A RESSURREIÇÃO DA FILHA DE JAIRO
MARCOS 5:35-43 (Mateus 9:23-26; Lucas 8:49-56)
V.35 – Falava ele ainda, quando chegaram alguns da casa do chefe da sinagoga,
a quem disseram: Tua filha já morreu; por que ainda incomodas o
mestre?
V.36 – Mas Jesus, sem acudir a tais palavras, disse ao chefe da sinagoga: Não
temas, crê somente.
Ao ler o V.35 temos a impressão de que estes que vieram da casa de Jairo com a notícia da morte da menina eram judeus que se opunham a Jesus e não queriam que Ele fosse até lá, preferindo a morte da filha do chefe a um milagre que viesse a consignar maior crédito à pessoa do Mestre. Jesus não se sentiu incomodado com a insistência de Jairo, como também não levou em consideração as palavras dos mensageiros. Antes, Ele fortaleceu a fé daquele pai aflito, dizendo: “Não temas, crê somente”. Em outras palavras a ordem para Jairo foi esta: Não te assustes, nem te importes com o que eles dizem, crê em Mim somente. Tendo-se separado da multidão, possivelmente para andar mais livremente, Jesus só permitiu que Pedro, Tiago e João O acompanhassem, além do pai da menina.
Ao chegarem à casa, encontraram o ambiente característico de um funeral dos judeus daquela época. Muitas pessoas lamentavam, solidarizando-se com os parentes da menina morta. Mas havia também pranteadores profissionais. Marcos refere-se a eles dizendo: “os que choravam e os que pranteavam muito”... Mateus acrescenta que havia também tocadores de flauta (9:23). Todo esse alvoroço concorria para a criação de uma atmosfera dramática que tinha, como finalidade, exprimir a tristeza da separação causada pela morte de um ente querido.
O Mishnah, coleção de leis orais, organizada pelo rabino Judá, o Príncipe, século II D.C., e que faz parte do Talmude, aconselhava que os mais pobres empregassem nessas ocasiões, pelo menos, dois flautistas e uma carpideira profissional (mulher que entoava lamentações – cf Lucas 23:27). Mas não havia tanta tristeza naquelas lamentações porque, ao ouvirem de Jesus a pergunta sobre aquele alvoroço e do choro, e ainda a Sua afirmação de que a criança não estava morta e, sim, dormindo, muitos riam, pois eles sabiam que ela tinha morrido. Mas para Aquele que veio vencer a morte, e venceu, isto não era problema. E qualquer cristão entende que a morte é um estado passageiro, porque todos havemos de ressuscitar, como Cristo ressuscitou, “sendo Ele as primícias dos que dormem” (I Coríntios 15:20).
Jesus não permitiu que entrassem no aposento da menina para presenciar o milagre da ressurreição, a não ser seu pai, sua mãe e os três discípulos mais íntimos (Lucas 8:51). Sem incomodar-se com contaminação ritual (Números 19:11), Jesus tomou-a pela mão e disse: “Talita cúmi” e ela levantou-se e se pôs a andar, confirmando o milagre. A ordem de Jesus dada em aramaico ficou gravada de tal modo na memória de Pedro, que ele a repetia nas suas pregações em Roma, cerca de trinta anos depois. Por isso é que Marcos a inclui no seu Evangelho, que é o resumo do que o apóstolo pregava naquela cidade.
O milagre da ressurreição impressionou grandemente as pessoas ali presentes, mas Jesus teve o cuidado de adverti-las que não espalhassem a notícia, pois Ele não queria ser conhecido pelas multidões como simplesmente um operador de milagres. A Sua ordem para que dessem de comer à criança deve ligar-se ao fato dela estar enfraquecida pela doença e, possivelmente, com anemia, por falta de alimentação.
Lucas explica a ressurreição da menina dizendo que após a ordem de Jesus para que ela se levantasse, voltou-lhe o espírito e ela imediatamente se levantou. Com este ato, Jesus confirmou aos discípulos a Sua autoridade no reino espiritual. Este caso é um belo quadro que ilustra a afirmação de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem Crê em mim ainda que morra, viverá” (João 11:25).
Apesar da ordem de Jesus para que ninguém divulgasse aquele milagre, Mateus informa que a fama daquele acontecimento correu por toda aquela terra (9:26). Foi como no caso do leproso registrado em Marcos 1:45.