quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

A PECADORA QUE UNGIU OS PÉS DE JESUS

                             A PECADORA QUE UNGIU OS PÉS DE JESUS
                                                    LUCAS 7:36-50

V.36 – Convidou-o um dos fariseus para que fosse jantar com ele. Jesus,
            entrando na casa do fariseu, tomou lugar à mesa.
V.37 – Eis que uma mulher da cidade, pecadora, sabendo que ele estava à mesa
            na casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com unguento;
V.38 – e, estando por detrás, aos seus pés, chorando, regava-os com suas
            lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés e
            os ungia com o unguento.

As críticas que Jesus recebia, conforme seu próprio depoimento no verso 34 deste mesmo capítulo, eram devidas ao seu temperamento alegre e jovial, e também devidas ao fato d’Ele comunicar-se bem com todo tipo de pessoas, em qualquer ambiente. Os acontecimentos durante o jantar na casa do fariseu confirmam essas cousas.
Um evento como este que estamos estudando tinha, na Judéia, características bem diferentes daquelas a que estamos acostumados na nossa moderna sociedade ocidental. Ao convidar uma pessoa destacada, como um rabino famoso, ou um mestre com ensinos inovadores, o anfitrião abria as portas de sua residência, para permitir a entrada de qualquer pessoa, fosse rica ou pobre, conhecida ou desconhecida e até mesmo pessoas da rua, além dos convidados escolhidos, para ouvirem os ensinos do palestrante. Este fariseu devia ser um homem rico, dono de uma bela mansão que, segundo o modelo da época, era construída em torno de um grande pátio central em que se realizavam esses encontros, onde também se instalava uma mesa em forma da letra ‘U’, com divãs dispostos do lado de fora, em que os convidados reclinavam-se sobre o lado esquerdo, deixando livre a mão direita para apanhar o alimento trazido pelos servidores. Antes de reclinar-se, os hóspedes descalçavam as sandálias e esticavam as pernas para trás.
Neste banquete, conforme a narrativa de Lucas, além de Jesus, são destacadas as pessoas do fariseu anfitrião e da mulher da cidade. O fariseu, pertencente à seita religiosa mais influente da época entre os judeus, e que, pouco a pouco intensificava a perseguição a Jesus, não parece ter sido hostil a Ele, pois no verso 40 ele se dirige respeitosamente, chamando-O de “Mestre”. Embora não fique claro o motivo do seu convite ao Senhor, ao que parece ele estava desejoso de ouvi-Lo. Mas também não é descartada a hipótese de que ele usasse oportunidades como esta para ostentar a sua vaidosa posição social, como aqueles que gostam de aparecer ao lado de pessoas famosas nos jornais. É estranho que ele não tenha recebido Jesus com as regras de etiqueta protocolares da época, como mandar lavar-Lhe os pés, saudá-Lo com o beijo de praxe, nem ungi-Lo com o azeite costumeiro.
A mulher, por seu lado, era conhecida do dono da casa (V.39). A expressão “mulher da cidade, pecadora” (V37) e “seus muitos pecados” (V47) identificam-na como prostituta. Mas, sem incomodar-se com o que os circunstantes poderiam estar pensando dela e, desvencilhada dos próprios laços que a prendiam ao passado, ela entrou livremente e aproximou-se de Jesus. Por que ela entrou com tanta ousadia? O verso 37 responde: porque ela sabia que Jesus estava lá! Os preconceitos do fariseu ou dos que estavam sentados à mesa não poderiam fazer frente ao acolhimento que o Mestre lhe daria, ela tinha certeza disso, e nem desfazer a confiante liberdade que ela havia adquirido em Jesus.
Quanto ao seu caráter, tratava-se de uma mulher humilde, respeitosa e cheia de gratidão. A sua humildade levou-a a prostrar-se aos pés do Senhor; os beijos prolongados mostram a importância que ela Lhe atribuía; o seu respeito não permitiu que ela se acercasse tanto de Jesus, para ungir-Lhe a cabeça. Ela ungiu os Seus pés com o precioso bálsamo que trazia num vazo de alabastro. A sua profunda gratidão é demostrada pelas suas muitas lágrimas. Quando soltou os cabelos, amarrados ao costume das mulheres judias, ela mostrou que não estava preocupada com os preconceitos sociais, mas somente queria adorar Jesus.

