JESUS CURA UM PARALÍTICO NO TANQUE DE BETESDA
JOÃO 5:1-47
V. 1 – Passadas estas cousas, havia uma festa dos judeus, e Jesus subiu para
Jerusalém.
V. 2 – Ora, existe ali junto à porta das ovelhas, um tanque, chamado em
hebraico Betesda, o qual tem cinco pavilhões. Nestes jazia uma multidão
de enfermos, cegos, coxos, paralíticos
V. 4 - {esperando que se movesse a água. Porquanto um anjo descia em certo
tempo, agitando-a; e o primeiro que entrava no tanque, uma vez agitada
a água, sarava de qualquer doença que tivesse}.
O V.1 afirma que os fatos referentes ao capítulo 5 aconteceram após Jesus ter retornado à Galiléia, passando por Samaria, e depois de ter curado o filho de um oficial do rei (4:43-54). Ele tinha subido, agora para Jerusalém a fim de participar de uma festa dos judeus, a qual não é identificada aqui. Sabemos que o Pentecoste, a Páscoa e Tabernáculos eram três eventos a que todo cidadão israelita residente num círculo de trinta quilômetros de raio em torno de Jerusalém estava obrigado a comparecer. Mas havia outros, como o Purim e a Dedicação do Templo que não exigiam esta obrigatoriedade.
Seria muito importante identificar esta festa. Se fosse uma Páscoa, teríamos a certeza de que o ministério de Jesus incluía quatro delas, e teria durado mais de três anos, porque há outras três mencionadas no Evangelho de João (2:23; 6:4; 12:1). Todavia a opinião prevalente entre os estudiosos é a de que o Seu ministério tenha durado cerca de três anos e meio. Esta discussão, porém, é de pouca importância quando lembramos que Ele esteve entre nós, o tempo determinado pelo desígnio do Pai, para realizar completamente a Sua obra, até a hora em que disse: “Está consumado” (19:30).
O tanque mencionado no V.1 era conhecido pelo nome de “Betesda”, que significa “casa da misericórdia”. Os pavilhões dispostos ao seu redor eram alpendres, cuja função era abrigar doentes que costumavam juntar-se ali. Uma escavação feita em Jerusalém comprovou a existência de um tanque, próximo a porta das ovelhas, com quatro pavilhões laterais e um central, exatamente como ele é descrito neste Evangelho.
O V.4 que se encontra entre colchetes não foi escrito pelo apóstolo João, mas foi acrescentado por algum escriba, para explicar o motivo pelo qual os doentes se reuniam ali. Eles criam que um anjo descia e agitava a água do tanque, de tempo em tempo, e o primeiro que entrasse no tanque, em seguida ao movimento da água, era curado de qualquer doença que tivesse. A Bíblia não explica o fenômeno da água, nem confirma as curas, como também o texto original de João não contém este versículo. Podemos entender que o abastecimento do tanque, feito por um canal subterrâneo, produzisse agitação na água em certos momentos, quando a correnteza chegasse com mais força. Quanto à existência do anjo, o Evangelho de João nada diz, e deve ser superstição. Quanto às curas, é mais difícil avaliar, porque o apóstolo não se pronunciou a este respeito. A pergunta é: existe uma fé supersticiosa que pode produzir cura? (cf Atos 5:15-16; 19:11-12). Jesus nunca negou o Seu poder de curar a todos quantos o tocaram com fé (Mateus 9:20-23; 14:36). Mas era fé n’Ele.
V. 5 – Estava li um homem, enfermo havia trinta e oito anos.
V. 6 – Jesus, vendo-o deitado e sabendo que estava assim, havia muito tempo,
perguntou-lhe: Queres ser curado?
V. 7 – Respondeu-lhe o enfermo: Senhor, não tenho ninguém que me ponha no
tanque, quando a água é agitada; pois enquanto eu vou, desce outro
antes de mim.
