sábado, 10 de janeiro de 2015

A PARÁBOLA DAS MINAS

                                              A PARÁBOLA DAS MINAS
                                                        LUCAS 19:11-27

V.11 - Ouvindo eles estas coisas, Jesus propôs uma parábola, visto estar perto
           de Jerusalém e lhes parecer que o reino de Deus havia de manifestar-se
           imediatamente.
V.12 - Então, disse: Certo homem nobre partiu para uma terra distante, com o
           fim de tomar posse de um reino e voltar.
V.13 - Chamou dez servos seus, confiou-lhes dez minas e disse-lhes: Negociai até
           que eu volte.
V.14 - Mas os seus concidadãos o odiavam e enviaram após ele uma embaixada,
           dizendo: Não queremos que este reine sobre nós.
V.15 - Quando ele voltou, depois de haver tomado posse do reino, mandou
           chamar os servos a quem dera o dinheiro, a fim de saber que negócio
           cada um teria conseguido.
V.16 - Compareceu o primeiro e disse: Senhor, a tua mina rendeu dez.
V.17 - Respondeu-lhe o senhor: Muito bem, servo bom; porque foste fiel no
           pouco, terás autoridade sobre dez cidades.
V.18 - Veio o segundo, dizendo: Senhor, a tua mina rendeu cinco.
V.19 - A este disse: Terás autoridade sobre cinco cidades.
V.20 - Veio, então, outro, dizendo: Eis aqui, senhor, a tua mina, que eu guardei
           embrulhada num lenço.
V.21 - Pois tive medo de ti, que és homem rigoroso; tiras o que não puseste e
           ceifas o que não semeaste.
V.22 - Respondeu-lhe: Servo mau, por tua própria boca te condenarei. Sabias
           que eu sou homem rigoroso, que tiro o que não pus e ceifo o que não
           semeei;
V.23 - por que não puseste o meu dinheiro no banco? E, então, na minha vinda,
           o receberia com juros.
V.24 - E disse aos que o assistiam: Tirai-lhe a mina e dai-a ao que tem as dez.
V.25 - Eles ponderaram: Senhor, ele já tem dez.
V.26 - Pois eu vos declaro: a todo o que tem dar-se-lhe-á; mas ao que não tem,
           o que tem lhe será tirado.
V.27 - Quanto, porém, a esses meus inimigos, que não quiseram que eu reinasse
           sobre eles, trazei-os aqui e executai-os na minha presença.

