A CURA DE UMA ENFERMA
LUCAS 13:10-17
V.10 - Ora, ensinava Jesus no sábado numa das sinagogas.
V.11 - E veio ali uma mulher possessa de um espírito de enfermidade, havia já
dezoito anos; andava ela encurvada, sem de modo algum poder
endireitar-se.
V.12 - Vendo-a Jesus, chamou-a e disse-lhe: Mulher, estás livre da tua
enfermidade;
V.13 - e, impondo-lhe as mãos, ela imediatamente se endireitou e dava glória a
Deus.
Este milagre é registrado apenas no Evangelho de Lucas, e aconteceu na última vez que Jesus entrou numa sinagoga. E era sábado.
Quando João relata a cura de um paralítico no tanque de Betesda, ele informa que aquele homem sofria daquela enfermidade havia já trinta e oito anos. Jesus, vendo-o deitado, sabendo que estava assim fazia muito tempo, perguntou-lhe: “Queres ser curado?”. A sua resposta não foi nem “sim” e nem “não” mas apenas desculpou-se, dizendo que não tinha quem o pusesse no tanque e que, enquanto ele ia, outro descia antes dele. Sem levar em conta a sua resposta incerta, Jesus tomou a iniciativa de curá-lo e ordenou: “Levante-te, toma o teu leito e anda”.
Alguns comentaristas entendem que este enfermo é uma figura de Israel, que ficou vagando trinta e oito anos no deserto, sem progredir no propósito de entrar na Terra Prometida (Deuteronômio 2:14), desde que os espias revoltaram o povo que se rebelou contra Deus em Cades Barnéia (Números 13:25-14:4, 32-35), até a passagem do Zerede. Nos quarenta anos referidos em 14:33-34 estão incluídos um ano que ficaram no Sinai (Números 10:11-12) e mais o tempo após o cruzamento do Zerede e do Arnom, antes de entrarem na Terra Prometida (Deuteronômio 3:25-29; 34:1-5).
O milagre da cura desta mulher narrado por Lucas, o médico, chama à atenção por alguns detalhes. A afirmação de que ela era “possessa de um espírito de enfermidade” indica que o seu estado era relacionado com o poder de demônios. Não se sabe se ela conhecia Jesus ou se ela cria n’Ele, como a mulher Sírio-Fenícia (Marcos 7:25-26). A sua enfermidade é descrita tecnicamente como “spondylitis deformans”, em que as vertebras da sua coluna calcificaram-se em conjunto, impedindo que ela pudesse endireitar-se, de modo que ela não podia andar corretamente e ficava sempre encurvada, olhando para baixo, ou seja, para a terra, sem poder olhar para frente ou para cima.
Foi Jesus quem tomou a iniciativa de curá-la, chamando-a e dizendo, simplesmente: “Mulher, estás livre da tua enfermidade”. Ele impôs-lhe as mãos, provavelmente na cabeça e nas costas. Com isto, ela se endireitou e dava glória a Deus. Jesus não usava impor as mãos para expelir demônios. Provavelmente o demônio foi expulso quando Ele a declarou livre da enfermidade (V.12).
Este milagre também presta-se a uma interpretação alegórica, em que a enfermidade daquela mulher é figura da condição espiritual dos judeus, que eram incapazes de olhar para a frente, ou levantar os olhos para cima, em direção a Deus, mas tinham os olhos voltados para a terra, em busca das cousas materiais deste mundo (16:14-15). Por isso eles não buscavam o arrependimento e não podiam reconhecer Jesus como o Messias. Esta é uma explicação para a parábola da figueira estéril (V.6-9).
V.14 - O chefe da sinagoga, indignado de ver que Jesus curava no sábado, disse
à multidão: Seis dias há em que se deve trabalhar; vinde, pois, nesses
dias para serdes curados e não no sábado.
V.15 - Disse-lhe, porém, o Senhor: Hipócritas, cada um de vós não desprende da
manjedoura, no sábado, o seu boi ou o seu jumento, para levá-lo a beber?
V.16 - Por que motivo não se devia livrar deste cativeiro, em dia de sábado, esta
filha de Abraão, a quem Satanás trazia presa há dezoito anos?
V.17 - Tendo ele dito estas palavras, todos os seus adversários se
envergonharam.
Neste episódio, continua a controvérsia a respeito da cura no sábado. O Velho Testamento não especifica quais eram os trabalhos que não deviam ser realizados nesse dia. Era a Tradição dos Judeus que catalogava trinta e nove atividades proibidas no sábado, especialmente aquelas que exigissem esforça físico para se alcançar algum resultado, por exemplo, colher espigas e debulhá-las entre as palmas das mãos para comer (cf 6:1). Jesus declarou apenas com a palavra que ela estava livre da sua enfermidade, e impôs as mãos sobre ela, sem fazer qualquer esforço físico para que ela se endireitasse. Ele estava cumprindo a profecia de Isaías 61:1c que diz: “O espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me enviou... a proclamar libertação aos cativos e a por em liberdade os algemados”. Assim, Ele libertou aquela filha de Abraão que havia dezoito anos estava sofrendo como cativa de Satanás.
Os chefe da sinagoga ficou indignado, não diretamente contra Jesus, mas por ver que Ele curava no sábado. A censura que ele dirigiu às multidões atingia também a Jesus. Por isso, Ele chamou “hipócritas” não somente o chefe, mas também os presentes na sinagoga, que compartilhavam com o modo de pensar do chefe. Se eles tinham o trabalho de desprender seus animais para levá-los a beber em dia de sábado, semana após semana, por qual razão ficaram indignados por Ele ter libertado definitivamente da prisão de Satanás aquela adoradora que tinha direito ao reino de Deus?
Diante dos argumentos lógicos e convincentes do Mestre que passava por ali, ensinando naquela sinagoga, os adversários não tiveram resposta, antes sentiram-se envergonhados, enquanto o povo se alegrava por todas as Suas gloriosas realizações.