segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

JESUS CONDENA O DIVÓRCIO

                                              JESUS CONDENA O DIVÓRCIO
                          MATEUS 19:3-12; 5:32      (Marcos 10:2-12; Lucas 16:18)

V.1 - Tendo Jesus concluído estas palavras, partiu da Galiléia, e foi para os
        confins da Judéia, além do Jordão;                            
V.2 - e seguiram-no grandes multidões, e curou-os ali.  
V.3 - Aproximaram-se dele alguns fariseus que o experimentavam, dizendo: É
         lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?  
V.4 - Respondeu-lhe Jesus: Não tendes lido que o Criador os fez desde o      
         princípio homem e mulher,  
V.5 - e que ordenou: Por isso deixará o homem pai e mãe, e unir-se-á a sua
         mulher; e serão os dois uma só carne?  
V.6 - Assim já não são mais dois, mas um só carne. Portanto o que Deus ajuntou,   
         não o separe o homem.  
V.7 - Responderam-lhe: Então por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio
         e repudiá-la?  
V.8 - Disse-lhes ele: Pela dureza de vossos corações Moisés vos permitiu repudiar
         vossas mulheres; mas não foi assim desde o princípio 
V.9 - Eu vos digo porém, que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por
         causa de infidelidade, e casar com outra, comete adultério; [e o que casar   
         com a repudiada também comete adultério.]  

