SIMÃO LEVA A CRUZ DO SENHOR
MARCOS 15:21 (Mateus 27:32; Lucas 23:26)
V.21 – E obrigaram a Simão Cireneu que passava, vindo do campo,
pai de Alexandre e de Rufo, a carregar-lhe a cruz.
Quando um condenado marchava para a crucificação, ia carregando, ele mesmo, a sua cruz. Mas quando se cansava, bastava que um dos soldados que o acompanhavam tocasse com sua lança qualquer dos homens dentre o povo, para lhe ordenar que tomasse a cruz. Ele teria que obedecer prontamente. Isto causava revolta nos judeus que se sentiam humilhados. Muitas vezes eles eram surpreendidos desta maneira para carregar a mochila ou qualquer outra carga de um soldado. É como Jesus disse: “Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas” (Mateus 5:41). Simão vinha do campo, mas parece que não era nenhum lavrador ou que residisse em alguma aldeia próxima de Jerusalém. É mais provável que ele fosse um judeu peregrino vindo de Cirene, do norte da África, e que estivesse hospedado fora da cidade que, naqueles dias de Páscoa ficava superlotada de visitantes. Talvez ele estivesse bem vestido, entrando com satisfação na cidade santa, para cumprir o seu desejo ardente de estar um dia na grande festa, e de participar ali da refeição pascal, o que era uma aspiração de todo judeu piedoso. A viagem a Jerusalém podia ter-lhe custado as economias da vida inteira. Mas dentro da sua compreensão tradicional ele trazia no coração o sincero propósito de adorar a Deus bem de perto. Mas eis que o toque inesperado da lança irônica de um soldado romano atingiu as suas costas e, sem nenhuma resistência, ele foi obrigado a carregar a cruz de Cristo. O que ele sentiu naquele instante não sabemos, mas ele tornou-se o símbolo do discípulo que toma a cruz do Mestre. A inclusão deste acontecimento no relato de Marcos com referência à origem de Simão, seu nome e os de seus filhos não tem outra explicação a não ser o fato dele e de sua família terem-se tornado bem conhecidos da igreja primitiva, especialmente em Roma, onde este evangelho foi escrito, quase trinta anos depois que tudo aconteceu.
Estudando a expansão do cristianismo no Livro de Atos dos Apóstolos, notamos que alguns discípulos estavam pregando em Antioquia, na Síria, após a dispersão da igreja de Jerusalém devida às perseguições levantadas pelos judeus, que levaram Estêvão ao martírio (Atos 11:19-20). Entre eles estavam alguns que eram de Chipre e de Cirene pregando a gregos, enquanto outros pregavam somente a judeus. Os de Cirene já constituíam uma nova geração de cristãos procedentes do norte da África, menos de vinte anos após Simão ter tomado a cruz. Eles pregavam a gentios, antes mesmo de Paulo e Barnabé terem saído para a primeira viagem missionária. Foi assim que se formou a igreja de Antioquia da Síria, constituída tanto de judeus como de gentios. Quando Paulo escreve a carta aos Romanos, cerca de vinte e cinco anos após o incidente de Simão Cireneu em Jerusalém, ele saúda entre os irmãos de Roma a Rufo, chamado eleito no Senhor e sua mãe, por quem o Apóstolo mostra grande afeição, afirmando que ela era mãe para ele também (Romanos 16:13). Simão não é mencionado. Possivelmente o Senhor já o tivesse recolhido para a glória. Mas, naquele encontro que tivera com Cristo, o cireneu não se limitou a carregar o madeiro só por um momento. Compreendendo que devia tomar aquela cruz por toda a vida, pode assim, satisfazer o ardente desejo do seu coração, de adorar o seu Deus bem de perto.
É possível que Simão Cireneu tenha permanecido em Jerusalém após o Pentecoste, perseverando com os discípulos na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações. Mas depois ele tornou-se um missionário com toda a sua família. Esta é apenas uma pequena demonstração do poder redentor que emana da cruz de Cristo