V.39 – Ao ver isto, o fariseu que o convidara disse consigo mesmo: Se este fora
            profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, porque é
            pecadora.
V.40 – Dirigiu-se Jesus ao fariseu e lhe disse: Simão, uma cousa tenho a
            dizer-te. Ele respondeu: Dize-a, Mestre.
V.41 – Certo credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários, e
            o outro cinquenta.
V.42 – Não tendo nenhum dos dois com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Qual
            deles, portanto, o amará mais?
V.43 – Respondeu-lhe Simão: Suponho que aquele a quem mais perdoou.
            replicou-lhe: Julgaste bem.

Embora a maioria dos escribas e fariseus fosse hostil a Jesus, havia alguns que o admiravam (João 3:1,2; 19:38-39; Mateus 8:19; Marcos 12:28-34; Atos 6:7). Este fariseu cuja o nome Jesus revela, Simão (V40), parece estar no terreno da indecisão, pelo que se depreende do verso 39. Ele não sabia do que Jesus era capaz. Mas Ele prova que podia até ler pensamentos e propôs-lhe a parábola dos dois devedores. Um devia dez vezes mais do que o outro. O que devia mais representa a mulher pecadora e o que devia menos representa Simão, o fariseu. Tendo sido perdoados ambos pelo credor, Jesus induz Simão a concluir que o devedor maior ficou mais agradecido, ou seja, ele passou a amar o credor, mais do que o devedor menor.

V.44 – E voltando-se para a mulher disse a Simão: Vês essa mulher? Entrei em
            tua casa e não me deste água para os pés; esta, porém, regou os meus
            pés com lágrimas e os enxugou com os seus cabelos.
V.45 – Não me deste ósculo; ela, entretanto desde que entrei não cessa de me
            beijar os pés.
V.46 – Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta com bálsamo ungiu os meus
            pés.
V.47 – Por isso te digo: Perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela
            muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama.

Nestes versos Jesus interpreta a parábola, detalhando a sua aplicação às atitudes daquela mulher que revelaram o seu muito amor, porque foram perdoados os seus muitos pecados. Já, Simão, com suas atitudes não revelou tanto amor, porque não foram perdoados os seus pecados, que ele mesmo achava serem poucos.
O verso 47, do modo que está redigido faz pensar que o perdão foi concedido à mulher, porque ela “muito amou”. Mas a segunda parte deste verso esclarece a primeira parte. Na realidade, deve-se entender esta afirmação de Jesus do seguinte modo: “Perdoados lhe são os seus muitos pecados. Eis porque ela muito amou”.

V.48 – Então disse à mulher: Perdoados são os teus pecados.
V.49 – Os que estavam com ele à mesa, começaram a dizer entre si: Quem é
            este que até perdoa pecados?
V.50 – Mas Jesus disse à mulher: A tua fé te salvou; vai-te em paz.

O veredito final de Jesus foi este: “Perdoados são os teus pecados”
e “A tua fé te salvou; vai-te em paz” (cf Romanos 5:1).
Estas últimas palavras de Jesus levantaram um questionamento entre os convidados que estavam à mesa. Eles não entendiam que Jesus tem autoridade  para perdoar pecados (cf Marcos 2:10-11).
Uma cousa não explicada pelo evangelista, mas que podemos imaginar, é que aquela mulher já tinha convicção de quem era Jesus, e sabia o que Ele podia fazer por ela. Alguns estudiosos dos Evangelhos entendem que ela já tinha ouvido, juntamente com as multidões, algumas pregações do Mestre, tais como a de Mateus 11:25-30, em que se destaca o convite de Jesus, conclamando: “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu julgo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu julgo é suave e o meu fardo é leve”. Quanto ao fariseu, Jesus não o repreendeu. Antes, Ele lhe deu lições espirituais, comparando as suas atitudes com o comportamento daquela mulher. Jesus quis promovê-lo. O fato do Mestre tê-lo chamado pelo nome, já é um gesto de simpatia.
O que salta à vista nessa história, uma das mais belas do Novo Testamento, é a sensibilidade de Lucas como escritor, a sabedoria do Mestre naquela situação constrangedora e a Sua disposição de receber e perdoar aquela pecadora penitente. Este caso responde à controvertida questão: É o pecador que aceita Jesus como Salvador ou é Jesus quem aceita o pecador para salvá-lo?