segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

JESUS, O BOM PASTOR

                                                               JESUS, O BOM PASTOR
                                                           JOÃO 10:1-18

V. 1 – Em verdade, em verdade vos digo: O que não entra pela porta no aprisco
          das ovelhas, mas sobe por outra parte, esse é ladrão e salteador.
V. 2 – Aquele, porém, que entra pela porta, esse é pastor das ovelhas.
V. 3 – Para este o porteiro abre, as ovelhas ouvem a sua voz, ele chama pelos
          nomes as suas próprias ovelhas e as conduz para fora.
V. 4 – Depois de fazer sair todas a que lhe pertencem, vai adiante delas e elas o
          seguem porque lhe reconhecem a voz;
V. 5 – mas de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele porque
          não conhecem a voz dos estranhos.
V. 6 – Jesus lhes propôs esta parábola, mas eles não compreenderam o sentido
          daquilo que lhes falava.

“Em verdade, em verdade vos digo” é expressão usada frequentemente por João, para fazer uma afirmação enfática que denota a certeza e a importância do que Ele vai dizer. Estas palavras nunca são usadas no início de um discurso e aqui elas dão continuidade ao que foi dito no discurso anterior. Os fariseus que detinham o posto de guias, “pastores”, do povo foram acusados por Jesus de serem cegos espirituais, portanto, desqualificados para exercer essa função. Então Ele vai expor as características do verdadeiro pastor, do mercenário, e declara que Ele é o verdadeiro Pastor e Guia do Seu povo. Tudo Ele explica por meio de uma figura de linguagem muito bem elaborada, evocando a vida pastoral em Israel, com detalhes muito bem conhecidos do povo daquela época. Assim, Ele ilustra o ministério do Messias. A palavra grega usada pelo evangelista no V.6, para referir-se a esta figura de linguagem é “paroimia”, ao invés de “parabolë” (parábola), como aparece em nossas traduções.
No Velho Testamento o Messias era profetizado como pastor (Ezequiel 34:23; 37:24; Zacarias 13:7). O aprisco era um espaço cercado feito no campo para recolher as ovelhas durante a noite e protegê-las de ladrões e de feras. Tinha uma porta de acesso que, neste caso, representa Jesus (V.7). Quem quiser entrar no aprisco para conduzir as ovelhas deve fazê-lo por meio de Cristo, isto é, da maneira como Ele determina. Os fariseus alegavam ser pastores, mas não acatavam os Seus ensinos. Por isso, eles só podiam ser considerados ladrões e salteadores que se apoderavam do rebanho de Deus. Esse rebanho antigamente, era o povo de Israel (Ezequiel 34:1-9; Jeremias 23:1-4). Atualmente, na era do Novo Testamento, o povo de Deus, o seu rebanho, é a igreja (Gálatas 6:16). Em ambas estas épocas, identificam-se ladrões que agem silenciosamente, e roubadores que agem de maneira violenta, para tirar proveito do rebanho de Deus (Atos 20:29-30).
No aprisco da parábola, segundo o costume dos criadores de ovelhas em Israel, havia vários rebanhos, cada um com seu respectivo pastor. Eles conheciam suas ovelhas e elas conheciam o seus pastor e se acostumavam com a sua voz, de modo que ele as chamava pelo nome e elas o atendiam. Mas a voz de um estanho elas não reconheciam e não o seguiam. O significado disto para a igreja é que o povo de Deus esteja disposto a ouvir aqueles que são apontados por Cristo, que pregam a Sua doutrina pura, sem mistura, e que mostram amor verdadeiro pelas ovelhas. Não há teste melhor de fidelidade do ministério pastoral do que a aprovação do povo humilde de Deus, quando eles discernem no pregador a verdadeira conduta e espírito moldados segundo as doutrinas bíblicas. Não é difícil perceber quando alguém fala cousas estranhas à Palavra de Cristo, pois todos temos a unção do Espírito Santo (cf I João 2:24-27; cf 2:19-20). Mas, havia também, um porteiro no aprisco, que conhecia os pastores, e só deixava entrar aqueles que tivessem suas ovelhas guardadas lá. O melhor comentário para o significado dos Vs. 3 e 4 é o Salmo 23.
Para melhor compreensão dos ouvintes, Jesus identificou-se como “a porta” e, posteriormente, como o “Bom Pastor” (Vs. 7,11).

V. 7 – Jesus, pois, lhes afirmou de novo: Em verdade, em verdade vos digo: Eu sou
          a porta das ovelhas.
V. 8 – Todos quantos vieram antes de mim, são ladrões e salteadores; mas as
          ovelhas não lhes deram ouvido.
V. 9 – Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e
          achará pastagem.
V.10- O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que
          tenham vida e a tenham em abundância.

