terça-feira, 13 de janeiro de 2015

A CURA DO ENDEMONINHADO GERASENO

                                     A CURA DO ENDEMONINHADO GERASENO
                                 MARCOS 5:1-20    (Mateus 8:28-34; Lucas 8:26-39)

V.1 – Entrementes chegaram à outra margem do mar, à terra dos gerasenos.
V.2 – Ao desembarcar, logo veio dos sepulcros, ao seu encontro, um homem
         possesso de espírito imundo,
V.3 – o qual vivia nos sepulcros, e nem mesmo com cadeias alguém podia
         prendê-lo;
V.4 – porque, tendo sido muitas vezes presos com grilhões e cadeias, as cadeias
         foram quebradas por ele e os grilhões despedaçados. E ninguém podia
         subjugá-lo.
V.5 – Andava sempre, de noite e de dia, clamando por entre os sepulcros e
         pelos montes, ferindo-se com pedras.

Era já no crepúsculo, quando Jesus e Seus discípulos desembarcaram do outro lado do mar. Marcos e Lucas informam que eles estavam na terra dos gerasenos. Com isto eles fazem alusão a Gerasa, uma importante cidade do território de Decápolis, na Transjordânia, que ficava a meio caminho entre o Mar-Morto e o Mar da Galiléia, cerca de 32 quilômetros a leste do rio Jordão (Marcos 5:1; Lucas 8:26). Mateus refere-se à terra dos gadarenos (Mateus 8:28), em alusão à cidade de Gadara que, como Gerasa, era uma das dez cidades que faziam parte do território de Decápolis. Gadara localizava-se a cerca de 10 quilômetros a sudeste do Mar da Galiléia, próxima da foz do rio Jarmuque. Embora não se possa afirmar com certeza onde os fatos relatados neste episódio ocorreram, sabe-se que foi à beira do Mar da Galiléia, no território gentílico de Decápolis, onde Jesus entrou pela primeira vez com seus discípulos.
Os três Evangelhos sinóticos deixam marcante o fato de que, logo ao desembarcarem, o endemoninhado veio confrontar-secom Jesus. O relato deixa claro que Jesus ia na frente e os discípulos O seguiam. Mateus fala de dois endemoninhados furiosos. Marcos e Luca falam de um só, provavelmente do mais destacado dos dois, porque ele deu mais atenção à palavra de Cristo e quis segui-lo. Este acabou sendo testemunha naquela terra, do que Deus fez por ele, através de Jesus(Lucas 8:39). Marcos faz uma descrição mais detalhada do estado daquele homem. Ele vivia nos sepulcros, tinha uma força e uma violência tão espantosas, a ponto de arrebentar as correntes e os grilhões com que tentavam prendê-lo. Ninguém conseguia dominá-lo, embora tivessem tentado várias vezes. A sua perturbação mental era de tal ordem que ele passava dia e noite gritando, subindo e descendo morros, e flagelando o seu próprio corpo. Provavelmente ele foi banido da cidade porque não podiam suportá-lo (Lucas 8:27). Marcos usou cinco frases diferentes para descrever o estado, a força e a violência sobrenaturais daquele ser humano.

V.6 – Quando, de longe, viu Jesus, correu e o adorou,
V.7 – exclamando com alta voz: Que tenho eu contigo, Jesus, filho do Deus
         Altíssimo? Conjuro-te por Deus que não me atormentes.
V.8 – Porque Jesus lhe dissera: Espírito imundo, sai desse homem!
V.9 – E perguntou-lhe: Qual é o teu nome? Respondeu ele: Legião é o meu
         nome, porque somos muitos.
V.10 – E rogou-lhe encarecidamente que os não mandasse para fora do país.

É oportuno notar que, em seu estado normal, aquele homem nunca tinha visto Jesus. Mas agora, levado pelos demônios, ele correu, prostrou-se diante d’Ele (Lucas 8:28) e O adorou. Este ato significa que os demônios sabem quem é Jesus e O reconhecem como Deus (Marcos 1:24, 34b). Mas, porque Jesus havia ordenado ao espírito imundo que saísse daquele homem, ele exclamou: “Que tenho eu contigo, Jesus, filho do Deus Altíssimo? Conjuro-te por Deus que não me atormentes”. Com esta expressão em que ele confessa o nome de Jesus e a Sua relação com o Deus Pai, a intenção dele era alcançar de Jesus alguma vantagem, para não ser atormentado (Mateus 8:29), para não ser mandado para fora do país, ou para não ser mandado para o abismo (Lucas 8:31; cf Apocalipse 9:1, 11; 11:7; 17:8). Em tudo isso ficamos sabendo que os demônios adoram a Deus, creem n’Ele, oram (rogam) a Ele e tremem diante d’Ele   (Tiago 2:19). Todavia eles não Lhe obedecem e sabem que, no tempo certo, serão encaminhados para o seu destino final, o fogo eterno (Mateus 25:41).
Mas Jesus mostrou ao demônio a Sua autoridade, quando lhe perguntou: “Qual é o teu nome?” e ele, vencido, respondeu: “Legião é o meu nome, porque somos muitos”. Legião era o nome dado a um destacamento do exército romano que contava seis mil soldados. Isto vem mostrar que aquele homem estava possuído de uma grande quantidade de demônios (cp Lucas 8:2b). Ao que parece, ele foi abrindo oportunidades para a entrada de espíritos malignos que se foram apoderando dele cumulativamente (Lucas 8:30)

