A NECESSIDADE DE ARREPENDIMENTO
LUCAS 13:1-9
V.1 - Naquela mesma ocasião, chegando alguns, falavam a Jesus a respeito dos
galileus cujo sangue Pilatos misturara com os sacrifícios que os mesmos
realizavam.
V.2 - Ele, porém, lhes disse: Pensais que esses galileus eram mais pecadores do
que todos os outros galileus, por terem padecido estas coisas?
V.3 - Não eram, eu vo-lo afirmo; se, porém, não vos arrependerdes, todos
igualmente perecereis.
V.4 - Ou cuidais que aqueles dezoito sobre os quais desabou a torre de Siloé e os
matou eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém?
V.5 - Não eram, eu vo-lo afirmo; mas, se não vos arrependerdes, todos
igualmente perecereis.
A ocasião em que aconteceram os fatos narrados nestes dois parágrafos foi durante o tempo em que Jesus se encontrava na Peréia, além do Jordão (Mateus 19:1; Marcos 10:1), mais precisamente, quando uma multidão de miríades de pessoas se aglomeraram junta a Ele, a ponto de se atropelarem (V.1). Estes que chegaram com a notícia do que aconteceu com os Galileus não são identificados, mas podem ter sido alguns judeus antagônicos aos galileus, os quais, em vista do recente ensino de Jesus sobre julgamento e necessidade de arrependimento, teriam insinuado que a tragédia daqueles galileus teria ocorrido porque eles eram demasiadamente pecadores. Jesus não compartilhava com esse tipo de pensamento, conforme Sua afirmação nos Vs.2 e 3 (cf João 9:1-3).
O motivo de Pilatos ter ordenado um crime tão brutal e cruel nunca foi esclarecido, mas pode ter sido uma questão política, pois os galileus sempre foram revolucionários nacionalistas exaltados, que não se conformaram com o domínio romano. Os soldados de Pilatos não somente assassinaram aqueles galileus, mas também misturaram o sangue deles com o sangue do sacrifício que eles ofereciam. De acordo com Josefo, atrocidades como esta ocorreram outras vezes, cometidas por procuradores romanos como por Arquelau, homem de má índole (cf Mateus 2:22).
Um outro caso abordado por Jesus nessa ocasião é o desabamento da Torre de Siloé, que matou 18 operários que trabalhavam nela. Josefo informa que Pilatos usou dinheiro do Templo para aquela obra, projetada com o fim de garantir o abastecimento de água para o tanque de Siloé, no caso da cidade de Jerusalém ser sitiada por tropas inimigas. O fato do procurador romano ter usado dinheiro do Templo para a construção da torre, teria revoltado o povo que se levantou armado contra ele, e também condenou os trabalhadores de ter recebido dinheiro sagrado em remuneração do serviço prestado.
A tragédia foi interpretada, segundo o pensamento popular, como um castigo sobre aqueles que trabalhavam na construção, como se eles estivessem desafiando a Deus.
Em ambos os casos Jesus ensina que calamidades não estão associadas à pecaminosidade das vítimas. O que Ele enfatiza é a urgente necessidade de arrependimento para todos os homens e para toda a nação, galileus e judeus, porque ninguém sabe quando Deus fará o julgamento, e como Ele aplica a Sua justiça (12:58-59).
V.6 - Então, Jesus proferiu a seguinte parábola: Certo homem tinha uma figueira
plantada na sua vinha e, vindo procurar fruto nela, não achou.
V.7 - Pelo que disse ao viticultor: Há três anos venho procurar fruto nesta
figueira e não acho; podes cortá-la; para que está ela ainda ocupando
inutilmente a terra?
V.8 - Ele, porém, respondeu: Senhor, deixa-a ainda este ano, até que eu escave
ao redor dela e lhe ponha estrume.
V.9 - Se vier a dar fruto, bem está; se não, mandarás cortá-la.
A vinha é uma figura da nação de Israel, bem conhecida no Velho Testamento, como é cantada na parábola do profeta Isaías em 5:1-7. A videira e a figueira eram a principal cultura dos pomares naqueles tempos. Estar sentado debaixo da videira e da figueira era sinal de bem-estar e de prosperidade garantidas por Deus (cf I Reis 4:25; Miquéias 4:4; Zacarias 3:10).
Esta parábola é uma advertência de Jesus a toda a nação de Israel, Galiléia, no norte, e Jerusalém, ou Judá no sul, para que se arrependam, antes que Deus tome providências e corte a figueira da sua vinha. Por enquanto, Ele estava agindo pacientemente, e atendia à interseção do viticultor que prometia dar o tratamento adequado à terra, para habilitar a figueira a produzir. Se ela viesse a produzir fruto, estaria bem, caso contrário ele poderia mandar cortá-la.
Embora o pronunciamento de Jesus seja uma parábola, ela se presta a uma alegoria que não precisa ser esclarecida com muitos detalhes. No caso, a vinha representa a nação de Israel, e a figueira representa seus líderes religiosos que conduziam o povo. Erroneamente eles confiavam na proteção de Deus quanto à posse que eles tinham da vinha (Mateus 3:7-10; Lucas 3:7-9).
Os três anos em que o dono da vinha não encontrou fruto na figueira corresponde a um período, mas prolongado, durante o qual a figueira ocupava inutilmente o solo que poderia ser ocupado por outra árvore produtiva. O ano de tolerância pedido pelo viticultor, que é Jesus mesmo, é o tempo do Seu ministério, em que Israel teve a oportunidade de arrepender-se e reconhecer que Ele é o Messias.
Afinal, Israel não se arrependeu, e cumpriu-se o que Jesus ensinou na parábola dos lavradores maus (Mateus 21:33-46). A paciência de Deus esgotou-se e Jerusalém, bem como o estado judeu, foram definitiva e literalmente destruídos no ano 70 da nossa era. Desde esse tempo, o Evangelho teve grande expansão entre os povos gentios, considerados hoje, juntamente com os judeus cristãos, o Israel de Deus (Gálatas 6:16; cf Isaías 65:1; João 4:23-26).