quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

JESUS INICIA A PREGAÇÃO

                                                JESUS INICIA A PREGAÇÃO
                               MATEUS 3:13-17  ( Marcos 1:14-15; Lucas 4:14-15 )

ESCLARECIMENTO: Neste trabalho de harmonização dos quatro Evangelhos em forma de comentário, usaremos o seguinte critério:

1 – Selecionaremos a passagem que for mais rica em detalhes, para comentar.
2 – Colocaremos o título da passagem escolhida, com letra maiúsculas.
3 – Sob o título,indicaremos com letra maiúsculas o nome do livro, o capítulo e
      os versículos em que ela se encontra.
4 – Entre parênteses, indicaremos com letra minúsculas as passagens paralelas
      dos outros Evangelhos.
5 – Ao comentário da passagem selecionada, acrescentaremos informações
     extraordinárias contidas nas passagens paralelas.

V.13 – e, deixando Nazaré, foi morar em Cafarnaum, situada à beira-mar,
           nos confins de Zebulom e Naftali;
V.14 – para que se cumprisse o que fora dito por intermédio do profeta Isaías:
V.15 – Terra de Zebulom, terra de Naftali, caminho do mar, além do Jordão,
            Galiléia dos gentios!
V.16 – O povo que jazia em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região e
             sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz.
V.17 – Daí por diante passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque
            está próximo o reino dos céus.

