JESUS CENSURA OS INTÉRPRETES DA LEI
LUCAS 11:45-52
V.45 - Então, respondendo um dos intérpretes da Lei, disse a Jesus: Mestre,
dizendo estas coisas, também nos ofendes a nós outros!
V.46 - Mas ele respondeu: Ai de vós também, intérpretes da Lei! Porque
sobrecarregais os homens com fardos superiores às suas forças, mas vós
mesmos nem com um dedo os tocais.
V.47 - Ai de vós! Porque edificais os túmulos dos profetas que vossos pais
assassinaram.
V.48 - Assim, sois testemunhas e aprovais com cumplicidade as obras dos vossos
pais; porque eles mataram os profetas, e vós lhes edificais os túmulos.
Há vários títulos usados para descrever a função dos escribas no Novo Testamento. Por exemplo, “Nomikos”, ou intérprete da Lei; “Gramatheus”, ou homem versado na Lei de Moisés e nos Escritos Sagrados; “Nomodidaskalos”, mestre ou doutor da Lei, professor que ensinava sobre esses assuntos. Mas, no segundo século A.C. surgiu uma classe de escribas independentes que passou a explicar aspectos particulares da Lei, de pequena significância, sem relação com as Escrituras. Eles contribuíram muito para a interpretação tradicional da Lei, a chamada “Tradição dos Anciãos”.
Foi um desses personagens, que tomou a palavra para dizer que a censura de Jesus aos fariseus ofendia também a eles. Não se pode dizer que ele fosse um fariseu, porque havia escribas ou intérpretes da Lei, de outras seitas do judaísmo, mas ele estava dizendo que toda a classe dos escribas sentia-se atingida por aquelas palavras do Mestre. Provavelmente eles se consideravam acima de qualquer crítica.
A resposta de Jesus àquele interprete da Lei, extensiva a toda a classe que ele representava, começa com a interjeição “Ai de vós” que exprime condenação, sofrimento, dor etc. (cf Zacarias 11:17; Mateus 11:21; 18:7; Apocalipse 18:10). A razão disso é que eles impunham aos homens inúmeros preceitos legais destituídos de motivação concreta, criados para preservar a Lei de violações e para impedir o homem de desobecê-la. É isto que Jesus chama de “fardos superiores às forças humanas”, que eles mesmos não os ajudavam a carregar nem com um dedo, como também não os obedeciam. Em contraste com isso Jesus propõe em Mateus 11:28-30: “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomais sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.
Um segundo “Ai” de Jesus pronunciado contra os intérpretes da Lei é devido à cumplicidade deles com os antepassados que mataram os profetas, porque eles edificavam belas tumbas para os profetas assassinados pelos seus pais. Eles faziam isso para tentar mostrar que estavam do lado dos profetas, mas isto era falsidade. Assim como os profetas foram mortos porque trouxeram a palavra de Deus no passado e foram rejeitados, assim também eles não aceitavam, agora, a palavra trazida pelos profetas vivos e, hipocritamente honravam os profetas mortos.
V.49 - Por isso, também disse a sabedoria de Deus: Enviar-lhes-ei profetas e
apóstolos, e a alguns deles matarão e a outros perseguirão,
V.50 - para que desta geração se peçam contas do sangue dos profetas,
derramado desde a fundação do mundo;
V.51 - desde o sangue de Abel até ao de Zacarias, que foi assassinado entre o
altar e a casa de Deus. Sim, eu vos afirmo, contas serão pedidas a esta
geração.
V.52 - Ai de vós, intérpretes da Lei! Porque tomastes a chave da ciência;
contudo, vós mesmos não entrastes e impedistes os que estavam
entrando.
Jesus é um desses perseguidos por eles, e Ele profetizou pela Sabedoria de Deus, que essa situação iria continuar, como de fato continuou com seus apóstolos e profetas que foram mortos e perseguidos (cf Atos 5:17ss; 7:59-60; 12:1-2; 14:19; 23:12-13; II Timóteo 4:6-8).
Devido à reação daqueles intérpretes da Lei contra os profetas e os apóstolos de Deus, esta geração não podia ser considerada sem culpa, porque ela se alinhava perfeitamente com aquela geração que matou os profetas do passado, dando continuidade à rebelião contra Deus. Esta é a razão por que esta geração presente deve prestar conta do sangue dos profetas, derramado desde a fundação do mundo. Abel, o justo que teve o sangue derramado pelo seu irmão Caim que era do maligno (I João 3:12) é o primeiro mencionado. Depois é mencionado o profeta Zacarias, filho de Joiada, apedrejado no pátio do Templo por ordem do rei Joaz, quando trouxe a palavra de Deus ao rei e este a recusou (II Crônicas 24:20-22).
O último “Ai” pronunciado sobre os intérpretes da Lei refere-se à atitude incoerente que eles assumiam na profissão. Eles professavam ser mestres da Lei para ensinar o povo, mas desprezaram o ensino correto das Escrituras, criando um pacote de regras complicadas para serem entendidas, e obedecidas, o que transformava as Escrituras numa verdadeira caixa de segredos, privilégio dos peritos, que o povo não conseguia compreender e nem obedecer, e que eles mesmos também não conseguiam. A chave do conhecimento é o ensino correto das Escrituras.