sábado, 13 de abril de 2013

CAPÍTULO 7


CAPÍTULO  7

 

V.  1 - Ora, reuniram-se a Jesus os fariseus e alguns escribas, vindos de Jerusalém.

V.  2 - E, vendo que alguns dos discípulos dele comiam o pão com as mãos impuras,

           isto é, por lavar

V.  3 - (pois os fariseus e todos os judeus, observando a tradição dos anciãos,

           não comem sem lavar cuidadosamente as mãos;

V.  4 - quando voltam da praça, não comem sem se aspergirem;

           e há muitas outras cousas que receberam para observar,

           como a lavagem de copos, jarros e vasos de metal [e camas]),

V.  5 - interpelaram-no os fariseus e os escribas: Por que não andam

           os teus discípulos de conformidade com a tradição dos anciãos,

           mas comem com as mãos por lavar?

V.  6 - Respondeu-lhes: Bem profetizou Isaías, a respeito de vós, hipócritas,

           como está escrito:

               Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.

V.  7 -     E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.

V.  8 - Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens.

 

                       Esta é mais uma situação especial do ministério de Jesus que Marcos registra para mostrar a sua habilidade, também especial, de tratar com problemas complicados. Não é somente pelo poder e pela autoridade que ele revela nessas ocasiões, que nós reconhecemos a sua divindade. É também pela maneira impecável que ele se conduz em meio a um ambiente social e religioso minado por preconceitos e regras capazes de fazer tropeçar qualquer ser humano, por mais precavido que fosse.

Quanto às forças naturais, ele já demonstrou o poder de controlar até a gravidade, andando sobre o mar. Agora ele enfrenta uma situação crítica dos inimigos pertinazes, escribas e fariseus, que voltam a fazer oposição ao seu ministério, lançando contra seus discípulos e, evidentemente contra ele, uma acusação pública de desobediência à Tradição dos Anciãos.

 Estes seus adversários vinham criando uma série de controvérsias relacionadas com a sua conduta. Eles vinham observando as suas atitudes sistematicamente como temos visto, desde os capítulos 2 e 3 deste Evangelho.  As críticas que faziam a Jesus eram geralmente baseadas na tradição religiosa que cultivavam, a chamada “Tradição dos Anciãos”, que nada mais era do que um conjunto sem fim de preceitos religiosos, aplicados a todas as áreas da conduta humana. Os judeus acreditavam que esses preceitos foram entregues a Moisés no Monte Sinai, e que os profetas os transmitiram inalteradamente a cento e vinte homens chamados “A Grande Sinagoga” e, assim por diante, eles foram repassados a anciãos e a rabinos autorizados. Deste modo, a Tradição tinha para os judeus o mesmo valor da Lei de Moisés. Com esse conjunto de regras os escribas levantavam uma enorme barreira contra a Lei de Deus, favorecendo a inclusão de preceitos para regulamentar todos os atos humanos. Foi daí que resultou a atitude legalista do judeu para com a Lei de Deus, de modo a enfatizar a letra, e a desprezar o espírito da Lei. Nos versos 3 e 4 temos o exemplo da lavagem ritual observada segundo a Tradição, para purificação de objetos, e também a lavagem das mãos e a aspersão do corpo. É importante notar que tais práticas nada tinham a ver com medidas de higiene, mas eram meras cerimônias religiosas que, quando não praticadas, resultavam em pretenso pecado para o faltoso. Foi neste ponto que os fariseus e os escribas se apegaram para denunciar a atitude dos discípulos de Jesus, como quebra da tradição dos anciãos , por comerem sem observar o rito da lavagem das mãos.

Jesus responde a essas acusações, fazendo uma aplicação da profecia de Isaías, bem adequada às atitudes deles. Havia uma discrepância evidente entre aquilo que eles aparentavam ser e aquilo que eles realmente eram. Guardar a Tradição dos Anciãos era uma maneira aparente de servir a Deus, sem o compromisso íntimo da verdadeira adoração. Daí a razão de Jesus chamá-los hipócritas e afirmar no verso 6: “Bem profetizou Isaías, a respeito de  vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim”. Aparentemente eles honravam a Deus com suas palavras. Isto, porém, estava em total desacordo com o que se passava no coração deles. Seu comportamento era oposto às suas atitudes mentais. A reverência que demonstravam exteriormente não correspondia ao sentimento que traziam no interior. O que se passava com eles agora era semelhante ao que se passava nos dias do profeta, quando se praticavam rituais frívolos e sem significado, como se isso agradasse a Deus. Mas Jesus ainda leva a censura a um grau de maior seriedade, quando cita  outras palavras do profeta no verso 7: “Em vão me adoram, ensinando preceitos de homens”.