V. 8 – Então lhe disse Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e anda.
V. 9a-Imediatamente o homem se viu curado e, tomando o leito, pôs-se a
andar.
Ao ver aquele homem enfermo deitado ali, Jesus, sabendo por Sua intuição sobrenatural o que se passara com ele, durante todo aquele tempo, perguntou-lhe de repente: “Queres ser curado?” A pergunta ia bem de encontro à sua frustração, e tinha a intenção de estimular o seu desejo ardente e a esperança de ser curado. A resposta do enfermo não foi nem “sim” e nem “não” mas, um lamento dramático que demonstrava tanto a sua incapacidade como a falta de alguém solidário que o levasse ao tanque, quando a água se agitava. Esta resposta pode até ter sido evasiva, com se ele estivesse acomodado àquela situação de desprezo e de auto-comiseração. Mas ao ouvir as palavras de Jesus dizendo: “Levanta-te, toma o teu leito e anda”, ele se viu curado no ato, e tomou o seu leito e saiu andando.
Deve-se observar que este milagre não foi feito pela fé do enfermo, mas foi por determinação do Filho de Deus, pois o enfermo nem mesmo sabia quem era Jesus, para crer n’Ele. É um caso diferente da cura do cego de Jericó, que clamava: “Jesus, filho de Davi, tem compaixão de mim!” (Marcos 10:47). E depois de curá-lo, Jesus lhe disse: “Vai, a tua fé te salvou” (Marcos 10:52).
V. 9b- E aquele dia era sábado.
V.10 – Por isso disseram os judeus ao que fora curado: Hoje é sábado e não te
é lícito carregar o leito.
V.11 – Ao que ele lhes respondeu: O mesmo que me curou disse: toma o teu
e anda.
V.12 – Perguntaram-lhe eles: Quem é o homem que te disse: Toma o teu leito e
anda?
V.13 – Mas o que fora curado não sabia quem era; porque Jesus se havia
retirado, por haver muita gente naquele lugar.
V.14 – Mas tarde o encontrou no templo e lhe disse: Olha que já estás curado;
não peques mais, para que não te suceda cousa pior.
Era sábado o dia em que aquele enfermo foi curado. Pelo fato de estar carregando o seu leito, ele foi submetido a censura por parte dos judeus, por duas razões: a primeira é que o sábado era um memorial do descanso de Deus no sétimo dia da criação, e implicava na suspensão de qualquer atividade de trabalho; a segunda é que a guarda do sábado era um ritual que representava o descanso que viria com a chegada da era Messiânica, tão esperada pela nação naqueles dias. O “Mishnah”, código tradicional dos judeus, que regulamentava as atividades no sábado, enumera trinta e nove atividades proibidas naquele dia. A última era transportar cargas de um lugar para outro (Jeremias 17:21-27)
Quando o V.10 fala dos judeus que abordaram o homem que carregava o leito, a palavra “judeus” não se refere aos cidadãos em geral, mas às autoridades judaicas constituídas pelos sacerdotes, por escribas e fariseus, e por outros membros do sinédrio. Este conceito vale quase sempre nos Evangelhos. Aquelas autoridades viram neste milagre, antes a quebra da lei tradicional que, para eles, falava mais alto do que os benefícios provenientes da cura do enfermo. Eles desconsideravam o preceito de Oséias 6:6 que diz: “Misericórdia quero e não holocaustos”.
A resposta do que fora curado ao flagrante embargo levantado pelos inquiridores foi uma transferência de responsabilidade para Aquele que o curou. Mas o homem não pode identifica-lo porque Jesus havia-se misturado a multidão em redor. Todavia ele dirigiu-se para o templo, provavelmente, tentando encontrar refrigério para a acusação que recebera de ter quebrado a Lei. Mas, lá, Jesus o encontrou e advertiu-o do perigo de permanecer no pecado. Que poderia ser pior do que o estado em que ele se encontrava durante trinta e oito anos, separado da sociedade, sofrendo daquela enfermidade? Só poderia ser a separação de Deus, por causa do pecado.
