terça-feira, 13 de janeiro de 2015

O PEDIDO DE JAIRO

                                                        O PEDIDO DE JAIRO
                          MARCOS 5:21-24a      (Mateus 9:18-19; Lucas 8:40-42a)

Não é possível estabelecer com rigor uma cronologia coerente do ministério de Jesus. Os próprios evangelistas não tiveram esta preocupação ao escrever os seus Evangelhos. Antes, eles arranjaram seus materiais de modos diferentes, com vistas a confirmar o objetivo dos seus ensinos. Por exemplo, os nove milagres relatados por Marcos desde 5:1 até 8:26 têm o objetivo de mostrar que, com isto, os discípulos foram levados a crer que Jesus é o Cristo (8:29). Lucas tem várias passagens paralelas ao Sermão da Montanha, distribuídas em seu Evangelho, em contextos diferentes dos de Mateus. Assim as narrativas de um e de outro podem seguir diferentes roteiros e alcançar diferentes objetivos, mas o conteúdo e os ensinos são os mesmos.
No caso do encontro de Jairo com Jesus, Mateus relata que, inicialmente, eles estavam na casa do apóstolo, no jantar que este ofereceu ao Mestre, ao qual compareceram muitos publicanos e pecadores. Alguns estudiosos supõe que Jairo estivesse entre os anciãos dos judeus que o centurião enviou a Jesus para pedir que ele viesse curar o seu servo          (Lucas 7:1-5). Na organização do seu relato, Mateus coloca este incidente antes da cura da mulher enferma (Mateus 9:19ss), como também o fazem Marcos e Lucas.
Agora surge uma pergunta: Se Jairo estava na casa de Mateus (Levi), qual foi o motivo que o levou para lá? Ele teria ido em busca da cura de sua filha, ou teria ido para sondar Jesus? Pois o chefe de uma sinagoga era alguém destacado na sociedade local e pertencia a um grupo antagônico a Jesus. Pode ser, também que sua filha estivesse muito doente e que ele estivesse predisposto a pedir a ajuda do Mestre. Isto ele fez efetivamente ao receber a notícia da morte da menina. Mas por quê Mateus coloca este fato e o milagre da ressurreição entrosado com a cura da mulher enferma? (Mateus 9:19-22). É porque, no arranjo do material para escrever o seu Evangelho, ele preferiu incluir estes acontecimentos num só bloco de milagres que ele registra logo em seguida à sua vocação (Mateus 9:9) e antes da escolha dos doze apóstolos (Mateus 10:1-4). Os milagres desse bloco são: a cura da mulher enferma (9:19-22), a ressurreição da filha de Jairo (9:23-26), a cura de dois cegos (9:27-31) e a cura de um mudo endemoninhado (9:32-34).
A partir daí, Jesus passa a andar acompanhado dos discípulos que são orientados pelo Mestre a atender às necessidades espirituais do povo, o que só poderia ser feito mediante as providencias de Deus em resposta à oração dos discípulos (9:35-38). Este trecho do capítulo 9 de Mateus descreve bem um período de aprendizado dos discípulos, desde o dia da vocação deste último.

Voltando ao texto de Marcos, capítulo 5:

V.21 – Tendo Jesus voltado no barco, para o outro lado, afluiu para ele grande
            multidão; e ele estava junto do mar.
V.22 – Eis que se chega a ele um dos principais da sinagoga, chamado Jairo, e,
            vendo-o, prostra-se a seus pés,
V.23 – e insistentemente lhe suplica: Minha filhinha está à morte; vem, impõe
            as mãos sobre ela, para que seja salva, e viverá.
V.24a-Jesus foi com ele.

A volta de Jesus da terra dos gerasenos para o lado de Cafarnaum causou grande alegria ao povo que o aguardava na praia. É preciso lembrar que Ele tinha saído à tardinha e os discípulos o levaram sem nenhum preparo, após um dia de intensa atividade, ensinando as parábolas e despedindo rapidamente a multidão. E a tempestade? É bem provável que muitos a tenham visto e que ficassem preocupados com a sorte de Jesus e seus companheiros. Por isso eles se alegraram ao vê-lo de volta (Lucas 8:40).
No meio daquela multidão estava um homem chamado Jairo, que gozava de muito prestígio naquela cidade, porque era um dos chefes da sinagoga. Ele estava aflito, pois a sua filhinha estava à beira da morte. Ela tinha doze anos e era filha única (Lucas 8:42). Mateus, que resume os acontecimentos, antecipa os fatos, dizendo que ela já havia morrido mas, em contrapartida enfatiza a confiança de Jairo ao dizer a Jesus: “Vem, impõe as mãos sobre ela, para que seja salva (ou curada), e viverá”. Na língua grega, os verbos salvar e curar são expressos pela mesma palavra “sözein” (Atos 14:9). As palavras de Marcos no V.23 refletem bem o desespero de um pai suplicante e o carinho com que ele se refere à sua “filhinha”. Lucas completa o quadro, informando que ela era filha única e que tinha aproximadamente doze anos, entrando, portanto, na adolescência, idade em que desabrocha o entusiasmo para a vida. A perca desta filha seria o apagar das luzes dos olhos dos pais. Jesus, que nunca foi insensível às necessidades e aos sentimentos humanos (cf Marcos 1:40-41), atendeu à súplica de Jairo e foi com ele.