uma mulher; todavia nenhum lhe disse: Que perguntas? 
           Ou: Porque  falas com ela?
V.28 – Quanto à mulher, deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles
             homens:
V.29 – Vinde comigo, e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito.
            Será este, porventura, o Cristo?!
V.30 – Saíram, pois, da cidade e vieram ter com ele.

 Nesse momento ela reconheceu que Jesus não era uma pessoa comum e sim, um profeta.
O comentário de Jesus a respeito da sua situação conjugal levantou nela um problema de consciência para com Deus, que ela não sabia como resolver, mas também não tocou diretamente no assunto. Antes, ela fez uma pergunta evasiva, conforme o versículo 20, questionando qual seria o lugar certo para adorar: O Monte Geresim ou Jerusalém? Na realidade, ela estava interessada em ter um encontro com Deus, e pensava em obter o perdão através da experiência da sincera adoração.
Nos versos de 21 a 26, Jesus atende ao anseio daquela mulher, mostrando como ela iria encontrar-se com Deus. Ele lhe explicou que a verdadeira adoração não depende mais do local, mas agora chegou a hora de adorá-lo em espírito e em verdade. Explicou-lhe também que ela encontrou o que ela procurava e Deus também estava procurando-a por meio d’Ele, porque Ele mesmo era o Messias que ela esperava.
Enquanto a samaritana se apegava ao tipo de adoração praticada no passado, segundo as tradições dos samaritanos e dos judeus, Jesus aponta para o futuro dizendo que os verdadeiros adoradores adorarão a Deus em espírito e em verdade. São estes que o Pai está procurando. Isto já era previsto pelos profetas (Sofonias 2:11; Malaquias 1:11). Jesus lhe esclareceu que os judeus ocupavam um lugar especial no plano de salvação de Deus, porque foi a eles que Deus se revelou. E a religião deturpada dos samaritanos significava falta de conhecimento, porque a salvação vem dos judeus. Ele mesmo como o Judeu, o Messias que ali estava, era a própria salvação que vinha ao encontro dela.
A adoração em espírito e em verdade é aquela que rendemos a Deus pela fé em Cristo, como afirma I Pedro 2:4-5: “Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo”.
A adoração dos novos tempos, isto é, do Novo Testamento, é em Espírito porque não está baseada em rituais, chamados de ordenanças carnais em Hebreus 8:10, porque eram oferenda de comidas, bebidas e abluções (lavagens rituais). Além disso, elas eram vistas por olhos humanos (olhos da carne),e deveriam cessar em tempo oportuno de reforma (Hebreus 9:9-10).Também Hebreus 10:1-2 afirma que aqueles sacrifícios ordenados pela Lei eram apenas uma representação provisória da realidade futura que seria trazida por Cristo. Hebreus 10:8-10 afirma: “Depois de dizer, como acima: Sacrifícios e ofertas não quiseste, nem holocaustos e oblações pelo pecado, nem com isto te deleitaste (cousas que se oferecem segundo a Lei), então acrescentou: Eis aqui estou para fazer, Ó Deus, a tua vontade. Remove o primeiro para estabelecer o segundo. Nesta vontade é que temos sidos santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas”.
A maneira como João descreve a chegada dos discípulos, nos versos 27 a 30, em meio à conversa de Jesus com a samaritana, dá a entender que eles ficaram, ao mesmo tempo assustados e sem jeito de lhe perguntarem qualquer coisa, pois eles O respeitavam muito. Quem eram eles para questionar o Seu procedimento? Jesus estava quebrando barreiras e destruindo preconceitos que os discípulos ainda conservavam dentro de si.
A experiência daquela mulher com Cristo foi tão profunda que ela se viu na contingência de ir correndo para a cidade e anunciar aos homens o que havia acontecido, para trazê-los à presença de Jesus. A sua alegria foi tão grande que ela não mais pensava na água daquele poço e até mesmo esqueceu ali o seu cântaro.
Resumindo:
Jesus fez que ela refletisse a respeito de si mesma.
Ele demonstrou Sua capacidade incrível de perscrutar o íntimo dos corações.
Ele despertou nela o desejo de falar da Sua Pessoa tão maravilhosa.
Ele a libertou do preconceito que a impedia de comunicar-se abertamente com os homens e que a fazia andar envergonhada e afastada do convívio social, preferindo estar em lugares distantes como era aquele poço.
Enfim, Ele a transformou na primeira missionária voluntária registrada nos Evangelhos.
O resultado imediato daquele encontro foi que muitos cidadãos de Sicar vieram ao encontro de Jesus.