V.15 – O homem retirou-se e disse aos judeus que fora Jesus quem o havia
curado.
V.16 – E os judeus perseguiam a Jesus, porque fazia estas cousas no sábado.
V.17 – Mas ele lhes disse: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.
V.18 – Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não
somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio
Pai, fazendo-se igual a Deus.
Talvez, preocupado com a acusação que recebera das autoridades, o homem foi até eles e apontou Jesus como o autor do milagre. Então a ação deles mudou de rumo para Jesus, em forma de perseguição. O modo como João redige o V.16, no texto grego original, é mais bem compreendido assim: “E os judeus começaram a perseguir Jesus, porque Ele continuava a fazer estas cousas no sábado”. Aqueles judeus viam Jesus como um jovem rebelde, que ousava isentar os homens do cumprimento de leis respeitáveis e consagradas, que moldavam o caráter da nação, havia tantos séculos. Isto porque Jesus ordenou ao que fora curado, que carregasse o seu leito em dia de sábado. O que atormentava aquelas autoridades era este pensamento: Quem poderá prever o alcance da intenção de um infrator que pretende isentar o povo da obediência às leis estabelecidas, pervertendo a ordem pública? A conclusão a que chegaram é que seria mais seguro dar cabo d’Ele, antes que o sistema entrasse em colapso. Bem disse Jesus que nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra (4:44), pois Ele era judeu, nascido em Belém da Judéia (Lucas 2:4-7,10:11). Mas entre os galileus Ele gozava de grande popularidade (4:45).
Jesus não entrou em polêmica para defender-se a respeito da quebra do sábado. Ele deu outro rumo à conversa dizendo: “Meu Pai trabalho até agora, e eu trabalho também”. Em outras palavras, Ele afirmava que fazia no sábado as mesmas cousas que Seu Pai fazia. De fato, nos sábados, as crianças continuam nascendo, as árvores continuam crescendo e produzindo fruto, a chuva continua caindo e o sol continua brilhando, enfim a manutenção da natureza é feita constantemente por Deus, inclusivo no sábado. Por isso Ele curava também nesse dia.
Isto irritou as autoridades que reagiram, reforçando o seu propósito e suas atividades para matá-lO.
V.19 – Então lhes falou Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que o Filho
nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai;
porque tudo o que este fizer, o Filho também semelhantemente o faz.
V.20 – Porque o Pai ama ao Filho e lhe mostra tudo o que faz, e maiores obras
do que estas lhe mostrará, para que vos maravilheis.
V.21 – Pois assim como o Pai ressuscita e vivifica os mortos, assim também o
Filho vivifica aqueles a quem quer.
V.22 – E o Pai a ninguém julga, mas ao Filho confiou todo o julgamento,
V.23 – a fim de que todos honrem o Filho, do modo porque honram o Pai. Quem
não honra o Filho não honra o Pai que o enviou.
Jesus não afirmou que era igual a Deus. Ele o chamou de Pai e mostrou que Lhe era totalmente submisso, e que aprendeu d’Ele o que estava fazendo. É como o aluno que presta atenção aos ensinos do professor e, depois, faz a tarefa, de acordo com aquilo que aprendeu. De modo nenhum Ele pretendia tomar o lugar do Pai, mas estava testemunhando a Sua humildade, pois não agia independentemente de Deus, e nada fazia por si mesmo. Antes, Ele agia de modo semelhante ao Pai.
Jesus explicou que o Pai mostra ao Filho tudo o que está fazendo, porque o ama. E para que eles fiquem maravilhados, obras ainda maiores do que estas Lhe mostrará. As palavras de Jesus sobre o Seu relacionamento com o Pai caiam nos ouvidos dos judeus como declaração de que Ele é o Messias. Isto os deixava extremamente enciumados e apreensivos, pois, naquela época, a expectativa da chegada da era Messiânica era muito grande. O que faz Jesus merecedor de honra não é a pretensão de reivindicar uma posição à altura do Pai, mas a Sua submissão em humildade e obediência a Ele.
