JESUS APARECE A MARIA MADALENA
MARCOS 16:9-11 (João 20:11-18)
V.9 - Havendo ele ressuscitado de manhã cedo no primeiro dia da semana,
apareceu primeiro a Maria Madalena, da qual expelira sete demônios.
V.10 - E, partindo ela, foi anunciá-lo àqueles que, tendo sido companheiros de
Jesus, se achavam tristes e choravam.
V.11- Estes, ouvindo que ele vivia e fora visto por ela, não acreditaram.
Quando fixamos a atenção à narrativa de Marcos, apreciando o seu estilo pictórico e jornalístico que descreve de maneira tão vívida e apropriada as cenas movimentadas do ministério de Jesus e caracteriza os conflitos de modo tão envolvente, parece que a narrativa podia terminar simplesmente com a vitória da ressurreição. Mas se isto acontecesse seria uma conclusão muito brusca. Não é sem razão que encontramos, no final deste Evangelho, um trecho que traz um grupo de informações, todas elas ligadas à ressurreição, vista agora como um passo necessário para uma vitória maior, que é o evangelismo universal. A ênfase dada ao encontro na Galiléia mostra o direcionamento do propósito nesse sentido. Foi lá, em território de gentios, que Jesus iniciou a mais longa etapa do seu ministério. É lá também que ele queria apresentar-se vivo e ressurreto a muitos que creram. Mateus 28:16-17 é o registro de que os onze foram para o monte designado da Galiléia, e que o viram e o adoraram, embora alguns tenham duvidado. Era ali que ele queria dar aos discípulos a grande comissão para irem por todas as nações e fazerem discípulos. Isto de fato ocorreu na Galiléia onde, ao que parece, ele apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez, conforme afirmação de Paulo em 1Corintios 15:6. Mas a primeira informação deste trecho final do Evangelho de Marcos vem esclarecer a quem Jesus apareceu primeiro, depois de ressuscitado. Foi a Maria Madalena.
Para compreender melhor a ordem das aparições, tanto às mulheres como aos discípulos, é necessário comparar com atenção os relatos paralelos dos quatro Evangelhos. Em João 20:14-18 o apóstolo relata como foi este grande privilégio que Madalena teve de ver o Cristo ressuscitado, antes de qualquer outro de seus discípulos. Convém lembrar que ela esteve acompanhando a crucificação, a morte e o sepultamento do Mestre com as outras mulheres, comprou aromas com elas e, no domingo de madrugada, acompanhou-as ao sepulcro para cuidar do corpo. Ela o amava muito, porque recebera muito perdão. Mas antes de ver Jesus Maria Madalena já tinha chegado até o túmulo e, vendo a pedra removida, correu para avisar Pedro e João que haviam tirado o corpo do Senhor e não sabia onde o puseram (João 20:1-2). Eles partiram correndo e, entrando no sepulcro, viram os lençóis. E pelas evidências compreenderam que ele havia ressuscitado. Então voltaram para casa. Mas Madalena permaneceu ali e chorava à entrada do sepulcro. Olhando para dentro, viu dois anjos que lhe perguntaram por que chorava. Ela respondeu que haviam levado o Senhor e não sabia onde o puseram. Foi então que Jesus se manifestou. Ela, emocionada, pensou poder segurá-lo. Mas ele, refreando-lhe as emoções disse: “Não me detenhas; porque ainda não subi para meu Pai, mas vai ter com os meus irmãos, e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus” (João 20:17). As outras mulheres já tinham entrado no sepulcro e recebido dos anjos a notícia de que Jesus havia ressuscitado, mas ainda não o haviam visto. Mateus relata que quando elas iam-se retirando para levar aos discípulos o recado para irem à Galiléia, Jesus veio ao encontro delas e lhes disse: Salve! E elas, aproximando-se, abraçaram-lhe os pés e o adoraram. Mas quando deram aos discípulos a notícia de que viram Jesus e que ele estava vivo, os onze e aqueles que com eles estavam, todos eles seus companheiros que ele chama “meus irmãos”, não acreditaram. Antes, acharam que era um delírio das mulheres (Lucas 24:11). Apesar de tudo, foram elas que tiveram a primazia de receber a notícia e de fruir as alegrias da ressurreição, especialmente de ver Jesus ressuscitado. Os apóstolos e os outros discípulos permaneciam temerosos dos judeus e sufocados pela tristeza. Elas o buscaram primeiro. Naquilo que parecia impossível crer, e que para os apóstolos representava um delírio, elas foram auxiliadas pelos anjos e confirmadas pelo Senhor mesmo, tornando-se as primeiras a proclamar a boa nova da ressurreição entre os discípulos.
OBSERVAÇÕES (estas observações devem ser colocadas depois de Marcos 16:9-11 e antes de Marcos 16:12-13)
OBSERVAÇÕES:
1 – Mateus e Marcos informam que, chegando ao Getsêmani, Jesus separou-se dos discípulos, levando Pedro, Tiago e João consigo, para orar à parte (Mateus 26:27; Marcos 14:33). Lucas não entra nesses detalhes, mas há uma passagem no seu evangelho que tem causado muita discussão quanto à sua autenticidade e quanto à verdade do fato. É a que alega que Jesus suou sangue, nos Vs. 43-44 do capitulo 22. Ela não se encontra em muitos dos manuscritos gregos maiúsculos mais antigos, nem nos códices B, A, T, N, W, R. Em outros manuscritos maiúsculos, aparece assinalada com um asterisco, e falta em alguns manuscritos minúsculos e versões. Ainda que nenhum dos Pais da Igreja a rejeitem, Atanásio, Ambrósio e Cyrilo não tratam dessa passagem em seus comentários. Todavia ela tem um forte apoio da tradição (cf. Lagrange, Evangelho de São Lucas, pg. 562, 563-1927).
