sábado, 13 de abril de 2013

CAPÍTULO 10


CAPÍTULO  10

 

V. 1 -  Levantando-se Jesus, foi dali para o território da Judéia,

           além do Jordão. E outra vez as multidões se reuniram junto a ele

           e de novo ele as ensinava, segundo o seu costume.

V. 2 -  E, aproximando-se alguns fariseus o experimentaram, perguntando-lhe:

           É lícito ao marido repudiar sua mulher?

V. 3 -  Ele lhes respondeu: Que vos ordenou Moisés?

V. 4 -  Tornaram eles: Moisés permitiu lavrar carta de divórcio e repudiar.

V. 5 -  Mas Jesus lhes disse: Por causa da dureza do vosso coração

           ele vos deixou escrito esse mandamento;

V. 6 -  porém, desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher.

V. 7 -  Por isso deixará o homem a seu pai e mãe [e unir-se-á a sua mulher],

V. 8 -  e, com sua mulher, serão os dois uma só carne.

          De modo que já não são dois, mas uma só carne.

V. 9 - Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.

V.10 -Em casa, voltaram os discípulos a interrogá-lo sobre este assunto.

V.11 -E ele lhes disse: Quem repudiar sua mulher e casar com outra,

          comete adultério  contra aquela.

V.12 -E se ela repudiar seu marido e casar com outro, comete adultério.

 

Jesus havia encerrado as suas atividades na Galiléia e agora segue em direção ao sul, para o território da Judéia, do outro lado do Jordão, a chamada Peréia. Com isto ele dá início a uma nova etapa do seu trabalho, também conhecido como “Ministério da Peréia”. No relato de Marcos não há nenhuma referência a outra visita de Jesus à Galiléia. O que se observa é que ele marcha rapidamente em direção a Jerusalém. Com isto o escritor pretende atingir logo o clímax da crucificação, pois este era o supremo alvo de Jesus durante todo o seu ministério terrestre.

Era inevitável que se reunissem multidões em torno de Jesus. E, como de costume, ele as ensinava. Os fariseus estavam presentes também ali, explorando a situação e fazendo pressão contra o Mestre. Agora, com esta pergunta concernente ao divórcio, eles tentavam encontrar na sua resposta alguma contradição  ou alguma afirmação contrária à Lei de Moisés. O que eles sempre pretendiam era um motivo para acusar Jesus diante do tribunal.

Naqueles dias o divórcio era um assunto muito discutido, devido ao exagero a que chegou a situação, em virtude da permissão concedida pela Lei de Moisés. O texto da Lei em Deuteronômio 24:1 dava ao homem direito de divórcio, se ele não achasse a esposa “agradável aos seus olhos por ter achado cousa indecente nela”. Embora para alguns esta “cousa indecente” fosse exclusivamente a infidelidade conjugal, para outros podia ser um defeito físico, como também o fato dela ter voz estridente ou até mesmo de ter estragado uma fornada de pão. É isto que causava tanto exagero e tanta discussão em torno do divórcio. Por isso as mulheres sofriam muito nas mãos de maridos maus. Jesus esclarece que foi devido à dureza do coração do povo que Moisés deixou escrito aquele mandamento, mas o que Deus estabeleceu desde o princípio foi uma união indissolúvel. O consentimento da Lei foi apenas para uma condição transitória, enquanto aqueles corações endurecidos não pudessem suportar o ideal do propósito divino.

O grande ensino que encontramos aqui no Evangelho de Marcos, que mais tarde deveria ser divulgado quando o evangelho fosse pregado a toda criatura, é o que Jesus falou em particular aos discípulos: “Quem repudiar sua mulher e casar com outra, comete adultério contra aquela. E se ela repudiar seu marido e casar com outro, comete adultério”. A conclusão imperativa deste assunto dada por Jesus em forma de mandamento é esta: “Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem”.

 

V.13 - Então lhe trouxeram algumas crianças para que as tocasse,

           mas os discípulos os repreendiam.

V.14 - Jesus, porém, vendo isto, indignou-se e disse-lhes:

           Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis,

           porque dos tais é o reino de Deus.

V.15 - Em verdade vos digo: quem não receber o reino de Deus

           como uma criança, de maneira nenhuma entrará nele.

V.16 - Então, tomando-as nos braços e impondo-lhes as mãos, as abençoava.

 

Era costume naquela época os pais levarem as crianças para serem tocadas pelos mestres, rabinos e autoridades religiosas. Por isso elas estavam sendo conduzidas a Jesus. Mas os discípulos estavam tentando impedi-las de se aproximarem dele. Talvez achassem que elas o perturbassem ou que a sua atenção fosse desviada dos adultos. Mas desta vez Jesus indignou-se de modo fora do comum, repreendendo severamente os discípulos por essa atitude incompatível com o reino de Deus. O seu ministério era orientado no sentido de estabelecer aproximação verdadeira, desinteressada e sem orgulho do homem com Deus. Agora, as crianças que se aproximavam exatamente desta maneira estavam sendo impedidas, quando delas é o reino de Deus.

