terça-feira, 13 de janeiro de 2015

JESUS E A TRADIÇÃO DOS ANCIÃOS

                                      JESUS E A TRADIÇÃO DOS ANCIÃOS
                                        MARCOS 7:1-23      (Mateus 15:1-20)

É oportuno intercalar e comentar aqui, os dois primeiros versos do capítulo 7 do Evangelho de João:

V. 1 – Passadas estas cousas, Jesus andava pela Galiléia, porque não desejava
          percorrer a Judéia, visto que os judeus procuravam matá-lo.
V. 2 – Ora, a festa dos judeus, chamada dos Tabernáculos estava próxima.

         As cousas passadas referidas no V.1 foram o milagre da multiplicação dos pães e a polêmica a respeito do pão da vida que se travou na sinagoga de Cafarnaum. De acordo com 6:4 estes fatos ocorreram na época da Páscoa, celebrada no primeiro mês do ano do calendário religioso judaico (mês de Abib ou Nisã). A festa dos Tabernáculos ocorria no sétimo mês. Deste modo, houve um intervalo de tempo de mais ou menos seis meses, desde que Jesus deixou Genezaré (Marcos 6:53-56) até a sua subida para a festa, em Jerusalém. Para melhor esclarecimento, devemos lembrar que depois da multiplicação dos pães, Jesus andou sobre o mar, para alcançar os discípulos. Foi então que desembarcaram em Genezaré.
          Foi nessa ocasião que vieram a Jesus os fariseus e alguns escribas precedentes de Jerusalém, de acordo com o relato do capítulo 7 de Marcos, como segue:

 V. 1 – Ora, reuniram-se a Jesus os fariseus e alguns escribas, vindos de
           Jerusalém.
V. 2 -  E, vendo que alguns dos discípulos dele comiam o pão com as mãos
           impuras, isto é, por lavar
V. 3 – (pois os fariseus e todos os judeus, observando a tradição dos anciãos,
           não comem sem lavar cuidadosamente as mãos;
V. 4 – quando voltam da praça, não comem sem se aspergirem; e há muitas
           outras cousas que receberam para observar, como a lavagem de copos,
           jarras e vasos de metal {e camas}),

         O fato de Jesus tornar-se cada vez mais conhecido no desenvolvimento do Seu ministério é comprovado novamente por esta passagem. Agora vieram de Jerusalém os fariseus e alguns escribas, como sempre, para espioná-Lo e ver as obras que Ele fazia. Mas a implicância deles não se limitava a Jesus. Eles viram que alguns dos discípulos comiam sem lavar as mãos, desrespeitando a tradição dos anciãos. É muito importante compreender o motivo das divergências entre Jesus e Seus opositores, fariseus e escribas, intérpretes da Lei. Este capítulo mostra a essência da diferença dos pensamento de Jesus e dos judeus ortodoxos daquela época. Eles falavam da tradição dos anciãos e da lavagem de mãos. A tradição dos anciãos referia-se a um acúmulo de regras que foram criadas para regulamentar as atividades em geral de todo indivíduo da comunidade religiosa judaica.
      Como foi que isto aconteceu? Foi num período entre os séculos V e IV A.C., quando os intérpretes da Lei adquiriram um gosto especial de pormenorizar a aplicação das leis do Velho Testamento para cada situação particular da vida do indivíduo. Por exemplo, a lei do descanso sabático foi subdivida em trinta e nove preceitos a serem obedecidos. Então, não era permitido dar mais do que mil passos no sábado. Nesse dia não era permitido medicar um doente. Para a lavagem das mãos havia um ritual desde como derramar a água do cântaro, até a posição das mãos a serem lavadas. O pretexto para justificar aquelas lavagens rituais de purificação era que, ao andar pelas ruas ou no mercado, as pessoas podiam ter contato com cousas ou outras pessoas ritualmente impuras, e, por isso, deviam purificar-se ritualmente antes de comer, lavando as mãos.
      Este detalhamento quebrava a natureza espiritual da Lei, transformando-a num emaranhado de regras que complicavam a vida dos cidadãos. Mas não havia um código sistematizado escrito a esse respeito. Tudo era transmitido por tradição oral. Era isto que se chamava de “Tradição dos Anciãos”. Assim, no modo de pensar e de proceder dos escribas, a traição oral dos anciãos e a Lei eram colocados no mesmo patamar de valor.

V. 5 – interpelaram-no os fariseus e os escribas: Por que não andam os teus
          discípulos de conformidade com a tradição dos anciãos, mas comem com
          as mãos por lavar?
V. 6 – Respondeu-lhes: Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas,
           como está escrito: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu
           coração Está longe de mim.
 V. 7 – “E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são Preceitos de
            homens.
V. 8 – Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens.