O crescimento da popularidade e da fama de Jesus durante o Seu ministério criou uma crescente expectativa do estabelecimento do reino Messiânico, por causa da grande quantidade de milagres que Ele fazia, e da ênfase que Ele dava ao reino de Deus no seu ensino e pregação (cf Mateus 4:17; Marcos 1:14-15; Lucas 4:14-14). Agora, na Sua subida para Jerusalém, para os festejos da Páscoa, especialmente os Seus discípulos estavam na esperança de que isto aconteceria imediatamente quando Ele chegasse lá. A expressão de Lucas: “Ouvindo eles estas cousas...” refere-se ao que Jesus falou na casa de Zaqueu e que os discípulos ouviram: “o filho do homem veio para buscar e salvar o perdido”. Com isto, corrobora o fato da expressão “Filho do homem” ser interpretada com uma conotação Messiânica. Esta parábola registrada somente por Lucas tem o objetivo de esclarecer que existe um longo intervalo entre a Sua partida e a Sua vinda futura. Esta vinda, denominada “parousia”, no Grego, com a instalação do reino, estava sendo imaginada por eles, como se acontecesse antes da crucificação. O pedido dos filhos de Zebedeu (Marcos 10:35-45) é uma evidência de que os discípulos esperavam o imediato estabelecimento do reino, quando Jesus chegasse em Jerusalém.
No Evangelho de Lucas, a existência desse intervalo entre o ministério de Jesus aqui na Terra e a Sua “parousia” é enfatizada para corrigir esta expectativa indevida de muitos cristãos daquela época. Nesta história, são apontados três aspectos sobre este assunto. Primeiro, o longo intervalo entre a ida e a volta de Cristo. Segundo, o teste dos discípulos nesse intervalo. Terceiro, uma hora de prestação de contas na “parousia”.
Esta parábola foi construída por Jesus, baseada em fatos verdadeiros, bem conhecidos da história de Israel, que todo o povo recordava: Antes de morrer, no ano 4 D.C., Herodes, o grande, dividiu o seu reino entre três filhos, para o sucederem no governo de Israel. Herodes Antipas, que se tornou mais tarde tetrarca da Galiléia; Herodes Filipe que se tornou tetrarca da Ituréia; Arquelau que se tornou etnarca da Judéia. Nenhum deles foi ratificado pelo Imperador César Augusto para governar com o título de rei, mas como governadores de províncias. Arquelau era tão odiado pelo povo que, quando ele foi a Roma reivindicar o posto de rei, os judeus também enviaram uma embaixada de aristocratas da Judéia, para pedir ao Imperador que não o deixasse governar. Afinal ele voltou como etnarca, e, não, como rei.
A parábola de Lucas é semelhante à parábola dos talentos de Mateus 25:14-30, porque ambas têm significado escatológico, mas a de Lucas é mais complexa, e há diferenças entre elas. A de Lucas foi pronunciada provavelmente na casa de Zaqueu, em Jericó, diante de muitos presentes, enquanto a de Mateus foi pronunciada no Monte das Oliveiras, depois da entrada de Jesus em Jerusalém, no domingo de ramos (Mateus 24:3), na terça feira à noite, dois dias antes dos festejos da Páscoa. Na parábola de Lucas, cada um dos dez cervos, representando todos os outros, recebeu uma quantidade de dinheiro (uma mina), para negociar, quantidade bem menor do que os talentos recebidos pelos servos na parábola de Mateus. Em ambos os casos, os servos deviam apresentar resultados quando o senhor voltasse. Em Mateus é enfatizada a capacidade de cada um. Em Lucas, a proposta é um teste para cada um. Em Mateus os servos operosos foram parabenizados pelo sucesso alcançado e pela fidelidade com que usaram os bens que lhes foram confiados. A recompensa é que foram elogiados e participaram da alegria do seu senhor. Em Lucas, a recompensa foi a promoção para administrarem o número de cidades correspondentes ao sucesso alcançado no emprego das minas. O servo negligente, em Mateus, é condenado à neglidão das trevas, onde há choro e ranger de dentes, depois de perder os seus próprios talentos e ver repassado o talento que recebera ao servo mais producente. Em Lucas, o servo negligente também perde o que tinha, enquanto vê sua mina ser repassada ao que teve maior sucesso nos negócios. Em Lucas também é dada ênfase especial ao tratamento dos inimigos, quando o homem nobre voltou de posse do reino. Ele ordenou que os trouxessem e que os executassem na sua presença. Eles foram mortos, provavelmente, degolados, conforme o costume dos reis naquela época. Confira o caso semelhante em I Samuel 15:33.

                                                                 EXPLICAÇÕES

V.12 – Este homem nobre da parábola é referente a Cristo, da casa real de Davi (Lucas 1:32-33; Romanos 1:3; Apocalipse 22:16). A referência a uma terra distante indica que não se pode esperar que Ele volte tão cedo, mas a posse do reino já foi efetivada após o Seu sacrifício, Sua morte, ressurreição e ascensão ao céu, onde Ele está reinando (Salmo 110:1; Atos 2:32-36). É Ele que tomou o livro da mão daquele que estava sentado no trono, e desatou os selos, o único capaz de cumprir tudo o que está escrito no livro, e dirigir o destino da história futura da humanidade, até a Sua volta final (I Coríntios 15:25-26; Apocalipse 5). Agora só falta a Sua vinda, a “parousia”, para levar ao fim o propósito de Deus com os homens, de instalar o Seu reino eterno.

V.13 – Os servos mencionados nesta passagem não são propriamente escravos, mas subordinados capazes, autorizados a negociar com o dinheiro recebido, até a volta do seu senhor. Uma mina equivale a cem dracmas, que corresponde ao salário de um dia de serviço de um trabalhador diarista. Considerando que um trabalhador da Construção Civil ganha em média cem reais por dia no Brasil no ano de dois mil e quatorze, esta quantia equivale a dez mil reais, quantia muito menor do que o talento da parábola de Mateus 25.