V.31 – Nesse ínterim, os discípulos lhe rogavam, dizendo: Mestre, come.
V.32 – Mas lhes disse: Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis.
V.33 – Diziam então os discípulos uns aos outros: Ter-lhe-ia, porventura,
           alguém trazido o que comer?
V.34 – Disse-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele
          que me enviou, e realizar a sua obra.
V.35 – Não dizeis vós que ainda há quatro meses até a ceifa? Eu, porém, vos
            digo: Erguei os vossos olhos e vede os campos pois já branquejam para
            a ceifa.
V.36 – O ceifeiro recebe desde já a recompensa e entesoura o seu fruto para
            vida eterna; e, dessarte se alegram, tanto o semeador como o ceifeiro.
V.37 – Pois no caso é verdadeiro o ditado: Um é o semeador, e outro é o
           ceifeiro.
V.38 – Eu vos enviei para ceifar o que não semeastes; outros trabalharam, e             
             vós entrastes no seu trabalho.
 Apesar da insistência dos discípulos para que o Mestre comesse alguma cousa, o Seu entusiasmo por fazer a vontade de Deus e realizar a obra do Pai que O havia enviado, superava o Seu desejo de satisfazer a necessidade de comer e beber. Esta era uma disposição que os discípulos ainda não tinham alcançado. Por isso Ele lhes disse: “Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis”. Do mesmo modo que Nicodemos e a samaritana não entendiam a linguagem espiritual que Jesus usava, o mesmo aconteceu com os discípulos aqui. Por isso eles disseram entre si: “Ter-lhe-ia porventura alguém trazido de comer”?
É interessante observar que João registra no seu Evangelho dez passagens em que Jesus afirma que foi enviado por Deus para fazer a vontade do Pai e realizar a Sua obra. O verbo “enviar”, traduzido de duas formas do Grego(pempein  e  apostellein) comparece 44 vezes no Evangelho de João. Isto confirma a Sua missão conforme Marcos 1:38 em que Jesus diz: “Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, afim de que eu pregue também ali, pois para isso é que eu vim”.
O resultado desse encontro de Jesus com a samaritana foi tão imediato e surpreendente que Ele o comparou com uma colheita farta e antecipada conforme versículos 35-38. Estas palavras parecem não ter nada a ver com o assunto, mas tem tudo a ver com o que se passou. Trata-se de linguagem figurada constituída por metáforas e parábolas que ilustram maravilhosamente o trabalho missionário dentro do reino de Deus.
Quando a mulher samaritana foi apressadamente para a cidade, ela voltou com uma multidão de cidadãos daquela aldeia que vieram vestidos de branco, para dar boas vindas ao Messias. Era a este quadro que Jesus se referia quando disse aos discípulos que erguessem os olhos para verem que havia muitas almas para serem colhidas. Ele não se referia aos campos de trigo que ficavam amarelados no tempo da colheita e nem tão pouco ao tempo da colheita que ainda ia demorar. Aqueles cidadãos é que estavam prontos para serem colhidos e não era necessário esperar um período entre a semeadura e a colheita, como acontece na agricultura. Aqui, o plantio e a colheita estão acontecendo ao mesmo tempo. O que ceifa recebe imediatamente a sua recompensa, isto é, o fruto do seu trabalho. Esse fruto são as almas que Ele salva, as quais constituem um tesouro para Deus. “Um é o semeador”, que significa: Jesus semeou ali; a samaritana ajudou a semear; João Batista veio antes, preparando a vinda de Jesus; os profetas do Velho Testamento também trabalharam, todos semeando a Palavra de Deus. “Outro é o que ceifa”, significa os que completam a obra de Deus e de Cristo, efetuando a colheita. Mas todos se alegram com os resultados obtidos. No reino de Deus acontece que uns vêm na frente, dando início, e outros vêm depois aperfeiçoando a obra ou completando-a  (Hebreus 11:39-40).
Este, pois, é o significado desta maravilhosa parábola encenada, que só o Mestre poderia ter criado.

V.39 – Muitos samaritanos daquela cidade creram nele, em virtude do
            testemunho da mulher, que anunciara: Ele me disse tudo quanto
            tenho feito.
V.40 – Vindo, pois, os samaritanos ter com Jesus, pediam-lhe que
            permanecesse com eles; e ficou ali dois dias.
V.41 – Muitos outros creram nele, por causa da sua palavra,
V.42 – e diziam à mulher: Já agora não é pelo que disseste que nós cremos;
            mas porque nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é
            verdadeiramente o Salvador do mundo.
 O testemunho da samaritana diante dos homens de Sicar foi simplesmente este: “Ele me disse tudo quanto tenho feito”. Certamente eles conheciam toda a vida dela. Por isso não podiam duvidar que aquele homem vinha de Deus, pois ela falava de maneira tão corajosa e convincente. O efeito desse testemunho foi decisivo e eles resolveram ir ter com Jesus e lhe pediram que ficasse com eles na cidade. Ele acedeu ao convite e permaneceu lá dois dias. O que Jesus falou, o que Ele ensinou naqueles dias nós não sabemos, porque a Bíblia não nos diz. Entretanto podemos imaginar o que significa estar dois dias pessoalmente na presença do Filho de Deus.
Eles devem ter ficado maravilhados e muitos outros vieram a crer n’Ele. E não somente isso, mas além do testemunho da mulher, a fé deles foi consolidada pelo que eles ouviram de Jesus. Isto levou-os à convicção de quem era aquele homem. Assim puderam afirmar: “Já, agora…sabemos que este é  verdadeiramente o Salvador do mundo”.
Em todos os fatos relatados até aqui neste Evangelho, devemos notar o carinho com que o apóstolo João fala de Jesus e o seu desejo de exaltar a Sua pessoa. Em nenhum outro Evangelho Jesus é descrito com esta expressão “Salvador do mundo”. Entretanto, passados mais de 60 anos o apóstolo volta a usar estas mesmas palavras no verso 14 do capítulo 4 da sua primeira carta.

