JESUS ABENÇOA AS CRIANÇAS
MATEUS 19:13-15 (Marcos 10:13-16; Lucas 18:15-17)
V.13 - Trouxeram-lhe, então, algumas crianças, para que lhes impusesse as mãos
e orasse; mas os discípulos os repreendiam.
V.14 - Jesus, porém, disse: Deixai os pequeninos, não os embaraceis de vir a
mim, porque dos tais é o reino dos céus.
V.15 - E, tendo-lhes imposto as mãos, retirou-se dali.
O advérbio “Então” do V.13 não quer indicar que o fato narrado neste parágrafo tenha ocorrido imediatamente após o ensino de Jesus sobre casamento e divórcio, mas dá a ideia de “por aquele tempo”, isto é, enquanto Jesus ainda estava do outro lado do Jordão (cf 19:1).
Aconteceu que pessoas se acercaram d’Ele, trazendo crianças para que lhes impusesse as mãos e orasse por elas. A prática de imposição de mãos e de oração intercessória por outras pessoas era muito antiga e usada em Israel desde os tempos do Velho Testamento, mas também, no Novo Testamento (cf Gênesis 48:18, II Reis 5:11; Mateus 9:18; Marcos 6:6; 7:32; Lucas 4:40; I Timóteo 4:14; II Timóteo 1:6; Tiago 5:14).
As crianças aqui mencionadas eram trazidas pelos pais ou por outros adeptos e discípulos de Jesus, portanto não estavam na idade de tomar decisões e de ir até Ele por vontade própria. Algumas eram de tamanho tal que Jesus as tomou nos braços (Marcos 10:16). Os discípulos, porém, repreendiam os responsáveis por aquela movimentação em torno d”Ele. Não podemos saber o que se passava na mente dos discípulos. Queriam poupar o Mestre daquela agitação ou achavam que Ele não se importava com infantes incapazes de oferecer oportunidade para ensino como aquele dado aos fariseus sobre casamento e divórcio? Seria conveniente deixar as crianças interromperem o ensino de um pregador tão importante como Aquele, capaz de enfrentar os fariseus e derrotá-los? Seja como for, o Mestre ficou indignado com aquela atitude, cousa que ocorreu poucas vezes com Ele durante o Seu ministério (17:16-17, Marcos 3:5; 10:14; João 11:38).
A repreensão de Jesus aos discípulos inclui duas lições. A primeira é que aqueles discípulos incorriam num grave erro, por não reconhecerem que, por suas características, as crianças são o protótipo dos cidadãos do reino de Deus. Portanto elas não podem ser impedidas de achegar-se a Ele que é o Rei e o que veio para implantar o reino dos céus entre os homens. A segunda lição que está nas passagens paralelas de Marcos e Lucas é que para entrar no reino de Deus, é preciso recebê-lo como uma criança. Por que? Porque as crianças são muito mais susceptíveis de aceitar as verdades espirituais do que os adultos. Elas não questionam. Elas não racionalizam. Elas não procuram comparar o que ouvem com opiniões preconcebidas, porque elas não tem tais opiniões. Do jeito que elas ouvem, elas gravam. O que caracteriza uma criança é a humildade, a mansidão, a falta de preconceitos, não guardar ressentimentos, estar pronta para aprender etc. Portanto, para receber o reino dos céus e entrar nele, não é preciso ser infantil, mas ter o espírito próprio de uma criança.
Que dizer do reino dos céus? Mateus o denomina assim, porque o seu Evangelho foi escrito visando leitores judeus que não costumavam pronunciar o nome de Deus (Jeová, Javé) ou a própria palavra “Deus” (Elohim). Eles usavam a palavra “Adonai” que quer dizer “Senhor”. Mas Marcos e Lucas escreveram seus Evangelhos para leitores gentios. Por isso eles falam do “Reino de Deus”. Este é o reino Messiânico que Jesus pregou desde o início do Seu ministério (Marcos 1:14-15), do qual Ele é o Mediador, porque o recebemos por Seu intermédio (Hebreus 12:27-28). Reino dos Céus, reino de Deus, era Messiânica, Dispensação da Graça, Nova Dispensação etc. são todos conceitos de uma só realidade que se confunde com a própria pessoa de Cristo e o Seu Evangelho. É a Era do Espírito, implantada por Jesus, com o estabelecimento da igreja em Pentecoste (Marcos 9:1; Atos 2).
Ao longo do Seu ministério, Jesus abriu as portas do reino para publicanos, pecadores, mulheres, pobres, doentes e também para as crianças. Marcos 10:16 mostra o carinho e o cuidado que Ele tem por elas, colocando-as em Seus braços, impondo-lhes as mãos e abençoando-as. Diante de um quadro como este, os pais devem ser movidos a colocar seus filhos na presença do Senhor e a interceder por eles, porque Jesus mesmo intercede por nós diante do Pai (Romanos 8:34; Hebreus 7:25).
Quando os pais devotam os filhos a Deus, ou quando eles os instruem na palavra com essa intenção, certamente Ele os atenderá (cf I Samuel 1:11, 26-28; II Timóteo 1:5; 3:14-15).
Esta linda história é um estímulo não somente aos pais para devotarem seus filhos a Deus, mas também às igrejas, para que tenham o mesmo carinho e cuidado que Jesus tinha para com as crianças. Elas precisam de afeto e de formação adequada às suas convicções. Elas são dons de Deus entregues aos pais, para serem salvas.
É bem possível que Mateus e Marcos tenham colocado este assunto, de propósito, logo após o ensino sobre casamento e divórcio. Este é um dos episódios comoventes do Novo Testamento, porque leva os pais à reflexão sobre o futuro dos filhos, diante da possibilidade do divórcio.