ALGUNS GREGOS DESEJAM VER JESUS
JOÃO12:20-36
V.20 - Ora, entre os que tinham subido a adorar na festa havia alguns gregos.
V.21 - Estes, pois, dirigiram-se a Felipe, que era de Betsaida da Galiléia, e
rogaram-lhe, dizendo: Senhor, queríamos ver a Jesus.
V.22 - Felipe foi dizê-lo a André, e então André e Felipe foram dizê-lo a Jesus.
V.23 - Respondeu-lhes Jesus: É chegada a hora de ser glorificado o Filho do
homem.
V.24 - Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo caindo na terra não
morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto.
V.25 - Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste mundo odeia a a sua
vida, guardá-la-á para a vida eterna.
V.26 - Se alguém me quiser servir, siga-me; e onde eu estiver, ali estará
também o meu servo; se alguém me servir, o Pai o honrará.
Quando João fala de alguns gregos que queriam ver Jesus, ele não está falando de gregos propriamente ditos, mas de estrangeiros de fala e cultura gregas, como eram costumeiramente chamados. Dentro da própria igreja primitiva havia também judeus helenizados que recebiam o nome de “helenistas”, porque vinham de outros países (Atos 6:1). Aqueles homens tinham vindo para adorar em Jerusalém, durante a Festa da Páscoa. Não é dito que eles fossem prosélitos do judaísmo, ou que eles tivessem sido submetidos à Lei, mas é certo que eles se sentiam atraídos pela religião dos judeus, porque estavam decepcionados com o paganismo. Eles tinham assistido à entrada triunfal de Jesus em Jerusalém e a purificação do Templo, que aconteceu no pátio dos gentios. Eles devem ter ficado muito impressionados com a autoridade de Jesus e com a Sua atitude zelosa e severa. Isto despertou neles uma forte atração pelo Mestre e um profundo desejo de vê-lO.
O apóstolo João não dá informação sobre a entrevista e, nem mesmo, afirma que ela aconteceu. Mas ele diz que os gregos procuraram Filipe, e este recorreu a André, e ambos comunicaram o caso a Jesus. Filipe tinha nome grego e isto pode ter levado aqueles homens a procurá-lo. Mas, não sabendo o que fazer, procurou André, homem de expediente (cf 6:5-11). O Mestre identificou imediatamente a necessidade que os gentios tinham da salvação, com o desejo dos gregos de vê-lO. Mas Ele mostra que isso só aconteceria depois da Sua glorificação, isto é, da Sua morte na cruz. Este é o sentido da parábola do grão de trigo que precisa cair na terra e morrer, para dar muito fruto (V.24). Evidentemente isto se refere à expansão do Evangelho, com o poder do Espírito Santo, que Jesus enviou após a Sua ressurreição, ascensão e glorificação no céu (Atos 1:4,5,8; 2:33). Provavelmente, mais de 50 anos depois destes fatos, quando João escreveu o seu Evangelho, a salvação já tinha chegado plenamente ao mundo gentílico, primeiramente em Antioquia da Síria, depois, na casa de Cornélio em Cesaréia, em torno do ano 40 D.C., e, mais tarde no mundo greco-romano, através de Paulo, com suas viagens missionárias.
No V.25 Jesus adverte que, para herdar a vida eterna, é necessário abandonar a vida deste mundo e que, para servi-lO, é necessário seguí-lO nem que seja até a morte. Só assim o servo será honrado pelo Pai. Isto confere com a vida de Pedro e Paulo, que viveram para Cristo e foram martirizados em Roma em torno de 67-68 D.C., e com a vida de João que, depois de exilado na Ilha de Patmos, morreu em Éfeso, após escrever a sua terceira carta, bem próximo ao último ano do primeiro século.
OBS: A atuação dos apóstolos, levando o Evangelho ao mundo gentílico, é figura da resposta de Deus à intercessão de Filipe e André pelos gregos, no V.20. Isto mostra também, que os fariseus acertaram quando disseram no V.19 “Vede que nada aproveitais! Eis aí vai o mundo após ele”. Parafraseando: “Não adianta nada! Vejam como o mundo vai atrás d’Ele”.
V.27 - Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta
hora? Mas para isto vim para esta hora.
V.28 - Pai, glorifica o teu nome. Veio, então, do céu esta voz: Já o tenho
glorificado, e outra vez o glorificarei.
V.29 - A multidão, pois, que ali estava, e que a ouvira, dizia ter havido um
trovão; outros diziam: Um anjo lhe falou.
V.30 - Respondeu Jesus: Não veio esta voz por minha causa, mas por causa de
vós.
