segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O BOM SAMARITANO

                                                    O BOM SAMARITANO
                                                         LUCAS 10:25-37

V.25 –E eis que certo homem, intérprete da lei, se levantou com o intuito de
          Pôr Jesus em provas, e disse-lhe: Mestre, que farei para herdar a vida
          Eterna?
V.26 – Então Jesus lhe perguntou: Que está escrito na lei? Como interpretas?
V.27 – A isto ele respondeu:
          Amaras o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de todo a tua alma, de
          Todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e amarás o teu
          Próximo como a ti mesmo.
V.28 – Então Jesus lhe disse: Respondeste corretamente; faze isto, e viverás.
V.29 – Ele, porém, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: Quem é o meu
          Próximo?

A narrativa do bom samaritano encontra-se somente no Evangelho de Lucas, embora o motivo que a introduziu, isto é, a pergunta de um intérprete de Lei, tenha um certo paralelo em Mateus 22:34-40 e em Marcos 12:28-31. A diferença é de contexto, além da pergunta ter sido feita por um escriba, após a discussão de Jesus com os saduceus.
O fato do intérprete da Lei ter-se levantado para interrogar o Mestre sugere que Jesus estava ensinando, enquanto muitos estavam assentados aos Seus pés. Como intérprete da Lei, ele devia estar interessado em assuntos da torah, especialmente, do Pentateuco, para extrair de Jesus alguma palavra que O comprometesse. Ele não procurava ensinamentos teológicos, mas uma reposta errada, com o fim de desmascará-lO.
A pergunta “...que farei...” mostra que ele pensava em salvação por meio de obras, e não tinha compreensão a respeito da graça. Jesus lhe respondeu com outra pergunta, para forçá-lo a buscar na Lei a resposta que ele desejava. É muito provável que aquele intérprete tivesse filactérios pregados à sua roupa, como era costume dos judeus religiosos, que o lembrassem de passagens importantes da Lei de Moisés, como, por exemplo, a que ele usou em sua resposta no V.27 (cf Deuteronômio 6:4-9; Levítico 19:18). Jesus aprovou a sua resposta e lhe disse para por em prática aqueles preceitos, e ele teria vida. Mas é aqui que jazia a dificuldade para ele e para o pecador em geral.
O conceito de vida eterna para os judeus era o de uma vida sem fim, junto a Deus, no céu, depois da morte física nesta Terra. Mas para Cristo ela é uma vida de qualidade divina, a partir do momento em que damos ouvido à Sua Palavra e cremos naquele que O enviou (João 5:24) e morremos para nós mesmos (Romanos 6:11) e passamos a ter uma nova vida (Romanos 6:3-4, 11). É a vida de Cristo em nós. Este é o conceito de vida eterna ensinada no Evangelho de João.
A tática de Jesuse a Sua sabedoria deixaram aquele escriba desconcertado e ele procurou uma evasiva para sair daquele aperto. Por isso, ele fez uma pergunta sincera, mas, polêmica, para justificar a pergunta anterior. Então disse: “Quem é o meu próximo?” (cf Levítico 19:18).
Os judeus consideravam “próximo” apenas um outro judeu, e nunca um gentio, muito menos um samaritano (João 8:48). Eles diziam que não se devia prestar ajuda, nem mesmo, a uma parturiente gentia, para que não nascesse mais um gentio no mundo. Mas, também, aquele intérprete da Lei ficou incomodado porque Jesus lhe ordenou “faze isto e viverás”. A ênfase da ordem dada neste versículo está no pronome demonstrativo “isto”, conforme o texto grego do V.28. Mas ele não fazia isto (cf Mateus 23:1-7).
Isto deu ensejo a esta parábola tão bem elaborada pelo Mestre.

V.30 – Jesus prosseguiu dizendo: Certo homem descia de Jerusalém para Jericó
          E veio a cair em mãos de salteadores, os quais, depois de tudo lhe
          Roubarem e lhe causarem muitos ferimentos, retiraram-se deixando-o
          Semi-morto.
V.31 – Casualmente descia um sacerdote por aquele mesmo caminho e, vendo-o
          Passou de largo.
V.32 – Semelhantemente um levita descia por aquele lugar e, vendo-o, também
          Passou de largo.