Ainda que houvesse sinceridade na intenção dos fariseus e dos escribas, a sua adoração e as suas observâncias não tinham nenhum significado para Deus, e a posição deles era insustentável, tendo em vista que os seus ensinos eram preceitos humanos, e por isso careciam de autoridade.

 

V.  9 - E disse-lhes ainda: Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus

           para guardardes a vossa própria tradição.

V.10 - Pois Moisés disse: Honra a teu pai e a tua mãe, e:

          Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe, seja punido de morte.

V.11 - Vós, porém, dizeis: Se um homem disser a seu pai ou a sua mãe:

           Aquilo que poderias aproveitar de mim é Corbã, isto é, oferta para o Senhor,

V.12 - então o dispensais de fazer qualquer cousa em favor de seu pai ou de sua mãe;

V.13 - invalidando a palavra de Deus pela vossa tradição que vós mesmos transmitistes;

           e fazeis muitas outras cousas semelhantes.

 

Nestes últimos versos percebemos como os escribas e os fariseus usavam recursos, por exemplo o Corbã, para introduzir preceitos da Tradição, invalidando a palavra de Deus. Assim tiravam proveito próprio, desobrigando-se de obedecer a Deus. A Lei de Moisés ordena aos filhos que honrem os pais. Isto significa que além do carinho, do respeito e da consideração que deviam ter pelos progenitores, eles deviam também cuidar dos pais, tanto na velhice, como em casos de necessidade, oferecendo-lhes todos os recursos que fossem necessários, inclusive ajuda financeira. Mas através de uma inversão de valores introduzida pela Tradição dos Anciãos era possível fazer uma oferta ao Templo, correspondente ao valor ou parte do valor que devia ser dado aos pais, e assim ficar desobrigados da atenção ou da assistência a que eles faziam jus. Este era um tipo de ofertas chamadas “Corbã”, muito comuns no primeiro século, e o seu valor financeiro era irrisório. Com isto a palavra de Deus era invalidada, isto é, não estava sendo aplicada na vida do povo.

Preceitos do tipo Corbã levam o homem a estabelecer uma barreira religiosa contra a responsabilidade moral e contra os princípios divinos de amor e de misericórdia. Então Jesus denunciou o procedimento dos fariseus e dos escribas, dizendo que eles estavam longe da verdadeira adoração devida a Deus, porque se utilizavam das tradições humanas para fugir das verdadeiras obrigações.

 

V. 14 - Convocando ele de novo a multidão, disse-lhes: Ouvi-me todos e entendei.

V. 15 - Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar;

            mas, o que sai do homem é o que o contamina.

V. 16 - [Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça.]

V. 17 - Quando entrou em casa, deixando a multidão,

            os seus discípulos o interrogaram acerca da parábola.

V. 18 - Então lhes disse: Assim vós também  não entendeis? Não compreendeis

            que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar,

V. 19 - porque não lhe entra no coração, mas no ventre, e sai para lugar escuso?

           E assim considerou ele puros todos os alimentos

V. 20 -E dizia: O que sai do homem, isso é o que o contamina.

V. 21 -Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem

           os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios,

V. 22 -a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a blasfêmia, a soberba, a loucura:

V. 23 -Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem.

 

Depois de falar aos escribas e aos fariseus, Jesus dirigiu palavras à multidão e, em casa, aos discípulos em particular. Ainda que aqueles seus adversários tivessem silenciado quando Jesus denunciou a hipocrisia religiosa deles, uma questão ficou pendente e precisava ser esclarecida. É que, se o ritual da purificação ordenada pela Tradição realmente fosse válido, então os discípulos de Jesus estavam condenados, porque comeram sem lavar as mãos. Para desfazer a dúvida da multidão presente ele convocou todo o povo para ouvir e entender o que ele ia dizer, e por meio de uma parábola atacou em cheio estes  princípios da Tradição dos Anciãos. Foi quando ele disse: “Nada há fora do homem que, entrando nele o possa contaminar; mas, o que sai do homem, é o que o contamina”. Esta afirmação de Jesus é frontalmente contrária aos ensinos dos rabinos e anciãos. Eles sustentavam que toda contaminação provinha de uma fonte exterior chamada “mãe da contaminação”. E, saindo daí, entrava no homem e o tornava impuro. Jesus ensina que a verdade não é esta. Não é pelo que entra no organismo que alguém se torna impuro ou condenado. Mas o homem se condena por aquilo que sai de dentro dele. Em outras palavras, a fonte de condenação está no seu interior. É o coração.