JESUS VOLTA PARA NAZARÉ DA GALILÉIA

JESUS VOLTA PARA NAZARÉ DA GALILÉIA
 JOÃO 4:43-45

V.43 – Passado dois dias, partiu dali para a Galiléia.
V.44 – Porque o mesmo Jesus testemunhou que um profeta não tem honras na
            sua própria terra.
V.45 – Assim, quando chegou à Galiléia, os galileus o receberam porque viram
            todas as cousas que ele fizera em Jerusalém, por ocasião da festa, à
            qual eles também tinham comparecido.

Depois de dois dias que permaneceu entre os samaritanos, Jesus partiu para a Galiléia, onde foi bem recebido pelo povo que tinha visto o que Ele fizera em Jerusalém, durante a festa da Páscoa. Isto contribuiu para que Ele se animasse e alcançasse bom desempenho, contando com o favor do povo na próxima etapa do Seu trabalho, o chamado “Ano do Favor e Público”, que foi a primeira parte do Seu grande Ministério da Galiléia.
O verso 44 traz uma informação que parece não caber no contexto. É que Jesus testemunhou dizendo que “um profeto não tem honras na sua própria terra”. Se analisarmos bem esta afirmação, veremos que Ele não foi muito bem recebido na Judéia. Sua atuação na purificação do Templo foi questionada (João 2:20 ). O próprio Nicodemos no capítulo 3, versos 4, 9 e 10 relutou contra a idéia do Novo Nascimento, conceito este de longo tempo conhecido dos judeus e até mesmo das religiões de mistérios.
 Jesus não se deixou levar pela reação aparentemente positiva daqueles que viram as Suas obras em Jerusalém (João 2:23-25). O Seu Ministério na Judéia foi visto sob um prisma de disputa (João 3:25-26)  Os Fariseus já estavam cientes do crescimento da Sua popularidade e prontos para iniciar uma perseguição (João 4:1). Ora, Jesus era judeu, nascido em Belém da Judéia, descendente de Davi, no entanto não foi bem recebido entre Seus conterrâneos, cumprindo o que está escrito em João 1:11 que diz: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam”. Entretanto Ele foi muito bem recebido em Samaria e agora também na Galiléia, confirmando o que disseram os samaritanos: “...este é verdadeiramente o Salvador do mundo”.
A Galiléia era vista por muitos judeus como um território alheio à Terra Santa, terra dos gentios, que foi subjugada e reintegrada pela força ao território judeu, havia relativamente pouco tempo, (103 A.C.). Por isso a sua população era considerada estrangeira pelos judeus que a condenavam por ignorar a Lei. Entretanto, a chegada de Jesus àquela região cumpriu a profecia de Isaías 9:1-2. Esta era a região escolhida por Deus para o Seu Filho iniciar o Grande Ministério de pregação, de curas e de luta contra Satanás e seus demônios, introduzindo o Reino de Deus(Mateus 12:28). 

A CURA DO FILHO DO OFICIAL DO REI

                                     A CURA DO FILHO DO OFICIAL DO REI                            
                                                           JOÃO 4:45-54

