sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

JESUS LAVA OS PÉS DOS APÓSTOLOS

                                                  JESUS LAVA OS PÉS DOS APÓSTOLOS
                                                               JOÃO 13:1-29

V.1 - Antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de
        passar deste mundo para o Pai, e havendo amado os seus que estavam no
        mundo, amou-os até o fim.  
V.2 - Enquanto ceavam, tendo já o Diabo posto no coração de Judas, filho de
        Simão Iscariotes, que o traísse,  
V.3 - Jesus, sabendo que o Pai lhe entregara tudo nas mãos, e que viera de Deus
        e para Deus voltava,  

O capítulo 13 do Evangelho de João marca o início da segunda parte do livro deste apóstolo, e o V.1 é uma introdução muito apropriada para todos os capítulos seguintes. A aproximação da Páscoa punha fim seu ministério público entre os judeus (cf 12:36b) e Ele estava consciente de que a Sua hora, a hora da Sua morte redentora tinha chegado, e Ele iria passar deste mundo para o Pai. Mas Ele devia deixar os “seus” amados, aqueles que tinham permanecido com Ele nas provações (Lucas 22:28). A estes Ele amou intensamente, a ponto de entregar a vida por eles, que representam todos os que n’Ele crêem (cf 17:20). Estes “seus” amados são diferentes daqueles “seus” que não O receberam, e que representam a maior parte da nação de Israel (1:11).
O episódio de Judas é colocado logo em seguida a esta introdução, para lembrar que ele foi o pivô da tragédia que levou Cristo à cruz, para que se cumprisse o propósito de Deus. Mas Jesus sabia também que o Pai confiara as Suas mãos a execução do plano de redenção que Ele veio para realizar antes de voltar para Deus (cf V.1; 10:14-18).

V.4 - levantou-se da ceia, tirou o manto e, tomando uma toalha, cingiu-se.  
V.5 - Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés aos discípulos, e a
        enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido.

Mas João passa subitamente a relatar um episódio ao qual os outros evangelistas não se referem. Levantando-se do divã em que estava reclinado durante a ceia, Jesus começou a dar um ensino, por meio de uma parábola encenada, a cerimônia do “lava-pés”. João não se preocupou em dar informações sobre a instituição da ceia, como os outros Sinóticos, provavelmente porque a cerimônia do partir o pão, como era chamada, estava largamente estabelecida em todas as igrejas na época (86-95 D.C), porque era celebrada semanalmente aos domingos (cf Atos 20:7). Além disso, havia um forte motivo para a intervenção de Jesus, que era a discussão levantada entre os apóstolos, sobre qual deles parecia ser o maior (Lucas 22:24-27). Isto precisava ser corrigido.
O ato de Jesus tirar as vestes superiores, cingir-se com uma toalha, por água numa bacia usada para lavar pés ou mãos, e passar a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha aponta para o fato que Jesus veio a este mundo como o Servo humilde do Senhor, a serviço da humanidade, pregando o reino de Deus, ensinando, curando e lutando contra os poderes das trevas (cf Mateus 20:28; Lucas 11:22; Isaias 53:7). Mas nunca, como agora, os apóstolos O haviam visto como Paulo o descreve: “... assumindo a forma de servo” (Filipenses 2:7).
Reclinados em divãs, com os pés voltados para trás, bem próximos do chão, eles devem ter-se sentado, à medida que Cristo se aproximava de cada um. O Mestre percorria um circuito de humildade.

V.6 - Chegou, pois, a Simão Pedro, que lhe disse: Senhor, lavas-me os pés a mim?  
V.7 - Respondeu-lhe Jesus: O que eu faço, tu não o sabes agora; mas depois o                            entenderás.  
V.8 - Tornou-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Replicou-lhe Jesus: Se eu não te lavar,            não tens parte comigo.  
V.9 - Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, não somente os meus pés, mas também as mãos e a          cabeça.  
V.10 - Respondeu-lhe Jesus: Aquele que se banhou não necessita de lavar senão os pés,              pois no mais está todo limpo; e vós estais limpos, mas não todos.  
V.11 - Pois ele sabia quem o estava traindo; por isso disse: Nem todos estais limpos.     

João focaliza a figura de Pedro, fazendo abstração do prestígio que o apóstolo tinha alcançado na igreja, na época da composição deste Evangelho (85-95 D.C). A verdade é que ele se destacou tanto neste episódio, que bem pode prestar-se a uma anedota. A expressão: “tu me lavas os pés a mim?” Exprime bem a atitude daquele que havia reconhecido tantas vezes a grandeza de Cristo (cf Mateus 16:16; Lucas 5:8). Mas, agora, não podia vê-lO a seus pés, para limpar-lhes a sujeira e o suor. Por isso, ele protestou energicamente. Apesar do respeito e do amor que ele demonstrou pelo Mestre, pode-se notar, na sua postura algo de humano.
Esta ação de Cristo, lavando os pés aos discípulos, pareceu enigmática para eles naquele momento. O fato de Jesus não explicá-la na hora, mas afirmar que eles compreenderiam depois, leva a crer que isto aconteceu mais tarde pela iluminação do Espírito Santo que veio em Pentecoste (cf 16:13). A resposta de Cristo à recusa de Pedro, dizendo: “Se eu não te lavar, não tens parte comigo”, significava que sem esta operação o apóstolo não poderia pertencer ao grupo dos “seus” (cf V.1) e teria que ficar apartado. Isto é uma lição para todos os cristãos. Ele efetua em todos nós esta lavagem de limpeza, para o nosso crescimento, e para produzirmos fruto (cf 15:1-4). Por isso, passamos muitas vezes por provações, por sofrimentos e por disciplina, cousas que devemos compreender e aceitar para não perder a comunhão com Ele (cf 15:4-6; Hebreus 5:8; 12:7-12; Tiago 1:2-4).
Diante dessa advertência do Mestre, Pedro com sua natural franqueza e caráter impulsivo, ofereceu-se para ser lavado de pés, mãos e cabeça. Jesus declarou-lhe uma verdade: a lavagem fundamental já estava feita (cf 15:3), e eles já estavam purificados. Neste caso, João usou o verbo “louö”, do Grego, que significa lavar o corpo todo. Agora, era necessário lavar apenas os pés. Neste outro caso, João usou o verbo “niptö”, do Grego, que significa lavar parte do corpo. Esta lavagem corresponde aos pecados porventura cometidos na caminhada cristã, de que Cristo também trata (cf I João 1:7-9).
Neste momento em que Jesus afirma que os discípulos estavam limpos, ele destaca um que não estava purificado. É a primeira denúncia feita daquele que O havia de trair, mas não o identificou ainda.