Jesus não respondeu diretamente à pergunta do escriba do V.29, mas deu um exemplo que esclarece muito bem que é o próximo. Antes, porém, precisamos saber alguma cousa a respeito do cenário da parábola. A distância entre Jerusalém e Jericó, em linha reta, é de aproximadamente vinte quilômetros. Jerusalém está sobre as montanhas, a setecentos e cinquenta metros acima do nível do mar, enquanto Jericó está numa depressão, cerca de quatrocentos metros abaixo do nível do mar. Para vencer esse desnível, numa paisagem rochosa e desolada, existia uma estrada, quase que uma trilha em região montanhosa, cheia de curvas e de rampas, com a extensão de trinta quilômetros aproximadamente. Em meio àquelas paredes rochosas havia muitas cavernas, esconderijo ideal para assaltantes que, frequentemente, atacavam transeuntes que por ali passavam.
Jericó era a segunda maior cidade da Judéia, vindo em seguida a Jerusalém, e ali habitavam muitos sacerdotes e levitas que subiam e desciam para ir ao Templo. O mais comum era andarem em caravanas, por motivo de segurança. Mas aquele homem da parábola estava sozinho e foi atacado por salteadores que lhe roubaram tudo, deixando-o com muitos ferimentos, e em estado de morte. Pelo sentido da parábola, ele era um judeu imprudente, que não pensou no perigo de passar por aquela estrada, carregando objetos passíveis de furto.
O primeiro personagem descrito que o encontrou foi um sacerdote que, vendo-o, passou de largo, sem socorrê-lo. Este é o primeiro que devia atendê-lo, mas preocupou-se mais com a sua pureza cerimonial, para não se contaminar, tocando um possível cadáver. Com isso, ele poderia perder o seu turno de serviço no templo, porque precisava purificar-se antes de poder trabalhar. Assim, ele ignorou o preceito de Oséias 6:6 que diz: “Misericórdia quero e não, sacrifício”. O segundo, que, na hierarquia sacerdotal vinha abaixo do sacerdote, era o levita. Ele teve o mesmo comportamento do sacerdote, porque viu o homem naquelas condições, e também passou de largo, sem tentar socorrê-lo. Agora, o que se poderia esperar é que passasse por ali um terceiro personagem, um judeu comum, que fizesse alguma cousa por aquele infeliz.

V.33 – Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passou-lhe perto e,
          Vendo-o, compadeceu-se dele.
V.34 – E, chegando-se, pensou-lhe os ferimentos, aplicando-lhes óleo e vinho;
          E, colocando-o sobre seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e
          Tratou dele.
V.35 – No dia seguinte tirou dois denários e os entregou ao hospedeiro,
          Dizendo: Cuida deste homem e, se alguma cousa gastares a mais, eu to
          Indenizarei quando voltar.

Jesus surpreendeu a todos, dizendo que seguiu-se um samaritano, odiado por todos os judeus, e considerado o pior entre todos os gentios. Ele passou em terceiro lugar e os ouvintes poderiam até imaginar que ele acabasse de matar o pobre moribundo. Mas não foi isso que Jesus falou. Ele disse que aquele homem era cheio de compaixão, chegou-se a ele aplicou-lhes os remédios usuais da época: vinho para lavar as feridas, e azeite para amenizar a dor e, ainda fez ataduras com as próprias mãos, sem receio de contaminar-se ritualmente. Vendo que ele não tinha condições de caminhar, colocou-o sobre o seu próprio animal e seguiu em frente, puxando-o pela rédea, até chegar a uma hospedaria, onde continuou a cuidar dele. Este viajante samaritano era, provavelmente, um comerciante abastado, que conhecia aquela estrada, e gozava de crédito diante do dono da hospedaria.Isto, porque o dinheiro que ele deuao hospedeiro era suficiente para pagar pelo menos vinte quatro dias de hospedagem, nos tempos de Jesus (cf Jeremias, Jerusalém nos Tempos de Jesus – London 1969 – Pag. 122). Mas também o hospedeiro acreditou que o samaritano lhe pagaria qualquer despesa a mais, que ele tivesse com aquele homem, quando ele voltasse.

V.36 – Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas
          Mãos dos salteadores?
V.37 –Respondeu-lhe o intérprete da lei: O que usou de misericórdia para com
          Ele. Então lhe disse: Vai, e procede tu de igual modo.

A lição da parábola está na pergunta de Jesus ao intérprete da Lei, que foi levado a concluir que o próximo é aquele que está na iminência de socorrer ao necessitado. Assim, a questão é revertida para “de quem sou eu o próximo para socorrê-lo”. O escriba reconheceu que o próximo era o samaritano que usou de misericórdia para com a vítima dos ladrões. Mas ele não pronunciou o nome da raça, “samaritano”. Era o preconceito que estava no seu coração.
Ao invés de ficar perguntando “quem é o meu próximo”?, o melhor é assumir que eu sou “o próximo” e estar pronto para socorrer ao necessitado.
Agora restava ao escriba pensar se o sacerdote e o levita, tão zelosos da Lei, realmente guardavam o preceito que ordena o amor ao próximo. Por isso, Jesus lhe ordenou que procedesse como o samaritano, não motivado por obras mas pela misericórdia e pelo amor ao próximo.
Muitos vêem nesta parábola um quadro tipológico em que o samaritano é um tipo de Cristo, que veio salvar os pecadores, e deixou-os aos cuidados de seu servos, até que ele volte e os recompense pelo seu trabalho. Na verdade, a muitas semelhanças. Todavia é mais provável que a Sua intenção era dar uma resposta direta à perguntado escriba que tentava confundi-lo.