V.24 – Em verdade, em verdade vos digo: Quem ouve a minha palavra e crê
naquele que me enviou, tem a vida eterna, não entra em juízo, mas
passou da morte para a vida.
V.25 – Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e já chegou, em que
os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem, viverão.
V.26 – Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao
Filho ter vida em si mesmo.
V.27 – E lhe deu autoridade para julgar, porque é o Filho do homem.
A expressão “Em verdade, em verdade vos digo” expressa a urgência que aquelas autoridades tinham de entender que a ressurreição do futuro, de que eles tinham conhecimento, estava chegando agora, no ministério de Jesus, e os mortos espirituais que ouvirem a Sua palavra e crerem naquele que o enviou têm a vida eterna, não entram em juízo (condenação), mas passam da morte para a vida. Ele pode fazer isso, porque o Pai que tem vida em Si mesmo, Lhe concedeu esse poder. De posse da vida própria de Deus que Lhe foi conferida, Ele tem autoridade para dar vida e executar todo e qualquer julgamento. Pois, como homem que participa da vida terrena, Ele conhece todas as fraquezas dos homens (Hebreus 2:17-18; 4:15), e sabe usar de misericórdia. Ele não julga segundo padrões humanos, como Ele estava sendo julgado. Por isso o Pai lhe confiou todo o julgamento.
Ao falar da ressurreição espiritual e da isenção de condenação oferecida no Seu ministério, Ele não está minimizando os eventos escatológicos da ressurreição e do julgamento final, previstos no Plano de Deus. Pelo contrário, Ele mesmo fará isto pelo poder e pela autoridade que recebeu do Pai.
Os V.28 e 29 que falam da ora da ressurreição e do juízo afirmam que num momento bem determinado haverá ressurreição e julgamento. Então Deus encaminhará cada um para o seu destino, de acordo com a obra que cada um praticou: os que tiverem feito o bem; isto é os que ouviram a voz do Filho, e creram n’Aquele que O enviou, e lhe obedeceram participarão da ressurreição da vida. Os que não deram ouvido à Sua voz e não creram n’Aquele que O enviou, e foram desobedientes, ressuscitarão para o juízo (condenação).
A voz que chamará os que se acham nos túmulos é a mesma voz que ecoava entre aqueles judeus. Portanto, a esperança do futuro exigia uma decisão diante de Jesus no presente. Mas, pela fé, esta esperança longínqua torna-se realidade imediatamente, no presente.
V.30 – Eu nada posso fazer de mim mesmo; na forma por que ouço, julgo.
O meu juízo é justo porque não procuro a minha própria vontade, e,
sim, a daquele que me enviou.
No V.29 Jesus afirma que Ele mesmo executará o julgamento em seguida à ressurreição. Agora segue a explicação de que o Seu julgamento é definitivo e final porque, além da autoridade que recebeu do Pai (V.27) Ele o executa para satisfazer a vontade d’Aquele que O enviou, e não a Sua própria vontade. Por isso, o Seu juízo é justo.
Quando um juiz humano julga um outro ser humano, a sua mente é invadida por uma quantidade tão grande de fatores favoráveis e desfavoráveis, conhecidos ou simplesmente suspeitos, de modo que o julgamento não pode ser perfeito, e ainda fica impregnado pela subjetividade, isto é, pela opinião pessoal do juiz. Só Jesus que conhece a vontade perfeita de Deus e tem a mente de Deus pode realizar o julgamento perfeito, porque o Seu julgamento é fundamentado no caráter de Deus: Ele é Santo, Justo, Misericordioso e conhece todas as cousas.E, quando Ele diz “... na forma por que ouço, julgo”,Ele está afirmando que tem acesso direto e imediato à mente de Deus, e executa o mesmo juízo que o Pai.
