sábado, 10 de janeiro de 2015

O GRANDE MANDAMENTO

                                                O GRANDE MANDAMENTO
                                      MARCOS 12:28-34    (Mateus 22:34-40)

V.28 - Chegando um dos escribas, tendo ouvido a discussão entre eles,
          vendo como Jesus lhes houvera respondido bem, perguntou-lhe:
          Qual é o principal de todos os mandamentos?
V.29 - Respondeu Jesus: O principal é:
          Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor.
V.30 - Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração,
          de toda a tua alma, de todo o teu entendimento
          e de toda a tua força.
V.31 - O segundo é:
          Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
          Não há outro mandamento maior do que estes.
V.32 - Disse-lhe o escriba: Muito bem, Mestre, e com verdade disseste
          que ele é o único , e não há outro senão ele;
V.33 - e que amar a Deus de todo o coração, de todo o entendimento
          e de toda a força, e amar ao próximo como a si mesmo,
          excede a todos os holocaustos e sacrifícios.
V.34 - Vendo Jesus que ele havia respondido sabiamente, declarou-lhe:
          Não estás longe do reino de Deus. E já ninguém mais ousava interrogá-lo.

O ministério de Jesus anterior à ressurreição teve seus últimos dias muito cheios de incidentes. Mas, como resultado do confronto com os seus adversários, surgiram ensinos preciosos que permanecem como um legado de grande importância para a igreja. Marcos é o mais breve a narrar estes fatos. Mateus e Lucas acrescentam algo mais. Mas João dedica cerca de um terço do seu Evangelho à narração dos acontecimentos a partir da entrada triunfal em Jerusalém, no domingo que antecedeu a crucificação, até a sua morte e sepultamento.
Quando ele encerrou a discussão com os saduceus no Templo a respeito da ressurreição, veio imediatamente um escriba que se aproximou dele com uma pergunta. Comparada à questão do tributo levantada provavelmente pelos herodianos, e à questão da ressurreição levantada pelos saduceus, esta, levantada agora pelo escriba, é de todas a mais honesta. Mateus informa que ele era representante dos fariseus (cf. Mateus 22:34-36). Então não é de estranhar que ele viesse com uma pergunta referente às Escrituras. Embora os fariseus estivessem, ali, lançando um desafio contra Jesus, ele aprovou o espírito com que o escriba o procurou. Este escriba tinha percebido a profundidade das idéias de Jesus ao responder à pergunta dos saduceus, quando ele considerou a passagem em que Deus fala a Moisés do meio da sarça ardente. A expressão: “Muito bem, Mestre”, mostra como ele ficou impressionado com as palavras de Jesus em resposta à sua pergunta.
O que Jesus afirmou ser o principal dos mandamentos é o resumo daquilo que se pode chamar o “credo da nação de Israel” ou a “confissão de fé nacional” que se encontra em Deuteronômio 6:4-9 e em duas outras passagens complementares que são: Deuteronômio 11:13-21 e Números 15: 37-41. É o famoso Shemá, que todo israelita devia saber de cor, devia recitá-lo ao deitar e ao levantar e durante o dia, pelo caminho. Além disso, devia ensiná-lo aos filhos, escrever nos batentes das portas e ainda, trazê-lo atado aos dedos e à fronte, para nunca se esquecer dele. A palavra “shemá” é a primeira destes mandamentos na língua Hebraica e significa “ouve”, que é o imperativo do verbo “ouvir”. Os judeus devotos costumavam recitá-lo três vezes ao dia. Muitos o fazem ainda hoje, ao deitar e ao levantar. Os serviços das sinagogas também sempre têm início com o Shemá.
O Senhor nosso Deus é o único Senhor são palavras que exprimem a fé que Israel devia ter no Senhor, como Deus da nação, e também como único Deus, além do qual não há outro. Mas da palavra “único” retira-se, no Hebraico, o conceito da unidade de Deus, que é mais bem compreendida no cristianismo, como a unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Também é oportuno esclarecer que o nome “Jeová” de Deus é sempre substituído pela palavra “Senhor” pelos judeus e em muitas versões da Bíblia.
Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força fala da necessidade de se devotar a Deus o amor mais elevado que se possa conceber. Ouve-se com mais freqüência falar do amor de Deus por nós e do amor que devemos dedicar ao próximo. Mas nestas palavras Jesus apresenta o ponto central dos seus ensinos, enfatizando a urgência de procurar fazer a vontade de Deus, e de buscar os seus caminhos com todas as nossas aptidões, e, mais do que isso, com tudo o que somos.
Amar a Deus de todo o nosso coração significa amá-lo com todo o nosso pensamento, com tudo o que está dentro de nós. Toda a base dos nossos planos e ideais deve ser dirigida para Deus.
Amar a Deus de toda a nossa alma significa amá-lo com toda a nossa vontade e com todos os nossos sentimentos.
Amar a Deus de todo o nosso entendimento significa amá-lo com toda a nossa capacidade de compreender as cousas, isto é, com toda a nossa inteligência colocada a serviço do Senhor.
Amar a Deus de toda a nossa força significa amá-lo com todas as nossas capacidades físicas, ou seja, intensamente como pessoas que somos, incluindo todos os atributos da nossa personalidade.
Esta é uma visão de quatro aspectos do nosso ser, mencionados especificamente para reforçar a ideia do amor intenso que devemos a Deus. Na realidade, o resumo de tudo isto é que devemos amar a Deus intensamente, com todo o nosso ser. Portanto, não devemos medir esforços para eliminar todos os obstáculos que nos possam impedir de submeter os nossos planos, a nossa vontade, o nosso intelecto, as nossas emoções e as nossas condições físicas à vontade de Deus. Enfim, o amor a Deus deve superar todas as dificuldades.
O mandamento de amar ao próximo como a si mesmo é juntado ao primeiro, como sendo o segundo maior. Ele não fazia parte do Shemá, isto é, do grande mandamento. Mas também é um preceito da Lei, que se encontra em Levítico 19:18. Jesus acrescentou-o como parte importante da lei de Deus. Realmente, na experiência espiritual, ninguém pode chegar a praticar o amor a Deus, se este não for atrelado ao amor ao próximo. Em outras palavras, amor a Deus sem amor ao próximo não existe. É pura utopia, é destituído de qualquer verdade e realidade, é uma enganosa proposta da criatividade mental humana.
Alguns escritores judeus já haviam tocado nesse ponto, mencionando o amor ao próximo ao lado do amor a Deus. Mas nenhum rabino de Israel trouxe um ensino tão claro e consistente como o de Jesus, que se complementa com ilustração do “bom samaritano” (Lucas 10:25-37) e com outras passagens dos Evangelhos. Estes dois mandamentos apresentados aqui desta forma são um resumo dos Dez Mandamentos que, em parte, tratam do relacionamento entre Deus e o homem e, em parte, do relacionamento entre homens e homens.
O escriba ficou contente com o que ouviu, elogiou Jesus pela resposta, e acrescentou palavras que expressam a sua avaliação sobre os sacrifícios feitos no Templo como mero ritual. Ele entendia que amar a Deus e ao próximo nas condições em que Jesus ensina, vale mais do que todos os holocaustos e sacrifícios. A palavra dos profetas veio muitas vezes no passado, para denunciar a incoerência de atitudes daqueles que ofereciam sacrifícios, sem a devida obediência à palavra de Deus. Samuel repreendeu Saul nestas circunstâncias, dizendo: “Tem porventura o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender melhor do que a gordura de carneiros” (1Samuel, 15:22). Oséias repreendeu a nação pela desobediência e condenou os seus sacrifícios por falta de amor, dizendo: “...misericórdia quero, e não sacrifícios; e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos” (Oséias 6:6).
Jesus foi favorável àquele escriba que respondeu sabiamente. A sua disposição mental estava na direção correta do amor de Deus, e no seu espírito ele concordava com aquilo que Jesus ensinou. Ele demonstrou humildade de espírito, e descontentamento com a inconsistência dos sacrifícios do Templo. Mostrou também mansidão, aproximando-se de Jesus sem agressividade, mas com uma pergunta justificável a respeito da Palavra de Deus.
E aquele que diz:
“Bem aventurados os humildes de espírito...”,
“Bem aventurados os que choram...”,
“Bem aventurados os mansos...”,
  também disse ao escriba: “Não estás longe do reino de Deus”.

Lucas observa que alguns dos escribas versados na Lei afirmaram certa vez: “Mestre, respondeste bem”, e que “dali por diante não ousaram mais interroga-lo” (Lucas 20:39-40).