Realmente os discípulos não estavam entendendo o propósito básico do reino. Quando disse: “Deixai vir a min os pequeninos...”, Jesus está afirmando que ele é o ponto central do reino, ao qual as pessoas devem ser conduzidas sem embaraço. Ninguém as deve impedir. A atitude dos discípulos precisava ser mudada. Por isso eles foram repreendidos, enquanto Jesus tomava nos braços as crianças e as abençoava, mostrando que ele recebe no reino a todos os que recebem o reino como crianças.

 

V.17 - E, pondo-se Jesus a caminho, correu um homem ao seu encontro e, ajoelhando-se,

           perguntou-lhe: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?

V.18 - Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom?

           Ninguém é bom senão um só, que é Deus.

V.19 - Sabes os mandamentos: Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás

           falso testemunho, não defraudarás ninguém, honra a teu pai e a tua mãe.

V.20 - Então ele respondeu: Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude.

V.21 - Mas Jesus , fitando-o , o amou e disse: Só uma cousa te falta:Vai,

           vende tudo o que tens, dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu;

           então vem, e segue-me.

V.22 - Ele, porém, contrariado com esta palavra, retirou-se triste,

           porque era dono de muitas propriedades.

 

Este é um dos quadros mais vívidos apresentados em todos os Evangelhos. Para isto concorre não somente a cena movimentada devida à atitude impetuosa do homem que se aproximou de Jesus, mas também o diálogo imediato que se estabeleceu entre eles, a sensibilidade demonstrada pelo Mestre e o final triste da história. Certamente isto impressionou tanto os discípulos, que as três narrativas deixadas nos Evangelhos sobre este incidente mostram detalhes diferentes que marcaram a lembrança daqueles que presenciaram os fatos e mais tarde os transmitiram. Comparando os relatos que Mateus, Marcos e Lucas fazem deste caso, ficamos sabendo que se tratava de um jovem de posição, isto é, de um jovem importante. Apesar de que, nesta fase do seu ministério, Jesus já estava sendo rejeitado; continuava pressionado cada vez mais pelos religiosos; e contava com a antipatia e a ameaça de Herodes, aquele moço devia ter uma grande admiração por ele. Caso contrário ele não teria vindo correndo pela estrada para encontrar-se com o Mestre e ajoelhar-se diante dele. O gesto dramático com que chegou e se ajoelhou pronunciando palavras de elogio, mostra o seu estado emocional. Mas o ardente desejo que o levou àquele encontro fica evidente nesta pergunta: “Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” Ele anelava por um bem eterno que não sabia como conseguir, e na oportunidade daquele contacto achava que receberia o esquema das operações que o Bom Mestre lhe indicaria para fazer.

Jesus refreou os ânimos daquele jovem, mostrando um caminho que não segue nem a emoção, nem obras que se possam fazer para chegar lá. Este caminho consiste em fazer a vontade daquele que é Bom, isto é, Deus. Por isso Jesus lhe perguntou: “sabes os mandamentos?” e enumerou-os. A sua resposta pronta e decisiva, afirmando ter observado tudo desde a mocidade, mostra o esforço que ele fazia, tentando adquirir a vida eterna. Ainda que a sua resposta fosse ingênua e ele não tivesse nenhum peso na consciência de negligenciar os mandamentos de Deus, havia algo desconhecido dentro dele  que o preocupava e que Jesus queria pôr para fora e esclarecer. Era um vazio que não foi preenchido com todo o seu cuidado de observar a Lei. Paulo faz um balanço da sua própria situação, antes de conhecer a Cristo, e depois de conhecê-lo. Este balanço está registrado em Filipenses 3:7-11, onde lemos:

“Mas o que para mim era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo.

Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do

conhecimento de Cristo Jesus meu Senhor: por amor do qual perdi todas as

cousas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo, e ser achado

                        nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante

                        a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé; para o

                        conhecer e o poder da sua ressurreição e a comunhão dos seus sofrimentos,

                        conformando-me com ele na sua morte; para de algum modo alcançar a

                        ressurreição dentre os mortos”.