A passagem de Jesus para as bandas orientais do Jordão (Mateus 19:1-2; Marcos 10:1) é caracterizada por acontecimentos marcantes, narradas nos 22 versículos iniciais do capítulo 19 de Mateus.
Primeiro, as multidões necessitadas se reuniram em torno d’Ele, as quais Ele ensinava, enquanto curava os seus doentes (Mateus 19:1; Marcos 10:1). Segundo, o debate sobre o divórcio com os fariseus, a reação dos discípulos quanto ao assunto e a resposta de Jesus a Eles. Terceiro, a objeção dos discípulos à aproximação das crianças e a benção de Jesus sobre elas (Vs.13-15). Por último, a orientação de Jesus para um jovem rico, sinceramente preocupado com a vida eterna (Vs.16-22).
O que mais chama à atenção nestes acontecimentos é o fato dos fariseus estarem com uma armadilha preparada para apanhá-lO em alguma falha. A tática dos fariseus foi tentar envolver o Mestre numa polêmica que gerava debates calorosos sobre um tema tão atual naqueles dias, como é nos dias de hoje, ao mesmo tempo de difícil aceitação e compreensão, até para os discípulos. O assunto é o divórcio e a polêmica é: Motivos para o divórcio.
A pergunta dos fariseus: “É lícito ao marido repudiar a sua mulher por qualquer motivo?”, baseava-se na passagem de Deuteronômio 24:1, na qual é feita uma concessão ao marido, de dar carta de divórcio à mulher, se ela não lhe fosse agradável, por ter ele achado nela alguma cousa indecente.
Havia em Israel duas correntes de interpretação a respeito da “cousa indecente”. A primeira era defendida pelo rabino Shammai, que considerava “relações sexuais ilícitas”, isto é, infidelidade conjugal, como o único motivo capaz de gerar divórcio. A segunda era defendida pelo rabino Hillel, mestre do judaísmo, que exerceu forte influência sobre a nação durante muitos anos, e morreu por volta do ano 10 D.C. O que eles entendiam sobre “cousa indecente” variava desde a incompatibilidade de gênios, até os dotes culinários da mulher, ou os seus gestos ou hábitos que o marido achasse desagradáveis.
Jesus, conhecendo a intenção dos Seus adversários, não se deixou levar para um lado, nem para outro. Antes Ele buscou a resposta na Escritura e no propósito do Criador ao estabelecer o casamento como uma instituição indissolúvel, visando a estabilidade e a felicidade da família, e o bem da sociedade.
A pergunta dos fariseus no V.7 sobre a carta de divórcio era uma tentativa de por Jesus em desacordo com a Lei de Moisés. Mas Ele explica que a carta de divórcio era apenas uma concessão. Certamente, devido à natureza decaída do gênero humano, e também era uma medida de proteção à mulher que, naquele tempo, era considerada um objeto de propriedade do marido, e não podia ser posta para fora de casa sem uma recomendação que a protegesse da agressão social. O destino de muitas mulheres repudiadas naquela época era tornarem-se prostitutas. A carta de divórcio era um corretivo que visava combater a dureza de coração que refletia a degeneração da raça humana e a flexibilidade da interpretação da cláusula chamada “cousa indecente”. A argumentação de Jesus contra o repúdio da mulher, mesmo com a carta de divórcio é que esta atitude não encontra respaldo no plano original de Deus para o casamento. Por isso Ele diz: “...entretanto não foi assim desde o princípio”.
Se a mulher repudiada inocentemente não pode casar-se sem incorrer em adultério, o mesmo princípio aplica-se ao marido que a repudiou. Portanto não pode haver casamento de divorciados, sem que a parte que se casa incorra em adultério, porque a lei do casamento não admite anulação, a não ser em caso de morte de um dos cônjuges (Romanos 7:1-3). O homem não tem direito assegurado por Deus, nem de divorciar-se e nem de contrair novas núpcias. Mas ele tem a opção garantida pelo livre arbítrio dado por Deus. Se ele quiser usar esta opção para um segundo casamento, ninguém o proíbe de fazê-lo. Mas ele é exortado pela palavra, que está incorrendo em adultério.
Marcos e Lucas não abrem espaço para o caso de infidelidade conjugal, porque a Lei é absoluta. A cláusula “exceto em caso de relações sexuais ilícita” não altera em nada a condição do novo casamento para o marido inocente, vitimado pelo adultério da esposa. Isto, porque, se a esposa inocente repudiada pelo marido não pode casar-se sem incorrer em adultério, o mesmo acontece para o marido inocente que pode divorciar-se. O problema está no segundo casamento.
O veredito de Jesus sobre este assunto está no V.9 onde entendemos que a separação do casal, exceto em caso de relações sexuais ilícitas resulta em adultério para o marido, se ele se casar com outra, mas também para a mulher, que fica exposta ao adultério, no caso de se casar com outro homem, o qual será também efetivamente adúltero (cf 5.32; Lucas 16:18).
Para completar o quadro perguntamos: como fica o caso do cônjuge inocente que foi vítima do adultério do parceiro? Ele fica na mesma situação da parte inocente quando não há relação sexual ilícita, isto é, não poderá casar-se sem incorrer em adultério. E quem se casar com a parte inocente, comete adultério.
Pelo exposto, fica muito claro que a Lei de Deus deixa o casamento totalmente protegido de todos os lados, e não admite violação e nem anulação, a não ser em caso de morte de um dos cônjuges (cf Romanos 7:1-3). A questão de “divórcio e novo casamento” fica resumida do seguinte modo: O homem não tem direito assegurado por Deus, nem de divorciar-se e nem de contrair novas núpcias. Mas ele tem “opção” garantida pelo livre arbítrio dada por Deus. Se ele quiser usar opção para um divórcio e segundo casamento, ninguém o proíbe de fazê-lo. Mas a palavra exorta que ele está incorrendo em adultério. Em Gênesis 2:15-17 a Palavra de Deus veio para Adão e em Gênesis 3:1-7 a palavra da serpente veio para Eva. Eles optaram pela palavra da serpente e isto levou toda a humanidade a uma tragédia (Gênesis 3:16-19).
Marcos e Lucas não abrem espaço para discussão do caso de infidelidade conjugal, e nem para o divórcio por qualquer motivo. Isto leva à compreensão de que a lei do casamento é absoluta e não admite anulação. Mas isto não altera em nada a posição do cônjuge considerado inocente, porque ele também não poderá contrair novas núpcias, sem incorrer em adultério. Portanto, o problema continua sendo o segundo casamento.