V.12 - Depois de lhes ter lavado os pés, tomou as vestes e, voltando à mesa, perguntou-                lhes: Compreendeis o que vos fiz?
V.13 - Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque eu o sou.
V.14 - Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar                os pés uns dos outros.
V.15 - Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.
V.16 - Em verdade, em verdade vos digo que o servo não é maior do que seu senhor, nem            o enviado, maior do que aquele que o enviou.
V.17 - Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes.

Depois de lavar os pés aos discípulos e de recolocar Suas vestes, Jesus voltou a reclinar-se à mesa, junto a eles. Então lhes perguntou se compreenderam o que Ele fez e, em seguida esclareceu, mas eles só podem ter compreendido tudo, verdadeiramente, depois que receberam o Espírito Santo. Jesus comentou que eles o chamavam de “o mestre” e “o Senhor”, com muita propriedade, porque realmente Ele o é. Em seguida, vem a conclusão do ensino: Se Ele sendo o Senhor e o Mestre, lavou os pés deles todos, eles também devem lavar os pés, uns dos outros, seguindo o exemplo do Mestre e Senhor.
Esta lição de Jesus, que é profundamente pedagógica e oportuna, está ligada a discussão levantada ali mesmo entre eles, sobre qual seria o maior (cf Lucas 22:24-30). A alegre notícia de bem-aventurança anunciada no V.17 é um incentivo para buscarmos o discernimento espiritual das palavras do Mestre, para orientar nossa conduta.
O provérbio enunciado no V.16 de maneira enfática é uma exortação a que sejamos humildes e nos coloquemos na relação correta diante d’Ele. Quando no texto aparece o artigo definido “o” antes de Senhor e de Mestre, a intenção do escritor é destacar a superioridade de Cristo sobre todos os Seus discípulos, de modo universal.

V.18 - Não falo a respeito de todos vós, pois eu conheço aqueles que escolhi; é, antes,                  para que se cumpra a Escritura: Aquele que come do meu pão levantou contra mim              seu calcanhar.
V.19 - Desde já vos digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, creiais que EU            SOU.
V.20 - Em verdade, em verdade vos digo: quem recebe aquele que eu enviar, a mim me                  recebe; e quem me recebe recebe aquele que me enviou.

O pedido de Pedro para ser lavado por completo, seguido da afirmação de Jesus de que os discípulos estavam limpos, mas não todos, deu ensejo a que o Mestre viesse a tratar da questão da traição. Mas a parábola encenada na cerimônia dos lava-pés precisava ser concluída urgentemente, com o esclarecimento e a aplicação da mesma. Isto foi feito imediatamente nos Vs.12 a 17. Depois ele retoma o assunto da traição a partir do V18. Assim, começando no final do V.10 e continuando a partir do V.18, devemos ler: “Ora, vós estais limpos, mas não todos. Não falo a respeito de todos vós, pois eu conheço aqueles que escolhi; é, antes, para que se cumpra a Escritura...” Etc. note-se que a notícia vem sendo dada aos poucos, sem identificar o traidor, embora Jesus soubesse desde o princípio, que O havia de trair (cf 6:64).
Do mesmo modo que ocorre no parágrafo anterior (Vs.10-11), este trecho encerra-se com uma triste referência a tragédia da traição. É possível que a disposição de Jesus de fazer o serviço tão indigno como o de um escravo lavando os pés dos discípulos, tenha provocado aquela maldosa reação do traidor. Mas não era surpresa para o mestre, que a rejeição partisse do meio de Seus discípulos, pois a própria Escritura ensina que um hóspede pode retribuir a hospitalidade oferecida a ele por um amigo íntimo, como um animal que dá coice no seu tratador. Este é o sentido da citação do Salmo 41:9, no V.18: “Até o meu amigo íntimo, em quem confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o calcanhar. O fato não aconteceu porque estava escrito. O que devemos entender é que estava escrito porque haveria de acontecer (cf Lamentações 3:37).
Assim como a Escritura anuncia os fatos, antes que eles aconteçam, porque Deus sabe que eles vão acontecer, assim também Jesus pode anunciar a traição, porque Ele sabe que isso vai acontecer. E, quando acontecer, os discípulos vão crer que Ele é “eu sou”, ou seja, Ele é Jeová. A expressão “eu sou” é usada frequentemente a propósito no Evangelho de João para identificar Jesus com Deus (Jeová), cuja presença ele estava representando como seu enviado (João 18:4-6; 7:58 etc. cf Gênesis 3-14).
Agora, sem a presença do desertor os discípulos devem seguir em frente como enviados de Jesus, com a garantia de que aquele que os receber recebem a Ele próprio, e aquele que O enviou. É nessa sequência que se propaga o Evangelho até os dias de hoje.