Este moço precisava de uma experiência profunda como esta, para provar os valores eternos. A sua deficiência consistia em viver uma vida de aparência exterior, sem considerar a necessidade de uma coerência interior que conduz à vida positiva de obediência por fé em Deus e não, por fé nas obras. Ele veio a Jesus identificando-o com Deus, chamando-lhe “Bom”. E Jesus quis dar-lhe a compreensão das cousas espirituais relacionadas com a vida eterna, compreensão esta que vem do Pai, conforme veio a Pedro e o levou a confessar que Jesus é o Messias. Ao interrogá-lo sobre os mandamentos, o Mestre intercala um outro, sobre defraudar o próximo. Juntamente com o mandamento de não furtar, este toca diretamente os meios ilícitos usados por muitos ricos para conseguir a prosperidade financeira. Ainda que aquele moço pudesse dizer: isto não fiz, Jesus quer conscientizá-lo da sua grande frustração, levando-o a perguntar a si mesmo e a responder por si só: o que eu fiz? A enorme riqueza ortodoxa que fazia dele uma pessoa importante e respeitável era o laço que o prendia fora do reino de Deus. Ao seu lado estava a pobreza pela qual ele nada tinha feito, porque amava a riqueza.

Mateus 19:16 informa que ele perguntou a Jesus: “Mestre, que farei eu de bom para alcançar a vida eterna”? Tudo o que ele fizesse não teria nenhum valor,  se ele não tivesse a fé que atua pelo amor. Mas para chegar a este ponto ele precisava unir-se a Cristo e deixar de lado toda a importância e a respeitabilidade que a riqueza e a aparência religiosa lhe conferiam, porque “...em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor” (Gálatas 5:6). Talvez ele estivesse mesmo disposto a fazer algo de bom, mas só até ao ponto que não pusesse em risco a sua fortuna. Ainda assim Jesus amou aquele moço, porque no seu procedimento há virtudes louváveis que o Mestre não deixa de reconhecer. Ele olhou para o jovem cheio de consideração devido à espontaneidade e à sinceridade com que ele veio correndo para saber da vida eterna. Ele não veio tentá-lo com perguntas, como faziam os escribas e fariseus, mas buscava a resposta para o problema que o preocupava. A sua necessidade interior era grande: tratava-se de algo que ele mesmo não conseguia ver. Mas Jesus, fitando-o, amou-o e quis tirá-lo daquela vida cômoda, humanamente respeitável e segura, para fazer dele um discípulo seu. Ele precisava segui-lo em todas as circunstâncias que implicam no discipulado, sem baixar o nível das exigências desta empreitada.

O jovem pensava: “Estou rico e abastado, e não preciso de cousa alguma...”, mas Jesus diz: “...nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu” (Apocalipse 3:17).

Oferecendo-se para dar-lhe tudo o que é necessário para herdar a vida eterna, Jesus começou por ordenar-lhe que se desfizesse daquilo que o impedia de recebê-la. Era a riqueza! Ele foi colocado diante de uma decisão difícil e naquele dia foi pesado na balança, ma foi achado em falta. Saiu triste e constrangido porque era riquíssimo, dono de muitas propriedades. Em todo o ministério de Jesus, este foi o único personagem que saiu triste da presença do Senhor.

 

V.23 - Então Jesus, olhando ao redor, disse aos seus discípulos:

           Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!

V.24 - Os discípulos estranharam estas palavras; mas Jesus insistiu em dizer-lhes:

           Filhos, quão difícil é [para os que confiam nas riquezas] entrar no reino de Deus.

V.25 - É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha,

           do que entrar um rico no reino de Deus.

V.26 - Eles ficaram sobremodo maravilhados, dizendo entre si:

           Então, quem pode ser salvo?

V.27 - Jesus, porém, fitando neles o olhar, disse: Para os homens é impossível;

           contudo, não para Deus, porque para Deus tudo é possível.

V.28 - Então Pedro começou a dizer-lhe: Eis que nós tudo deixamos e te seguimos.

V.29 - Tornou Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado

           casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos,

           por amor de mim ou por amor do evangelho,

V.30 - que não receba, já no presente, o cêntuplo de casas, irmãos , irmãs, mães, 

           filhos e campos, com perseguições; e no mundo porvir a vida eterna.

V.31- Porém, muitos primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros.

 

É incomparável a sabedoria demonstrada por Jesus na maneira de ensinar. Com razão ele é chamado “O Mestre dos Mestres”. Algumas vezes ensinando por parábolas pronunciadas, outras vezes por parábolas encenadas, outras, ainda, usando acontecimentos da vida diária ou da natureza para esclarecer as verdades. No caso do jovem rico ele deu um ensino ao vivo, surpreendendo qualquer expectativa. Em seguida ele dá aos discípulos também agora uma lição in loco, como não tinha acontecido antes.

