O PECADO CONTRA O ESPÍRITO SANTO
MATEUS 12:22-32 (Marcos 3:20-30; Lucas 11:14-23)
V.22 – Então lhe trouxeram um endemoninhado, cego e mudo; e ele o curou,
passando o mudo a falar e a ver.
V.23 – E toda a multidão se admirava e dizia: É este, porventura, o Filho de
Davi?
V.24 – Mas os fariseus, ouvindo isto, murmuravam: Este não expele os demônios
senão pelo poder de Belzebu, maioral dos demônios.
Mateus inicia esta narrativa no momento da cura do endemoninhado cego e mudo. Marcos acrescenta que esta cena se passou em Sua casa e que para lá concorreu de novo uma grande multidão. Inclusive, os parentes de Jesus saíram para prendê-Lo, achando que Ele estava fora de Si, isto é, que Ele estava louco ou fanatizado. Possivelmente eles foram vítimas das intrigas provocadas pelos escribas que, descendo de Jerusalém, procuravam difamá-Lo com o recurso de boatos, dizendo que Ele estava possesso de Belzebu e expulsava demônios por meio dele, ou seja, que o Seu poder vinha de Satanás (Marcos 3:20-22). Belzebu era o nome que, na época, se dava ao principal dos demônios, o que vem a ser o próprio diabo, e o seu nome significa “aquele que é exaltado”, seja entre os homens, seja nas alturas.
Enquanto os fariseus imaginavam que isto fosse verdade, a multidão, maravilhada, diziaque Aquele só podia ser o Filho de Davi, isto é, o Messias.
V.25 – Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos disse: Todo reino
dividido contra si mesmo ficará deserto, e toda cidade, ou casa,
dividida contra si mesma, não subsistirá.
V.26 – Se Satanás expele a Satanás, dividido está contra si mesmo; como, pois,
subsistirá o seu reino?
V.27 – E, se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam vossos
filhos? Por isso eles mesmos serão os vossos juízes.
V.28 – Se, porém, eu expulso os demônios, pelo espírito de Deus, certamente é
é chegado o reino de Deus sobre vós.
Jesus, conhecendo os pensamentos deles (Lucas 11:17), convocou-os (Marcos 3:23) e lhes mostrou, por meio de uma parábola, que o argumento deles era incoerente. Aquelas acusações não tinham sentido, porque não é possível que Satanás seja tão insensato, a ponto de expulsar os seus próprios demônios. Se assim fosse, ele estaria destruindo o seu próprio reino. Isto seria como um reino, ou uma cidade, ou como uma casa que, divididos, tendem a desaparecer (cf Marcos 3:24-26; Lucas 11:17-18). Ao expulsar demônios Jesus estava demostrando o poder de Deus contra Satanás, e não uma guerra de Satanás contra si mesmo. Além disso, os próprios judeus usavam a prática de exorcismo.Então Jesus pergunta: Por meio de quem eles exorcizavam? A resposta só podia ser: Por meio de Belzebu! Com isto os que O condenavam seriam condenados pelos próprios judeus.
A declaração de Jesus no verso 28, em que Ele atesta a chegada do reino com os poderes do Espírito Santo é o ponto mais alto deste Evangelho de Mateus que enfatiza o reino de Deus, e Jesus como o Rei dos judeus. No verso paralelo a este, de Lucas 11:20, o evangelista escreve: “Se, porém, eu expulso demônios pelo dedo de Deus...”. A expressão “dedo de Deus” é usada metaforicamente no Velho Testamento para descrever o poder de Deus em várias circunstâncias. Por exemplo, como Criador (Salmo 8:3); como Revelador (Êxodo 8:19); como Legislador e Libertador, que libertou o povo do Egito e lhe deu a Lei (Êxodo 31:38; 20:2ss).
V.29 – Ou, como pode alguém entrar na casa do valente e roubar-lhe os bens
sem primeiro amarrá-lo? E então lhe saqueará a casa.
Este verso é paralelo a Marcos 3:27 e Lucas 11:21-22.
Lucas diz: “Quando o valente, bem armado, guarda a sua própria casa, ficam em segurança todos os seus bens. Sobrevindo porém, um mais valente do que ele, vence-o, tira-lhe a armadura em que confiava e lhe divide os despojos”.
Esta parábola de Lucas é mais desenvolvida do que as de Mateus e Marcos. Nela, o valente é Satanás. O mais valente é Jesus que vence Satanás e tira a armadura em que ele confiava, isto é, as armas que ele usava para segurar as suas presas em cativeiro. Quais são essas armas? São as trevas da cegueira espiritual (II Coríntios 4:4,6); o pecado que escraviza e condena (Romanos 6:16,23; Colossenses 1:13-14); o poder e o pavor da morte ( Hebreus 4:4,6). Tendo destruído tudo isso, Cristo distribui os bens (despojos) adquiridos na batalha, para aqueles que com Ele ajuntam. Quais são esses bens? São: a visão da luz do Evangelho; a redenção e a remissão de pecado; a vida eterna, oposta à morte e ao pavor dela, e também a libertação do cativeiro do pecado. Tudo isso está incluído nas passagens acima indicadas.
V.30 – Quem não é por mim, é contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha.
Este verso é paralelo de Lucas 11:23 e significa que não existe uma terra de ninguém entre o reino de Deus e o reino de Satanás. Há que se tomar uma posição definida: Ou se está do lado de Cristo, ou se está do lado do inimigo. Ainda, quem não está cooperando na obra de Cristo, está dispersando as pessoas que ele quer ajuntar.
V.31 – Por isto vos declaro: Todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos
homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada.
V.32 – Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do homem ser-lhe-á
isso perdoado; mas se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será
isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir.
Estes versos, paralelos a Marcos 3:28-29 não encontram paralelo em Lucas. Mas esta é a mais severa das advertências feitas por Jesus: A blasfêmia contra o Espírito Santo não tem perdão. Quando os adversários viam as obras de Jesus que, inegavelmente, eram obras de Deus, eles persistiam obstinadamente em não crer. Isto é cegueira intencional. Eles não queriam crer, paradoxalmente àquele cego que Jesus curou, o qual passou a ver. O pecado contra o Espírito Santo consiste da persistência obstinada de não crer em Jesus diante das evidências, e de atribuir suas obras a Satanás. Em resumo, o pecado contra o Espírito Santo é recusar-se intencionalmente a crer no Filho de Deus, e impedir que Ele cure a cegueira espiritual do incrédulo. Isto é obra de Satanás. II Coríntios 4:4b diz: “...o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus”.
A perversidade dos inimigos de Jesus chegou a tal ponto que eles confundiam o Seu estado de graça com possessão demoníaca. Marcos 3:30 define isto como o “pecado contra o Espírito Santo”.