2 – Mateus, Marcos e Lucas reúnem as negações de Pedro em um só bloco (Mateus 26:69-75; Marcos 14:66-72; Lucas 22:54-62). João detalha-as em dois blocos (João 18:15-18, 25-27). Isto é uma indicação de que Joao foi testemunha ocular dos fatos porque ele entrou na casa do Sumo Sacerdote e levou Pedro em sua companhia.
3 – Mateus, Marcos e Lucas resumem o interrogatório de Anás e Caifás juntamente com outros sacerdotes e escribas e todo o Sinédrio, em um só paragrafo
(Mateus 26:57-68; Marcos 14:53-65; Lucas 22:66-71). João detalha que ele esteve primeiro na casa de Anás (João 18:12-13, 19-23) e este o enviou depois para a casa de Caefás (João 18:24,28). De lá então ele foi encaminhado para o pretório, para ser interrogado por Pilatos (João 18:28-33ss).
4 – Dois fatos são dignos de nota durante o interrogatório de Pilatos: o recado de sua mulher (Mateus 27:19) e a expressão de Pilatos: “Eis o homem” (João 19:5). Este, provavelmente, foi um dos expedientes usados pelo governador para que Jesus não fosse levado à morte. Ele chamou Jesus ao pretório e o apresentou à multidão. O aspecto d’Ele era lastimável, com a aparência de um preso trazendo marcas recentes da tortura que acabara de sofrer, ironicamente vestido com um manto real de púrpura, com uma coroa de espinhos na cabeça e um caniço na mão como se fosse um cetro, era uma grotesca figura de rei. O que Pilatos queria dizer ao povo é: “Este homem acusado de afirmar ser rei dos judeus, não oferece perigo algum” (Mateus 27:37).
5 – o suicídio de Judas é registrado apenas por Mateus que o introduz logo em seguida à sua chegada ao pretório, onde estava Pilatos (Mateus 27:1-2; cf. João 18:33). A tragédia do apostolo traidor deve ter ocorrido logo na manhã seguinte aquela noite em que ele entregou o Mestre (Mateus 26:36, 47, 57; 27:1-2). Assim, Mateus da livre curso ao interrogatório do governador, que aconteceu de manhã cedo.
6 – Lucas registra a profecia de Jesus alusiva à destruição de Jerusalém, proferida diante das mulheres que, no caminho do calvário, lamentavam a Sua sorte (Lucas 23:27-32).
7 – Mateus 27:34 e Marcos 15:23 registram que tentaram dar a Jesus uma bebida entorpecente para aliviar a Sua dor, mas Ele recusou bebe-la. Mas os quatro Evangelhos relatam que Ele bebeu vinagre que Lhe aliviava a secura da boca (Mateus 27:48; Marcos 15:36; Lucas 23:36; João 19:29; cf. Salmo 137:6). O caniço de hissopo é uma alusão ao molho de hissopo usado para marcar com o sangue do cordeiro, a verga e as ombreiras das portas das casas, na primeira pascoa, na saída do Egito, a terra da escravidão e do pecado. O sangue do cordeiro protegia o povo da destruição (Êxodo 12:21-23).
8 – O apostolo João, o discípulos amado registra em 19:26-27 do seu Evangelho que Jesus lhe entregou sua mãe e, dali por diante, ele passou a cuidar dela. Diz a tradição que Maria morreu em Éfeso, e lá foi sepultada, quando João estava como apostolo naquela região.
9 – Mateus 27:62-66 registra, com exclusividade, que os principais sacerdotes e fariseus pediram a Pilatos que autorizasse a guarda do sepulcro, para evitar que os discípulos roubassem o corpo de Jesus, e depois alegassem que Ele havia ressuscitado, e ele os atendeu. Mateus 28:11-15 registra, também com exclusividade, que os principais sacerdotes, depois da ressurreição, subornaram os guardas com grande soma de dinheiro, para dizerem que os discípulos foram, de noite, ao sepulcro e roubaram o corpo, enquanto eles dormiam. E assim eles fizeram.
10 – João registra em 19:23-24 que os soldados repartiram entre si as vestes de Jesus, com exceção da sua túnica, que era uma peça inteiriça sem costuras, a qual foi sorteada para um deles, em cumprimento à profecia do Salmo 22:18. Em 19:31-37 João relata que um dos soldados abriu o Seu lado com uma lança e saiu água e sangue. Todavia não Lhe quebraram as pernas, em cumprimento da profecia de Zacarias 12:10 (cf. Êxodo 12:46; Números 9:12; Salmo 34:20).
11 – Mateus 27:52-53 registra que, no momento da morte de Jesus, abriram-se os sepulcros e muitos corpos dos santos, que dormiam, ressuscitaram; e, saindo dos sepulcros depois da ressureição de Jesus, entraram na cidade santa (Jerusalém) e apareceram a muitos.
12 – Mateus 28:1 fala de Maria Madalena e da outra Maria, que foram ao sepulcro no domingo de manhã bem cedo e, entre várias outras informações, ele diz que Jesus apareceu e falou com elas. Marcos informa que Salomé estava junto com elas (Marcos 16:1) e Lucas fala que as outras mulheres que vieram com ele da Galileia também estavam lá (cf Lucas 23:55 – 24:1,10). Jesus apareceu a todas elas conforme Mateus 28:9.