Quando o jovem rico saiu triste e contrariado, depois daquela cena comovente, Jesus olhou ao redor e comentou com os discípulos da dificuldade de entrarem no reino de Deus aqueles que têm riquezas. A palavra “riqueza” usada aqui pelo Mestre, não significa apenas dinheiro ou propriedades, mas bens de toda espécie, negócios ou cousas que se obtêm ou se custeiam através do dinheiro. Estas palavras surpreenderam aqueles discípulos porque, seguindo a mentalidade dos judeus, eles acreditavam que a prosperidade financeira é sinal de que Deus está apoiando o homem próspero, como que atestando que ele é um homem bom e abençoado e, portanto, honrado por Deus. Este ensino de Jesus era uma revolução dentro do pensamento judaico. Por isso os discípulos estranharam estas palavras, pois além de pensar de maneira comum, eles nunca tinham recebido instruções sobre o perigo das riquezas para a vida espiritual. Por esta razão, Jesus reforçou o ensino, dizendo: “...Filhos, quão difícil é [...] entrar no reino de Deus”. Antes ele  havia ensinado também que era necessário receber o reino de Deus como uma criança , par poder entrar nele. Agora, com a questão das riquezas ele encerra este assunto.

As  riquezas estão colocadas aqui como um concorrente de Deus, porque se tornam o objeto em que o homem deposita a sua confiança. Provavelmente é esta a razão de Jesus falar tanto deste assunto e também a razão deste ensino estar tão distribuído no Novo Testamento. Mas é necessário ser criterioso para compreender que as riquezas ou os bens materiais  em si não são maus. O mal está no uso errado que se faz deles, ou na maneira indevida de possuí-los. E isto depende de quem os possui. Portanto, o problema está no homem. É precisamente este quem Jesus visa quando dá ensinos relativos à riqueza. Ele quer resguardá-lo dos perigos em que ele incorre na busca dos bens materiais, na maneira de possuí-los e na maneira de utilizá-los. Na luta pela prosperidade econômica o homem vai firmando raízes cada vez mais profundas no mundo e não vê mais a necessidade de Deus, passando a confiar nas riquezas. Bens acumulados geralmente estão expostos à deterioração, ao uso egoísta ou ao uso incorreto. Mas Deus está atento a tudo o que acontece. Eis a exortação da sua Palavra:

“Atendei agora, ricos, chorai lamentando, por causa das vossas

 desventuras, que vos sobrevirão. As vossas riquezas estão corruptas

                        e as vossas roupagens comidas de traça, o vosso ouro e a vossa

                        prata foram gastos de ferrugens e a sua ferrugem há de ser por

                        testemunho contra vós mesmos, e há de devorar, como fogo,

                        as vossas carnes. Tesouros acumulastes nos últimos dias” (Tiago 5:1-3).

Jesus tem cuidado do homem rico porque ele sabe que os bens materiais furtam a confiança devida a Deus e que a riqueza fascina e seduz. É o próprio Satanás transformado em anjo de luz. Por isso é necessário ter a percepção espiritual de que esses bens são passageiros, perecíveis, e podem ser roubados. O Mestre aconselha que ajuntemos tesouros no céu que são espirituais, eternos, e não estão sujeitos a esses problemas. Este é o único investimento seguro que podemos fazer em questão de riqueza. Em Mateus 6:19-21 ele ensina:

“Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça

e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas

ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem

corrói, e onde ladrões não escavam nem roubam; porque onde está

o teu tesouro, aí estará também o teu coração.

Somente com olhos espirituais é possível ver estas verdades. Os espiritualmente cegos não as reconhecerão. É isto que Jesus ensina nesta parábola:

“São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons,

todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem

maus, todo o teu corpo estará em trevas” (Mateus 6:22-23a).

Quem não tem olhos espirituais para ver estas cousas acaba-se tornando escravo das riquezas, vindo a amá-las, enquanto despreza a Deus, como está escrito:

“Ninguém pode servir a dois senhores; porque, ou há de aborrecer-

se de um, e amar ao outro; ou se devotará a um e desprezará ao

outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mateus 6:24).

No salmo 73 o salmista Asafe confessa que quase se desencaminhou, porque invejava a prosperidade dos perversos. Mais tarde reconheceu que estava embrutecido, ignorante e agia como um irracional na presença de Deus. Em outras palavras, ele havia perdido a visão espiritual. Finalmente ele compreendeu que o melhor é permanecer com Deus, confiar nele e dar esse testemunho, ao invés de pender para as riquezas.

Diante de tantos perigos produzidos pelas riquezas, Paulo aconselha:

“tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os

 que querem ficar ricos caem em tentação e cilada, e em muitas

 concupiscências insensatas, as quais afogam os homens na ruína

 e perdição. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males;

 e alguns, nessa cobiça se desviaram da fé, e a si mesmos se ator-

 mentaram com muitas dores” (1Timóteo 6:8-10).

