JESUS PERANTE PILATOS
MARCOS 15:1-15 (Mateus 27:1,2,11-26; Lucas 23:1-7,13-25; João 18:28-19-16)
V.1 - Logo pela manhã entraram em conselho os principais sacerdotes
com os anciãos, escribas e todo o Sinédrio; e amarrando a Jesus,
levaram-no e o entregaram a Pilatos.
V.2 - Pilatos o interrogou: És tu o rei dos judeus? Respondeu Jesus: Tu o
dizes.
V.3 - Então os principais sacerdotes o acusavam de muitas cousas.
V.4 -Tornou Pilatos a interrogá-lo: Nada respondes? Vê quantas acusações te
fazem.
V.5 - Jesus, porém, não respondeu palavra, a ponto de Pilatos muito se admirar.
V.6 - Ora, por ocasião da festa, era costume soltar ao povo
um dos presos, qualquer que eles pedissem.
V.7 - Havia um, chamado Barrabás, preso com amotinadores,
os quais em um tumulto haviam cometido homicídio.
V.8 - Vindo a multidão, começou a pedir que lhes fizesse como de costume.
V.9 - E Pilatos lhes respondeu, dizendo: Quereis que eu vos solte o rei dos
judeus?
V.10 - Pois ele bem percebia que por inveja os principais sacerdotes
lho haviam entregado.
V.11 - Mas estes incitaram a multidão no sentido de que
lhes soltasse de preferência Barrabás.
V.12 - Mas Pilatos lhes perguntou: Que farei, então,
deste a quem chamais o rei dos judeus?
V.13 - Eles, porém clamavam: Crucifica-o!
V.14 - Mas Pilatos lhes disse: Que mal fez ele?
E eles gritavam cada vez mais: Crucifica-o!
V.15 - Então Pilatos, querendo contentar a multidão, soltou a Barrabás;
e, após mandar açoitar a Jesus, entregou-o para ser crucificado.
O tribunal formado pelos judeus e que condenou Jesus, havia-se reunido irregularmente durante a noite, quando ele foi julgado réu de morte. De manhã voltaram a reunir-se os membros do Sinédrio, para confirmar a resolução tomada, dando-lhe aparência de legalidade, e para levar a questão a Pilatos, o único que tinha poderes para ditar a sentença de morte a qual também só podia ser executada por autoridades romanas.
Apesar desta reunião do Sinédrio ter sido feita durante o dia, ela contrariava a lei dos judeus que não permitiam atividades daquele tribunal durante as grandes festas, e este era o primeiro dia dos Pães Asmos, uma das principais festas da nação.
A acusação de que Jesus afirmou ser o Filho de Deus e o Messias não tinha valor para justificar o julgamento por parte das autoridades romanas, visto que esta era uma questão particular, ligada à religião dos judeus. O governo romano tratava de fatos políticos e sociais que pusessem em risco a segurança do Império. Por esta razão os inimigos de Jesus levaram-no à presença de Pilatos, sob a acusação de ser ele agitador do povo e de perverter a nação, impedindo pagar tributo a César e também de afirmar ser rei (cf.Lucas 23:1-2). Segundo o registro de Marcos, Pilatos percebia que eles o entregavam por inveja. Portanto, tratava-se de uma grande mentira.
Lucas registra que Pilatos, sabendo que Herodes (Antipas), tetrarca da Galiléia, estava naqueles dias em Jerusalém, enviou Jesus a ele (Lucas 23:5-12). Herodes alegrou-se por isso, pois há muito desejava ver Jesus, porque ouvia falar muito d’Ele, e esperava vê-lO fazer algum sinal na sua presença (cf Marcos 6:14-16). Mas, diante dos principais sacerdotes e escribas que O acusavam duramente, tratou-O com desprezo, zombou d’Ele e fez que Ele vestisse um manto real (cf 15:16-20) e depois devolveu-O a Pilatos.
Pilatos era o Procurador Romano na Judéia e exerceu esta função entre os anos 26 e 36 D.C. Estes acontecimentos se passaram no ano 33. Como Governador, a sua residência oficial era Cesaréia, mas ele subiu a Jerusalém, supostamente para garantir a ordem durante as festividades da Páscoa. Ele é descrito por Herodes Agripa I em uma carta ao imperador Calígula, como sendo inflexível, auto determinado, implacável, vingativo e cruel. E ainda, como culpado de repetidas execuções sem julgamento. Apesar disso, os relatos dos Evangelhos não são tão severos com ele, como Filo e Josefo, ambos, judeus famosos daquela época. O primeiro, filósofo e teólogo judaísta de Alexandria e o segundo, historiador da Palestina que mais tarde passou para a corte do Império em Roma, o qual relata como Pilatos foi afastado do cargo por causa do assassinato injustificado que cometeu de um grupo de samaritanos.