Há uma grande diferença entre o modo de pensar dos fariseus e o de Jesus. Para eles, deixar de cumprir a cerimônia de lavar as mãos antes de comer era pecado. Para Jesus, o motivo de condenação está em pecados tais como os que estão exemplificados na lista dos versos 22 e 23.

Quando mais tarde, em casa, os discípulos interrogaram o Mestre a respeito destes ensinos em forma de parábola, ele lhos esclareceu. Nesta sua atitude devemos reconhecer a necessidade dos guias das igrejas esclarecerem os ensinos bíblicos aos seus membros, especialmente quando forem interrogados por eles. Pois a leitura das Sagradas Letras incentiva os discípulos a procurarem o significado das palavras, das doutrinas, dos símbolos e dos fatos históricos contidos na narrativa. A busca de tal compreensão é uma atitude de nobreza de espírito, como afirma Atos 17:1, e também um esforço que tem por recompensa a edificação espiritual através da revelação do mistério do reino de Deus.

Continuando a explicação da parábola aos discípulos, Jesus afirma que o que entra pela boca não pode contaminar o homem, porque não atinge o coração. Entenda-se que o coração é uma figura do homem interior, onde está o seu espírito no controle das suas atitudes. É, pois, perfeitamente compreensível que, se alguém ingerir qualquer impureza juntamente com o alimento por não ter lavado as mãos, não terá o coração    contaminado. O que se come vai para o ventre, onde é digerido, depois é lançado fora e não produz contaminação espiritual. Aqui Marcos aproveita a oportunidade para ensinar que, com estas palavras, Jesus eliminou a distinção que se fazia de alimentos considerados cerimonialmente puros e impuros entre os judeus.

Convém esclarecer alguns conceitos que Jesus emite nos versos 21 e 22, que constituem práticas condenáveis:

Maus desígnios - Maus propósitos ou projetos, provenientes de pensamentos perversos.

Prostituição - Vício sexual pertencente a uma categoria que abrange muitos outros vícios tais como relação sexual ilícita, imoralidade, impureza, impudicícia, incontinência sexual e outros que tais.

Furtos - Roubos de pequena monta, praticados por ladrões comuns, não perigosos.

Homicídios - Pecados de tirar a vida de seres humanos. Caim foi homicida.

Adultérios - Referem-se à infidelidade conjugal.

Avareza - Pecada da idolatria dos bens materiais: Apego ao dinheiro e a outros bens.

O avarento deposita a confiança nas cousas que possui, deixando de confiar em Deus.

Dolo - Atitude daquele que age com segunda intenção, que tem procedimento enganoso, que age traiçoeiramente.

Lascívia - Pecado de indisciplina tal, que o indivíduo não reconhece mais restrições. Entregando-se desenfreadamente às suas paixões, perde o senso moral da vergonha e não se incomoda mais com o que significa para os outros o seu comportamento. A lascívia é um dos estados mais deploráveis do comportamento humano. Ela está sempre associada a algum outro tipo de pecado, reforçando-o. Associada à avareza, leva à cobiça irrefreável de alcançar riqueza a qualquer custo e por qualquer meio como mentiras, trapaças, subornos, homicídios e até guerras. Associada ao sexo produz aberrações assumidas francamente pelo indivíduo que se torna ávido por práticas sexuais.

Inveja - Literalmente traduzido, significa “olho mau”. É o pecado do indivíduo que não pode ver o bem, o progresso, a felicidade do próximo, com alegria. Antes, alegra-se em ver o seu mal.

Blasfêmia - É o pecado de proferir palavras ofensivas contra Deus. Mas pode referir-se também a insultos contra pessoas através de calúnias ou de termos impróprios.

Soberba - Atitude do indivíduo que se sente superior aos outros e por isso os despreza. Pode ser também um sentimento de oposição a Deus. Tiago 4:6 afirma: “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes”.

Loucura - Aqui não se refere à doença mental, mas ao fato de agir insensatamente, sem ponderar os fatos, ou sem refletir.  

Jesus revela nestes ensinos que é assustador o que existe no coração do homem. Bem disse o profeta: “Enganoso é o coração, mais do que todas as cousas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá? Eu, o Senhor, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos; e isto para dar a cada um segundo o seu proceder, segundo o fruto das suas ações” (Jeremias 17:9-10).

Aquele que pratica atos como estes a que Jesus se refere nestes ensinos é homem que não tem condições de aproximar-se de Deus para servi-lo, isto é, para adorá-lo. Se alguém deseja reverter a situação deve atender à palavra de Deus que diz: “Chegai-vos a Deus e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração” (Tiago 4:8).

