JESUS, A LUZ DO MUNDO
JOÃO 8:12-20
O V.12 do capítulo 8 segue imediatamente após o V.52 do capítulo 7 e Jesus prossegue falando aos judeus deste capítulo. Portanto, Ele ainda estava no Templo e continuava dando os ensinos na Festa dos Tabernáculos. O lugar, agora era onde ficava o gazofilácio (V.20).
Aqui Ele começou o discurso, usando a significativa expressão “Eu Sou”, várias vezes enfatizada neste Evangelho, expressão alusiva ao nome de Jeová (cf Êxodo 3:14). Quanto à expressão “luz do mundo”, tem o mesmo significado de “luz dos homens”, usada por João, no preâmbulo deste Evangelho (1:4).
Segundo Willian Barclay, no entardecer do primeiro dia da Festa dos Tabernáculos, eram acendidos quatro enormes candelabros no pátio das mulheres que, além de iluminarem todo o recinto do Templo, iluminavam também outros pátios e praças da cidade, tão intenso era o seu brilho. Os candelabros permaneciam acesos até o cantar do galo do dia seguinte. Teria sido em conexão com este cenário de iluminação da cidade de Jerusalém, que Jesus proclamou as palavras “Eu sou a luz do mundo”, porque a Sua luz iluminava a todos os que O seguem no mundo inteiro.
Isto faz lembrar a coluna de fogo que iluminava os israelitas no deserto, durante as suas peregrinações noturnas (Êxodo 13:21). A cura do cego em 9:5-7 é uma parábola encenada, relativa à obra de Jesus, que abre os olhos dos cegos espirituais.
O lugar do gazofilácio, onde foi pronunciado este discurso, era muito concorrido, porque lá havia treze cofres em forma de trombeta, onde o povo depositava suas ofertas e, entre eles, muitos piedosos que podiam dar ouvido as palavras do Mestre, recebendo a luz que abre os olhos espirituais e leva o homem a compreender a verdade a respeito de si mesmo, e o que Deus faz para atender às suas necessidades.
V.12 – De novo lhes falava Jesus, dizendo: Eu sou a luz do mundo, quem me
segue
não andará nas trevas, pelo contrário terá a luz da vida.
V.13 – Então lhe objetaram os fariseus: Tu dás testemunho de ti mesmo, logo o
teu testemunho não é verdadeiro.
Quando Jesus declarou “Eu sou a luz do mundo”, os fariseus O contestaram dizendo que Ele dava testemunho de Si mesmo, testemunho considerado inválido, diante da Mishnah (compilação e estudo das Leis orais do Judaísmo), que dizia: “Nenhum homem pode testemunhar de si mesmo” (Kethuboth 2:9). No capítulo 5, verso 31, Jesus reconheceu isto como verdadeiro, mas, em seguida, no mesmo capítulo, Ele apontou outras testemunhas a Seu favor: em 5:36-37, as obras do Pai; em 5:39, as Escrituras; em 5:45-47, Moisés.
V.14 – Respondeu Jesus e disse-lhes: Posto que eu testifico de mim mesmo, o
meu testemunho é verdadeiro, porque sei donde vim e para onde vou;
mas vós não sabeis donde venho, nem para onde vou.
V.15 – Vós julgais segundo a carne, eu a ninguém julgo.
V.16 – Se eu julgo, o meu juízo é verdadeiro, porque não sou eu só, porém eu e
aquele que me enviou.
Desta vez Ele afirma que pode dar testemunho de Si mesmo, porque Ele conhece a Sua origem e o Seu destino, o Pai. Mas eles não sabiam de onde Jesus vinha, nem para onde Ele ia. Por isso eles O julgavam com base em critérios humanos, superficiais, isto é, segundo a carne. Eles já haviam sido censurados por esse tipo de julgamento em 7:24.
Quando Jesus afirma no V.15: “Eu a ninguém julgo”, Ele está falando do propósito da Sua missão, que não era condenar e, sim, salvar (cf 3:17). Ele veio revelar ao homem a bondade e a misericórdia de Deus, e o Seu desejo de livrar o pecador da condenação do pecado e, não, condená-lo e puni-lo. Se, por um lado, Ele não veio para condenar, a Sua presença no mundo leva os homens a se julgarem a si mesmos e, deste modo, produz-se um verdadeiro julgamento na presença d’Ele e do Pai juntos. Portanto, aqueles que o rejeitarem estarão sob condenação, e esta condenação é verdadeira.
V.17 – Também na vossa lei está escrito que o testemunho de duas pessoas é
verdadeiro.
V.18 – Eu testifico de mim mesmo, e o pai, que me enviou, também testifica de
mim.
Quanto à acusação que os fariseus lhe fizeram, de dar testemunho de Si mesmo, ao declarar: “Eu sou a luz do mundo”, Ele responde usando a expressão: “...na vossa lei está escrito...”. Ele se refere à Lei do Velho Testamento, sob a qual Ele mesmo vivia. Mas Ele quer enfatizar que era a Lei que eles aceitavam e à qual recorriam constantemente. Pois bem, esta Lei dizia que o testemunho de duas pessoas é verdadeiro (Deuteronômio 19:15; cf 17:6). Portanto, o Seu testemunho era verdadeiro, porque Ele e o Pai que o enviou testificam juntos, pois Ele e o Pai estão sempre juntos, numa união indissolúvel (cf 10:30).
V.19 – Então eles lhe perguntaram: Onde está teu pai? Respondeu Jesus: Não me
conheceis a mim nem a meu pai; se conhecêsseis a mim, também
conheceríeis a meu pai.
V.20 – Proferiu ele estas palavras no lugar do gazofilácio, quando ensinava no
templo; e ninguém o prendeu, porque não era ainda chegada a sua hora.
A partir desse momento os judeus entenderam que Ele não falava de um pai terreno mas, de Deus. Aquelas autoridades representadas pelos fariseus não queriam admitir a existência de uma testemunha que não pudesse aparecer para provar a Sua presença. Então lhe fizeram esta pergunta evasiva: “Onde está o teu pai?”, como se quisessem confundi-lo. Jesus respondeu dizendo que eles não O conheciam, e nem a Seu Pai. Se conhecessem a Ele, conheceriam também a Seu Pai. Parafraseando, poderíamos dizer: “Eu estou presente no meio de vocês, ensinando, e vocês não reconhecem nem a minha pessoa e nem que os meus ensinos são de Deus. Se vocês me reconhecessem desta maneira como estou me apresentando, então reconheceriam que Deus é meu Pai, e que Eu fui enviado por Ele”.