sábado, 10 de janeiro de 2015

A CURA DE BARTIMEU, CEGO DE JERICÓ

                                 A CURA DE BARTIMEU, CEGO DE JERICÓ
                      MARCOS 10:46-52      (Mateus 20:29-34; Lucas 18:35-43)

V.46 - E foram para Jericó. Quando ele saía de Jericó com os discípulos
           e numerosa multidão, Bartimeu, cego mendigo, filho de Timeu.
           estava assentado à beira do caminho.
V.47 - E, ouvindo que era Jesus, o Nazareno, pôs-se a clamar:
           Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!
V.48 - E muitos o repreendiam, para que se calasse; mas ele
           cada vez gritava mais: Filho de Davi, tem misericórdia de mim!
V.49 - Parou Jesus e disse: Chamai-o. Chamaram então o cego, dizendo-lhe:
           Tem bom ânimo; levanta, ele te chama.
V.50 - Lançando de si a capa, levantou-se de um salto, e foi ter com Jesus.
V.51 - Perguntou-lhe Jesus: Que queres que eu te faça?
           Respondeu-lhe o cego: Mestre, que eu torne a ver.
V.52 - Então Jesus lhe disse: Vai, a tua fé te salvou.
           E imediatamente tornou a ver, e seguia a Jesus estrada fora.