Jesus usou a parábola do grão de trigo, para explicar a necessidade de morrer o grão para produzir muito fruto. Agora, esta parábola se aplica à Sua própria vida, e era muito pesado cumprir a vocação de morrer massacrado pelas mãos de compatriotas, além do mais, Seus inimigos. Então Ele expressou Seu sentimento de angústia, o mesmo que Lhe invadiu a alma, poucos dias depois no Getsemani (cf Marcos 14:33-34). Foi quando Ele avaliou o seu compromisso com a cruz. Humanamente, Ele poderia rogar ao Pai que O livrasse daquele momento, mas Ele estava consciente de que veio exatamente para aquela hora, e não ousava contrariar o Propósito de Deus. Então Ele orou e disse: “Pai, glorifica o teu nome”. Em outras palavras, Ele desejava que o caráter de Deus, isto é, o Seu amor e a Sua misericórdia pelo pecador fossem manifestados pela Sua morte na cruz.
A voz que veio do céu em seguida à oração do Filho dizia: “Eu já o glorifiquei”, isto é, pelas obras que Ele realizara até aquele momento, em termos de milagres, sinais, ensino, pregação e mais: “E ainda o glorificarei”, isto é pela morte e ressurreição do Filho. A multidão reunida ali interpretou a voz do céu, em parte, como um fenômeno natural, um trovão; outros, porém, como se um anjo tivesse falado a Jesus. Estes estavam mais atentos à confiança que acabava de ser confirmada a Jesus. O Mestre, então, lhes explicou que a voz não veio por causa d’Ele, mas por causa da multidão. Ele mesmo tinha intimidade suficiente com Deus, e não precisava de nenhuma manifestação exterior para confirmá-la. Mas a multidão que ouviu a voz estava desafiada a crer ou não crer no Filho do homem (cf 11:42).
V.31 - Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo.
V.32 - E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim mesmo.
V.33 - Isto dizia, significando de que modo havia de morrer.
Confirmado por uma forte consciência desta aprovação celestial, Jesus fez uma declaração de vitória, dizendo que chegou a hora de ser julgado o mundo, e que Seu príncipe (Satanás) será expulso. Ele não cogitava de uma vingança contra seus inimigos terrenos, mas testificava que o poder de Deus afastará as tentativas do inimigo para frustrar o Seu propósito de morrer na cruz (10:14-18). Quando Ele for levantado na terra, ficará evidente o grande amor de Deus pelo mundo, de modo que todo homem de fé será irresistivelmente atraído por Ele (João 316-17). Quando Ele diz: “... atrairei todos a mim mesmo”, a ênfase não está em “todos”, como se todos respondessem ao apelo. O apelo é para todos, mas a resposta depende da fé n’Ele.
V.34 - Respondeu-lhe a multidão: Nós temos ouvido da lei que o Cristo
permanece para sempre; e como dizes tu: Importa que o Filho do homem
seja levantado? Quem é esse Filho do homem?
V.35 - Disse-lhes então Jesus: Ainda por um pouco de tempo a luz está entre
vós. Andai enquanto tendes a luz, para que as trevas não vos apanhem;
pois quem anda nas trevas não sabe para onde vai.
V.36 - Enquanto tendes a luz, crede na luz, para que vos torneis filhos da luz.
Havendo Jesus assim falado, retirou-se e escondeu-se deles.
Como de costume, a multidão, com o coração endurecido, procurou avaliar a reinvindicação Messiânica de Jesus, pelos seus padrões preconcebidos (cf 7:40-43; 10:19-21), sem levar em conta a corajosa devoção à sua causa. Enquanto Ele falava de morrer levantado a uma estaca, eles inferiam de passagens do Velho Testamento, como Ezequiel 37:25, que o Messias, descendente de Davi, viria para reinar eternamente em Israel. Eles imaginavam um Messias que viveria para perpetuar o nacionalismo judeus para sempre, enquanto Jesus afirmava que, com Sua morte, Ele iria muito além daquela visão, atraindo para Si homens de todas as nações, para um reino eterno, não deste mundo. E eles perguntaram: “Quem é esse Filho do homem?”
A discussão não pôde terminar em acordo, devido a divergência de opiniões, de modo que a pergunta da multidão não pôde ser respondida. Mas, com a parábola daquele que anda no escurecer, Jesus enfatiza a necessidade de avaliar cada um a Sua luz, para não ser surpreendido pelas trevas, quando estas caírem sobre ele porque, quem anda em trevas não sabe para onde vai. Mas ainda havia oportunidade de crer na luz (Jesus), enquanto ela estava presente. Assim eles se tornariam filhos da luz. E Jesus, retirando-se, ocultou-se deles.
Com estas palavras, Jesus encerra o Seu ministério público entre os judeus, segundo o Evangelho de João, retirando-se e apartando-se deles. Daí por diante, o livro trata do ministério particular de Jesus com os discípulos, Sua prisão, julgamento, flagelação, crucificação, morte, sepultamento, ressurreição, e o ministério pós-ressurreição.