Enfim, só Jesus pode realizar a obra de purificação do coração dos homens para apresentá-los a Deus. Como Autor da salvação ele diz ao Pai: “A meus irmãos declarei o teu nome,...Eis aqui estou eu, e os filhos que Deus me deu” (Hebreus 2:12-13).

Para permitir a obra de Jesus no coração humano é necessário deixar toda sorte de religiosidade, formalismo e tradições humanas e apegar-se firmemente aos seus ensinos, como fizeram seus verdadeiros discípulos, em contraste com os escribas e os fariseus

 

V. 24 - Levantando-se, partiu dali para as terras de Tiro [e Sidom].

            Tendo entrado numa casa, queria que ninguém o soubesse,

            no entanto não pode ocultar-se,

V. 25 - porque uma mulher cuja filhinha estava possessa de espírito imundo,

            tendo ouvido a respeito dele, veio e prostrou-se lhe aos pés.

V. 26 - Esta mulher era grega, de origem sírio-fenícia,

            e rogava-lhe que expelisse de sua filha o demônio.

V. 27 - Mas Jesus lhe disse: Deixa primeiro que se fartem os filhos, porque

            não é bom tomar o pão dos filhos e lança-lo aos cachorrinhos.

V. 28 - Ela, porém, lhe respondeu: Sim, Senhor, mas os cachorrinhos,

            debaixo da mesa, comem das migalhas das crianças.

V. 29 - Então lhe disse: Por causa desta palavra, podes ir;

            o demônio já saiu de tua filha.

V. 30 - Voltando ela para casa, achou a menina deitada sobre a cama,

            pois o demônio a deixara.

 

Depois das exaustivas e agitadas atividades de Jesus que vimos nos capítulos 6 e 7, ele resolve ir para um território estrangeiro. Quem sabe se lá encontraria um pouco de descanso, longe das grandes multidões, livre  da perseguição sem trégua dos fariseus, e até daqueles rumores populares atribuídos a Herodes que diziam ser ele alguém que  se levantou para tomar vingança por causa da morte de João Batista.

Então, levantou-se e partiu dali. Mas ele não conseguia andar às escondidas. E por isso não podia descansar. Mesmo não querendo que soubessem onde ele estava, sempre havia um que aparecia para quebrar o sigilo. Desta vez foi uma mulher. E que mulher! Grega, de origem sírio-fenícia. Isto significa que ela era uma autêntica gentia. E para agravar a situação, Mateus ainda acrescenta que se tratava de uma cananéia, e que os próprios discípulos pediram que Jesus a mandasse embora (Mateus 15:22-23). Para os fariseus, mais do que desprezível, ela era um verdadeiro lixo. Se algum deles passasse pela sua sombra, teria que tomar um caprichoso banho de lavagem de purificação, caso contrário iria juntamente com ela para o inferno. E agora esta mulher prostra-se aos pés de Jesus, rogando-lhe que expulsasse o demônio de sua filhinha. Convinha atendê-la? Jesus cria propositadamente um clima de suspense, antes de dar resposta ao seu pedido. Ele afirma  que veio primeiramente para atender às ovelhas perdidas da casa de Israel  (Mateus 15:24). Por isso disse: “Deixa primeiro que se fartem os filhos, porque não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos”. Isto ele disse porque viu a fé daquela mulher e queria retirar um testemunho do seu coração que confirmasse as palavras da sua boca, pois Mateus informa que ela vinha atrás dele pelo caminho, clamando: “Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim”. É certo que ela não o conhecia,  mas ouvira falar dele, e daí nasceu a sua fé. Convém observar que a expressão “cachorrinhos” usada por Jesus não é ofensiva e sim afetiva, lembrando mais ou menos o que sentem as crianças por esses animaizinhos.

Agora, ligando os fatos: Aqueles fariseus que discutiam com Jesus há poucos dias, afirmavam que para aproximar-se de Deus era necessário seguir os rituais de purificação, a fim de eliminar qualquer possibilidade de entrar no homem a contaminação. Para aquela mulher isto era uma cousa impossível porque, como gentia, ela não tinha o direito de praticar aqueles rituais. Portanto, para os fariseus, ela estava condenada sem apelação. Jesus, porém, mostrou anteriormente que o que contamina o homem é toda aquela série de cousas más que saem do coração. E o que foi que saiu do coração daquela mulher? A fé! Para Jesus, é isto que aproxima o pecador de Deus. É mediante a fé que ele o salva, e pela fé ele o santifica. Aquela mulher não perdeu a oportunidade de testemunhar diante de todos os presentes a sua confiança no Senhor. Por isso respondeu: “Sim, Senhor; mas os cachorrinhos, debaixo das mesas, comem das migalhas das crianças”. Então Jesus a confortou e honrou a sua fé, concedendo a bênção que ela buscava..

