sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

JESUS PERANTE O SINÉDRIO

                                                JESUS PERANTE O SINÉDRIO
                           MARCOS 14:53-65   (Mateus 26:57-65; Lucas 22:63-71)

V.53 - E levaram Jesus ao sumo sacerdote, e reuniram-se
           todos os principais sacerdotes, os anciãos e os escribas.
V.54 - Pedro seguira-o de longe até ao interior do pátio do sumo sacerdote
          e estava assentado entre os serventuários, aquentando-se ao fogo.
V.55 -E os principais sacerdotes e todo o sinédrio procuravam algum testemunho
         contra Jesus para o condenar à morte, e não achavam.
V.56 - Pois muitos testemunhavam falsamente contra Jesus,
          mas os depoimentos não eram coerentes.
V.57 - E, levantando-se alguns, testificavam falsamente, dizendo:
V.58 - Nós o ouvimos declarar: Eu destruirei este santuário edificado por
          mãos humanas e em três dias construirei outro, não por mãos humanas.
V.59 - Nem assim o testemunho deles era coerente.
V.60 - Levantando-se o sumo sacerdote, no meio, perguntou a Jesus:
          Nada respondes ao que estes depõem contra ti?
V.61 - Ele, porém, guardou silêncio e nada respondeu. Tornou a interrogá-lo
          o sumo sacerdote e lhe disse: És tu o Cristo, o Filho do Deus Bendito?
V.62 - Jesus respondeu: Eu sou, e vereis o Filho do homem
           assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo com as nuvens do céu.
V.63 - Então o sumo sacerdote rasgou as suas vestes e disse:
          Que mais necessidade temos de testemunhas?
V.64 - Ouvistes a blasfêmia; que vos parece? E todos o julgaram réu de morte.
V.65 - Puseram-se alguns a cuspir nele,a cobrir-lhe o rosto, a dar-lhe murros
          e a dizer-lhe: Profetiza! E os guardas o tomaram a bofetadas.

