A CURA DE UMA MULHER ENFERMA
MARCOS 5:24b-34 (Mateus 9:19-22; Lucas 8:42b-48)
V.24b – Grande multidão o seguia comprimindo-o.
V.25 – Aconteceu que certa mulher, que, havia doze anos vinha sofrendo de
uma hemorragia,
V.26 – e muito padecera à mão de vários médicos, tendo despendido tudo
quanto possuía, sem contudo nada aproveitar, antes pelo contrário, indo
a pior,
V.27 – tendo ouvido a fama de Jesus, vindo por trás dele, por entre a multidão,
tocou-lhe a veste.
V.28 – Porque dizia: Se eu apenas lhe tocar as vestes, ficarei curada.
V.29 – E logo se lhe estancou a hemorragia, e sentiu no corpo estar curada do
seu flagelo.
A maneira como Marcos e Lucas descrevem esta caminhada de Jesus em direção à casa de Jairo é simplesmente impressionante, por causa da pressão que a multidão exercia sobre Ele. Ao que parece, era com muita dificuldade que Ele conseguia avançar um passo. Isto se devia à popularidade que Ele alcançou por meio dos Seus milagres e da Sua pregação. Imagine-se a preocupação de Jairo em meio a esse impasse, sabendo que a sua querida filhinha estava agonizando.
Mas isto não era tudo. De repente apareceu uma mulher com um grave problema de saúde, que interceptou o trajeto. Marcos descreve com detalhes o estado daquela mulher. Ela sofria de uma hemorragia, já fazia doze anos, e padecera o transtorno de passar pelas mãos de vários médicos, sem alcançar nenhuma melhora. Pelo contrário, o seu problema se agravara e os seus recursos se esgotaram. É claro que ela estava sofrendo de uma depressão física, mas, também, havia algo que afetava o seu estado espiritual. Não é difícil imaginar as implicações da sua condição com a mentalidade judaica, especialmente se ela fosse uma mulher religiosa. Ela estava completamente proibida de participar dos rituais religiosos do judaísmo e sofria uma série de restrições na sociedade (cf Levítico 15:19-30).
Aquela mulher, provavelmente, nunca se aventurou a misturar-se à multidão para ver e ouvir o que Jesus fazia e pregava, mas agora chegou a sua oportunidade. Ela não se incomodou com o aperto da multidão, nem com a possibilidade de contaminar alguém do povo por causa da sua impureza. Com certeza a sua enfermidade a deixava muito constrangida. Ela podia imaginar-se enquadrada entre os contaminados de lepra ou entre os que tivessem tocado algum cadáver (Números 19:11,22). Por isso ela aproximou-se furtivamente por trás de Jesus, para somente tocar-lhe a orla da veste, porque tinha convicção de que isto bastava para que ela fosse curada. As orlas ou bordas nas vestes eram um sinal de consagração a Deus para o povo de Israel (Números 15:38-41). Ao conseguir o seu intento a mulher teve a hemorragia imediatamente estancada e teve a sensação da cura no seu próprio corpo.
V.30 – Jesus, reconhecendo imediatamente que dele saíra poder, virando-se no
no meio da multidão, perguntou: Quem me tocou nas vestes?
V.31 – Responderam-lhe seus discípulos: Vês que a multidão te aperta, e dizes:
quem me tocou?
V.32 – Ele, porém, olhava ao redor para ver aquela que fizera isto.
V.33 – Então a mulher, atemorizada e tremendo, cônscia do que nela se
operara, veio, prostrou-se diante dele e declarou-lhe toda a verdade.
V.34 – E ele lhe disse: Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz, e fica livre do
teu mal.
Foi somente ela que percebeu o milagre no ato? Não! Jesus também percebeu que d’Ele emanara poder. Apesar da contestação de Pedro e dos demais discípulos, ele passou a procurar em redor, quem havia feito isso (Lucas 8:45). Lucas diz que a mulher não podia ocultar-se e, como Marcos, informa que ela veio atemorizada, adorou-O e declarou, à vista de todo o povo, por quê lhe havia tocado e como fora curada.
A impressão que permanece, quando lemos o final desta história, é de que Jesus queria repreender a mulher. Mas esta não é a verdade. Na realidade, o que Ele queria era que a sua declaração fosse um testemunho diante do povo de que ela estava curada e, portanto, estava livre de todas as restrições a que a lei a obrigava. Por outro lado, o que Jesus fez foi confirmar que Ele operou a cura, autenticando a fé daquela mulher. Carinhosamente a chamou de “filha” e a despediu dizendo: “Vai- te em paz”.
É oportuno notar que, ao tocar as vestes de Jesus, a mulher sentiu no corpo que estava curada. Ao mesmo tempo Jesus sentiu que d’Ele saiu poder. Seria isto uma coincidência ou trata-se de um fato explicável? A explicação é que Jesus é a fonte de poder e Ele disponibiliza o Seu poder oportunamente para operar a favor do ser humano necessitado. Os apóstolos realizaram inúmeros milagres, mas nenhum deles afirmou que deles saía poder. Eles estavam conscientes de que Cristo é quem operava neles pelo poder do Espírito Santo, conforme o depoimento de Paulo em Romanos 15:18-19a.