         Quando os fariseus e os escribas flagraram alguns dos discípulos de Jesus infringindo a tradição dos anciãos, porque comiam com as mãos sem lavar, eles foram interrogar Jesus a esse respeito. O Mestre não respondeu diretamente a pergunta, antes chamou-os de hipócritas. Este era o nome dado aos atores do teatro grego que usavam máscara para apresentar a história de personagens que não eram eles mesmos. Os atores ficavam escondidos atrás das máscaras. O que Jesus estava dizendo é que eles usavam a máscara da tradição dos anciãos para encobrir o verdadeiro espirito da lei que eles deviam considerar.
         Dirigindo-se aos fariseus e aos escribas, Jesus aplicou a eles a profecia de Isaías 29:13. Guardar tradições não é honrar a Deus de coração, mas é um compromisso exterior com homens e com preceitos criados por eles. Portanto, são vãos e não têm valor diante de Deus para purificar as almas. A mais grave acusação que Jesus lança sobre seus inimigos é deles abandonarem o mandamento de Deus, para guardarem a tradição dos homens. Do texto de Isaías citado, percebesse que eles aprenderam mecanicamente aqueles preceitos humanos, mas não tinham verdadeira motivação pela fé.

V. 9 – E disse-lhes ainda: Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para
           guardar a vossa própria tradição.
V.10 – Pois Moisés disse: “Honra a teu pai e a tua mãe”, e “Quem maldisser a
           seu pai ou a sua mãe, seja punido de morte”.
V.11 – Vós, porém, dizeis: Se um homem disser a seu pai ou a sua mãe: “Aquilo
           que poderias aproveitar de mim é Corbã, isto é, oferta para o Senhor,
V.12 – então o dispensais de fazer qualquer cousa em favor de seu pai ou de
           sua mãe,
V.13 – invalidando a palavra de Deus pela vossa própria tradição que vós
           mesmos transmitistes; e fazeis muitas outras cousas semelhantes.

         A franqueza com que Jesus discutia este assunto com seus adversários, apontando os seus compromissos com a tradição que os levava a romper com a Lei de Deus, deve ter causado neles indignação. Mas Jesus não parou por aí. Ele deu um exemplo, tirado entre muitos outros, de como eles eram hábeis para contornar o mandamento de Deus. A Lei continha no seu âmago o preceito de respeito e compaixão que os filhos deviam devotar aos pais na velhice, oferecendo-lhes os recursos necessários para a sua sobrevivência. Mas os rabinos criaram uma inversão tal neste mandamento (Êxodo 20:12, o quinto mandamento) que tornava possível oferecer ao templo (a Deus) a pensão devida aos pais como um voto, chamado “Corbã”. O que se deve saber sobre este voto é que, daí por diante, os pais não podiam mais lançar mão do dinheiro, porque, agora, ele estava dedicado a Deus. Mas os filhos também não o entregavam no templo. E quando o faziam davam uma oferta ínfima, equivalente a uma esmola. Por isso Jesus os condena dizendo: “Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus, para guardardes vossa tradição.

V.14 – Convocando ele de novo a multidão, disse-lhes: Ouvir-me todos e
            intendei.
V.15 – Nada há fora do homem que, entrando nele o possa contaminar; mas, o
           que sai do homem é o que o contamina.

          Até aqui parecia que Jesus tinha encerrado o assunto, e que os adversários ficaram em silêncio. Mas Jesus convocou de novo a multidão, porque Ele ainda precisava esclarecer a respeito da validade das leis rituais. Se estas leis realmente fossem válidas, os Seus discípulos que comeram com as mãos sem lavar sentir-se-iam condenados. A derrota dos fariseus neste último argumento só deixaria os discípulos de Jesus isentos de culpa, se todo o princípio da tradição oral fosse derrotado. Isto aconteceu com a parábola que Jesus pronunciou no versículo 15. Os saduceus também rejeitavam a tradição dos anciãos, embora não houvesse proximidade dos ensinos deles e os de Jesus.
          O ensino de Jesus era bem contrário ao dos rabinos. Estes entendiam que a impureza tinha que ter uma fonte exterior, de onde provinha a contaminação. O contacto do homem com essa fonte é que o tornava impuro. Se não houvesse tal contacto, ele permaneceria puro. Mas Jesus não pensava assim. Ele sabia que a fonte da impureza estava no interior do ser humano. Para os fariseus, a ausência da purificação ritual, como era o caso dos discípulos que comiam sem lavar as mãos, era a causa do pecado. Jesus, porém, dá uma lista de casos de faltas morais, que causam a contaminação do homem. Mateus 15:12-15 informa que os fariseus se escandalizaram ao ouvir estas palavras, e que os discípulos foram relatá-lo a Jesus. A resposta d’Ele é feita em duas etapas. A primeira refere-se à tradição dos anciãos e Ele disse: “toda planta que meu Pai não plantou será arrancada”. A Segunda refere-se à responsabilidade do que ensina doutrinas erradas e a reponsabilidade do que aceita tais doutrinas. Ele diz: “Ora, se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco”.