O FERMENTO DOS FARISEUS E ALGUMAS ADMOESTAÇÕES
LUCAS 12:1-12
V.1 - Posto que miríades de pessoas se aglomeraram, a ponto de uns aos outros
se atropelarem, passou Jesus a dizer, antes de tudo, aos seus discípulos:
Acautelai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia.
V.2 - Nada há encoberto que não venha a ser revelado; e oculto que não venha a
ser conhecido.
V.3 - Porque tudo o que dissestes às escuras será ouvido em plena luz; e o que
dissestes aos ouvidos no interior da casa será proclamado dos eirados.
No primeiro verso deste parágrafo, Lucas preocupa-se em mostrar a popularidade de Jesus, falando da multidão de miríades, isto é, muitas vezes dez mil pessoas, que se aglomeravam em volta d’Ele, a ponto de se atropelarem. Evidentemente esta era uma oportunidade difícil para fazer uma pregação, como foi no Sermão da Montanha, mas, semelhantemente, Ele falou aos discípulos, dando algumas exortações que, sem dúvida, passaram também para o público.
Outra duas passagens em que Jesus se refere ao fermento, no sentido de hipocrisia, estão em Mateus 16:5 e Marcos 8:15, em que Ele cita os fariseus, os saduceus e Herodes, como fontes desta malícia.
Aqui, a primeira exortação foi, exatamente, quanto ao fermento dos fariseus, isto é, a influência maligna que eles exerciam sobre o povo, com falsas doutrinas de interpretação da Lei, e com práticas criadas pela Tradição dos Anciãos, que podiam contaminar a mente dos discípulos. Toda essa falsidade dos fariseus traduz-se pela hipocrisia de quererem mostrar-se perfeitos, quando na realidade eles eram como pratos e copos limpos por fora mas, no interior, eram cheios de rapina e perversidade (11:39). Mas um dia, no juízo final, tudo será posto às claras. Por isso os discípulos não devem ser assim como eles.
Em seguida, nos Vs.2 e 3, Jesus estimula os discípulos a proclamarem com intrepidez, tudo o que d’Ele tinham visto e ouvido (cf 8:17; Marcos 4:22; Atos 4:18-20).
V.4 - Digo-vos, pois, amigos meus: não temais os que matam o corpo e, depois
disso, nada mais podem fazer.
V.5 - Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: temei aquele que, depois
de matar, tem poder para lançar no inferno. Sim, digo-vos, a esse deveis
temer.
V.6 - Não se vendem cinco pardais por dois asses? Entretanto, nenhum deles está
em esquecimento diante de Deus.
V.7 - Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais! Bem
mais valeis do que muitos pardais.
Para exercer o Seu ministério do modo mais eficaz possível, os discípulos deviam deixar de lado o temor dos homens e das circunstancias, porque o máximo que eles poderiam fazer-lhes é matar o corpo. Quem deve ser temido é o Senhor Deus que, além de matar, tem poder para lançar no geena, palavra de origem hebraica, “gê-hinnom”, que significa “vale do Hinnom”, local situado ao sul de Jerusalém, fora da cidade, onde se queimava o lixo, onde o fogo era perene, onde foram feitos sacrifícios de crianças ao deus Moloque, no passado, e onde viviam vermes na podridão do lixo. É figura do inferno de fogo, destino dos condenados após o juízo final. Esse, sim, deve ser temido. Em todos os tempos e em toda parte o testemunho daqueles que pregam o evangelho de Cristo tem provocado hostilidade de governos e de outros que exercem autoridade sobre o povo. Mas eles não têm autoridade e nem poder para impedir os cuidados que Deus dispensa aos amigos de Cristo (12:24; João 15:14).
O exemplo do cuidado de Deus por pardais, aves de tão baixo valor comercial, e do fato d’Ele considerar os fios de cabelo das nossas cabeças, cousas que parecem insignificantes, é para enfatizar o valor que Deus atribui aos discípulos de Jesus.
V.8 - Digo-vos ainda: todo aquele que me confessar diante dos homens, também
o Filho do homem o confessará diante dos anjos de Deus;
V.9 - mas o que me negar diante dos homens será negado diante dos anjos de
Deus.
V.10 - Todo aquele que proferir uma palavra contra o Filho do homem, isso lhe
será perdoado; mas, para o que blasfemar contra o Espírito Santo, não
haverá perdão.