Por isso Jesus diz que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no céu. Assim, pensando em termos humanos é natural a pergunta dos discípulos: “Então, quem pode ser salvo?” A resposta de Jesus ­ implica na afirmação de que é impossível ao homem salvar-se a si mesmo, mas isto é possível para Deus que pode salvar até um rico. De fato, muitos homens ricos colocam as suas riquezas no propósito de Deus, renunciando a tudo quanto têm. A partir de então as suas vidas e seus bens passam a ser administrados segundo critérios divinos e não mais humanos.

Trinta anos depois que Jesus deu estes ensinamentos, Pedro lembra com humildade a pergunta até certo ponto ingênua dos apóstolos, que refletia a preocupação deles pelo futuro, porque deixaram na Galiléia as suas casas, famílias, barcos e redes, para seguir o Mestre. E Marcos, anotando as pregações de Pedro, registra o que Jesus respondeu: Por todos esses bens eles seriam recompensados com muita vantagem, ainda enquanto vivos. Contudo não teriam uma vida fácil, antes sofreriam perseguição por serem seus discípulos. Todavia não seria bom que eles pensassem de si mesmos mais do que convinha, porque o julgamento de Deus não é segundo as aparências, mas segundo ele vê interiormente. Por isso, “muitos primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros”.

 

V.32 - Estavam de caminho, subindo para Jerusalém,

           e Jesus ia adiante dos seus discípulos. Estes se admiravam

           e o seguiam tomados de apreensões. E Jesus, tornando a levar à parte os doze,

           passou a revelar-lhes as cousas que lhe deviam sobrevir, dizendo:

V.33 - Eis que subimos para Jerusalém e o Filho do homem será entregue

           aos principais sacerdotes e aos escribas; condená-lo-ão à morte

           e o entregarão aos gentios;

V.34 - hão de escarnecê-lo, cuspir nele, açoitá-lo e matá-lo;

           mas depois de três dias ressuscitará.

 

Depois do encontro com o moço rico seguido dos ensinamentos a respeito do perigo das riquezas, Jesus dá prosseguimento ao seu ministério, subindo decididamente para Jerusalém. E, pela terceira vez, ele faz predições detalhadas referentes aos seus sofrimentos e morte. Certamente ele repetiu estes ensinos porque os discípulos ainda tinham dificuldade de compreendê-los. Embora o registro desta passagem seja apenas um resumo, é um relato vívido e conciso, e nos faz pensar que estas são impressões gravadas por Pedro daquilo que ele presenciou, na noite em que negou três vezes a Jesus.

Foi no caminho para Jerusalém que o Mestre voltou a este assunto. Os discípulos estavam sendo preparados para enfrentar uma situação tão difícil e singular que  não eram capazes de imaginar. As palavras e as atitudes de Jesus devem ter impressionado os apóstolos de tal maneira, que eles se admiravam e o seguiam tomados de apreensão. Algo de muito diferente deve ter-se mostrado na sua fisionomia. Com relação à mudança do seu aspecto físico, Lucas comenta no seu Evangelho que “...ao se completarem os dias em que devia ele ser assunto ao céu, manifestou no semblante a intrépida resolução de ir para Jerusalém” (Lucas 9:51).

A predição que Jesus fez nesta ocasião sobre a sua paixão em Jerusalém é a mais completa de todas. É interessante notar os detalhes de cada uma delas e reuni-los todas num só bloco, para verificar como tudo se cumpriu exatamente. Os fatos que ele adiantou são os seguintes:

1- Ele seria rejeitado pelos anciãos.

2- Ele seria entregue aos principais sacerdotes e escribas.

3- Ele seria entregue aos gentios

4- Haveriam de escarnecê-lo, cuspir nele e açoitá-lo.

5- Ele seria morto.

6- Três dias depois da sua morte haveria de ressuscitar.

Quando chegarmos aos capítulos 14 e 15, veremos que não falhou nenhuma destas previsões. Tudo se cumpriu!

É importante a última predição: Depois de três dias haveria de ressuscitar.

Os poderes que se reuniam contra Jesus para lhe tirar a vida não podiam fazer nada mais que ferir o seu corpo, porque as suas forças morais e espirituais estavam sempre renovadas, e a morte não podia detê-lo. Ele marchava para a morte, mas a sua  meta final era a ressurreição.

 

V.35 - Então se aproximaram dele Tiago e João, filhos de Zebedeu dizendo-lhe:

           Mestre, queremos que nos conceda o que te vamos pedir.

V.36 - E ele lhes perguntou: Que quereis que vos faça?

V.37 - Responderam-lhe: Permite-nos que na tua glória

           nos assentemos um à tua direita e outro à tua esquerda.

V.38 - Mas Jesus lhes disse: Não sabeis o que pedis.