Quando Jesus revela que Ele é a porta das ovelhas, temos que reconhecer que Ele, e somente Ele, pode proporcionar a entrada tanto das ovelhas, como dos seus pastores, para o redil do Senhor, que, hoje, é a igreja. O motivo é que, nenhum outro tem mérito para ajudar, para interceder, para apresentar diante de Deus aqueles que são chamados por Ele. Só o Seu sacrifício pode garantir isso (Hebreus 2:10-13,17; 5:7-10).
A referência de Jesus a “todos quantos vieram antes de mim”, no V.8, não diz respeito a falsos profetas do passado, e nem a falsos cristos, porque não há evidência do aparecimento destes personagens na época relativamente próxima e anterior a Cristo. Foi a postura religiosa dos escribas e fariseus na polêmica que surgiu após a cura do cego no capítulo 9, que levou Jesus a elaborar esta parábola, em que Ele compara aqueles líderes religiosos com ladrões e salteadores. Eles se consideravam guias absolutos, com autoridade para regular a vida religiosas do povo, mas o seu objetivo era de se engrandecerem, enquanto oprimiam a população (Mateus 23:1-7).
O propósito do ladrão, bem especificado no V.10 é roubar (apropriar-se do que não lhe pertence), matar (sacrificar) e destruir (causar ruína eterna). Os falsos mestres não tem outro objetivo em vista, se não tirar proveito das ovelhas e engrandecer-se a si mesmos. Em contraste com isto, Jesus declara que Ele veio para dar vida com abundancia. Isto significa muito mais do que o essencial para a vida normal, mas todo o mais necessário para uma vida feliz, vida de bem aventuranças. Nisto está implícita a misericórdia que livra da destruição eterna, no inferno, aqueles que ouvem a Sua voz e que O seguem. Estes terão eterna alegria, paz e todas as bênçãos que lhes estão preparadas no reino da glória eterna de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Mateus 25:34; Romanos 8:18;     I Coríntios 2:9; Colossenses 1:12; II Pedro 1:11).

V.11 – Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas.
V.12 – O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas vê vir
           o lobo, abandona as ovelhas e foge; então o lobo as arrebata e dispersa.
V.13 – O mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado com
           as ovelhas.
V.14 – Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a
           mim,
V.15 – assim como o Pai me conhece a mim e eu conheço o Pai; e dou a minha
           vida pelas ovelhas.

Ao declarar-se “bom pastor”, Jesus afirma ser fiel e o verdadeiro pastor. Ao contrário dos ladrões que vêm para roubar, matar e destruir, Ele defende o rebanho até o ponto de dar a vida pelas ovelhas. A atitude do pastor fiel e verdadeiro difere totalmente da atitude do mercenário. Este é um personagem contratado profissionalmente para velar pelas ovelhas, mas ele não tem cuidado delas, porque elas não lhe pertencem. Por isso, quando ele vê vir o lobo, ele as abandona e foge, para não por em risco a sua vida, expondo o rebanho à devastação das feras.
A palavra mercenário, “misthötos”, no grego, que significa “empregado” ou “assalariado” pode ser usada em sentido normal, mas aqui é usada em sentido depreciativo, para enfatizar o interesse do mercenário pelo lucro. É como o caso de pastores e outras pessoas que trabalham no Evangelho por causa do sustento, mas não querem enfrentar dificuldades e perigos, ou se recusam a negar-se a si mesmo, a favor do bem estar das ovelhas (cf Filipenses 2:3). Eles não mostram esforço para defender a causa do Mestre, mas sim, esforçam-se para não perder a reputação, a comodidade e a posição, e preferem deixar a igreja à mercê dos inimigos espirituais.
O V.14 fala do carinho, da afeição, da ternura, da consideração, enfim, do amor de Cristo pela igreja. É o mesmo nível de relacionamento entre Ele e o Pai, como explica o V.15 (cf 17:23). É isto que O leva a dar a vida pelas ovelhas (cf Mateus 11:27). Isto se refere ao Seu sacrifício expiatório pelos pecados das ovelhas, para livrá-las da condenação e da morte eterna.


V.16 – Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém
           conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então haverá um rebanho e um
            pastor.
V.17 – Por isso o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a reassumir.
V.18 – Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou.   
           Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato
           recebi de meu Pai.