Continuando a admoestar os discípulos, Jesus fala da atitude corajosa de confessá-lO diante dos homens. Isto está em conexão com a admoestação anterior de não temer os homens, e, sim, a Deus. A confissão de Cristo diante dos homens, que significa assumir diante deles a posição de ser Seu discípulo, traz recompensa eterna, porque Ele o confessará diante dos santos anjos, ou do Pai (cf Mateus 10:32-33). Isto é um estímulo considerável, visando a aprovação no dia do julgamento final. Por outro lado, quem O negar diante dos homens, enfrentará a reprovação definitiva porque ele se recusou a ser contado entre os seguidores de Jesus. Quando ele estiver na presença de Deus para julgamento, esta sua decisão será confirmada. Com esta exortação, Jesus deixa bem claro que destino eterno de cada um está na dependência de atitude tomada em relação à Sua pessoa.
O caso mais flagrante de negar a Jesus foi o de Pedro, na casa perante os Sumo-Sacerdotes Anás e Caifás (João 18:17, 25-27). Mas há muitas outras maneiras de negar Jesus. Pode ser por negar os Seus ensinos, a Sua autoridade sobre nossas vidas, imaginando que em certas ocasiões podemos tomar decisões contrárias às suas ordens, ou imaginando que muitas cousas que Ele ordenou não se aplicam à vida moderna etc. O orgulho e a auto-confiança do homem pode levá-lo a negar a suprema autoridade de Cristo e de Deus sobre nossas vidas.
O V.10 fala de um pecado que não tem perdão, aqui chamado de “blasfêmia contra o Espírito Santo”. Apesar de toda a dignidade do Filho do homem descrita nos Vs. 8 e 9, Ele afirma que perdoará todo aquele que o ofender com palavras. Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo não será perdoado (nem neste mundo, nem no porvir – Mateus 12:32).
De que consiste o pecado contra o Espírito Santo? Consiste da rebeldia contumaz contra a pessoa de Jesus, Seus ensinos e Sua obra realizada à vista de todos. Esta atitude era característica dos escribas e fariseus que chegaram a acusa-lO de operar por Belzebu, o maioral dos demônios (Mateus 12:24; Marcos 3:22; Lucas 11:15). A blasfêmia contra o Espírito Santo não consiste de palavras, mas de um endurecimento do coração a tal ponto que os homens, nessas condições, não aceitam arrependimento e, consequentemente, Deus não pode perdoá-los. Eles estão com a mente tão pervertida, que confundem a misericórdia de Deus testemunhada pelas obras de Jesus, com obra de demônios.
Uma discussão mais detalhada do assunto encontra-se sob título anterior “O PECADO CONTRA O ESPÍRITO SANTO”.
V.11 - Quando vos levarem às sinagogas e perante os governadores e as
autoridades, não vos preocupeis quanto ao modo por que respondereis,
nem quanto às coisas que tiverdes de falar.
V.12 - Porque o Espírito Santo vos ensinará, naquela mesma hora, as coisas que
deveis dizer.
Quanto ao Espírito Santo, depois do que foi dito no V.10, Jesus acrescenta agora, que Ele é um auxiliador presente na vida dos discípulos, especialmente quando eles estiverem sendo perseguidos, ou passando por dificuldades, para dar-lhes socorro e assistência. Ele é conselheiro, consolador e ensinador (cf João 14:16-17; 16:13). Por isso os discípulos não deviam temer ante a perspectiva de serem levados às sinagogas e perante governadores e autoridades. As sinagogas eram lugares de ensino, de culto e também de julgamento. A perspectiva de serem levados diante desses tribunais era aterradora, devido à severidade do julgamento, que podia resultar em sentença de morte ou de flagelação. A perseguição aos apóstolos levou-os às vezes diante do Sinédrio (cf Atos 4:1-4; 5:17-18, 40-42; 6:8, 12, 54-60). Jesus mesmo compareceu diante de Pilatos, governador romano (João 18:30-38) e do rei Herodes (Lucas 23:8-12). Paulo também compareceu diante de autoridades judaicas e de governadores romanos e reis da Judéia e da Galiléia (leia Atos Capítulos 22, 24 e 26). Todos eles responderam auxiliados pelo Espírito Santo, que lhes deu palavras para responderam a esses inquéritos naquele momento. Jesus não falou a respeito de como conseguir absolvição, mas como servir a Deus em situação de provação, com a ajuda do Espírito Santo, que dirigia a defesa de modo que o Evangelho pudesse ser propagado e que o propósito de Deus fosse cumprido.