V.46 – Dirigiu-se de novo a Caná da Galiléia, onde da água fizera vinho. Ora,
            havia um oficial do rei, cujo filho estava doente em Cafarnaum.
V.47 – Tento ouvido dizer que Jesus viera da Judéia para a Galiléia, foi ter com
            ele e lhe rogou que descesse para curar seu filho, que estava à morte.
V.48 – Então Jesus lhe disse: Se porventura não virdes sinais e prodígios, de
            modo nenhum crereis.
V.49 – Rogou-lhe o oficial: Senhor, desce, antes que meu filho morra.
V.50 – Vai, disse-lhe; teu filho vive. O homem creu na palavra de Jesus e
            partiu.
V.51 – Já ele descia, quando os seus servos lhe vieram ao encontro,
            anunciando-lhe que o seu filho vivia.
V.52 – Então indagou deles a que hora o seu filho se sentira melhor.
             Informaram: ontem à hora sétima a febre o deixou.
V.53 – Com isto reconheceu o pai ser aquela precisamente a hora em que                   
             Jesus lhe dissera: Teu filho vive; e creu ele e toda a sua casa.
V.54 – Foi este o segundo sinal que fez Jesus, depois de vir da Judéia para a
            Galiléia.
 A prova mais contundente das boas vindas que Jesus recebeu na Galiléia pode ser vista no fato de uma importante figura do governo real recorrer a Ele num momento de desespero, implorando a cura de seu filho que estava à beira da morte.
Quando Jesus diz: “Se porventura não virdes sinais e prodígios, de modo nenhum crereis”, Ele não se referia àquele homem, mas a multidão que estava curiosa por ver milagres, pois aquele pai estava preocupado com a vida do filho e vinha na esperança da cura necessária. Mesmo estando aflito, o oficial do rei depositou total confiança na Palavra de Jesus e partiu sem demora. Este é um exemplo da fé genuína, que não precisa de sinais para ser confirmada.
No dia anterior este homem subia montanha acima, em desespero, num percurso de mais de 30 km e desnível de mais de 270 m que separam Caná e Cafarnaum, pois esta última cidade está situada numa depressão, a mais ou menos 270m abaixo do nível do mar.
Agora ele descia confiante, quando encontrou mensageiros que vinham ao seu encontro e lhe informaram que seu filho vivia e que a febre o havia deixado à sétima hora (uma hora da tarde). Ele reconheceu que esta fora precisamente a hora em que Jesus lhe dissera: Vai, teu filho vive. Este milagre feito à distância, que João chama de sinal, teve como resultado que aquele homem creu com toda a sua casa, isto é, seus familiares e servidores mas, a sua fé deve ter tido o seu preço porque, provavelmente ele enfrentou a oposição dos Herodianos que constituíam a corte do rei Herodes Antipas, que reinava na Galiléia naquela época. Certamente muitos judeus incrédulos somaram-se aos seus opositores. Contudo ele teve decisiva resolução de ir ter com Jesus. A sua humildade demonstrada na presença do Senhor é prova da firmeza do seu caráter. Não podemos afirmar se ele era um judeu, um galileu ou um estrangeiro qualquer, pois a Bíblia não o diz. Mas o envolvimento deste personagem neste episódio leva-nos a ver Jesus do mesmo modo que o viram os samaritanos, como o “Salvador do Mundo”.
OBS: Não se deve confundir este milagre com aquele relatado em Mateus 8:5-13 e Lucas 7:1-10. São dois casos diferentes

JESUS INICIA A PREGAÇÃO

                                                JESUS INICIA A PREGAÇÃO
                               MATEUS 3:13-17  ( Marcos 1:14-15; Lucas 4:14-15 )

ESCLARECIMENTO: Neste trabalho de harmonização dos quatro Evangelhos em forma de comentário, usaremos o seguinte critério:

1 – Selecionaremos a passagem que for mais rica em detalhes, para comentar.
2 – Colocaremos o título da passagem escolhida, com letra maiúsculas.
3 – Sob o título,indicaremos com letra maiúsculas o nome do livro, o capítulo e
      os versículos em que ela se encontra.
4 – Entre parênteses, indicaremos com letra minúsculas as passagens paralelas
      dos outros Evangelhos.
5 – Ao comentário da passagem selecionada, acrescentaremos informações
     extraordinárias contidas nas passagens paralelas.

V.13 – e, deixando Nazaré, foi morar em Cafarnaum, situada à beira-mar,
           nos confins de Zebulom e Naftali;
V.14 – para que se cumprisse o que fora dito por intermédio do profeta Isaías:
V.15 – Terra de Zebulom, terra de Naftali, caminho do mar, além do Jordão,
            Galiléia dos gentios!
V.16 – O povo que jazia em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região e
             sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz.
V.17 – Daí por diante passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque
            está próximo o reino dos céus.

