A MISSÃO DO CONSOLADOR OU A OBRA DO ESPÍRITO SANTO
JOÃO 16:1-24
V.1 - Tenho-vos dito estas coisas para que não vos escandalizeis.
V.2 - Eles vos expulsarão das sinagogas; mas vem a hora em que todo o que vos matar julgará com isso tributar culto a Deus.
V.3 - Isto farão porque não conhecem o Pai, nem a mim.
V.4 - Ora, estas coisas vos tenho dito para que, quando a hora chegar, vos
recordeis de que eu vo-las disse. Não vo-las disse desde o princípio,
porque eu estava convosco.
V.5 - Mas, agora, vou para junto daquele que me enviou, e nenhum de vós me
pergunta: Para onde vais?
V.6 - Pelo contrário, porque vos tenho dito estas coisas, a tristeza encheu o
vosso coração.
V.7 - Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for,
o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo
enviarei.
V.8 - Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo:
V.9 - do pecado, porque não crêem em mim;
V.10 - da justiça, porque vou para o Pai, e não me vereis mais;
V.11 - do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado.
V.12 - Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora;
V.13 - quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a
verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver
ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir.
V.14 - Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de
anunciar.
V.15 - Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso é que vos disse que há de receber
do que é meu e vo-lo há de anunciar.
O V.1 é uma exortação de Jesus para que os discípulos não sejam apanhados de surpresa, quando vierem as perseguições. Este é o sentido do verbo “escandalizar-se” nesta passagem. Sobre expulsão das sinagogas, deve-se dizer que era uma das cousas mais temidas dos judeus, pois significava ser excomungado da sociedade de Israel, com sofrimentos que podiam incluir flagelação, espolio dos bens e até a morte, além da proibição de frequentar os cultos locais e entrar no Templo (cf 9:22; Hebreus 10:32-34). Com tais perversidades, os inimigos de Cristo pensavam estar prestando culto a Deus (cf Atos 26:9-11). Tudo o que estes perseguidores faziam mostra, como disse Jesus no V.3, o quanto eles desconheciam o caráter e a natureza do Pai Celeste e d’Ele, o Filho.
Jesus não preveniu os discípulos sobre perseguições, desde o inicio do seu Ministério, porque não era oportuno, pois Ele estava com eles. Além disso, as perseguições eram concentradas sobre a Sua Pessoa, por ser Ele o cabeça do grupo que esboçava a criação de um novo Israel. Mas, agora, era o momento de alerta-los, porque Ele ia para o Pai, e as perseguições haveriam de chegar e, quando isto acontecesse eles haveriam de lembrar-se de que já tinham sido prevenidos. Diante da Sua partida iminente, e da preocupação dos discípulos que ressentiam essa perda pessoal, e não compreendiam o destino que lhes estava proposto, Jesus sentia-se constrangido a preveni-los e a confortá-los.
Em 14:4-9, os discípulos já haviam mostrado preocupação a respeito do destino de Jesus mas, agora, vendo a tristeza e a incerteza sobre o destino do Mestre, Ele toca no assunto perguntando: “... nenhum de vós me pergunta: Para onde vais?” Em seguida Ele conforta os discípulos dizendo, em paráfrase: “para vocês é melhor que Eu vá, senão o Consolador não virá, mas se eu for Eu vou mandá-lO para vocês”. A partir de então Ele estará em condições de disponibilizar a ajuda do Espirito Santo no ministério e no testemunho dos apóstolos diante dos homens, cousa que ninguém mais pode fazer.
Agora Jesus passa a mostrar como Ele agirá. Quando eles derem o seu testemunho, o Espirito os ajudará, atuando como defensor e mostrando os erros próprios do mundo. O grande Advogado de defesa será como conselheiro, para convencer o mundo em três aspectos: Primeiro, Ele mostrará a verdade que o pecado fundamental do mundo é viver centralizado na sua própria independência, negando obediência a Jesus, em outras palavras, não crendo n’Ele (V.8a; cf 8:24). Segundo, Ele mostrará a justiça de Jesus (V.8b), porque tudo que Ele falou, ensinou e fez foi correto, pois Ele será vindicado ao retornar ao Pai, depois de ser retirado da vista dos discípulos (cf Lucas 24:50-53). Terceiro, a morte de Jesus na cruz, decretada por tribunal humano inspirado por Satanás e ajudado por um tribunal igualmente satânico, que parecia para eles ser a derrota do Messias, será apresentada como prova Sua vitória, pela Sua ressureição, e da derrota e condenação do príncipe deste mundo, cujo julgamento (condenação) Jesus já havia decretado (V.9-11).
Jesus ainda tinha muitas cousas a dizer aos discípulos, mas naquele momento, com os corações cheios de pesar, eles não podiam suportar. Todavia Ele afirma que, quando chegar o Espirito da Verdade, ele haverá de leva-los a conhecer toda a verdade, evidentemente relativa ao testemunho e ao ministério deles. O Espirito tem acesso à suprema fonte da verdade que é Deus (cf I Coríntios 2:10-11). Por isso Ele falará aquilo que tiver ouvido e levará ao conhecimento dos discípulos as cousas que hão de acontecer (confira as profecias de Paulo, Pedro e João em I coríntios 15:20-55; I tessalonicenses 4:13-17; II tessalonicenses 2:7-10; II Pedro 3:10-13 e Apocalipse de João).