            Podeis vós beber o cálice que eu bebo,

            ou receber o batismo com que eu sou batizado?

V.39 - Disseram-lhe: Podemos. Tornou-lhes Jesus: Bebereis o cálice

           que eu bebo e recebereis o batismo com que eu sou batizado;

V.40 - quanto, porém, ao assentar-se à minha direita ou à minha esquerda,

           não me compete concedê- lo; porque é para aqueles a quem está preparado.

 

Muito embora não captassem o sentido das predições sobre a morte do Messias e da sua ressurreição, nem tão pouco da natureza do reino de Deus, os discípulos criam, pelas  palavras de Jesus, que o estabelecimento do reino estava próximo. E a disputa pelos postos mais elevados, conforme imaginavam, já começava. Não é possível explicar por que foram Tiago e João que reivindicaram os dois primeiros lugares. Mas que se tratava de uma questão de cobiça, está claro. Só que os outros também tinham o mesmo problema. Há alguns fatores sobre os quais se pode conjeturar: eles seguiam Jesus mais de perto e foram chamados para participar de alguns acontecimentos importantes como a ressurreição da filha de Jairo e a transfiguração. Talvez fossem levados pelo ímpeto de jovens “filhos do trovão”, como foram chamados por Jesus. Podiam ter herdado o temperamento da mãe. Mateus conta que foi ela quem intermediou este pedido Mateus (27: 55-56). O pai, Zebedeu, era um empresário no ramo da pesca, no mar da Galiléia e parece que a família era bem relacionada com o Sumo Sacerdote em Jerusalém, pois João era conhecido dele e recebeu permissão para entrar no seu pátio com Jesus, na noite do julgamento (João 18:15). João sabia até o nome de Malco, o servo do Sumo Sacerdote cuja orelha Pedro decepou com um golpe de espada, na hora em que Jesus foi preso (cf. João 18:10). Juntando tudo isto é possível explicar a autoconfiança de Tiago e de seu irmão para se aproximarem de Jesus com este pedido.

Jesus ouviu os dois liberalmente e respondeu com amabilidade: Vocês não sabem o que estão pedindo. Realmente eles não sabiam em que consistia a glória do Messias e nem quais eram as condições para alcançá-la. O Mestre vinha-se esforçando para que eles aceitassem o reino de Deus com todas as suas conseqüências. Por isso ensinava sobre a cruz que cada um tinha que levar. Queria mostrar também que o Filho do homem somente chegaria à glória através da morte. Quanto ao assentar-se à sua direita ou à sua esquerda, não dependia dele, mas de uma decisão pessoal diante do critério de ser o maior no reino de Deus. Todavia, até aquele momento nenhum dos discípulos estava preparado para aceitar a cruz com todo o seu significado. Mesmo que fosse apenas a morte, eles não iriam aceitá-la. Mas no propósito de Deus para o seu próprio Filho, não haveria coroa sem a cruz e nem glória sem a morte. E quando ele chegou ao Calvário, lá estavam dois ladrões, um à sua direita, e outro à sua esquerda. Esta é a glória de que Tiago e João, sem saber, pediam para participar.

Jesus garantiu que eles poderiam beber o cálice que ele estava bebendo e receber o batismo em que ele era batizado. O cálice era a amarga experiência de vida pela qual ele estava passando e o batismo era o sofrimento que estava reservado para ele. Não sabemos como Tiago e João entenderam aquela pergunta de Jesus para responder positivamente a ela. Mas, uma cousa sabemos: Eles foram sempre leais ao Senhor. E quando chegaram à compreensão das verdades do reino de Deus, não recusaram nem o cálice da vida de testemunho e nem o batismo do sofrimento. Tiago morreu decapitado por ordem do rei Herodes Agripa I, tornando-se o primeiro mártir dos apóstolos (Atos 12:1-2); João morreu em idade muito avançada, depois de uma longa vida de trabalho, exílio, sofrimentos e fadiga.

 

V.41 - Ouvindo isto, indignavam-se os dez contra Tiago e João.

V.42 - Mas Jesus , chamando-os para junto de si, disse-lhes:

           Sabeis que os que são considerados governadores dos povos,

           têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade.

V.43 - Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se

           grande entre vós, será  esse o que vos sirva;

V.44 - e quem quiser ser o primeiro entre vós, será servo de todos.

V.45 - Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido,

           mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.