Ao encerrar o relato da tentação de Jesus no deserto, Mateus afirma no capítulo 4, verso 11 que “o diabo o deixou e eis que vieram anjos e os serviam”. Isto significa que, vencendo as tentações que faziam parte da Sua vocação de Messias, Ele deu início ao Seu Ministério, sob a proteção do Pai. Continuando a narração, nos versos 12 e 13 ele informa que, após a prisão de João Batista, Ele retirou-se para a Galiléia e, deixando Nazaré, foi morar em Cafarnaum. Mas entre o final dos quarenta dias no deserto e a Sua mudança de Nazaré para Cafarnaum decorreu um considerável período de tempo, estimado por alguns estudiosos, de até doze meses. É depois desse período que chegamos ao versículo 13 de Mateus 4, quando Ele deixa definitivamente Nazaré para instalar-se em Cafarnaum.
Esta decisão do Mestre é muito significativa. Nazaré, agora, pertence ao Seu passado, enquanto Cafarnaum é a porta aberta para o Seu futuro ministério de pregação do evangelho. Realmente, é agora que começa efetivamente o Seu Grande Ministério da Galiléia. O que aconteceu até este momento foi o prelúdio da Grande Obra do Mestre. E não foi sem razão que Ele escolheu esta última cidade para fixar residência. Ele sabia o que estava fazendo.
Localizada no norte da Palestina, a Galiléia limitava-se, a oeste, com o Líbano que se estendia ao longo do Mar Mediterrâneo. A noroeste estava a Síria; a leste limitava-se com o Lago de Genesaré, e ao sul ficava a planície de Esdraelon. A Galiléia era a parte mais fértil de toda aquela região. Josefo, historiador judeu que viveu naquela época e que foi governador dessa província, afirma que as suas terras eram tão fecundas, que lá crescia todo tipo de árvore, tinha excelentes pastagens e a sua fertilidade era um convite para cultivá-la, mesmo àqueles que nunca se haviam dedicado à agricultura. Não havia nenhuma terra ociosa em toda a sua extensão. Isto explica a grande população disponível para ouvir a mensagem do Evangelho, que se concentrava naquela província. Esta é a razão de Jesus ter escolhido Cafarnaum para ser o quartel general do seu Seu Ministério ali.
Há alguns fatores que devemos levar em conta, para compreender a mentalidade dos galileus, o que Jesus também não desconsiderou. Eles eram um povo sempre disposto a acolher novas idéias e novos mestres que chegassem até eles. Estavam sempre dispostos a mudanças e se interessavam por inovações. Gostavam até mesmo de promover revoluções.
O que explica o temperamento daquele povo? A Galiléia era um território cercado de pagãos (gentios) por todos os lados: Os Fenícios, os Sírios, os Samaritanos, sendo portanto muito influenciados por esses povos e muito pouco pelos judeus. A província era atravessada por rotas comerciais importantes: o Caminho do Mar, que ligava Damasco ao Egito passava por lá; a Rota do Leste, que conduzia a países muito distantes, também passava por lá. Assim, a Galiléia tinha contacto com todo o mundo conhecido daquela época, diferentemente da Judéia que se mantinha isolada, recolhida dentro das suas fronteiras e das suas tradições legalistas.
Devido à sua posição geográfica, a Galiléia foi palco de vários acontecimentos que marcaram a sua história. Desde que foi invadida pelos Assírios no século VIII A.C. ela perdeu a identidade de povo de Deus, porque Tiglate Pileser levou cativa a maior parte da sua população que foi substituída por outros povos também cativos, para evitar insurreições nacionalistas. Este território já havia sido invadido outras vezes por povos estrangeiros quando pertencia às tribos de Azer, Naftali e Zebulom. Durante muitos séculos foi administrada por governos gentios. No século V A.C., no tempo de Esdras e Neemias, muitos judeus migraram para a Judéia afim de viverem em Jerusalém. Em 164 A.C. Simão Macabeu enxotou os Sírios da Galiléia e levou para a Judéia os judeus que restavam ali. Em 104 A.C.Aristóbulo anexou aquela província à Judéia e obrigou toda população existente naquela região a circunscidar-se, convertendo-os forçosamente ao judaísmo.
Assim, tanto fatores históricos como genéticos contribuíram para criar nos galileus uma mente aberta que permitia a aceitação da nova doutrina e do novo Mestre.
Como de costume, Mateus procura explicar os acontecimentos relativos à vida de Jesus, com base nas profecias do Velho Testamento. Isto, porque um dos objetivos do seu Evangelho é provar para os seus compatriotas que Ele é o Messias, o Rei dos judeus. Por isso, o apóstolo aplica a profecia de Isaías 9:1-2 às atividades de Jesus na Galiléia. A descrição que ele faz nos versos 14 a 16 não é simplesmente histórico-geográfica, mas é baseada em um princípio divino. É que, quando Deus vem visitar o Seu povo para redimi-lo na pessoa de Emanuel, Ele vem para os mais necessitados, para os mais oprimidos e humilhados, para aqueles que andam nas trevas e vivem na sombra da morte espiritual. Os habitantes de Zebulom e Naftali estiveram oprimidos e humilhados desde que os Assírios se apossaram das suas terras, e as entregaram a povos e governos gentios, e desde que os seus laços com o povo de Deus foram cortados. Deste modo, a chegada de Cristo com o Evangelho àquelas regiões representava a presença de Deus, trazendo luz para aquele povo que jazia em trevas e vivia na região da sombra da morte espiritual.
A mensagem de Jesus consistia em chamar o povo ao arrependimento porque o reino dos céus estava ao alcance de todos. Isto começou a repercutir a partir de Cafarnaum. Era necessário que eles acordassem da dormência em relação ao pecado, porque o Reino de Deus havia chegado. Note-se que Jesus oferece a oportunidade de entrar no reino mediante o arrependimento. No século III da nossa era o rabino R. Levi afirmava que, se Israel ficasse um dia sem pecar, o Messias desceria imediatamente e inauguraria o Reino dos Céus. Mas Jesus ensina o caminho inverso, isto é, o Reino de Deus já está presente, e esta é a oportunidade para o arrependimento, porque é nesse reino que encontramos a redenção e a remissão de pecados concedidos por meio do Filho do Amor de Deus (Colossenses 1:13-14).
A passagem paralela de Marcos 1:14-15 esclarece que Jesus pregava o Evangelho de Deus dizendo: “O tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho”. Evangelho de Deus é a “boa nova” que Ele está oferecendo oportunidade de salvação, mas é necessário arrepender-se e crer na mensagem de Cristo. Arrependimento significa “mudança da mente”, isto é, do modo de pensar, mas também, de agir, a fim de conformar-se com a vontade de Deus, e não mais viver contrariando-O.
“O tempo está cumprido” significa que todas as providências de Deus necessárias à instalação do Reino já tinham sido tomadas através da historia, e agora , ele se manifestava. O verbo “pregar” (kêrussein) usado por Mateus 4:17 e por Marcos em 1:14 para descrever o desempenho de Jesus, traz a idéia de um mensageiro autorizado, expondo publicamente a verdade que transcende de Deus e que deve ser ouvida e obedecida.
Lucas dá ênfase especial à atuação do Espírito no ministério de Jesus, dizendo que ele regressou à Galiléia, no Poder do Espírito (Lucas 4:14-15). Isto é resultado do que ele relata dizendo que o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpória de pomba na ocasião do batismo (Lucas 3:21-22). Igualmente, Ele estava cheio do Espírito que O guiou no deserto, onde foi tentado(Lucas 4:1).