Os versos 14 e 15 falam da perfeita interação entre o Pai, o Filho e o Espirito Santo, que agem no mesmo propósito de salvação do pecador. Jesus é glorificado com a obra do Espirito Santo, porque a vinda do Consolador é resultado da promessa de Deus pela morte redentora do Filho na cruz, conforme deixa claro e implícito a verdade afirmada por Jesus no V.7 (cf Atos 1:4-5; 2:32-33).
O V.15 é reafirmação do que Jesus já havia ensinado durante o Seu ministério, de acordo com o registro de Mateus 11:27 e Lucas 10:22. Isto mostra a Sua autoridade para pregar, ensinar, e fazer os milagres que fazia, inclusive ressuscitar mortos e conceder vida espiritual, ou vida eterna aos que creem na Sua Palavra (5:24-26).
V.16 - Um pouco, e não mais me vereis; outra vez um pouco, e ver-me-eis.
V.17 - Então, alguns dos seus discípulos disseram uns aos outros: Que vem a ser isto que nos diz: Um pouco, e não mais me vereis, e outra vez um pouco, e ver-me-eis; e: vou para o Pai?
V.18 - Diziam, pois: Que vem a ser esse – um pouco? Não compreendemos o que quer dizer.
V.19 - Percebendo Jesus que desejavam interrogá-lo, perguntou-lhes: Indagais entre vós a respeito disto que vos disse: Um pouco, e não me vereis, e outra vez um pouco, e
ver- me-eis?
ver- me-eis?
V.20 - Em verdade, em verdade eu vos digo que chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria.
V.21 - A mulher, quando está para dar à luz, tem tristeza, porque a sua hora é chegada; mas, depois de nascido o menino, já não se lembra da aflição, pelo prazer que tem de ter nascido ao mundo um homem.
V.22 - Assim também agora vós tendes tristeza; mas outra vez vos verei; o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém poderá tirar.
As palavras de Jesus: “Um pouco...e...outra vez um pouco” do V.16, e mais o que Ele havia dito repetidamente em passagens anteriores, “Vou para o Pai”, deixou a mente dos discípulos em suspenso (cf 14:12b, 28; 16:5). Jesus, percebendo que eles desejavam interroga-lO a esse respeito, explicou que eles haveriam de chorar, lamentar e ficar tristes, enquanto o mundo, isto é, os seus inimigos escribas, fariseus e outros judeus iriam alegra-se. Jesus se refere à sua morte e sepultamento, período de angustia para os discípulos, em que Ele estaria longe das vistas deles. Mas, depois de mais um pequeno período de tempo, Ele ressuscitaria e voltaria visivelmente para eles. Então, aquela tristeza transformar-se-ia em grande alegria. Isto aconteceu num curto espaço de três dias. A Sua ressurreição fazia parte do plano de Deus, para que Ele voltasse para o Pai (16:7).
O exemplo da mulher que sente tristeza pela preocupação da chegada da hora do parto, mas depois se esquece da aflição por ter trazido um varão ao mundo, é para animar os discípulos. Eles estão angustiados agora diante do que vai acontecer. Mas, quando eles virem o Cristo ressuscitado, com toda evidência e prova de que Ele vive e cumpriu a Sua obra redentora a favor deles e de todo o que n’Ele crê, então eles terão profunda alegria no coração, alegria permanente em suas vidas, que ninguém poderá arrebatar (cp. V.22 e 10: 10, 28-29).
V.23 - Naquele dia, nada me perguntareis. Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa ao Pai, ele vo-la concederá em meu nome.
V.24 - Até agora nada tendes pedido em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa.
Quando Jesus diz: “Naquele dia...”, significa após a Sua ressurreição e ascensão. E, “...nada me perguntareis” ou “nada me pedireis” refere-se ao caso dos discípulos pedirem uma resposta, ou uma ajuda (cf. respectivamente Mateus 18:21-22 e Mateus 8:25; João 11:3). Enquanto Jesus estava presente, os discípulos nunca oravam a Deus em Seu nome. Seus pedidos, suas necessidades e dificuldade eram levadas diretamente a Ele, Jesus, que resolvia problemas doutrinários, espirituais e outros (cf. 11: 3). daqui por diante, porém eles deverão dirigir-se a Deus, em nome de Jesus, e Ele mesmo, por meio do Espirito Santo, mostrará o que deve ser feito, como se ele estivesse pessoalmente presente com eles. Portanto, os pedidos serão feito diretamente ao Pai, e Ele os concederá em nome de Jesus.
Esta grande verdade, isto é, que os discípulos devem dirigir-se a Deus em nome de Jesus, O mediador, é um mistério que Ele reservou para revelar no fim do Seu ministério, porque os discípulos estariam mais bem preparados para entendê-lo. Então, em meio a provações, necessidades e sentimento de fraqueza e de indignidade, eles reconhecerão o valor do privilégio de se aproximarem do Pai, em nome do Filho, com a certeza de que, pedindo alguma cousa, Ele lhes concederá e eles a receberão em nome de Jesus. Isto será, para eles, motivo de toda alegria (cf. I João5:13-15).