No trecho dos V.31 a 47 temos uma série de testemunhos que Jesus apresenta como prova da Sua natureza e do Seu ministério divinos. Vejamos isto por partes.
V.31 – Se eu testifico a respeito de mim mesmo, o meu testemunho não é
verdadeiro.
Com as palavras deste verso, Jesus está declarando que aceita o princípio estabelecido, já havia muito tempo, e conhecido em toda parte, que o testemunho de uma pessoa sobre si mesma não pode servir de prova da verdade. Israel tinha essa norma incluída na própria Lei (Deuteronômio 17:6; 19:15). O Mishnah confirma que “um homem não é digno de confiança quando fala de si mesmo”. Em resumo, seguindo um princípio universal, e anuindo às regras usadas pelos judeus, Jesus prefere não falar de Si mesmo. Por isso, aponta aqueles que podem dar testemunho a Seu respeito.
V.32 – Outro é o que testifica a meu respeito, e sei que é verdadeiro o
testemunho que ele dá de mim.
“Outro”, nesta passagem, refere-se a Deus, a Sua primeira testemunha.
V.33 – Mandastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da verdade.
V.34 – Eu, porém, não aceito humano testemunho; digo-vos, entretanto, estas
cousas para que sejais salvos.
V.35 – Ele era a lâmpada que ardia e alumiava, e vós quisestes por algum
tempo alegrar-vos com a sua luz.
Pouco mais de um ano antes desta polêmica, as autoridades judaicas mandaram mensageiros a João Batista, para perguntarem quem era ele. Nesta ocasião ele deu testemunho de Cristo, conforme registrado neste Evangelho, no capítulo 1 Vs. 19 a 28. A pregação de João teve grande repercussão na Judéia e os judeus ficaram muito alegres, na expectativa da chegada do Messias e do reino de Deus que o Batista anunciava.
Ao escrever este Evangelho, o apóstolo João dá um destaque enfático ao ministério de João Batista no capítulo 1 Vs. 6 a 9, dizendo que ele foi enviado por Deus, exatamente para levar os judeus a crerem em Cristo, a verdadeira luz.
No V.35, Jesus tece um merecido elogio, em reconhecimento ao ministério daquele profeta, embora não tenha alcançado o resultado que devia. Foi como um fogo de palha que durou pouco, porque as autoridades judaicas não receberam o Messias que ele anunciava (João 1:11). Jesus não considera o testemunho de João como base para a fé n’Ele, porque Ele tem testemunho maior. O que aqueles judeus deviam entender é que Ele levantou esta questão, por amor da salvação deles (“para que sejais salvos”).
V.36 – Mas eu tenho maior testemunho do que o de João; porque as obras que o
Pai me confiou para que eu as realizasse, essas que eu faço,
testemunham a meu respeito, de que o Pai me enviou.
O testemunho que Jesus apresenta como superior ao de João é o das obras que Ele fazia. Elas davam prova que o Pai O enviou para realizá-las. Apesar de que poderia parecer que Jesus havia violado o sábado, aquele homem que durante trinta e oito anos permaneceu paralisado, sem receber ajuda de ninguém, agora estava caminhando no meio da multidão, à vista de todos. Isto era uma evidência clara e concreta das obras próprias de Deus, que Jesus foi enviado para realizar. Portanto, este era o testemunho mais contundente de que Ele era enviado do Pai.
V.37 – O Pai que me enviou, esse mesmo é que tem dado testemunho de mim.
jamais tendes ouvido a sua voz, nem visto a sua forma.
V.38 – Também não tendes a sua palavra permanente em vós, porque não
credes naquele a quem ele enviou.
V.39 – Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna e são elas
mesmas que testificam de mim.
V.40 – Contudo não quereis vir a mim para terdes vida.