 De todas as partes do capítulo 14, é este parágrafo que tem maior relação com o contexto mais adiantado da narrativa. Parece de propósito que Marcos registra os acontecimentos de tal maneira que é possível verificar, no presente episódio, o cumprimento de um grande número de predições de Jesus desde o capítulo 8, e especialmente a partir do capítulo 10. Uma boa parte dos versos do presente capítulo está diretamente relacionada com passagens anteriores e algumas posteriores a elas. Depois da ceia no cenáculo, quando cantaram um hino e Jesus saiu com os discípulos para o Monte das Oliveiras em direção ao Getsêmani, nós pudemos acompanhá-lo respeitosamente nas suas aflições naquele jardim, e vimos quando chegou o traidor com a turba armada e agitada e ainda com algumas autoridades. E, prendendo-o, levaram-no, enquanto os discípulos fugiram, sendo ele seguido por um jovem envolto unicamente em um lençol. Agora o Filho do homem já está entregue nas mãos dos pecadores, cumprindo-se a profecia da parábola dos lavradores maus que agarraram o herdeiro, mataram-no e o atiraram fora da vinha, como veremos no capítulo 15.
Jesus foi levado ao Sumo Sacerdote, mais precisamente à casa de Caifás, conforme o relato de Mateus, mas, segundo o Evangelho de João ele passou primeiro pela casa de Anás, Sumo Sacerdote deposto de suas funções, mas que ainda exercia grande influência no Sinédrio. Ele interrogou Jesus e depois o enviou de mãos amarradas a Caifás que era seu genro e o Sumo Sacerdote naquele ano (cf. Mateus 22:57; João 18:12-13,24). Foi na casa deste que se reuniu previamente o Sinédrio, para tomar deliberações a respeito de Jesus. É evidente que a reunião já estava sendo preparada desde que Judas saiu, já de noite, com a turba para prendê-lo. O Sinédrio não podia tomar a decisão que tomou de condenar Jesus. Os seus poderes não eram tão amplos sob o domínio do Império (cf. João 18:31b). Só Pilatos, o governador romano, tinha autoridade para decretar a pena de morte. E, como veremos depois, ele hesitou muito antes de tomar esta decisão contra Jesus, e só o fez por coação das autoridades dos judeus e pela pressão da multidão excitada pelos líderes (cf. Marcos 15:9-15; Lucas 23:1-2; João 19:12-16). A atuação do Sinédrio devia ser apenas de reunir provas e apresentar a acusação, deixando que o julgamento fosse feito pelo governador.
Na casa de Caifás o clima devia ser de muita agitação e expectativa, porque tudo estava sendo feito de improviso e muita cousa estava em franca desobediência à lei dos judeus. Por exemplo, era vedada a reunião do Sinédrio durante a noite e no período das grandes festas. Mas eles haviam formado ali um grande tribunal de improviso. A rigor, para ser válida, a reunião legal havia de realizar-se no seu recinto oficial chamado “Pedra Lavrada”. Os que constituíam o tribunal eram setenta e uma pessoas, sendo muitos deles, fariseus.
Quanto às qualificações, alguns eram escribas ou doutores da Lei. Outros eram anciãos, idosos e respeitáveis, como os nossos senadores. E ainda os principais sacerdotes que naquela época pertenciam, sem exceção, à seita dos saduceus. O presidente era o Sumo Sacerdote Caifás.
Além das irregularidades que mencionamos, acresce o fato de que não havia nenhum motivo de acusação contra Jesus, pois não se apresentava nenhuma testemunha verdadeira. E quando apareciam algumas falsas, depondo dolosamente, o depoimento delas não era coerente. Só isto já era motivo para anular todo o julgamento. Mas Jesus permanecia em silêncio, sem nenhuma contestação. E o sumo Sacerdote, para adiantar o processo, fez uma pergunta a Jesus com a intenção de incriminá-lo, forçando-o a responder sob juramento, se ele era o Cristo, o Filho de Deus (cf. Mateus 26:63). Era proibido fazer ao réu uma pergunta como esta que podia trazer da sua própria boca a condenação. Mas Jesus não tinha motivo para negar esta verdade, e respondeu afirmativamente, acrescentando palavras que falavam da sua vitória como Messias. Foi isto que tomaram como motivo para ditar a sua sentença de morte. Outra arbitrariedade do Sinédrio foi determinar a pena no ato do julgamento e forçar a situação para que a sentença fosse cumprida o quanto antes, quando era necessário oferecer ao réu o prazo legal, proporcionando-lhe a oportunidade de defesa, na esperança de que o tribunal mudasse a decisão e anulasse a sentença. Um ato inaceitável do Sumo Sacerdote, que mostra a sua falta de princípios e falta de observação dos preceitos da lei de Deus foi rasgar as vestes, como num gesto teatral premeditado, ao ouvir o depoimento de Jesus sobre a sua filiação divina. Este gesto próprio de gentios era explicitamente condenado para o Sumo Sacerdote, ainda que num momento de indignação (Levítico 21:10).
A partir de então Jesus foi pronunciado réu de morte e passou a ser agredido pelos membros do Sinédrio que comemoravam com alegria aquela vantagem alcançada pela força. É como predisse o profeta: “Por juízo opressor foi arrebatado...” (Isaías 53:8). Junto aos membros do Sinédrio estavam os estudantes pretendentes à função de rabi, que podiam ajudar a defender o réu, porém, nunca acusá-lo. Alguns passaram a cuspir nele, a vendar-lhe o rosto e a esmurrá-lo. Também o insultavam dizendo: Se és profeta, adivinha quem te bateu. E os guardas davam tapas em seu rosto.
Do ponto de vista moral e legal o julgamento de Jesus foi uma farsa, além do que ele foi submetido a inexplicáveis abusos e zombaria. Pedro trazia bem viva na memória a lembrança do comportamento de Jesus, quando escreveu na sua primeira carta estas palavras: “pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje, quando maltratado não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente,” (1Pedro 2:23). Jesus tinha confiança no seu triunfo final, e a sua atitude aqui se explica pelo que ele já havia afirmado anteriormente: “Por isso o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai” (João 10:17-18). Ele tinha certeza de que Deus haveria de ressuscitá-lo.