V.14 – Os concidadãos que o odiavam, primeiramente refere-se aos judeus que odiavam Arquelau, que era extremamente perverso. Na primeira Páscoa após a Sua ascensão ao poder, Ele chacinou cerca de três mil subordinados seus (Josefo Guerras ii:10-13). A embaixada que foi a Roma, pedir ao Imperador para não permitir que ele reinasse, não teve sucesso. Ele voltou não como rei, mas como governador da província.
Isto não se aplica a Jesus, o Rei Perfeito. O que se aplica no caso de Nosso Senhor é a resistência dos escribas e fariseus, dos principais do povo, dos principais sacerdotes e do sumo-sacerdotes que constituíam o Sinédrio, e de outros judeus do povo, que se opunham ao Mestre e Seus ensinos, e O perseguiram com ódio, durante todo o Seu ministério.

V.15-19 – Quando o homem nobre voltou, depois de receber o reino, ele chamou os servos que estiveram negociando, para prestar contas. Os dois primeiros apresentaram ganho dez vezes e cinco vezes mais do que haviam recebido. Nenhum deles reclamou louvor, mas modestamente disseram: “Senhor, a tua mina rendeu...”.  O senhor os elogiou e promoveu-os, dando-lhes um número de cidades para administrar, correspondente ao lucro que haviam gerado. A recompensa não foi descanso, mas a oportunidade de prestar maiores serviços.

V.20 - Veio, então, outro, dizendo: Eis aqui, senhor, a tua mina, que eu guardei
           embrulhada num lenço.
V.21 - Pois tive medo de ti, que és homem rigoroso; tiras o que não puseste e
           ceifas o que não semeaste.

O argumento do terceiro servo demostra medo e falta de segurança, pelo fato dele guardar o dinheiro simplesmente embrulhado num lenço. Além disso ele se queixou do senhor, dizendo que ele era austero, isto é, rigoroso como quem é capaz de dar nó em pingo d’água. As palavras “tiras o que não puseste e ceifas o que não semeaste” são uma expressão proverbial que significa: “obténs lucros, explorando o trabalho forçado de outros”.
Mas havia ainda mais sete servos envolvidos nesse comissionamento. O que acontece com eles? Eles, simplesmente, estão incluídos em uma das duas categorias: os que utilizaram bem o dinheiro do senhor, e o que não utilizou.

V.22 - Respondeu-lhe: Servo mau, por tua própria boca te condenarei. Sabias
           que eu sou homem rigoroso, que tiro o que não pus e ceifo o que não
           semeei;
V.23 - por que não puseste o meu dinheiro no banco? E, então, na minha vinda,
           o receberia com juros.

As palavras do servo mau foram a base da sua condenação. Parafraseando, o senhor lhe disse: “Já que você pensa isso de mim, você devia ter posto o meu dinheiro no banco (segundo o texto grego: sobre a mesa dos cambistas, ou dos que tomam dinheiro emprestado e pagam juros) e eu o receberia com remuneração quando voltasse, e você não correria o risco de perder o seu próprio dinheiro”.
A aplicação para nós, na igreja, é que, se alguém não tem iniciativa para trabalhar com dons, talentos ou recursos que Deus lhe deu, esse alguém deve prestar colaboração aos que têm capacidade de fazê-lo. Assim ele rende frutos para o reino de Deus.

V.24 - E disse aos que o assistiam: Tirai-lhe a mina e dai-a ao que tem as dez.
V.25 - Eles ponderaram: Senhor, ele já tem dez.
V.26 - Pois eu vos declaro: a todo o que tem dar-se-lhe-á; mas ao que não tem,
           o que tem lhe será tirado.

O fato do servo mau não ter utilizado o seu dinheiro e de não o ter empregado com os que podiam fazê-lo render juros, trouxe consequências: ele perdeu a mina que recebeu, porque ela foi repassada para o servo mais produtivo, e ainda perdeu o que tinha antes de receber a que lhe foi retirada. Nenhuma outra punição é dada ao servo mau, além da perda dos seus bens e da privação de responsabilidade futuras (cp Mateus 25:30; I Coríntios 3:14-15).
O protesto do V.25 representa a surpresa daqueles que o assistiam, porque viram que Ele tinha conseguido ganhar dez minas de lucro, e agora recebeu mais uma. O senhor respondeu ao protesto com o princípio do reino, declarado no V.26.

V.27 - Quanto, porém, a esses meus inimigos, que não quiseram que eu reinasse
           sobre eles, trazei-os aqui e executai-os na minha presença.

A parábola termina com uma ordem tremendamente assustadora daquele nobre homem que agora voltou como rei e, assentado no seu trono, determina que aqueles seus inimigos que não queriam que ele reinasse sobre eles fossem trazidos a sua presença, e fossem executados.
E assim será na Sua Parousia.