JESUS CHAMA OS PRIMEIROS DISCÍPULOS

                              JESUS CHAMA OS PRIMEIROS DISCÍPULOS
                            LUCAS 5:1-11  ( Mateus 4:18-22; Marcos 1:16-20 )

V.1 – Aconteceu que, ao apertá-lo a multidão para ouvir a palavra de Deus,
          estava ele junto ao lago de Genesaré;
V.2 – e viu dois barcos junto à praia do lago; mas os pescadores, havendo
          desembarcado, lavavam as redes.
V.3 – Entrando em um dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o
          afastasse um pouco da praia; e, assentando-se, ensinava do barco as
          multidões.
V.4 – Quando acabou de falar, disse a Simão: Faze-te ao largo, e lançai as
          vossas redes para pescar.
V.5 – Respondeu-lhe Simão: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada
           apanhamos, mas sobre a tua palavra lançarei as redes.
V.6 – Isto fazendo, apanharam grande quantidade de peixe; e rompiam-se-lhes
           as redes.
V.7 – Então fizeram sinais aos companheiros do outro barco, para que fossem
           ajuda-los. E foram e encheram ambos os barcos ao ponto de quase irem           
           a pique.
V.8 – Vendo isto, Simão Pedro prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor,
          retira-te de mim, porque sou pecador.
V.9 – Pois, à vista da pesca que fizeram, a admiração se apoderou dele e de
          todos os seus companheiros,
V.10- bem como de Tiago e João, filhos de Zebedeu, que eram seus sócios.
          disse Jesus a Simão: Não temas: doravante serás pescador de homens.
V.11- E, arrastando eles os barcos sobre a praia, deixando tudo, o seguiram.


Antes de comentar o texto de Lucas selecionado,vamos fazer algumas considerações sobre as passagens paralelas de Mateus e Marcos.

Mateus 4:18-22

V.18 – Caminhando junto ao mar da Galiléia, viu dois irmãos, Simão, chamado
           Pedro, e André, que lançavam rede ao mar, porque eram pescadores.
V.19 – E disse-lhes: Vinde após mim e eu vos farei pescadores de homens.
V.20 – Então eles deixaram imediatamente as redes, e o seguiram.
V.21 – Passando adiante, viu outros dois irmãos, Tiago, filho de Zebedeu e               
            João seu irmão, que estavam no barco em companhia de seu pai,                 
            consertando as redes; e chamou-os.
V.22 – Então eles, no mesmo instante, deixando o barco e seu pai, seguiram.

1)  Primeiramente Jesus viu os irmãos Simão e André, que lançavam redes ao        mar. Eles estavam pescando.
2)  Em seguida chamou-os para O acompanharem, dizendo que os faria                pescadores de homens.
3)  Eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram.
4)  Mais adiante, viu os irmãos Tiago e João, filhos de Zebedeu, que estavam        no barco com seu pai, consertando as redes.
5)  Jesus os chamou e, no mesmo instante, eles deixaram o barco e seu pai e        o seguiram.