Era muito comum na antiguidade os mestres ensinarem ao ar livre ou em algum lugar onde os ouvintes se sentiam à vontade. Mesmo andando pelo caminho, enquanto conversavam com os acompanhantes, eles transmitiam os seus ensinamentos. Era comum também, em Israel, os rabinos destacados subirem a Jerusalém para as festas religiosas, acompanhados de seus discípulos e de outras pessoas interessadas em aprender aquilo que eles podiam oferecer. No calendário religioso do Velho Testamento havia três festas durante o ano, às quais todo o povo estava convocado a comparecer, porque elas faziam parte do culto a Deus. Eram a Páscoa, Pentecoste e a festa dos Tabernáculos. Nessas épocas formavam-se caravanas em todas as partes do país, que saíam em direção ao Templo de Jerusalém, o centro das comemorações religiosas. Mas, consideradas a extensão do percurso e as condições de cada um, não era todo cidadão de Israel que podia sair do seu domicílio para ir tomar parte das festividades. Os que não acompanhavam as multidões costumavam ficar à beira do caminho, nas laterais das ruas, encostados às paredes, ou assentados nos muros, dando boas vindas e desejando boa viagem aos peregrinos.
Era este o cenário que Jesus encontrou em Jericó, na sua marcha para Jerusalém, onde ia celebrar a sua última Páscoa. O que havia de diferente é que ele não era um mestre comum, como outros conhecidos em Israel. O poder que demonstrou no seu ministério e a autoridade com que ensinava deram-lhe fama excepcional. Nestas condições podemos imaginar quão grande era a multidão que concorria para ver o jovem galileu que vinha desafiando com a sua pregação e com a sua conduta corajosa todos os poderes políticos e religiosos que se reuniram para fazer frente a ele, com o intuito de derrotá-lo. Se os poderosos o temiam por causa do seu prestígio popular e da sua capacidade de arrebatar as multidões, os religiosos o odiavam, entre outras cousas, porque ele ensinava francamente que o culto praticado no Templo e a Lei de Moisés já tinham cumprido o seu papel no propósito de Deus, e estavam prestes a desaparecer.
Há ainda mais um fator digno de nota: Em Jericó habitavam inúmeros sacerdotes que prestavam serviço sagrado no Templo de Jerusalém. Mas eles permaneciam lá poucos dias por ano, devido ao grande número dos que oficiavam. Eram cerca de vinte mil, divididos em vinte e seis turnos que se revezavam. Fora do período de trabalho eles ficavam em suas casas. Isto quer dizer que quando Jesus passou naquele dia por Jericó, lá estavam muitos sacerdotes que o observavam com desdém e frieza, vendo-o como um revolucionário pronto para invadir Jerusalém com os seus discípulos e com a multidão que o acompanhava.
Ao saírem da cidade, começaram a ouvir fortes gritos de alguém que clamava: “Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim”. Era o cego Bartimeu que pedia esmolas, assentado à beira do caminho. Ouvindo o tropel da multidão, quis saber o que era, e lhe disseram ser Jesus, o Nazareno, que passava. Certificado disto, não perdeu a oportunidade única na vida, de resolver o seu problema. Por isso, gritou esperançosamente e, apesar da repreensão que recebeu, não se calou, e nem perdeu o ânimo. Ele queria sair das trevas em que se encontrava e sabia que podia recorrer a Jesus. Então gritava cada vez mais alto: “Filho de Davi, tem misericórdia de mim”. Bartimeu representa o homem necessitado que busca um encontro com Jesus, usando todas as suas possibilidades. O máximo que ele podia fazer era gritar a todo pulmão. E foi isso o que ele fez. Mas além das suas limitações, ele ainda encontrou a oposição dos que estavam em volta de Jesus, mandando que ele se calasse. Não lhe queriam dar a oportunidade de um encontro com o Mestre. Os discípulos já haviam repreendido aqueles que traziam suas crianças para que Jesus as abençoasse; haviam repreendido o homem que expulsava demônios em nome de Jesus; e agora, ouvindo o cego pedir misericórdia, consentiam com aqueles que o repreendiam. Os que acompanhavam Jesus certamente pensavam que não convinha Ele deter a sua marcha para Jerusalém e nem interromper os ensinos que estava dando. Para eles, um simples cego não era tão importante quanto o propósito que, segundo eles imaginavam, o Messias tinha pela frente. Nestas condições, não convinha atendê-lo. Mas Jesus não compartilha desses pensamentos. Recentemente ele havia dito que “o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”. Deixar de atender ao cego seria negar esses ensinos e negar a própria cruz na qual ele levou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores. Então Jesus parou. A multidão queria prosseguir na sua indiferença e, sem nenhuma visão, pretendia ditar o rumo dos acontecimentos. E Jesus disse: “Chamai-o”. E os mesmos que o desencorajavam, agora dizem: “Tem bom ânimo”.     
Diante de tanta incoerência no comportamento dos discípulos, somos levados a perguntar: Será que eles estavam salvos ou, poderiam finalmente ser salvos? Há duas verdades consoladoras neste contexto. A primeira é a afirmação de Jesus, que ele veio para dar a sua vida em resgate por muitos. Se a salvação é um resgate, então é uma operação efetuada por Ele, e não pelos que vão ser salvos. Em segundo lugar, o cego de Jericó é exemplo do homem que, não podendo ver a Jesus, mas tendo informação, embora imprecisa, a seu respeito, tem disposição de aproximar-se dele com fé, para ser salvo. Isto aconteceu com aqueles discípulos e acontece com outros ainda hoje. Bartimeu ouvindo que Jesus mandou chamá-lo, não perdeu a oportunidade: Largou a capa, deu um pulo e foi ter com ele. A sua ação foi rápida e decisiva. Não foi uma simples curiosidade de conhecer Jesus que o motivou e nem o desejo de sentir a emoção por satisfazer algum desejo incerto. Antes, ele era consciente da sua necessidade e de que Jesus podia preenchê-la. A vontade determinada de receber a cura fez com que ele se colocasse na presença do Mestre, abandonando o lugar de pedinte à beira do caminho, onde muitos permanecem conformados.
No fundo deste quadro parece ouvirmos uma voz vitoriosa dizendo: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim...” (João 6:37). E diante de Jesus vemos um homem que sabe o que quer. Ao ser interrogado: “Que queres que eu te faça?” ele respondeu com segurança: “Mestre, que eu torne a ver”. E Jesus lhe concedeu a bênção não somente da visão, mas também da salvação. Bartimeu teve por Jesus a consideração que devia: Reconheceu-o como o Messias, chamando-lhe Filho de Davi; dirigiu-se a ele com respeito, tratando-o por “Mestre” e chegou-se a ele sem duvidar, isto é, com fé. É certo que, como nós mesmos, Bartimeu não tinha uma compreensão perfeita de Jesus como Mestre ou como Messias. Mesmo depois de sabermos tudo o que ele fez para a nossa redenção, esta compreensão deve desenvolver-se progressivamente, segundo a revelação que vamos recebendo ao longo do nosso crescimento espiritual na vida cristã. O importante é chegar confiante diante do Mestre, como fez Bartimeu que foi curado e salvo, e depois segui-lo estrada fora, até chegar à Jerusalém celestial!