terça-feira, 13 de janeiro de 2015

JESUS ANDA SOBRE AS ÁGUAS

                                            JESUS ANDA SOBRE AS ÁGUAS
                                MATEUS 14:22-33       (Marcos 6:45-52; João 6:15-21)

V.22 – Logo a seguir, compeliu Jesus os discípulos a embarcar e passar adiante
           dele para o outro lado, enquanto ele despedia as multidões.
V.23 – E, despedidas as multidões, subiu ao monte, a fim de orar sozinho. Em
           caindo a tarde, lá estava ele só.

O milagre da multiplicação dos pães, que alimentou cerca de dez mil pessoas, fez a popularidade de Jesus subir ao extremo, pois o acontecimento simulava o banquete no reino de Deus, o banquete messiânico (cf Mateus 8:11; 22:2). O povo ficou convencido de que este era o personagem ideal para aquelas circunstâncias em que eles se encontravam. Jesus podia resolver os problemas sociais e políticos, acabando com a fome e com o domínio romano a que haviam sido submetidos. João informa que o povo estava decidido a pegá-Lo à força e O proclamarem rei (João 6:14-15). Este foi um momento de grande tensão durante o ministério de Jesus, momento de crise como Lucas escreve em seu Evangelho (4:13).
Isto levou Jesus a tomar medidas ponderadas e urgentes. Em primeiro lugar, Ele forçou os discípulos a tomarem um barco e passarem para o outro lado do mar. Em segundo lugar, Ele despediu as multidões. Depois disso, Ele subiu ao monte para orar, pois as circunstâncias exigiam isso. Lá, Ele permaneceu só.

V.24 – Entretanto, o barco já estava longe, a muitos estádios da terra, açoitado
           pelas ondas; porque o vento era contrário.
V.25 – Na quarta vigília da noite, foi Jesus ter com eles, andando por sobre o
            mar.

Do ponte onde Jesus estava, Ele viu que uma tempestade estava-se iniciando. O barco encontrava-se cerca de vinte e cinco a trinta estádios de distância (entre quatro mil e quinhentos e cinco mil e quatrocentos metros), conforme João 6:19, quando o Senhor foi ter com eles. Já era a quarta vigília da noite e eles estavam em dificuldade, a remar contra as ondas encapeladas do mar e o vento contrário. A quarta vigília da noite caía entre três e seis horas da madrugada. Segundo a contagem romana, a noite ia das seis horas da tarde até as seis horas da manhã, e era dividida em quatro períodos, cada um deles, de três horas, chamadas vigílias. Agora, uma pergunta! Se o milagre dos pães aconteceu no crepúsculo, cerca de seis horas da tarde, por quê os discípulos demoraram tanto para tomar o barco e partir? Ao que parece, eles foram para a praia e ficaram discutindo sobre a implantação do reino. Eles também esperavam que Jesus fosse estabelecer o Seu reino, ainda em vida, aqui na Terra e que eles mesmos seriam seus ministros (Mateus 20:20-21; Lucas 9:46-48; Atos 1:6). Pior do que isto, é que eles podiam estar entusiasmados com a ideia do povo arrebatar Jesus e aclamá-Lo rei à força (João 6:15). Por isso, Jesus forçou-os a tomar o barco e partir, enquanto Ele despedia a multidão.
Sabendo da tremenda dificuldade em que os discípulos se encontravam, Jesus foi socorrê-los andando sobre as águas do mar.

V.26 – E os discípulos, ao verem-no andando sobre as águas, ficaram aterrados,
           exclamaram: É um fantasma! E, tomados de medo, gritaram.
V.27 – Mas Jesus imediatamente lhes falou: Tende bom ânimo! Sou eu. Não
           temais!

Os discípulos ainda não conheciam tão bem o Mestre, a ponto de entender que Ele era o Ungido de Deus e participava dos mesmos poderes, como Senhor da criação e que Ele podia dar ordem ao vento e ao mar e controlar a gravidade e todos estes lhe obedeciam. Assim, pois, Ele podia também andar sobre as águas. O desenvolvimento da narrativa dos Evangelhos é que nos leva a pensar assim. Entretanto eles ficaram aterrados, quando viram um vulto aproximar-se, andando ao lado do barco. Supersticiosos, eles imaginaram que se tratasse de um fantasma e gritaram desesperados. Jesus os  acalmou dizendo: “Tende bom ânimo, sou eu, não temais!”. A expressão “sou eu”, enfatizada no grego com o uso do pronome “eu” (egö eimi) corresponde ao nome com que o Deus de Israel identificou-se a Moisés no episódio da sarça ardente (Êxodo 3:14). João mostra que Jesus aplicou esta expressão oito vezes em seu Evangelho, para referir-se a Si mesmo.
Marcos relata que Jesus simulou passar direto, deixando os discípulos no barco, à margem, no mar (6:48c). Possivelmente esta fosse uma insinuação de que Ele não poderia estar sempre presente, fisicamente, com eles. Mas o fato d’Ele entrar no barco significa que, espiritualmente, Ele nunca os abandonaria (João 14:18,28; Mateus 28:19-20).

V.28 – Respondendo-lhe Pedro disse: Se és tu, Senhor manda-me ir ter contigo,
           por sobre as águas.
V.29 – E ele disse: Vem! E Pedro, descendo do barco, andou por sobre as águas
           e foi ter com Jesus.
V.30 – Reparando, porém, na força do vento, teve medo; e, começando a
           submergir, gritou: Salva-me, Senhor!
V.31 – E, prontamente; Jesus estendendo a mão, tomou-o e lhe disse: Homem
           de pequena fé, por que duvidaste?
V.32 – Subindo ambos para o barco, cessou o vento.
V.33 – e os que estavam no barco o adoraram, dizendo: verdadeiramente és
          Filho de Deus!

Mateus é o único que descreve o papel de Pedro nesse episódio, um caso ligado ao seu caráter impulsivo. Ouvindo a voz do Mestre, com sua impulsividade costumeira, propôs-se a andar com Jesus sobre a água. Não seria isso um privilégio para ele? Talvez ele pensasse em seguir com Jesus até a praia. Mas a sua coragem transformou-se em frustração, quando ele reparou na força do vento e começou a afundar.
Aliás, uma análise mais acurada do texto grego sugere que ele não chegou a ir ter com Jesus, mas que começou na afundar logo no início, quando tirou os olhos do Mestre e voltou-se para o vento forte. Marcos silencia sobre este caso em seu Evangelho, que é baseado nas pregações de Pedro em Roma. Talvez o apóstolo nunca tenha tocado nesse assunto, porque ali ele recebeu uma lição de humildade e uma repreensão de Jesus que lhe chamou “homem de pequena fé”, porque ele duvidou (Esta passagem é importante, porque atesta a autenticidade das Escrituras do Novo Testamento, que não acobertam as fraquezas e os defeitos dos discípulos).
Foi em tais circunstâncias, que Jesus tomou Pedro pela mão, em resposta ao seu pedido para salvá-lo. E ambos entraram no barco. Agora estavam todos juntos novamente e tudo estava resolvido. O vendaval passou e os discípulos reconheceram que Jesus é verdadeiramente o Filho de Deus, e assim o adoraram, caindo-lhe aos pés. No Evangelho de Mateus, este ato de reconhecimento de quem é Jesus, representa o ponto mais alto da fé dos discípulos, como em 16:16.