Marcos 1:16-20

V.16 – Caminhando junto ao mar da Galiléia, viu os irmãos Simão e André, que
             lançavam a rede ao mar, porque eram pescadores.
V.17 – Disse-lhes Jesus: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de                     
             homens.
V.18 – Então eles deixaram imediatamente as redes, e o seguiram.
V.19 – Pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão que
            estavam no barco consertando as redes.
V.20 – E logo os chamou. Deixando eles no barco a seu pai Zebedeu com os
            empregados, seguiram após Jesus.

1)    Jesus viu Simão e André, que lançavam a rede ao mar, porque eram
        pescadores.
2)    Ele os chamou para segui-Lo, dizendo que os faria pescadores de
       homens.
3)    Pouco mais adiante viu os irmão, Tiago e João, que estavam no barco
       com seu pai, Zebedeu, consertando as redes.
4)    Logo Jesus os chamou e eles o seguiram, deixando para trás o barco e
       seu pai.

Vejamos como Lucas narra os fatos: ele superpõe os acontecimentos relatados por Mateus e Marcos, em uma só narrativa. Nós entendemos que agora aconteceu o chamado definitivo para estes discípulos estarem efetivamente juntos com o Mestre. O fato daqueles pescadores serem descritos deixando imediatamente as redes, ou consertando-as no barco parado, pode indicar a pré-disposição que eles tinham de seguir a Jesus, o que foi confirmado depois da pesca maravilhosa que os levou a uma decisão definitiva e imediata.
É importante notar que Pedro ocupa posição de destaque no relato de Lucas: os versos 1 e 3 afirmam que, ao ser apertado pela multidão, Jesus entrou no barco de Pedro e pediu-lhe que afastasse o barco um pouco da praia. Então, assumindo a postura de um mestre daquela época, Ele assentou-se para ensinar a multidão. Acabando de falar, foi a Pedro que Ele se dirigiu, ordenando-lhe que fosse com o barco mais para dentro do lago, e que lançassem as redes. Apesar do protesto, Pedro foi obediente e atendeu à ordem. Ao ver a quantidade de peixes que apanharam, Pedro, cheio de temor, foi o que se prostrou aos pés de Jesus para adorá-lo, reconhecendo a sua condição humana de pecador e o poder sobrenatural do Mestre.
Qual seria a razão para este discípulo ter sido posto em destaque na narrativa de Lucas? É que Lucas escreveu o seu Evangelho cerca de 30 anos após estes acontecimentos. Ele percebeu a preeminência que Pedro alcançou entre os outros discípulos durante o ministério de Cristo. Este fato é comprovado pelos  quatro Evangelhos e pelo livro de Atos que ele mesmo escreveu. Assim ele projeta uma imagem virtual de Pedro, antecipando a sua posição relevante entre os seus companheiros. Tiago e João são mencionados brevemente, só no final do texto. Mas Lucas não atribui isto a qualidades excepcionais de Pedro, pois ele teve algumas falhas durante o seu ministério, aliás, como qualquer um de nós e, talvez, muito menos. Lucas atribui isto ao apoio que ele recebeu do Mestre desde o início, como se percebe neste relato. Só Cristo conhece cada um de nós e sabe qual a posição que devemos ocupar no Seu propósito.
A quantidade de peixes apanhadosali é um sinal de que a presença de Jesus no ministério dos Seus discípulos traz resultados surpreendentes na tarefa de pescar almas para o reino de Deus. Não foi à toa que aqueles discípulos ficaram convencidos e deixaram tudo para trás para seguir a Jesus.

JESUS ENSINA NA SINAGOGA DE CAFARNAUM

                               JESUS ENSINA NA SINAGOGA DE CAFARNAUM
                                            MARCOS 1:21-28  (Lucas 4:31-37)

V.21 – Depois entraram em Cafarnaum, e, logo no sábado, foi ele ensinar na
            sinagoga.
V.22 – Maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem
            autoridade, e não como os escribas.
V.23 – Não tardou que aparecesse na sinagoga um homem possesso de                     
            espírito imundo, o qual bradou:
V.24 – Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste para perder-nos? Bem             
            sei quem és: o Santo de Deus!
V.25 – Mas Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te e sai desse homem.
V.26 – Então o espírito imundo, agitando-o violentamente, e bradando em alta
            voz, saiu dele.
V.27 – Todos se admiraram, a ponto de perguntarem entre si: Que vem a ser
            isto? Uma nova doutrina! Com autoridade ele ordena aos espíritos
             imundos, e eles lhe obedecem!
V.28 – Então correu célere a fama de Jesus em todas as direções, por toda a
            circunvizinhança da Galiléia.

