segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A PARÁBOLA DO CREDOR INCOMPASSIVO

                                         A PARÁBOLA DO CREDOR INCOMPASSIVO
                                                        MATEUS 18:23-35

V.23 – Por isso o reino dos céus é semelhante a um rei, que resolveu ajustar
            Contas com os seus servos.
V.24 – E passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos.
V.25 – Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o Senhor que fosse
            Vendido ele, a mulher, os filhos, e tudo quanto possuía, e que a dívida
            Fosse paga.
V.26 – Então o servo, prostrando-se reverente, rogou: Sê paciente comigo e
            Tudo te pagarei.
V.27 – E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora, e
            Perdoou-lhe a dívida.
V.28 – Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe
            Devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me o que
            Me deves.
V.29 – Então o seu conservo, caindo-lhe aos pés, lhe implorava: Se paciente
            Comigo e te pagarei.
V.30 – Ele, entretanto não quis; antes, indo-se o lançou na prisão, até que
            Salda-se a dívida.

Para compreender esta parábola e a sua posição no contexto é necessário lembrar que o assunto inicia-se em 18:1 e se encerra em 18:35, tratando da humildade, do amor, da tolerância e do perdão que devem existir entre os discípulos de Cristo.
Desde que Jesus foi reconhecido pelos discípulos como o Messias (16:16), Ele passou a ensinar-lhes a necessidade da Sua morte e ressurreição, o que resultaria no estabelecimento da Sua igreja, contra a qual as portas do Hades não poderiam prevalecer (cf 16:18; João 2:19, 21-22). Assim, a igreja é a comunidade messiânica, comunidade dos redimidos pela morte do Messias que trouxe o perdão de pecados (Mateus 26:28). Cada discípulo deve, portanto, lembrar-se e nunca se cansar de dar o perdão de cada ofensa que lhe for feita por qualquer irmão.
Se esta disposição for negligenciada, perde-se o fundamento da comunhão cristã. A comunidade dos redimidos perde a razão de ser, se faltar o perdão mútuo entre aqueles que foram perdoados pela morte do Messias. Por isso, não é de estranhar que Mateus tenha encerrado este capítulo, de modo tão apropriado, com esta parábola.
As quantidades e os valores usados por Jesus em Suas parábolas são sempre muito coerentes e significativos, porque correspondem aos fatos que acontecem na vida real. Os dez mil talentos referidos no V.24 representam uma quantidade de dinheiro tão grande, que só podia provir de um empréstimo concedido pelo governo imperial a um oficial altamente graduado. Este valor é exagerado de propósito, com o fim de contrastar com a pequena dívida de cem denários do segundo devedor. Um talento correspondia a seis mil denários, de sorte que o primeiro devedor devia dez mil vezes a dívida do segundo devedor, ou seja sessenta milhões de denários. Esta dívida é seiscentas mil vezes maior do que a dívida do segundo devedor. Sabendo que um denário era o salário de um dia de um trabalhador e que, atualmente no Brasil gira em torno de          R$ 50,00, o primeiro devedor devia ao senhor, a quantia de três bilhões de reais, enquanto o seu conservo lhe devia R$ 5.000,00.
Nesta parábola, narrada apenas por Mateus, o rei do V.23 corresponde ao Pai celeste do V.35. quando Ele resolveu ajustar contas com os seus servos, foi-lhe trazido um que tinha uma dívida incalculável para com Ele. Não tendo com que pagar, o Senhor ordenou a venda dele, da mulher, dos filhos e de tudo quanto ele tinha para pagamento da dívida. Esta ilustração de Jesus é tirada de costumes pagãos, para enfatizar a gravidade do caso, porque em Israel, esta prática era proibida (Levítico 25:44-46), a não ser no caso de ladrões (Êxodo 22:3).
O servo porém reverente, prostrou-se suplicante diante do Senhor pedindo a sua paciência, prometendo que pagaria toda a dívida. Certamente, o rei conhecia as limitações daquele súdito, mas, comovido de compaixão, teve misericórdia e despediu-o, perdoando-lhe a dívida. Mal tinha saído da presença daquele rei bondoso, esse homem encontrou um outro servo do mesmo rei, que lhe devia uma bagatela, quando comparada à dívida de que ele fora perdoado. Muito embora o seu conservo tivesse a mesma atitude reverente, implorando paciência e prometendo pagar a dívida, como ele fez diante do rei, aquele homem insensível não lhe perdoou. Antes, levou-o à prisão até que lhe pagasse tudo o que devia.

V.31 – Vendo os seus companheiros o que se havia passado, entristeceram-se
            Muito, e foram relatar ao seu senhor tudo o que acontecera.
V.32 – Então o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te
            Aquela dívida porque me suplicaste;
V.33 – não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como
            Também eu me compadeci de ti?
V.34 – E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe
            Pagasse toda a dívida.
V.35 – Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes
            Cada um a seu irmão.

Jesus descreve vividamente a injustiça inexplicável daquele servo, descrevendo-o como malvado e como o seu Senhor, com poucas palavras, censurou a sua atitude vergonhosa, irracional e impiedosa, a ponto dos outros conservos, profundamente entristecidos irem relatar o ocorrido ao senhor deles.
Chamando-o, o rei, irado, revogou a decisão que havia tomado a respeito daquele servo impiedoso, aumentando-lhe ainda mais a pena, entregando-o aos verdugos.
O ensino da parábola é este: Se Deus está disposto a perdoar a dívida tão grande que nós pecadores temos para com Ele, dívida que todas as riquezas do mundo não podem cobrir (16:26), nós temos que perdoar as ofensas infinitamente menores que os irmãos venham a cometer contra nós. Caso contrário, estaremos sob a mesma condenação do servo credor incompassivo.