Neste episódio, o Evangelho de Marcos demonstra que o amor de Jesus não se limita às fronteiras de Israel, mas estende-se a todas as nações. Também entendemos nestas figuras, que os gentios estão no propósito divino de serem alimentados com o pão do céu. Como vemos neste caso, os poderes do reino já se manifestam entre eles.

A propósito, a região de Tiro e Sidom fazia parte dos territórios que Josué devia conquistar para o reino de Israel (Josué, 13:5-6). Mas ele não a conquistou. Foi Jesus quem incorporou aquele povo ao reino de Deus agora.

 

V. 31 - De novo se retirou das terras de Tiro, e foi por Sidom

            até ao mar da Galiléia, através do território de Decápolis.

V.32 - Então lhe trouxeram um surdo e gago,

           e lhe suplicaram que impusesse a mão sobre ele.

V.33 - Jesus, tirando-o da multidão, à parte, pôs-lhe os dedos nos ouvidos,

           e lhe tocou a língua com saliva;

V.34 - depois, erguendo os olhos ao céu, suspirou e disse:

          Efatá, que quer dizer: Abre-te.

V.35 - Abriram-se-lhe os ouvidos, e logo se lhe soltou o empecilho da língua

           e falava desembaraçadamente.

V.36 - Mas lhes ordenou que a ninguém o dissessem;

           contudo, quanto mais recomendava, tanto mais o divulgavam.

V.37 - Maravilhavam-se sobremaneira, dizendo:

          Tudo ele tem feito esplendidamente bem:

          não somente faz ouvir os surdos, como falar os mudos.

 

Esta próxima etapa do ministério de Jesus acontece no território de Decápolis, aquela região do outro lado do mar da Galiléia, onde vivia o endemoninhado geraseno que foi liberto da legião de demônios.

Saindo das terras de Tiro, Jesus foi mais adiante, por Sidom, e depois voltou em direção a Decápolis. Estando lá, trouxeram-lhe um surdo e gago para ser curado, e uma multidão estava reunida à sua volta. Ele já era conhecido de muitos dali, porque antes iam à Galiléia à sua procura. Mas também o geraseno que fora liberto da legião de demônios foi por todo o território de Decápolis, proclamando o que Jesus fez por ele. Tudo isso incentivava as multidões.

O surdo e gago que lhe trouxeram é também descrito como mudo. Isto significa que ele não aprendeu a falar porque não podia ouvir, mas podia emitir sons com a boca, como se fosse gago. É de se notar a fé daqueles que o trouxeram, como no caso do paralítico que foi curado em Cafarnaum. Jesus, entretanto, tratou-o de modo que ele mesmo entendesse que ia ser curado e, assim, alcançasse fé para ser salvo. Por isso ele pôs os dedos nos seus ouvidos, o lugar onde estava localizada a deficiência, e tocou-lhe a língua com saliva, porque estava desativada. E, para que ele soubesse que Jesus opera com o poder de Deus, ergueu os olhos ao céu, mostrou o mover do Espírito dentro dele através do suspiro, e então ordenou a cura. A ordem foi para o ouvido, dizendo: Abre-te. Com a abertura dos ouvidos, a língua ficou desimpedida sem nenhuma ordem específica, visto que o problema estava nos ouvidos. Bastou o toque da saliva do Mestre para ela ser ativada. Então o homem que era surdo e não sabia falar, passou a ouvir e a falar livremente.

Aqui notamos mais uma vez o insistente pedido de Jesus para que não divulgassem os milagres e as curas que ele fazia. Por um lado entendemos que era uma medida de prudência, para evitar aglomerações e tumultos, o que dificultava o seu trabalho. Mas por outro lado, também, ele não desejava ser conhecido como um simples operador de milagres, uma vez que o seu ministério tinha como objetivo a salvação de almas, e isto é mais importante. Eis aqui um alerta para que as igrejas não se promovam diante do mundo como uma espécie de pronto socorro de curas, mas que se façam conhecer antes de tudo, como agências de salvação.

A obra de Jesus, pela sua perfeição, é comparável à obra da criação: “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom” (Gênesis 1:31). Agora Jesus, pelo poder de Deus, faz tantas cousas diante dos homens, e eles dizem: “Tudo ele tem feito esplendidamente bem: não somente faz ouvir os surdos, como falar os mudos”.