O ministério público de Jesus na Galiléia começou em Cafarnaum,  numa sinagoga. Não havia lugar mais apropriado do que este para o Seu intento. Ele já havia escolhido esta cidade como ponto central das Suas atividades; já havia escolhido os seus primeiros discípulos; já havia escolhido o Seu método de trabalho, a pregação; agora escolheu a sinagoga como ponto de partida.
Com efeito, este era o lugar em que se reunia o povo de Deus. Esta instituição corresponde às nossas igrejas de hoje. A palavra “sinagoga” significa congregação, reunião, ajuntamento ou assembleia do povo de Deus. É exatamente o significado de “igreja”, que se estende inclusive ao local ou ao edifício em que o povo se reúne.
A sinagoga desempenhava um papel mais importante do que o próprio Templo de Jerusalém nas comunidades judaicas. Ela era destinada ao ensino dos fiéis das crianças e ao culto a Deus. Onde quer que houvesse dez representantes de famílias interessados no estudo da Lei e capacitados para isso, ali era instituída uma sinagoga. Por essa razão elas eram muito numerosas, inclusive no exterior, onde havia muitas colônias de judeus da dispersão. Em Jerusalém mesmo havia centenas de sinagogas. Elas vinham de encontro às necessidades daqueles que não podiam frequentar o Templo que servia apenas para os sacrifícios.
Nelas havia um presidente, o supervisor de todos os serviços desempenhados ali. Havia os encarregados de receber e distribuir aos pobres doações em dinheiro e em produtos alimentícios. Havia também os responsáveis pelos rolos sagrados (livros) que precisavam ser retirados do armário, entregues ao palestrante, e depois, guardados novamente. Eles se encarregavam também da limpeza do local e do anúncio da chagada do sábado, por meio do toque de trombeta.
O serviço religioso do sábado consistia em oração, leitura da Palavra e comentário do que foi lido. Qualquer pessoa reconhecida publicamente como mestre ou conhecedor das Escrituras podia fazer uso da palavra, desde que fosse autorizado pelo presidente (cf Atos 14:1; 17:1-3, 18:4,19).
Após a leitura da Palavra o palestrante fazia o comentário. O mais frequente era os escribas fazerem a leitura e, em seguida, o comentário. Os escribas, doutores ou intérpretes da Lei eram pessoas versadas na Lei de Moisés e nas tradições criadas pelo Judaísmo. Os seus comentários geralmente eram repetição de regras de conduta extraídas de princípios das Escrituras por Rabinos famosos. Mas no decorrer do tempo estas regras aumentaram tanto e se tornaram tão complicadas que o povo não suportava mais tanta regulamentação (cf Atos 15:10).
Foi num ambiente como esse que Jesus iniciou o seu ministério e assim permaneceu por algum tempo. Portanto não é de estranhar que os ouvintes ficassem maravilhados com o modo do Mestre ensinar, com o conteúdo de suas palavras, e o seu estilo de exposição (cf Mateus 7:28-29; Marcos 4:33-34). Em tudo isto Ele diferia dos escribas que não mostravam autoridade no falar, pois limitavam-se a repetir o opinião de outros, enquanto todos ali podiam entender que Jesus falava verdades que convenciam os presentes. É fácil discernir se uma palavra é de homem ou se é de Deus!
Nesse ambiente travou-se a primeira batalha entre o Filho de Deus e o inimigo que se levantou contra Ele. Ali estava um homem possesso de espírito imundo, homem cujo comportamento demonstrava que ele era totalmente submisso ao espírito que o dirigia. Ele manifestou em alta voz, em tom de espanto e terror, o que havia no íntimo do seu ser, bradando: “Que temos nós contigo?” Isto significa que entre ele e Jesus havia grande divergência de propósitos. Se Jesus veio para salvar, os demônios vêm para destruir (João 10:10). Chamando Jesus de Nazareno ele usou uma expressão que parecia significar falta de apreço. Mais tarde, porém, ela foi usada como sinal de alta consideração a Jesus (Marcos 16:6; Lucas 18:37).
Os demônios sabem que um dia eles serão destruídos (Mateus8:29). Daí, a pergunta: “Vieste para perde-nos?” Esta pergunta mostra que eles conhecem as Escrituras, pois, isto está profetizado já em Gênesis 3:15 (cf I João 3:8; Apocalipse 20:10). Também, usando a expressão “o Santo de Deus”, Ele fez alusão à passagem Messiânica do Salmo 16:10.
Mas Jesus não aceitou nenhum desses testemunhos. Aceitá-los seria receber apoio das trevas. Em Mateus 12:17 os fariseus O acusaram de operar com o poder do maioral dos demônios. Por isso Jesus repreendeu aquele espírito imundo dizendo: “Cala-te e sai desse homem”. Ele obedeceu à ordem prontamente e saiu desesperado. Lucas informa que o demônio saiu daquele homem possesso, sem causar-lhe nenhum dano.
A reação dos presentes agora, foi maior do que no início. Primeiro eles se “maravilharam” pelo ensino e pela autoridade com que Jesus falava. Depois do milagre eles ficaram “pasmados” e ligaram o ocorrido tanto à doutrina, como à autoridade de Jesus sobre os demônios. Não é sem motivo que já neste primeiro episódio do Seu grande ministério, a fama de Jesus correu para todos os lados e ultrapassou as fronteiras da Galiléia.