Ao encerrar o relato da tentação de Jesus no deserto, Mateus afirma no capítulo 4, verso 11 que “o diabo o deixou e eis que vieram anjos e os serviam”. Isto significa que, vencendo as tentações que faziam parte da Sua vocação de Messias, Ele deu início ao Seu Ministério, sob a proteção do Pai. Continuando a narração, nos versos 12 e 13 ele informa que, após a prisão de João Batista, Ele retirou-se para a Galiléia e, deixando Nazaré, foi morar em Cafarnaum. Mas entre o final dos quarenta dias no deserto e a Sua mudança de Nazaré para Cafarnaum decorreu um considerável período de tempo, estimado por alguns estudiosos, de até doze meses. É depois desse período que chegamos ao versículo 13 de Mateus 4, quando Ele deixa definitivamente Nazaré para instalar-se em Cafarnaum.
Esta decisão do Mestre é muito significativa. Nazaré, agora, pertence ao Seu passado, enquanto Cafarnaum é a porta aberta para o Seu futuro ministério de pregação do evangelho. Realmente, é agora que começa efetivamente o Seu Grande Ministério da Galiléia. O que aconteceu até este momento foi o prelúdio da Grande Obra do Mestre. E não foi sem razão que Ele escolheu esta última cidade para fixar residência. Ele sabia o que estava fazendo.
Localizada no norte da Palestina, a Galiléia limitava-se, a oeste, com o Líbano que se estendia ao longo do Mar Mediterrâneo. A noroeste estava a Síria; a leste limitava-se com o Lago de Genesaré, e ao sul ficava a planície de Esdraelon. A Galiléia era a parte mais fértil de toda aquela região. Josefo, historiador judeu que viveu naquela época e que foi governador dessa província, afirma que as suas terras eram tão fecundas, que lá crescia todo tipo de árvore, tinha excelentes pastagens e a sua fertilidade era um convite para cultivá-la, mesmo àqueles que nunca se haviam dedicado à agricultura. Não havia nenhuma terra ociosa em toda a sua extensão. Isto explica a grande população disponível para ouvir a mensagem do Evangelho, que se concentrava naquela província. Esta é a razão de Jesus ter escolhido Cafarnaum para ser o quartel general do seu Seu Ministério ali.
Há alguns fatores que devemos levar em conta, para compreender a mentalidade dos galileus, o que Jesus também não desconsiderou. Eles eram um povo sempre disposto a acolher novas idéias e novos mestres que chegassem até eles. Estavam sempre dispostos a mudanças e se interessavam por inovações. Gostavam até mesmo de promover revoluções.
O que explica o temperamento daquele povo? A Galiléia era um território cercado de pagãos (gentios) por todos os lados: Os Fenícios, os Sírios, os Samaritanos, sendo portanto muito influenciados por esses povos e muito pouco pelos judeus. A província era atravessada por rotas comerciais importantes: o Caminho do Mar, que ligava Damasco ao Egito passava por lá; a Rota do Leste, que conduzia a países muito distantes, também passava por lá. Assim, a Galiléia tinha contacto com todo o mundo conhecido daquela época, diferentemente da Judéia que se mantinha isolada, recolhida dentro das suas fronteiras e das suas tradições legalistas.
Devido à sua posição geográfica, a Galiléia foi palco de vários acontecimentos que marcaram a sua história. Desde que foi invadida pelos Assírios no século VIII A.C. ela perdeu a identidade de povo de Deus, porque Tiglate Pileser levou cativa a maior parte da sua população que foi substituída por outros povos também cativos, para evitar insurreições nacionalistas. Este território já havia sido invadido outras vezes por povos estrangeiros quando pertencia às tribos de Azer, Naftali e Zebulom. Durante muitos séculos foi administrada por governos gentios. No século V A.C., no tempo de Esdras e Neemias, muitos judeus migraram para a Judéia afim de viverem em Jerusalém. Em 164 A.C. Simão Macabeu enxotou os Sírios da Galiléia e levou para a Judéia os judeus que restavam ali. Em 104 A.C.Aristóbulo anexou aquela província à Judéia e obrigou toda população existente naquela região a circunscidar-se, convertendo-os forçosamente ao judaísmo.
Assim, tanto fatores históricos como genéticos contribuíram para criar nos galileus uma mente aberta que permitia a aceitação da nova doutrina e do novo Mestre.
Como de costume, Mateus procura explicar os acontecimentos relativos à vida de Jesus, com base nas profecias do Velho Testamento. Isto, porque um dos objetivos do seu Evangelho é provar para os seus compatriotas que Ele é o Messias, o Rei dos judeus. Por isso, o apóstolo aplica a profecia de Isaías 9:1-2 às atividades de Jesus na Galiléia. A descrição que ele faz nos versos 14 a 16 não é simplesmente histórico-geográfica, mas é baseada em um princípio divino. É que, quando Deus vem visitar o Seu povo para redimi-lo na pessoa de Emanuel, Ele vem para os mais necessitados, para os mais oprimidos e humilhados, para aqueles que andam nas trevas e vivem na sombra da morte espiritual. Os habitantes de Zebulom e Naftali estiveram oprimidos e humilhados desde que os Assírios se apossaram das suas terras, e as entregaram a povos e governos gentios, e desde que os seus laços com o povo de Deus foram cortados. Deste modo, a chegada de Cristo com o Evangelho àquelas regiões representava a presença de Deus, trazendo luz para aquele povo que jazia em trevas e vivia na região da sombra da morte espiritual.
A mensagem de Jesus consistia em chamar o povo ao arrependimento porque o reino dos céus estava ao alcance de todos. Isto começou a repercutir a partir de Cafarnaum. Era necessário que eles acordassem da dormência em relação ao pecado, porque o Reino de Deus havia chegado. Note-se que Jesus oferece a oportunidade de entrar no reino mediante o arrependimento. No século III da nossa era o rabino R. Levi afirmava que, se Israel ficasse um dia sem pecar, o Messias desceria imediatamente e inauguraria o Reino dos Céus. Mas Jesus ensina o caminho inverso, isto é, o Reino de Deus já está presente, e esta é a oportunidade para o arrependimento, porque é nesse reino que encontramos a redenção e a remissão de pecados concedidos por meio do Filho do Amor de Deus (Colossenses 1:13-14).
A passagem paralela de Marcos 1:14-15 esclarece que Jesus pregava o Evangelho de Deus dizendo: “O tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho”. Evangelho de Deus é a “boa nova” que Ele está oferecendo oportunidade de salvação, mas é necessário arrepender-se e crer na mensagem de Cristo. Arrependimento significa “mudança da mente”, isto é, do modo de pensar, mas também, de agir, a fim de conformar-se com a vontade de Deus, e não mais viver contrariando-O.
“O tempo está cumprido” significa que todas as providências de Deus necessárias à instalação do Reino já tinham sido tomadas através da historia, e agora , ele se manifestava. O verbo “pregar” (kêrussein) usado por Mateus 4:17 e por Marcos em 1:14 para descrever o desempenho de Jesus, traz a idéia de um mensageiro autorizado, expondo publicamente a verdade que transcende de Deus e que deve ser ouvida e obedecida.
Lucas dá ênfase especial à atuação do Espírito no ministério de Jesus, dizendo que ele regressou à Galiléia, no Poder do Espírito (Lucas 4:14-15). Isto é resultado do que ele relata dizendo que o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpória de pomba na ocasião do batismo (Lucas 3:21-22). Igualmente, Ele estava cheio do Espírito que O guiou no deserto, onde foi tentado(Lucas 4:1).