V.11 – Ora, pastava ali pelo monte uma grande manada de porcos.
V.12 – E os espíritos imundos rogaram a Jesus, dizendo: Manda-nos para os
           porcos, para que entremos neles.
V.13 – Jesus o permitiu. Então saindo os espíritos imundos, entraram nos
           porcos; e a manada, que era cerca de dois mil, precipitou-se
           despenhadeiro abaixo, para dentro do mar, onde se afogaram.
V.14 – Os porqueiros fugiram, e o anunciaram na cidade e pelos campos. Então
           saiu o povo para ver o que sucedera.
V.15 – Indo ter com Jesus viram o endemoninhado, o que tivera a legião,
           assentado, vestido em perfeito juízo; e temeram.
V.16 – Os que haviam presenciado os fatos contaram-lhes o que acontecera ao
           endemoninhado, e a cerca dos porcos.
V.17 – E entraram a rogar-lhe que se retirasse da terra deles.

Qual foi a atitude de Jesus diante do pedido dos demônios para não os mandar para fora do país, nem para o abismo? Jesus não os mandou para esses lugares! Ele apenas permitiu que eles fossem para os porcos, a pedido dos próprios demônios. Não os mandou para fora do país, porque aquela região era habitada por uma população que dava preferência aos demônios, ao invés de Jesus (Mateus 8:34; Lucas 8:37). Por quê Jesus permitiu a destruição de cerca de dois mil porcos? É porque aqueles criadores exerciam uma atividade perniciosa, criando e comercializando uma carne cujo consumo era proibido em Israel pela Lei de Moisés (Levítico 11:7-8; Deuteronômio 14:8). Embora Decápolis fosse um território independente de Israel nos tempos do Novo Testamento aquele comércio atingia até Jerusalém, onde muitos sacerdotes haviam-se habituado ao consumo de carne suína. É um caso semelhante a países produtores de drogas, que facilitam o contrabando paraoutros países, onde o uso das mesmas é proibido. Este episódio mostra que Cristo atribui um valor muito maior a um ser humano do que a dois mil porcos (Marcos 8:36-37; Mateus 12:11-12 e Lucas 9:25).
Calculando-se que o peso líquido da carne de um porco fosse de cinquenta quilos, ao preço atual de R$ 6,00 o quilo no supermercado, cada animal renderia R$ 300,00. Dois mil porcos valeriam, então, R$ 600.000,00 (seiscentos mil reais).
Os porqueiros fugiram, ao mesmo tempo assustados com o que aconteceu aos porcos e, também, possuídos de temor porque nunca tinham visto uma demonstração de poder como aquela, capaz de transformar uma criatura considerada irremediavelmente perdida, em uma pessoa normal, dignamente vestida, em perfeito juízo, em paz e assentada aos pés de Jesus (Lucas 8:35). Eles tinham ido para a cidade e para os campos, anunciando o que eles haviam presenciado.
A reação do povo que saiu para ver o que havia acontecido e pediu a Jesus para retirar-se do território deles, não podia ser outra, senão o resultado de uma terrível confusão mental. Eles não sabiam explicar aqueles fatos, mas sentiam que a presença de Jesus, ali, podia complicar a vida deles e causar prejuízo para as suas atividades de criação de porcos. Isto poderia ser uma ameaça à sobrevivência daquela população.


V.18 – Ao entrar Jesus no barco, suplicava-lhe o que fora endemoninhado que o
           deixasse estar com ele.
V.19 – Jesus, porém, não lho permitiu, mas ordenou-lhe: Vai para tua casa,
           para os teus. Anuncia-lhes tudo o que o Senhor te fez, e como teve
           compaixão de ti.
V.20 – Então ele foi e começou a proclamar em Decápolis tudo o que Jesus lhe
           fizera; e todos se admiravam.

A súplica do ex-endemoninhado a Jesus para que o deixasse estar com Ele não podia ser atendida, por pelo menos dois motivos. O primeiro é que o ministério de Jesus já estava adiantado, e os doze já haviam recebido muitos ensinos e muito treinamento. O segundo é que o testemunho dele junto aos seus parentes e seus conhecidos era mais importante para o futuro ministério de Jesus naquela região. De fato, por ocasião da segunda multiplicação dos pães que ocorreu lá, Jesus foi muito bem recebido (Marcos 7:31, 37; 8:1-2, 9), devido à divulgação que aquele homem promoveu, a respeito do que Deus fez com ele por intermédio de Jesus (Lucas 8:39).