Marcos não isenta de responsabilidade a nenhum dos que tomaram parte no que aconteceu com Jesus, embora ele enfatize especialmente o pecado ou a dureza de coração visível do traidor, dos líderes judeus e mesmo dos discípulos que fugiram, especialmente de Pedro, que repudiou o Mestre. Mas também Pilatos, a multidão instigada clamando por sangue e os soldados romanos são tratados como participantes do crime. O Governador foi reservado ao ouvir dos judeus as acusações contra Jesus, e lhe pediu apenas a confirmação dos argumentos apresentados. A sua pergunta “És tu o rei dos judeus?” reflete uma surpresa. Rei, para ele, era alguém que exercia funções de Tetrarca, de rei vassalo, ou o augusto Imperador que, em Roma, se vestia de púrpura. Mas como podia ser rei este que estava diante dele? Contudo Jesus confirmou as suas palavras, respondendo: “Tu o dizes”. Esclarecendo ainda a natureza espiritual do seu reino, deu-lhe plena garantia de que não fazia nenhuma concorrência com os reinos políticos e materiais terrenos, pronunciando estas palavras: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui” (João 18: 36). Portanto ele não representava nenhum perigo para o Império Romano. Porém as acusações dos principais sacerdotes não cessavam e ele não respondia a nenhuma delas, a ponto de Pilatos muito se admirar. Apesar de ter demonstrado uma momentânea compreensão dos fatos, a posição final assumida por Pilatos só pode ser qualificada de imoral e injusta. Sabendo que o réu estava sendo entregue por inveja, mas querendo contentar a multidão, libertou um criminoso e condenou um inocente.
A justiça não estava mesmo sendo levada em consideração. O que fica claro no texto é que havia uma disputa entre Pilatos e os líderes judeus. Por um lado o Governador queria frustrar o propósito dos principais sacerdotes, tentando jogar contra eles a multidão, quando perguntou: “Quereis que eu vos solte o rei dos judeus?” Por outro lado, aqueles líderes chegaram a ponto de se misturar ao povo que eles consideravam ralé e diziam ser plebe maldita (cf. João 7:49), para tentar conseguir a soltura de Barrabás e a condenação de Jesus. Quando a multidão insistiu na libertação do bandido, Pilatos ainda perguntou o que ele deveria fazer com o chamado Rei dos Judeus. Isto indica a sua aparente disposição de soltar Jesus ao mesmo tempo que Barrabás. Mesmo depois do novo pedido de crucificação ele insistiu em perguntar que mal ele havia feito. É muito estranha a atitude de um homem cruel como Pilatos, acostumado a matar, que agora, diante de Jesus, mostra-se hesitante em condená-lo. Mas em Mateus 27:19 encontramos uma informação que esclarece o seu comportamento. É que, em meio a esta disputa com os judeus sobre Jesus e Barrabás, ele recebeu ali mesmo no tribunal um recado de sua esposa, que dizia: “Não te envolvas com esse justo, porque hoje, em sonho, muito sofri por seu respeito”. Mas a injustiça, afinal, conseguiu mais uma vantagem pela aclamação da multidão que entoava em coro: “Crucifica-o”. Pilatos não estava preocupado com o que devia acontecer com Jesus ou com Barrabás. Pela sua decisão ele contentou a multidão, libertou o criminoso e entregou Jesus para ser açoitado e crucificado.
O açoite era uma punição horrivelmente dolorosa, imposta a escravos e às vezes, a pessoas comuns das províncias, mas nunca aos cidadãos romanos. O chicote utilizado para isto continha várias tiras de couro, com pedaços de metal ou de osso presos às pontas. A vítima era amarrada, estendida contra um pilar, e então fustigada. Os destinados à crucificação, normalmente eram levados antes para receber açoites.
Tudo isso Jesus sofreu por nós, o Justo, pelos injustos, para nos conduzir a Deus (cf. Hebreus 2:10-13).