OS SADUCEUS E A RESSURREIÇÃO
MARCOS 12:18-27 (Mateus 22:23-33; Lucas 20:27-40).
V.18 - Então os saduceus, que dizem não haver ressurreição,
aproximaram-se dele e lhe perguntaram dizendo:
V.19 - Mestre, Moisés nos deixou escrito que, se morrer o irmão de alguém
e deixar mulher sem filhos, seu irmão a tome como esposa
e suscite descendência a seu irmão.
V.20 - Ora, havia sete irmãos: o primeiro casou, e morreu sem deixar
descendência;
V.21 - o segundo desposou a viúva e morreu, também sem deixar filho;
e o terceiro da mesma forma.
V.22 - E assim os sete não deixaram descendência.
Por fim, depois de todos, morreu também a mulher.
V.23 - Na ressurreição, quando eles ressuscitarem,
de qual deles será ela esposa? porque os sete a desposaram.
V.24 - Respondeu-lhes Jesus: Não provém o vosso erro
de não conhecerdes as Escrituras, nem o poder de Deus?
V.25 - Pois quando ressuscitarem de entre os mortos, nem casarão,
nem se darão em casamento; porém são como os anjos nos céus.
V.26 - Quanto à ressurreição dos mortos, não tendes lido no livro de Moisés,
no trecho referente à sarça, como Deus lhe falou:
Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó?
V.27 - Ora, ele não é Deus de mortos, e, sim, de vivos. Laborais em grande erro.
Quem eram os saduceus?
Genericamente falando, era uma classe político-religiosa muito influente, que exerceu o ofício do sumo-sacerdócio em Israel, desde o ano 6 até 36 D.C.
Os saduceus não eram muitos em número, mas constituíam um partido de membros ricos e aristocratas, que dava apoio ao governo romano para garantir a manutenção dos seus privilégios. Quase todos os sacerdotes e aristocratas dos dias de Cristo eram saduceus. O sumo-sacerdote Anás, nomeado para o cargo no ano 6 D.C. e deposto no ano 15, era saduceu e foi substituído por Caifás, seu genro, também saduceu, que exerceu o cargo de 18 até 36 D.C. Anás, porém, continuou operando como auxiliar de Caifás no exercício do sacerdócio. Ambos participaram do julgamento de Jesus (João 18:12-14,24) e da perseguição aos apóstolos (Atos 4:5-6).
Religiosamente, eram tradicionalistas, mas não aceitavam a lei oral dos escribas, ao contrário dos fariseus, que a acatavam sem restrições. Os saduceus consideravam como Lei por excelência, e exclusivamente, a Lei de Moisés, isto é, os cinco primeiros livros do Velho Testamento, chamados Pentateuco. Quanto aos Profetas, aos livros de Sabedoria e de Poesia, ao que parece, eles não consideravam como parte das Escrituras.
Espiritualmente diferiam dos fariseus, porque negavam a vida após a morte e afirmavam que, com base na Lei, não se podia afirmar a imortalidade, enquanto os fariseus afirmavam que sim. Também eles não criam na existência da alma, do espírito, dos anjos e nem na ressurreição. Eram essencialmente materialistas e não acreditavam na interferência de Deus no destino dos homens, mas tão somente no livre arbítrio, como fator de direcionamento da vida. Nisto, eles diferiam dos fariseus.
A origem do nome e da seita dos saduceus é muito discutida. Para maior conhecimento do assunto, aconselhamos consultar Enciclopédias ou Dicionários Bíblicos.
Depois da frustrada tentativa dos fariseus de derrotarem Jesus com a pergunta sobre a legitimidade de pagar tributo a César, os saduceus devem ter-se alegrado porque eram adversários dos fariseus. Então foi a vez deles fazerem uma investidura contra o Mestre, desafiando-O com uma pergunta que prepararam, com a intenção de confundi-lO.
A Lei de Moisés, em Deuteronômio 25:5-10 previa o caso de morrer o marido, sem deixar descendente. Então era chamado um irmão seu, que vivesse junto com ele, para desposar a viúva a fim de dar descendência ao falecido, preservando o nome da família e retendo a herança dentro do círculo familiar. Caso se repetisse a viuvez, um novo casamento era providenciado, enquanto o falecido tivesse irmãos vivos. No caso imaginado pelos saduceus, dos sete irmãos que se casaram com a mesma mulher, nenhum deixou descendência, porque todos morreram. Por fim, morreu também a mulher. A tática dos questionadores era esta: Se ele afirma que existe ressurreição, então deverá responder de qual deles ela será esposa quando ressuscitarem, visto que os sete a desposaram.
A intenção dos saduceus era confundir Jesus e mostrar que ele era um Mestre desprezível, não digno de confiança. Então Jesus mostrou o erro de raciocínio que eles cometiam, apontando dois fatos bem compreensíveis: Primeiro que, na ressurreição a ordem não é segundo esta vida em que se casam e se dão em casamento. Lá, são como os anjos que nem se casam, nem se dão em casamento. Em segundo lugar, bem ao contrário do modo deles pensarem, Jesus mostrou que a ressurreição existe. Ele comprovou isto através de uma passagem dos escritos que eles mesmos sabiam serem inspirados. São as palavras que Deus falou a Moisés do meio da sarça ardente, que se encontram no livro do Êxodo 3:6, que dizem: “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó”. Se Deus estava dizendo “Eu sou...” com o verbo “ser” no presente, e não, no passado, isto significa que Abraão, Isaque e Jacó estão vivos na sua presença, porque ele não é Deus de mortos e, sim, de vivos, muito embora os três patriarcas tenham vivido nesta Terra e morrido, muitos séculos antes desta afirmação. Nestas condições, uma vez que existe a ressurreição e também uma vida depois da morte, onde os ressuscitados são seres espirituais como os anjos, então toda a filosofia e doutrina dos saduceus está lançada por terra.