 

Desde o final do capítulo 8 Jesus inicia uma série de censuras aos discípulos, que só terminam aqui. Convém esclarecer que não é Marcos quem inclui isto na narrativa, como uma caricatura dos doze. Antes, esta é uma visão que os próprios apóstolos tinham de si mesmos quase no final de suas carreiras, depois de terem compreendido tudo. Mas, por enquanto, eles se indignavam porque os dois queriam passar na frente dos outros. Jesus mostra-lhes então a grande diferença, em questão de serviço, entre o reino de Deus, que para nós é a igreja, e o mundo. Os governadores dominam os povos controlando as suas atividades por meio dos maiorais que designam para exercer autoridade sobre eles. Mas entre os discípulos, ninguém é indicado para ser maioral e dominar sobre os outros. Aquele que quiser ser grande deve servir, e quem quiser ser o primeiro deve trabalhar para todos. No reino de Deus isto tem que ser assim, porque o padrão foi estabelecido pelo próprio Filho do homem que não veio para ser servido mas para servir até o ponto de dar a sua vida em resgate por muitos.

Estas palavras de Jesus destroem por completo o conceito de liderança admitido em muitos grupos religiosos. Freqüentemente este conceito é extraído da Política, da Indústria ou de outras atividades seculares. Mas liderança é serviço, e o que Deus quer mesmo na igreja são servos, como o seu próprio Filho.

 

V.46 - E foram para Jericó. Quando ele saía de Jericó com os discípulos

           e numerosa multidão, Bartimeu, cego mendigo, filho de Timeu.

           estava assentado à beira do caminho.

V.47 - E, ouvindo que era Jesus, o Nazareno, pôs-se a clamar:

           Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!

V.48 - E muitos o repreendiam, para que se calasse; mas ele

           cada vez gritava mais: Filho de Davi, tem misericórdia de mim!

V.49 - Parou Jesus e disse: Chamai-o. Chamaram então o cego, dizendo-lhe:

           Tem bom ânimo; levanta, ele te chama.

V.50 - Lançando de si a capa, levantou-se de um salto, e foi ter com Jesus.

V.51 - Perguntou-lhe Jesus: Que queres que eu te faça?

           Respondeu-lhe o cego: Mestre, que eu torne a ver.

V.52 - Então Jesus lhe disse: Vai, a tua fé te salvou.

           E imediatamente tornou a ver, e seguia a Jesus estrada fora.

 

Era muito comum na antigüidade os mestres ensinarem ao ar livre ou em algum lugar onde os ouvintes se sentiam à vontade. Mesmo andando pelo caminho, enquanto conversavam com os acompanhantes, eles transmitiam os seus ensinamentos. Era comum também, em Israel, os rabinos destacados subirem a Jerusalém para as festas religiosas, acompanhados de seus discípulos e de outras pessoas interessadas em aprender aquilo que eles podiam oferecer. No calendário religioso do Velho Testamento havia três festas durante o ano, às quais todo o povo estava convocado a comparecer, porque elas faziam parte do culto a Deus. Eram a Páscoa, Pentecoste e a festa dos Tabernáculos. Nessas épocas formavam-se caravanas em todas as partes do país, que saíam em direção ao Templo de Jerusalém, o centro das comemorações religiosas. Mas, consideradas a extensão do percurso e as condições de cada um, não era todo cidadão de Israel que podia sair do seu domicílio para ir tomar parte das festividades. Os que não acompanhavam as multidões costumavam ficar à beira do caminho, nas laterais das ruas, encostados às paredes, ou assentados nos muros, dando boas vindas e desejando boa viagem aos peregrinos.

Era este o cenário que Jesus encontrou em Jericó, na sua marcha para Jerusalém, onde ia celebrar a sua última Páscoa. O que havia de diferente é que ele não era um mestre comum, como outros conhecidos em Israel. O poder que demonstrou no seu ministério e a autoridade com que ensinava deram-lhe fama excepcional. Nestas condições podemos imaginar quão grande era a multidão que concorria para ver o jovem galileu que vinha desafiando com a sua pregação e com a sua conduta corajosa todos os poderes políticos e religiosos que se reuniram para fazer frente a ele, com o intuito de derrotá-lo. Se os poderosos o temiam por causa do seu prestígio popular e da sua capacidade de arrebatar as multidões, os religiosos o odiavam, entre outras cousas, porque ele ensinava francamente que o culto praticado no Templo e a Lei de Moisés já tinham cumprido o seu papel no propósito de Deus, e estavam prestes a desaparecer.

Há ainda mais um fator digno de nota: Em Jericó habitavam inúmeros sacerdotes que prestavam serviço sagrado no Templo de Jerusalém. Mas eles permaneciam lá poucos dias por ano, devido ao grande número dos que oficiavam. Eram cerca de vinte mil, divididos em vinte e seis turnos que se revezavam. Fora do período de trabalho eles ficavam em suas casas. Isto quer dizer que quando Jesus passou naquele dia por Jericó, lá estavam muitos sacerdotes que o observavam com desdém e frieza, vendo-o como um revolucionário pronto para invadir Jerusalém com os seus discípulos e com a multidão que o acompanhava.

