sábado, 10 de janeiro de 2015

O SERVIÇO DE CRISTO EXIGE ABNEGAÇÃO

                                     O SERVIÇO DE CRISTO EXIGE ABNEGAÇÃO
                                                          LUCAS 14:25-33

V.25 - Grandes multidões o acompanhavam, e ele, voltando-se, lhes disse:
V.26 - Se alguém vem a mim e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e
           filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida, não pode ser meu
           discípulo.
V.27 - E qualquer que não tomar a sua cruz e vier após mim não pode ser meu
           discípulo.

Após deixar a casa do fariseu, onde falou da resistência dos homens ao convite para entrar no reino de Deus, Jesus dirigiu-se às grandes multidões que O acompanhavam, para falar a respeito das dificuldades que encontrariam quaisquer uns que decidissem segui-lO sincera e ardorosamente. Pois havia grande diversidade de motivação entre os que acompanhavam. Uns perseveravam nas Suas Palavras, outros esperavam milagres, outros eram atraídos pela Sua personalidade e havia muitos outros motivos que os ligavam a Ele.
Aquelas multidões que O acompanhavam não faziam a menor ideia do futuro sombrio e terrível que O aguardava. Era uma cruz plantada no final da Sua carreira. Por isso, aqueles que aceitarem o Seu convite devem estar dispostos a renunciar aos seus outros compromissos, seus interesses próprios e suas ambições, a favor d’Ele (V.33).
Ele começa falando a respeito dos laços familiares. Lucas usa a expressão traduzida por “aborrecer” os entes familiares referidos no V.26, que no grego original é “misei”, e significa propriamente “odiar” ou “detestar”. Na passagem paralela, Mateus 10:37, o evangelista minimiza o impacto, usando a expressão “amar mais”. Em nenhum dos casos se deve entender que é necessário desprezar ou abandonar os familiares para seguir a Cristo. São muito comuns e conhecidos os conflitos em família, que resultam quando alguém decide ser discípulo do Mestre. O que Jesus está fazendo é um apelo à renúncia (V.33), que consiste em colocar cada cousa no seu devido lugar, dando prioridade ao reino de Deus e à lealdade devida a Ele. Ninguém é coagido a abandonar a família. Deve haver conciliação, de modo que os interesses do reino não sejam prejudicados (cf I Coríntios 9:4-5). Mas a renúncia do discípulo deve atingir o mais íntimo do seu ser, isto é, a sua “psychë”, que é a vida que lhe agrada viver, vida da sua alma.
Nisto tudo, vemos que cada discípulo tem a sua própria cruz, e não tem que ser a mesma cruz de Cristo. Cada um tem que enfrentar situações diferentes, mas deve vencê-las corajosamente, ainda que seja necessário morrer como Jesus morreu.

V.28 - Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta
           primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a
           concluir?
V.29 - Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo
           acabar, todos os que a virem zombem dele,
V.30 - dizendo: Este homem começou a construir e não pôde acabar.
V.31 - Ou qual é o rei que, indo para combater outro rei, não se assenta
           primeiro para calcular se com dez mil homens poderá enfrentar o que
           vem contra ele com vinte mil?
V.32 - Caso contrário, estando o outro ainda longe, envia-lhe uma embaixada,
           pedindo condições de paz.
           Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem
           não pode ser meu discípulo.

Para ilustrar o custo do discipulado, Jesus usa duas parábolas dirigidas às multidões que O seguiam. A primeira fala da necessidade de reflexão de qualquer um que pretende construir uma torre, para saber se tem os recursos necessários para edificá-la, tendo em vista o custo elevado da obra. A torre era uma construção de altura suficiente, em uma propriedade rural para observar a aproximação de inimigos ou de animais que causassem prejuízo à propriedade ou à lavoura. Além da torre era necessária uma sede, um lagar e outras bem-feitorias. Seria um vexame iniciar e não poder concluir a obra.
A segunda parábola é a do rei que sai à peleja contra outro rei, e que precisa considerar se ele pode enfrentar o seu inimigo que tem o dobro de soldados que ele. Em caso negativo, ele terá que pedir condição de paz e submeter-se a ele.
Ao que parece, Jesus estava usando acontecimentos de que seus ouvintes já tinham ouvido falar. Plummer, um estudioso do Novo Testamento, afirma que aquela era uma época em que se faziam obras vultosas e guerras aparatosas, mas sem planejamento. Assim, os discípulos são exortados a ser firmes na sua decisão, para não voltar atrás (cf 9:62).
Campbell Morgan afirma: “Eu não conheço nenhuma passagem do Novo Testamento que tenha sofrido tanto com interpretações como esta, mas atrás destas ilustrações, o que mais transparece é a figura do Messias, que aceitou o desafio de vir a este mundo, para implantar o reino de Deus entre os homens e, para isso teve que fazer guerra contra os principados e potestades do inimigo. Conhecendo todas as dificuldades de antemão, veio e venceu a batalha, triunfando deles na cruz” (cf Lucas 11:22).
Os discípulos, portanto, devem considerar o exemplo de Jesus, que deixou a glória celeste e veio a este mundo e venceu-o (Filipenses 2:6-7; João 16:33b). É muito significativo diante de tudo isto, o modo como Jesus encerra este assunto, dizendo no V.33: “Assim pois todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo”.