Antes de dar estes ensinamentos, Jesus chamou os saduceus à atenção para o fato deles errarem por duas razões. Primeiro, por não conhecerem as Escrituras e, segundo, por não conhecerem o poder de Deus. Como os outros grupos sectários que se defrontaram com o Mestre, estes também se consideravam donos da verdade e achavam que as suas doutrinas tinham igual ou maior valor do que a Palavra de Deus. Certa vez Jesus censurou os fariseus e os escribas dizendo que eles invalidavam a Palavra de Deus com as suas tradições (Marcos 7:13). No caso da imortalidade alegavam não encontrar apoio na Lei de Moisés para afirmá-la. Por isso a negavam. Mas foi bem dos escritos de Moisés que Jesus retirou as provas que contrariavam aquele ensino, mostrando que uma parte dos problemas estava mesmo na falta de conhecimento das Escrituras. Mas a ressurreição está na dependência do poder de Deus. Quem não conhece o poder de Deus, não pode crer na ressurreição. Esta é a outra parte do problema. Jesus encerra este caso de maneira muito rápida, dizendo aos saduceus que eles laboravam em grande erro, sugerindo que eles mesmos se desviavam do caminho de Deus.
Estes ensinos de Jesus são sempre oportunos porque ele mostra claramente que a ignorância das Escrituras e o desconhecimento do poder de Deus são dois erros muito perigosos em matéria de fé, porque têm consequências eternas. Ele mesmo conhecia tão bem o Velho Testamento, que os seus ensinos estão solidamente fundamentados na Lei, nos profetas e no outros escritos sagrados. Tanto ele era capaz de manusear os rolos nas sinagogas, como era capaz de citar e de apontar trechos das Escrituras durante os seus ensinos. O mais impressionante era a sua consciência de que tudo o que se referia a ele nas profecias estava-se cumprindo na sua vida.
Os apóstolos tornaram-se peritos em reconhecer o cumprimento do Velho Testamento tanto na pessoa de Jesus, como no corpo da igreja. E de lá retiravam ensinamentos do mesmo modo que retiraram das palavras ditas pelo Mestre durante o seu ministério. Até mesmo eles se encaixaram neste axioma: “...todo escriba versado no reino dos céus é semelhante a um pai de família que tira do seu depósito cousas novas e cousas velhas” (Mateus 13:52).
O Novo Testamento reclama a toda hora este conhecimento. Paulo escreve a Timóteo na segunda carta, dizendo: “Procura apresentar-te a Deus, aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (2Timóteo 2:15). E a Tito ele instrui quanto ao bispo, ou seja, ao pastor, que deve ser “apegado à palavra fiel que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder, assim para exortar pelo reto ensino como para convencer os que contradizem” (Tito 1:9). Tudo isto é justificado pelo que a Bíblia é, e pela finalidade com que ela foi escrita: “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Timóteo 3:16-17) e “...tudo quanto outrora foi escrito, para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência, e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Romanos 15:4).
O poder de Deus precisa igualmente ser conhecido, porque a sua Palavra tem sido testemunhada por meio de sinais e prodígios que acompanham a pregação. No livro de Atos encontra-se o seguinte registro sobre a pregação de Paulo e Barnabé em Icônio: “Entretanto, demoraram-se ali muito tempo, falando ousadamente no Senhor, o qual confirmava a palavra da sua graça, concedendo que por mão deles se fizessem sinais e prodígios” (Atos 14:3).
Em suma, a igreja de Cristo precisa ser conduzida por guias que conheçam tanto as Escrituras como o poder de Deus, a fim de não incorrerem no mesmo erro dos saduceus, que produz desastre de consequências eternas.
Lucas registra que a resposta de Jesus sobre a situação dos casados no mundo vindouro, esclarece que o casamento é parte da ordem física do tipo do mundo em que vivemos no presente. O tipo de vida aqui exige relacionamento físico com funções físicas, incluindo a procriação de filhos, para garantir a sobrevivência da espécie humana (Lucas 20:34). Este era o pensamento religioso, aceito pelos hebreus, que remete à doutrina da criação no Gênesis (Gênesis 1:27-28). Ter filhos era considerado benção de Deus e, não tê-los era sinal de desfavorecimento (cf Lucas 1:24-25).
No V.35 Lucas emprega uma linguagem mais erudita para descrever o que Jesus disse com respeito à vida dos ressurretos, na era vindoura, isto é, na eternidade. Nos Vs.35 e 36 Ele informa que homens não tomarão mulheres para se casar, e nem pais darão filhas em casamento, e que não podem mais morrer, porque são iguais aos anjos. Então serão filhos de Deus, e não mais de homens, pois são filhos da ressurreição operada por Deus, e tem outra natureza, natureza espiritual (cf I Coríntios 15:44, 52-53).
Cabe observar aqui, que Jesus fala especificamente da ressurreição dos justos, embora Ele afirme que haverá ressurreição de bons e maus (João 5:28-29) e Paulo também fale da ressurreição de justos e de injustos (Atos 24:15).