sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

JESUS MANDA PREPARAR A CEIA PASCAL

                                          JESUS MANDA PREPARAR A CEIA PASCAL
                            MARCOS 14:12-16     (Mateus 26:17-19; Lucas 22:7-13)

V.12 - E no primeiro dia dos pães asmos, quando se fazia
          o sacrifício do cordeiro pascal, disseram-lhe seus discípulos:
          Onde queres que vamos fazer os preparativos para comeres a páscoa?
V.13 - Então enviou dois dos seus discípulos, dizendo-lhes: Ide à cidade,
          e vos sairá ao encontro um homem trazendo um cântaro de água;
V.14 - segui-o e dizei ao dono da casa onde ele entrar, que o Mestre pergunta:
          Onde é o meu aposento no qual hei de comer a páscoa com os meus
          discípulos?
V.15 - E ele vos mostrará um espaçoso cenáculo mobiliado e pronto;
          ali fazei os preparativos.
V.16 - Saíram, pois, os discípulos, foram à cidade e,
          achando tudo como Jesus lhes havia dito, prepararam a páscoa.

No início deste capítulo 14 do Evangelho de Marcos encontramos registrado o plano dos líderes judeus para tirar a vida de Jesus, prendendo-o traiçoeiramente. Esta breve introdução relaciona todo este capítulo com aquilo que Jesus vinha anunciando sobre os seus sofrimentos, desde o capítulo 8, verso 31, com estas palavras: “Então começou ele a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do homem sofresse muitas cousas, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas, fosse morto e que depois de três dias ressuscitasse”.
Mas aquela introdução é também a porta que conduz aos acontecimentos finais do “Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”, e que Marcos registra cuidadosamente, para esclarecer tudo o que Ele vinha profetizando sobre o seu futuro, incluindo a sua morte e ressurreição. A unção em Betânia fica bem explicada neste contexto, quando ele esclarece que estava sendo preparado para a sepultura. E desde agora os acontecimentos se desenrolam rapidamente até o final da narrativa. Se antes Jesus vinha prevenindo os discípulos de maneira discreta sobre o que estava para acontecer, agora Ele estava falando de modo claro, dentro do próprio contexto dos acontecimentos, desde que os principais sacerdotes e fariseus deram ordem para, se alguém soubesse onde Ele estava, denunciá-lo, a fim de o prenderem. A intensificação dos conflitos com os adversários devida aos fatos ocorridos na segunda e na terça feira no Templo também apontam para uma visível mudança da situação.
Nestas condições, a boa ação de Maria ao ungir Jesus é digna de memória no evangelho, por contrastar frontalmente com a atitude daqueles que se indignaram, alegando desperdício do perfume. Mas, derramando-o sobre a sua cabeça, ela estava procedendo à unção do Rei, porque certamente o reconhecia como tal. O apóstolo João informa que os discípulos só vieram a compreendê-lo assim, depois da ressurreição, quando ele foi glorificado (João 12:15-16). Ele até coloca a unção de Jesus por Maria no seu Evangelho, antes dele ter entrado como Rei em Jerusalém, montado no jumentinho. Ele apresenta uma ordem lógica dos fatos que podemos compreender assim:
1 - A unção do Rei
2 - A entrada triunfal do Rei em Jerusalém (já ungido)
3 - A glorificação do Rei (na ressurreição)
Portanto, a boa obra de Maria está relacionada com um dos pontos fundamentais para a pregação do evangelho, que é a visão de Jesus como Rei. Aquela mulher tinha consciência de muitos aspectos dos ensinos dele, porque sentava-se aos seus pés, para ouvi-lo com atenção (cf. Lucas 10:38-42).
Jesus tinha consciência de que a sua morte e os acontecimentos relacionados com ela deviam ocorrer na Páscoa. Por isso ele tomou todas as precauções necessárias para cumprir as profecias pertinentes aos fatos: fez preparar o jumentinho (Zacarias 9:9) e mandou providenciar as espadas (Isaías 53:12; Lucas 22:36-37). Além disso teve o cuidado de entrar discretamente em Jerusalém para a última ceia, a fim de cumprir cabalmente o seu ministério, antes que chegasse aquela sua hora. Isto fica muito evidente no relato dos Evangelhos.
Ele tinha tantas cousas para lhes ensinar naquela noite, que o Evangelho de João conta com cinco capítulos, de um total de vinte e um, dedicados exclusivamente a estes assuntos. São os de números treze até o dezessete, inclusive.
Era o primeiro dia dos pães asmos, quando Jesus ordenou a dois de seus discípulos que fossem à cidade preparar a Páscoa. O pão asmo é pão sem fermento, do tipo daquele que foi assado para ser comido às pressas no dia da saída do Egito, conforme instruções de Êxodo 12:14-20, quando foi celebrada a primeira Páscoa. Agora, quando os judeus faziam os preparativos para a festa, a primeira medida era retirar das casas todo fermento, o que aliás se fazia segundo um ritual cerimonioso acompanhado de orações, pois uma das ideias relacionadas com o fermento na concepção bíblica é a de podridão ou de corrupção. Também como preparativo era feito o sacrifício do cordeiro para ser comido, assado ao fogo. O seu sangue lembrava a proteção de Deus sobre os primogênitos de Israel quando o Anjo da Morte passou sobre o Egito. Outras iguarias que constavam dos preparativos para a refeição pascal eram um molho feito de ervas amargas para lembrar as amarguras da escravidão do Egito, uma pasta feita de maçãs, tâmaras, romãs e nozes, com pedacinhos de canela que lembravam a massa dos tijolos com palha de trigo, fabricados pelos hebreus quando lá eram escravos.  Eram usados também quatro cálices grandes de vinho misturado com água de cerca de meio litro cada um, que se bebia em momentos diferentes da celebração, os quais lembravam as quatro promessas de Deus contidas em Êxodo 6:6-7. Assim, cada detalhe destes preparativos lembrava algum fato relacionado com a libertação do povo da escravidão do Egito.
Era também durante o período destas festividades que o Filho de Deus haveria de libertar o homem da escravidão do pecado, e esta é a última Páscoa da História da Redenção. Por isso era muito importante que Jesus a celebrasse com seus discípulos. Convém observar que nesta celebração não se faz menção do cordeiro pascal tradicional, certamente porque o Cordeiro de Deus estava presente ali, para ser sacrificado.
O cenáculo em que foi feita a comemoração provavelmente ficava na casa dos pais de João Marcos, o escritor deste Evangelho. Ali também os discípulos continuaram a reunir-se após a ascensão de Jesus, enquanto aguardavam a chegada do Espírito Santo (Atos 1:13). Mais tarde este local parece ter-se tornado ponto de reunião dos irmãos em Jerusalém (Atos 12:12).