O PEDIDO DOS FILHOS DE ZEBEDEU
MARCOS 10:35-45 (Mateus 20:20-25)
V.35 - Então se aproximaram dele Tiago e João, filhos de Zebedeu dizendo-lhe:
Mestre, queremos que nos conceda o que te vamos pedir.
V.36 - E ele lhes perguntou: Que quereis que vos faça?
V.37 - Responderam-lhe: Permite-nos que na tua glória
nos assentemos um à tua direita e outro à tua esquerda.
V.38 - Mas Jesus lhes disse: Não sabeis o que pedis.
Podeis vós beber o cálice que eu bebo,
ou receber o batismo com que eu sou batizado?
V.39 - Disseram-lhe: Podemos. Tornou-lhes Jesus: Bebereis o cálice
que eu bebo e recebereis o batismo com que eu sou batizado;
V.40 - quanto, porém, ao assentar-se à minha direita ou à minha esquerda,
não me compete concedê- lo; porque é para aqueles a quem está
preparado.
Muito embora não captassem o sentido das predições sobre a morte do Messias e da sua ressurreição, nem tão pouco da natureza do reino de Deus, os discípulos criam, pelas palavras de Jesus, que o estabelecimento do reino estava próximo. E a disputa pelos postos mais elevados, conforme imaginavam, já começava. Não é possível explicar por que foram Tiago e João que reivindicaram os dois primeiros lugares. Mas que se tratava de uma questão de cobiça, está claro. Só que os outros também tinham o mesmo problema. Há alguns fatores sobre os quais se pode conjeturar: eles seguiam Jesus mais de perto e foram chamados para participar de alguns acontecimentos importantes como a ressurreição da filha de Jairo e a transfiguração. Talvez fossem levados pelo ímpeto de jovens “filhos do trovão”, como foram chamados por Jesus. Podiam ter herdado o temperamento da mãe. Mateus conta que foi ela quem intermediou este pedido Mateus (27: 55-56). O pai, Zebedeu, era um empresário no ramo da pesca, no mar da Galiléia e parece que a família era bem relacionada com o Sumo Sacerdote em Jerusalém, pois João era conhecido dele e recebeu permissão para entrar no seu pátio com Jesus, na noite do julgamento (João 18:15). João sabia até o nome de Malco, o servo do Sumo Sacerdote cuja orelha Pedro decepou com um golpe de espada, na hora em que Jesus foi preso (cf. João 18:10). Juntando tudo isto é possível explicar a autoconfiança de Tiago e de seu irmão para se aproximarem de Jesus com este pedido.
Jesus ouviu os dois liberalmente e respondeu com amabilidade: Vocês não sabem o que estão pedindo. Realmente eles não sabiam em que consistia a glória do Messias e nem quais eram as condições para alcançá-la. O Mestre vinha-se esforçando para que eles aceitassem o reino de Deus com todas as suas consequências. Por isso ensinava sobre a cruz que cada um tinha que levar. Queria mostrar também que o Filho do homem somente chegaria à glória através da morte. Quanto ao assentar-se à sua direita ou à sua esquerda, não dependia dele, mas de uma decisão pessoal diante do critério de ser o maior no reino de Deus. Todavia, até aquele momento nenhum dos discípulos estava preparado para aceitar a cruz com todo o seu significado. Mesmo que fosse apenas a morte, eles não iriam aceitá-la. Mas no propósito de Deus para o seu próprio Filho, não haveria coroa sem a cruz e nem glória sem a morte. E quando ele chegou ao Calvário, lá estavam dois ladrões, um à sua direita, e outro à sua esquerda. Esta é a glória de que Tiago e João, sem saber, pediam para participar.
Jesus garantiu que eles poderiam beber o cálice que ele estava bebendo e receber o batismo em que ele era batizado. O cálice era a amarga experiência de vida pela qual ele estava passando e o batismo era o sofrimento que estava reservado para ele. Não sabemos como Tiago e João entenderam aquela pergunta de Jesus para responder positivamente a ela. Mas, uma cousa sabemos: Eles foram sempre leais ao Senhor. E quando chegaram à compreensão das verdades do reino de Deus, não recusaram nem o cálice da vida de testemunho e nem o batismo do sofrimento. Tiago morreu decapitado por ordem do rei Herodes Agripa I, tornando-se o primeiro mártir dos apóstolos (Atos 12:1-2); João morreu em idade muito avançada, depois de uma longa vida de trabalho, exílio, sofrimentos e fadiga.
V.41 - Ouvindo isto, indignavam-se os dez contra Tiago e João.
V.42 - Mas Jesus, chamando-os para junto de si, disse-lhes:
Sabeis que os que são considerados governadores dos povos,
têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem
autoridade.
V.43 - Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se
grande entre vós, será esse o que vos sirva;
V.44 - e quem quiser ser o primeiro entre vós, será servo de todos.
V.45 - Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido,
mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.
Desde o final do capítulo 8 Jesus inicia uma série de censuras aos discípulos, que só terminam aqui. Convém esclarecer que não é Marcos quem inclui isto na narrativa, como uma caricatura dos doze. Antes, esta é uma visão que os próprios apóstolos tinham de si mesmos quase no final de suas carreiras, depois de terem compreendido tudo. Mas, por enquanto, eles se indignavam porque os dois queriam passar na frente dos outros. Jesus mostra-lhes então a grande diferença, em questão de serviço, entre o reino de Deus, que para nós é a igreja, e o mundo. Os governadores dominam os povos controlando as suas atividades por meio dos maiorais que designam para exercer autoridade sobre eles. Mas entre os discípulos, ninguém é indicado para ser maioral e dominar sobre os outros. Aquele que quiser ser grande deve servir, e quem quiser ser o primeiro deve trabalhar para todos. No reino de Deus isto tem que ser assim, porque o padrão foi estabelecido pelo próprio Filho do homem que não veio para ser servido mas para servir até o ponto de dar a sua vida em resgate por muitos.
Estas palavras de Jesus destroem por completo o conceito de liderança admitido em muitos grupos religiosos. Freqüentemente este conceito é extraído da Política, da Indústria ou de outras atividades seculares. Mas liderança é serviço, e o que Deus quer mesmo na igreja são servos, como o seu próprio Filho.