JESUS DÁ TESTEMUNHO DE JOÃO
LUCAS 7:24-35 (Mateus 11:7-19)
V.24 – Tendo-se retirado os mensageiros, passou Jesus a dizer ao povo a
respeito de João: Que saístes a ver no deserto? Um caniço agitado pelo
vento?
V.25 – Que saístes a ver? Um homem vestido de roupas finas? Os que se vestem
bem e vivem no luxo assistem nos palácios dos reis.
A impressão que permanece depois de ouvir a resposta de Jesus aos mensageiros de João, é de que o Mestre estava repreendendo o profeta. Mas isto não acontecia, como se vê pelo elogio que Ele lhe confere nos próximos versos.
Pela firmeza das suas atitudes e franqueza das suas palavras, ele não podia ser comparado a um caniço agitado pelo vento. Ele era homem vigoroso, habituado à vida difícil do deserto, à abstinência da alimentação e à simplicidade no vestir (Marcos 1:4,6), bem diferente dos delicados nobres palacianos que viviam no luxo e se vestiam esmeradamente.
V.26 – Sim, que saístes a ver? Um profeta? Sim, eu vos digo, e muito mais que
profeta.
V.27 – Este é de quem está escrito: Eis aí envio diante da tua face o meu
mensageiro, o qual preparará o teu caminho diante de ti.
V.28 – Eu vos digo: Entre os nascidos de mulher, ninguém é maior do que João;
mas o menor no reino de Deus é maior do que ele.
Jesus insiste em dizer que o povo saiu para ver no deserto “um profeta e muito mais que profeta”.
Por que Ele fez essa afirmação? Outros profetas de Israel prenunciaram a vinda do Messias, mas estavam em tempos muito distantes d’Ele, e sabiam que nunca O veriam. João teve o privilégio de vê-Lo, de dar testemunho a Seu respeito e de preparar a nação para recebê-Lo, evitando que Deus viesse a ferir a terra com maldição (Malaquias 4:5-6; João 1:29-34; Lucas 1:15-17). Por isso ele é considerado mais do que profeta. Também, por ter atuado num momento muito especial do plano de Deus para a salvação do pecador, período que foi a transição da dispensação da Lei (Velho Testamento) para a dispensação da graça (Novo Testamento), João é apontado por Jesus como o maior dos seres humanos nascidos de mulher. Todavia ele não viveu o suficiente para contemplar e desfrutar dos grandes benefícios da era da graça (era do Espírito Santo), que Jesus implantou com a Sua obra redentora. João não sobreviveu à morte e a ressurreição do Messias, nem à Sua entronização no céu, marcada pelo Pentecoste, com o estabelecimento da igreja e com a concessão do Espírito Santo a todo aquele que crê, que sinceramente se arrepende e é batizado em nome de Jesus Cristo para remissão de pecados, passando a pertencer ao Seu corpo (Atos 2:38; I Coríntios 12:12). Há uma enorme diferença entre a era que João Batista encerrou (cf Mateus 11:13) e a era que Cristo inaugurou. Por essa razão é que Jesus afirma que “o menor no reino de Deus é maior do que ele”. Portanto, a diferença não está entre o menor e o maior, mas entre as duas eras, isto é, antes e depois de Cristo ter realizado a obra redentora.
V.29 – Todo o povo que o ouviu, e até os publicanos, reconheceram a justiça de
Deus, tendo sido batizados com o batismo de João;
V.30 – mas os fariseus e os interpretes da Lei rejeitaram, quanto a si mesmos,
o desígnio de Deus, não tendo sido batizados por ele.