Quando Jesus afirma: “tenho outras ovelhas, não deste aprisco” (de Israel), Ele se refere aos gentios. O uso do futuro para afirmar: “elas ouvirão a minha voz”, significa que, no presente, elas ainda não pertenciam ao Seu rebanho, mas a certeza de que isto aconteceria é expressa pelo uso do indicativo presente ao dizer: “tenho outras ovelhas...”. A confiança que Jesus tinha no propósito de Deus para os gentios leva-O a afirmar no futuro: “elas ouvirão a minha voz”. Isto confere com as promessas de Deus relativas aos gentios (Isaías 42:5-6; 53:11-12; 55:5; 65:1). Após o Pentecoste, começou a expansão do Evangelho que, aos poucos, foi atingindo os gentios (Atos 8:4-8,14-15; Atos 10). O comissionamento de Paulo por Jesus deu grande impulso à fé entre os gentios (Atos 18:9-11; 26:16-18; Romanos 1:5-6). Posteriormente, com a queda de Jerusalém e a destruição do Estado Judeu pelos romanos, quando sessou a perseguição dos judeus contra a igreja, houve um novo surto de expansão do cristianismo entre as nações               (cf Mateus 24:29-31; Marcos 13:24-27, Lucas 21:20,27). Isto faz lembra as promessas de Deus a Abraão em Genesis 12:3b, 17:5, confirmadas em Romanos 4:17.
Com a derrubada da parede de separação entre judeus e gentios, isto é, a inimizade, Deus criou um novo homem caracterizado pela paz. Assim, foi estabelecida a igreja, um único rebanho com um só pastor (cf Efésios 2:14-22; Gálatas 3:26-29).
O rebanho de Cristo tem o nome dado por Ele, de “igreja” (no Grego “eklësia”, cf Mateus 16:18) e corresponde às ovelhas cujos pecados foram redimidos pelo sangue derramado, o sangue da Nova aliança (Mateus 26:27).
A igreja é um corpo único, que não pode ser dividido (João 17:11,20-23; I Coríntios 1:11-13; Efésios 4:4). Também, nenhum nome deve ser atribuído a ela. Quando se fala de “igreja de Cristo ou igreja de Deus” não se está falando de denominação. O que se deve ter presente é que a preposição “de” substitui o genitivo de origem e de propriedade da língua grega, que não existem no Português. O significado é que a igreja tem origem em Cristo, ou em Deus (Efésios 2:20-21; 3:14-15) e também é propriedade de Cristo e de Deus (Atos 20:28; I Pedro 1:18-20).
A palavra igreja é tradução da palavra ekklësia do Grego, que foi utilizada na Septuaginta, para traduzir duas palavras do hebraico, “edah” e “kahal”, ambas com o mesmo significado de reunião, ajuntamento ou congregação do povo de Israel, ou de seus representantes, no Velho Testamento. Mas elas foram traduzidas também por “sunagogë”, na Septuaginta. Foram os apóstolos que elegeram a palavra ekklësia para identificar a reunião dos cristãos no Novo Testamento. Daí, veio a tradução “igreja” para o português. O termo “sunagogë” permaneceu para a congregação dos judeus, que é conhecida até hoje com o nome de sinagoga.
O V.17 explica a razão por quê Jesus é chamado nas Escrituras de “Filho Amado”. É porque Ele agrada ao Pai sobremaneira, por dar espontaneamente a própria vida em sacrifício pelo pecado, para salvar os pecadores, cumprindo o amoroso propósito de Deus, de manifestar ao povo a Sua misericórdia. Oprimido e humilhado, Ele suportou o sofrimento sem reclamar e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, Ele não abriu a sua boca. O Senhor fez cair sobre Ele a iniquidades de todos nós. O castigo que nos trás a paz estava sobre Ele. Mas Ele foi obediente até a morte, e morte de cruz, pelo que também Deus o exaltou sobremaneira, pois, tendo reassumido a vida na ressurreição, Ele foi entronizado no céu e recebeu o nome mais excelente para que ao Seu nome se dobre todo joelho nos céus, na terra e debaixo da terra e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor para glória de Deus Pai.
Diante de tudo isso temos que reconhecer os méritos de Jesus, para que o Pai lhe chame “Filho Amado”. Um dia, vivos e mortos hão de reconhecer quem é Jesus e haverão de glorificar a Deus por Ele.
As palavras de Jesus registradas por João no V.18 são a confirmação de que ninguém poderia ter-lhe tirado a vida. Houve várias tentativas durante o Seu ministério para isso, mas todas foram frustradas (Lucas 4:29-30; João 7:44; 8:20,59; 10:31,39; 11:57). O fato somente se consumou no tempo determinado por Deus (Mateus 26:53-54; João 17:1; 19:10-11).
Ao afirmar que tinha autoridade do Pai para entregar a sua vida e para reavê-la, Ele põe em destaque que o faz espontaneamente e que, para isso, recebeu do Pai um mandato (ordem ou mandamento). Em resumo, Ele contava com a autoridade que recebeu, tinha boa vontade para agradar o Pai, e fez tudo espontaneamente porque, para isso Ele veio (Marcos 10:45).