JESUS UNGIDO EM BETÂNIA
                                JOÃO 12:1-8      (Mateus 26:6-13; Marcos 14:3-9)
V.1 - Seis dias antes da Páscoa, foi Jesus para Betânia, onde estava Lázaro, a
        quem ele ressuscitara dentre os mortos.
V.2 - Deram-lhe, pois, ali, uma ceia; Marta servia, sendo Lázaro um dos que
        estavam com ele à mesa.
V.3 - Então, Maria, tomando uma libra de bálsamo de nardo puro, mui precioso,
        ungiu os pés de Jesus e os enxugou com os seus cabelos; e encheu-se toda a
        casa com o perfume do bálsamo.
V.4 - Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, o que estava para traí-lo, disse:
V.5 - Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários e não se deu aos
        pobres?
V.6 - Isto disse ele, não porque tivesse cuidado dos pobres; mas porque era ladrão
        e, tendo a bolsa, tirava o que nela se lançava.
V.7 - Jesus, entretanto, disse: Deixa-a! Que ela guarde isto para o dia em que me
        embalsamarem;
V.8 - porque os pobres, sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me
        tendes.
Os Evangelhos de Mateus e de Marcos falam desta ceia em Betânia, na casa de Simão, o leproso, e de uma mulher que ungiu com bálsamo a cabeça de Jesus. Mas nenhum destes dois Evangelhos identifica estes personagens. De Simão, dizem apenas que era conhecido como leproso. Mas, se agora estava entre os comensais, significa que tinha sido curado. Também não afirmam que foi Jesus quem o curou, nem tão pouco, que era o Simão, fariseu, de Lucas 7:36,40, pois são pessoas distintas. De Simão, dono da casa onde se deu o evento, não há outra informação nos Evangelhos, embora alguns estudiosos imaginem que ele possa ter sido o marido de Marta, e que tivesse sido curado por Jesus, o que explicaria o segredo da grande intimidade do Mestre com aquela família.
Embora não identifique a casa onde se deu a ceia, João esclarece que Lázaro, que Jesus havia ressuscitado dos mortos, estava presente, e que Marta servia. Mas o foco da atenção cai sobre Maria, identificada como a que ungiu os pés de Jesus com um bálsamo muito caro e, com tanta abundância, que recendeu por toda a casa, e ela teve que enxugar Seus pés com seus próprios cabelos. Mateus e Marcos registram que ela ungiu a Sua cabeça (Mateus 26:7; Marcos 14:3) e Marcos, além disso, relata que ela quebrou o vaso de alabastro, que não mais foi usado para outro propósito. O unguento chamado “nardo” é uma essência oleosa extraído de uma planta da Índia e de suas raízes, que tem uma fragrância muito agradável. Nos tempos bíblicos, era importado em frascos de alabastros.
Mateus e Marcos informam que os discípulos ficaram indignados com o ato de Maria, classificando-o como desperdício, em vista do auto preço do produto, estimado em trezentos denários, ou trezentas diárias de salário de um trabalhador normal. Isto corresponde a quase um ano de serviço. Mas João esclarece que foi Judas Iscariotes, que era desonesto (V.6) e cobiçoso de dinheiro (Mateus 26:15), quem levantou o protesto.
Jesus assumiu a defesa daquele ato de Maria, explicando que ela fazia uma antecipação simbólica, mas aceitável, do Seu sepultamento. De fato, ela era agradecida pela ressurreição do seu irmão, e também pressentia o alto preço que Ele havia de pagar por aquele milagre (cf 11:53,57). Portanto, o seu ato de reconhecimento e de gratidão a Jesus não era, nem exagero, e nem desperdício. Ele o aprovou, aceitando a atitude de Maria, como uma boa ação. Ela parece ter compreendido o Seu estado afetivo diante dos sofrimentos que Ele iria enfrentar num momento em que os Seus discípulos mais chegados não percebiam a crise.
O argumento de Judas, que o perfume podia ser vendido em benefício dos pobres era pura falsidade ideológica. O que ele desejava é que o dinheiro fosse colocado na bolsa, para ele mesmo se apossar dele. A isso, Jesus respondeu, não com uma profecia, mas com uma constatação de fatos, dizendo: “...os pobres sempre os tendes convosco...” isto é, sempre será possível fazer o bem para eles, mas, Ele mesmo iria deixar este mundo em breve. Isto não significa que os Seus discípulos devam deixar de devotar-se a Ele para viver fazendo caridade, e nem que eles devam viver simplesmente uma vida de devoção, sem atender necessitados, como aconteceu com o monasticismo (cp Mateus 25:31-46 e Tiago 2:14-17).
A datação desta ceia oferecida a Jesus, segundo o Evangelho de João, precisa de um esclarecimento. Segundo o evangelista, ela foi realizada seis dias antes da Páscoa. Visto que a comemoração deste evento tinha início na sexta-feira após o pôr do sol, isto é, a partir das seis horas da tarde, a ceia teria que ter início após o pôr do sol do sábado anterior.
Há muita discussão a respeito desta datação, porque Mateus e Marcos a colocam na quarta-feira à noite, portanto, quatro dias depois, e após a entrada triunfal do domingo anterior (cf Mateus 26:6-13; Marcos 14:1-3).
Mas nós temos visto que muitas vezes os escritores dos Evangelhos estão mais preocupados com os fatos do que com a cronologia, para dar mais precisão aos ensinos. Entre as muitas explicações apresentadas para este caso, a que parece mais plausível é que João colocou a unção de Jesus por Maria no sábado após o pôr do sol, que já era o Domingo de Ramos, para enfatizar que Ele já estava ungido como o Rei Messias, quando entrou em Jerusalém, e foi recebido e aclamado como tal (cf 12:15; Mateus 21:5,9; Marcos 11:10; Lucas 19:38). 