V.10 - Disseram-lhe os discípulos: Se essa é a condição do homem relativamente  
           à sua mulher, não convém casar.
V.11 - Jesus, porém, lhes respondeu: Nem todos são aptos para receber este
           conceito, mas apenas aqueles a quem é dado.
V.12 - Porque há eunucos de nascença; há outros a quem os homens fizeram
           tais; e há outros que a si mesmos se fizeram eunucos, por causa do reino
           dos céus. Quem é apto para o admitir admita.

Não é de estranhar a reação dos discípulos aos ensinos do Mestre, relativos ao casamento. Isto se deve às tradições culturais próprias do judaísmo, mas também à tendência humana de procurar um caminho mais conveniente para resolver problemas conjugais. No mundo atual as cousas não são diferentes. Das grandes religiões cristãs ocidentais, é a Igreja Católica Romana que mais se opõe à anulação do casamento, sendo muitíssimo raros estes casos, que só acontecem depois de um rigoroso processo de investigação das causas. De modo geral, estar comprometido permanentemente em uma união conjugal que não deu certo é preocupante. Por isso os discípulos objetaram que se o divórcio só é permitido se houver infidelidade conjugal, somado a impossibilidade de um segundo casamento sem incorrer em adultério, então é melhor decisivamente não casar (cf Mateus 5:32; Marcos 10:11-12; Lucas 16:18).
O ensino de Jesus sobre o casamento contrasta com a opinião de muitos rabinos que contribuíram para criar o conceito popular sobre casamentos mal sucedidos. Alguns, por exemplo, afirmavam que um homem casado com uma esposa perversa nunca iria para o inferno (geena), porque já teve os seus pecados espiados em vida. Outros afirmavam que um homem dominado pela mulher sente que a sua vida não é vida e que ela é como a lepra que se apegou a ele e somente o divórcio poderia libertá-lo dela. Outros ainda diziam que se um homem religioso é casado com uma esposa má, ele tem a obrigação de divorciar-se dela.
Considerando a mentalidade popular a respeito do casamento e os elevados ensinos do Mestre a respeito do assunto, entendemos a reposta que Ele deu aos discípulos quando disseram: “Se essa é a condição do homem relativamente à sua mulher, não convém casar”. A resposta de Jesus no V.11, parafraseando, foi: “Nem todos são aptos para viver sem casar, como vocês estão dizendo. Só podem viver assim aqueles a quem é dado”. Alguns comentaristas entendem que no V.11 Jesus se refere ao conceito que Ele deu aos fariseus da união perfeita e indissolúvel estabelecida por Deus no casamento conforme Vs.5 e 6. Convém lembrar que Jesus está dando ensinos a discípulos dispostos a obedecer-Lhe, discípulos que contam com a Sua presença em suas vidas, de modo que a vida do Mestre se manifesta neles (Gálatas 2:20), discípulos que contam também com a ajuda e o poder do Espírito Santo para capacitá-los a viver a vida cristã (Efésios 1:19-20; 6:10; cf Romanos 10:4).
Em seguida, Jesus descreve três classes de pessoas que não se unem a mulher em laços matrimoniais, mas vivem em estado de celibato. Primeiramente, os que nasceram destituídos das condições físicas ou psicológicas naturais, necessárias para se unirem a uma mulher e se tornarem uma só carne. Em segundo lugar, aqueles que foram feitos eunucos para exercerem cargos especiais, como os tesoureiros de reis (Atos 8:27), como os guardas dos harens nos palácios reais (Ester 1:10-12; 2:14) e também como sacerdotes das religiões pagãs. Em terceiro lugar, havia os que renunciaram o casamento, para dedicar-se ao trabalho do reino de Deus. Em sentido figurado eles se fizeram eunucos por causa do reino. Este é o caso de muitos homens solteiros cujos nomes estão no Novo Testamento, que deram grande impulso ao crescimento da igreja apostólica. Mas houve também alguns que se deixaram castrar porque interpretaram literalmente as palavras de Jesus no versículo 12, e depois viram que estavam errados. Realmente não se encontra nas palavras do Mestre nenhuma sugestão para que a igreja criasse uma classe de sacerdotes celibatários. A expressão final do V.12: “Quem é apto para admitir, admita”, corresponde a “Quem tem ouvido para ouvir ouça” (cf 11:15; 13:9, 43)