A pregação de João alcançou grande repercussão, e as multidões vinham de Jerusalém e da Judéia para ser batizadas por ele nas circunvizinhanças do Jordão. No meio delas havia publicanos, soldados e até mesmo fariseus e saduceus que se apresentavam para o batismo (Mateus 3:1-10; Lucas 3:3-14). Mas a grande maioria dos que atenderam à pregação de João era de pessoas simples do povo e de publicanos. Pelas palavras do profeta eles compreenderam que Deus é justo ao condenar os seus pecados e exigir a correção de suas vidas. Portanto eles concordavam com Deus. Mas os fariseus e os interpretes da Lei, em sua obstinação, insistiam na ideia de que eles eram justos (Lucas 18:9-14), isto é, não tinham pecado e não necessitavam de arrependimento, nem de batismo. Como diz um eminente teólogo, estudioso da Bíblia, comentando esta passagem: “Eles rejeitaram o caminho de Deus. Eles recusaram o batismo de João. Eles se puseram à margem do caminho da benção e não dariam ouvidos a Jesus quando Ele viesse. A mente fechada leva de erro a erro”.
V.31 – A que, pois, compararei os homens da presente geração, e a que são eles
semelhantes?
V.32 – São semelhantes a meninos que, sentados na praça, gritam uns para os
outros: Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos lamentações
e não chorastes.
V.33 – Pois veio João Batista, não comendo pão nem bebendo vinho, e dizeis:
tem demônio.
V.34 – Veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizeis: Eis aí um glutão e
bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores!
V.35 – Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos.
Nestes versos Jesus expõe a falta de senso dos homens daqueles dias, porque eles rejeitaram tanto João Batista como a Ele mesmo, mas de maneira incoerente. Para comprovar isto, Jesus usa duas parábolas que descrevem crianças brincando nas praças: Um grupo tocava música alegre na flauta para o outro grupo dançar, mas eles não dançavam. Depois cantavam canções de lamentação para os outros chorarem, mas eles não choravam. Isto significa a indiferença de um grupo para com o outro. É isto o que acontecia com o povo em relação à pregação de João Batista e de Jesus: indiferença.
Pelo fato do profeta ter seus hábitos rigorosos, ele não era aceito e era taxado de endemoninhado. Porque Jesus tinha bom humor e mostrava jovialidade, também não era aceito e era taxado de glutão. Afinal, qual era a razão disso? É que eles não tinham sabedoria para discernir as cousas espirituais. Os filhos da sabedoria, sabedoria de Deus, são aqueles que sabem julgar corretamente e recebem a palavra de Deus como justiça de Deus. Estes justificam a sabedoria.
A passagem paralela de Mateus 11:7-19, contém 4 versos que não constam do texto de Lucas que estamos comentando. Eles são os versos 12, 13, 14 e 15, que vamos analisar.
Mateus, capítulo 11:
V.12 – Desde os dias de João Batista até agora o reino dos céus é tomado por
esforço, e os que se esforçam se apoderam dele.
V.13 – Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João.
V.14 – E, se o quereis reconhecer, ele mesmo é Elias, que estava para vir.
V.15 – Quem tem ouvidos {para ouvir}, ouça.
Desde que João deu início ao seu ministério, anunciando a chegada do reino de Deus e o advento do Messias, houve um grande despertamento espiritual e uma crescente expectativa quanto ao cumprimento destes fatos. O povo necessitado realmente ansiava por entrar no reino e se esforçava por isso (cf Lucas 13:24). No meio das multidões estavam aqueles que tinham condições de se apoderar do reino. João Batista foi enviado exatamente para preparar o povo para este fim (Malaquias 4:5). Ele foi o último profeta do período da Lei e veio no espírito e poder de Elias (Lucas 1:15-17), isto é, no estilo e no caráter daquele profeta do Velho Testamento.
A última frase do verso 19 de Mateus 11 diz que: “A sabedoria é justificada pelas suas obras”. Quem pratica as obras da sabedoria? São os filhos da sabedoria, isto é, os sábios. Quem são os sábios neste contexto? São aqueles que deram ouvido à pregação de João e de Jesus (Mateus 11:15). São estes os que se apoderam do reino. Assim, as afirmações de Lucas 7:35 e de Mateus 11:19c são concordantes.