Ao saírem da cidade, começaram a ouvir fortes gritos de alguém que clamava: “Jesus , Filho de Davi, tem compaixão de mim”. Era o cego Bartimeu que pedia esmolas, assentado à beira do caminho. Ouvindo o tropel da multidão, quis saber o que era, e lhe disseram ser Jesus, o Nazareno, que passava. Certificado disto, não perdeu a oportunidade única na vida, de resolver o seu problema. Por isso, gritou esperançosamente e, apesar da repreensão que recebeu, não se calou, e nem perdeu o ânimo. Ele queria sair das trevas em que se encontrava e sabia que podia recorrer a Jesus. Então gritava cada vez mais alto: “Filho de Davi, tem misericórdia de mim”. Bartimeu representa o homem necessitado que busca um encontro com Jesus, usando todas as suas possibilidades. O máximo que ele podia fazer era gritar a todo pulmão. E foi isso o que ele fez. Mas além das suas limitações, ele ainda encontrou a oposição dos que estavam em volta de Jesus, mandando que ele se calasse. Não lhe queriam dar a oportunidade de um encontro com o Mestre. Os discípulos já haviam repreendido aqueles que traziam suas crianças para que Jesus as abençoasse; haviam repreendido o homem que expulsava demônios em nome de Jesus; e agora, ouvindo o cego pedir misericórdia, consentiam com aqueles que o repreendiam. Os que acompanhavam Jesus certamente pensavam que não convinha ele deter a sua marcha para Jerusalém e nem interromper os ensinos que estava dando. Para eles, um simples cego não era tão importante quanto o propósito que, segundo eles imaginavam, o Messias tinha pela frente. Nestas condições, não convinha atendê-lo. Mas Jesus não compartilha desses pensamentos. Recentemente ele havia dito que “o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”. Deixar de atender ao cego seria negar esses ensinos e negar a própria cruz  na qual ele levou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores. Então Jesus parou. A multidão queria prosseguir na sua indiferença e, sem nenhuma visão, pretendia ditar o rumo dos acontecimentos. E Jesus disse: “Chamai-o”. E os mesmos que o desencorajavam, agora dizem: “Tem bom ânimo”.      

Diante de tanta incoerência no comportamento dos discípulos, somos levados a perguntar: Será que eles estavam salvos ou, poderiam finalmente ser salvos? Há duas verdades consoladoras neste contexto. A primeira é a afirmação de Jesus, que ele veio para dar a sua vida em resgate por muitos. Se a salvação é um resgate, então é uma operação efetuada por ele, e não pelos que vão ser salvos. Em segundo lugar, o cego de Jericó é exemplo do homem que, não podendo ver a Jesus, mas tendo informação, embora imprecisa, a seu respeito, tem disposição de aproximar-se dele com fé, para ser salvo. Isto aconteceu com aqueles discípulos e acontece com outros ainda hoje. Bartimeu ouvindo que Jesus mandou chamá-lo, não perdeu a oportunidade: Largou a capa, deu um pulo e foi ter com ele. A sua ação foi rápida e decisiva. Não foi uma simples curiosidade de conhecer Jesus que o motivou e nem o desejo de sentir a emoção por satisfazer algum desejo incerto. Antes, ele era consciente da sua necessidade e de que Jesus podia preenchê-la. A vontade determinada de receber a cura fez com que ele se colocasse na presença do Mestre, abandonando o lugar de pedinte à beira do caminho, onde muitos permanecem conformados.

No fundo deste quadro parece ouvirmos uma voz vitoriosa dizendo: “Todo  aquele que o Pai me dá, esse virá a mim...” (João 6:37). E diante de Jesus vemos um homem que sabe o que quer. Ao ser interrogado: “Que queres que eu te faça?” ele respondeu com segurança: “Mestre, que eu torne a ver”. E Jesus lhe concedeu a bênção não somente da visão, mas também da salvação. Bartimeu teve por Jesus a consideração que devia: Reconheceu-o como o Messias, chamando-lhe Filho de Davi; dirigiu-se a ele com respeito, tratando-o por “Mestre” e chegou-se a ele sem duvidar, isto é, com fé. É certo que, como nós mesmos, Bartimeu não tinha uma compreensão perfeita de Jesus como Mestre ou como Messias. Mesmo depois de sabermos tudo o que ele fez para a nossa redenção, esta compreensão deve desenvolver-se progressivamente, segundo a revelação que vamos recebendo ao longo do nosso crescimento espiritual na vida cristã. O importante é chegar confiante diante do Mestre, como fez Bartimeu que foi curado e salvo, e depois segui-lo estrada fora, até chegar à Jerusalém celestial!