Nesta passagem Jesus reafirma que o Pai que O enviou tem, Ele mesmo, dado testemunha a Seu respeito. Ao mesmo tempo, Ele lembra-lhes que eles nunca ouviram a voz de Deus e nem viram a Sua forma. Ele é transcendente e não se revela aos homens, falando diretamente com eles, nem mostrando-se a eles em pessoa. Como então poderia aceitar o testemunho de Deus e crer que Jesus era o Seu enviado? A resposta é esta: Eles não tinham a Palavra de Deus guardada em seus corações. Eles examinavam as Escrituras, procurando encontrar nelas a vida eterna, sem perceber que ali estava a revelação do Filho de Deus. Se eles examinassem as Escrituras, não somente com os olhos, mas, meditando de todo o coração, então eles ouviriam a voz do Pai e O veriam na pessoa do Filho. Assim, teriam prazer em ir a Cristo e encontrariam n’Ele a vida eterna.
Apesar das evidências apresentadas por João Batista, pelo testemunho do Pai e pelas Escrituras do Velho Testamento, os judeus rejeitaram a Cristo. Mas esta foi uma decisão trágica, como diz o V.40: “Contudo não quereis vir a mim para terdes vida”.
V.41 – Eu não aceito glória que vem dos homens;
V.42 – sei, entretanto, que não tendes em vós o amor de Deus.
A respeito da censura que Jesus faz aos judeus, dizendo: “... não quereis vir a mim para terdes vida”, Ele esclarece que não está Se exaltando por poder doar vida, e também não procura aplauso e elogios deles. O Seu desejo incontido era glorificar a Deus, em lugar de buscar o louvor dos homens (7:18; 12:28; 17:4). Em Jerusalém, muitos creram n’Ele, por causa das obras que Ele fazia, mas Jesus não Se confiou a eles, porque Ele conhecia a natureza humana e sabia o que vai dentro de cada um. Por isso, Ele diz no V.42: “Sei, entretanto que não tendes em vós o amor de Deus”.
V.43 – Eu vim em nome de meu Pai e não me recebeis; se outro vier em seu
próprio nome, certamente o recebereis.
V.44 – Como podeis crer, vós os que aceitais glórias uns dos outros, e contudo
não procurais a glória que vem do Deus único?
Segundo os Vs. anteriores, Jesus apresentou três testemunhos, demonstrando que Ele não veio por Si mesmo, mas era enviado do Pai. Assim mesmo, Ele não foi recebido pelos judeus. Entretanto, houve falsos cristos que vieram em seus próprios nomes e enganaram o povo. É o caso de Teudas e de Judas, referidos em Atos 5:36-37. Jesus também profetizou, mais tarde, que outros ainda viriam e, se possível enganariam os próprios eleitos (Marcos 13:6,22; Mateus 24:5,24). Qual a razão deles crerem em falsos cristos, falsos profetas e falsos mestres? É que eles não procuravam a glória que vem de Deus, mas sentiam-se satisfeitos com a glória dos homens. A questão se resume em aceitar Jesus que é a glória do Deus Único, ou permanecer egoísta, solidários aos homens, aceitando a glória humana.
V.45 – Não penseis que eu vos acusarei perante o Pai; quem vos acusa é Moisés,
em quem tendes firmado a vossa confiança.
V.46 – Porque se de fato crêsseis em Moisés, também creríeis em mim;
porquanto ele escreveu a meu respeito.
V.47 – Se, porém, não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas
palavras?
No final deste discurso, Jesus, pessoalmente, não acusa os judeus. Ele mostra que quem os acusa é Moisés. Por quê? Primeiro, porque eles tinham a confiança totalmente fundamentada nele. Depois, porque Moisés escreveu a respeito de Jesus. Provavelmente Ele referia-se a Gênesis 49:10 e Deuteronômio 18:15,18, que são profecias específicas a respeito de Cristo, mas também podia referir-se à Lei como um todo, que encontra o seu significado em Jesus. Portanto, se eles cressem em Moisés, deveriam crer nas palavras d’Aquele sobre quem Moisés escreveu.