terça-feira, 13 de janeiro de 2015

ADVERTÊNCIA DE JESUS SOBRE AS DIFICULDADES DO APOSTOLADO

       ADVERTÊNCIA  DE JESUS SOBRE AS DIFICULDADES DO APOSTOLADO
                           MATEUS 16:24-28       (Marcos 8:34-9:1; Lucas 9:23-27).

V.24 – Então disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si
            mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me.
V.25 – Porquanto, quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a
            vida por minha causa, achá-la-á.
V.26 – Pois, que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua
            alma? Ou que dará o homem em troca de sua alma?

Durante o tempo que aqueles discípulos estiveram com Jesus, até o presente momento, eles haviam demonstrado que O respeitavam, que O amavam, que tinham criado afeto por Ele e, agora que tinham chegado a conclusão de quem Ele era, o Messias, tinham maior desejo de continuar a segui-lO. Mas depois da reação reprovável dos discípulos encabeçada por Pedro, diante da informação do Mestre sobre a necessidade dos Seus sofrimentos, como Messias, Ele passou a ensinar-lhes a respeito do custo de uma decisão como esta que eles desejavam tomar. O ensino dirigido tanto aos discípulos quanto aos outros ouvintes que ali se encontravam (V.28; Marcos 8:34), mas também é extensivo a todos quantos tomam ciência destas palavras em todos os tempos. O uso dos pronomes “alguém” (V.24), “quem” (V.25) e do substantivo genérico “homens” (V.26) indica isso. Jesus põe em três termos o custo desta decisão:

1 –“Se alguém quer vir após mim...”. Querer é ato deliberado de vontade.
      ninguém pode seguir, sendo forçado ou induzido por pessoas ou
      circunstâncias. Se alguém não está firme no propósito de segui-lO, será
      como aqueles de Lucas 9:57-62, que tinham outras prioridades na vida.
2 – “...a si mesmo se negue...” Pode parecer que negar-se a si mesmo significa
      deixar de praticar certas cousas para agradar a Deus, tais como “hobbys” e
      outros passa-tempos,cobiça de poder, posição, bens materiais, certas
      comodidades e tantas outras cousas que impedem de servi-lO melhor. Tudo
      é necessário, mas não passará de legalismo, se não for acompanhado de
      uma atitude definitiva e radical. Que atitude é essa? É sair do trono do ego
      que cada um ocupa, e deixar que Deus assuma o comando da vida,
      colocando-se à Sua disposição, para fazer o que Ele manda. Isto significa
      renúncia total e a todo dia (Lucas 9:23; 14:33). Negar-se a si mesmo é o
      oposto do que fez Adão, quando disse “sim” para si mesmo, e “não” para
      Deus.
3 – “...tome a sua cruz...” Jesus faz alusão a um espetáculo bem conhecido dos
      Judeus, o de condenados forçados a carregar suas cruzes até o lugar onde
      Seriam crucificados. Era assim que o governo romano punia criminosos e
      Outros malfeitores. No ministério cristão, todos tem a “sua cruz”, que nem
      Sempre é o martírio, mas todo tipo de dificuldade que cada um tem que
      Enfrentar para desempenhar o seu trabalho.

Certamente, Jesus já estava apontando para o gênero de morte que Ele sofreria (cf João 12:32-33). Segundo a tradição, Pedro foi crucificado em Roma, de cabeça para baixo, e André morreu numa cruz que tinha a forma de X, conhecida como “cruz de Santo André”. Mas a crucificação do cristão pode ser descrita metaforicamente, como faz o apóstolo Paulo em Gálatas 2:19-20 e 6:14-15. Este apóstolo é um exemplo de entrega total, de renúncia, até o dia em que foi condenado à morte, por decapitação em Roma, por ordem de Nero, o Imperador e perseguidor do apóstolo.

4 – “...siga-me...” Seguir Jesus é a ordem para os discípulos que,
      conscientemente, entende eAceita a proposta do Mestre.
     O objetivo e conteúdo da Sua vida é o mesmo
     daquele que o arregimentou, de sorte que Ele possa testemunhar
     juntamente com Paulo que diz: “Estou crucificado com Cristo; logo já não
     sou eu que vive, mas Cristo vive em mim”.

Para entender o V.25 precisamos ter em mente a condição de negar-se a si mesmo, imposta no V.24. A vida vivida antes de negar-se a si mesmo é a vida fútil e egoísta do homem natural ou carnal (cf I Coríntios 2:14; 3:3). Mas a vida verdadeira é aquela que o homem encontra, depois que deixa de viver o tipo de vida que ele quer, e permite que Deus controle todas as sua atividades físicas, mentais e espirituais. Também é necessário entender a particularidade das línguas gregas e semíticas, que não fazem uma perfeita distinção dos conceitos de vida e de alma. A palavra usada por Jesus no V.25, para referir-se a “vida” é a palavra grega “psychë” que também significa “alma”. Assim, o que Ele afirma neste verso é que “quem quiser alcançar a vida verdadeira” deve deixar a vida egoísta ou carnal; e “quem deixar este tipo de vida por causa d’Ele encontrará a verdadeira vida.
Para usar a palavra “alma”, poderíamos parafrasear o V.25 do seguinte modo: “Porquanto, quem quiser ter a sua alma salva, deverá deixar a sua vida egoísta e quem deixar esse tipo de vida por minha causa, terá a sua alma salva”.
Jesus faz uma comparação no V.26, para ilustrar o valor de uma alma: o homem pode arriscar toda a sua vida ao acúmulo de bens materiais e de outras riquezas. Ainda que o montante dos seus recursos alcançassem o valor do mundo todo, chegará um dia em que ele verá que todo o seu esforço não valeu a pena. Esse é o dia do julgamento final, quando o Filho do homem virá na glória do Seu Pai, com os Seus santos anjos, e, então, retribuirá a cada um, segundo as suas obras. Nesse dia ele verá que não é mais possível recuperar a  sua alma. Ele verá também que não há preço que se possa oferecer por seu resgate, a não ser aquele que Jesus pagou com o Seu próprio sangue (I Pedro 1:18-20). Por isso, é necessário ouvir a voz do Espírito enquanto é tempo: “Hoje se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações...” (Hebreus 4:7). O verdadeiro tesouro está no céu, onde é guardado com segurança (Mateus 6:19-21), e, não, aqui na Terra, onde ele será destruído (Tiago 5:1-3).

V.27 – Porquanto o Filho do homem a há de vir na glória de seu Pai, com os
            seus anjos, e então retribuirá a cada um conforme as suas obras.
V.28 – Em verdade vos digo que alguns aqui se encontram que de maneira
            nenhuma passarão pela morte até que vejam vir o Filho do homem no
            seu reino.

O V.27 é um estímulo aos que querem seguir Jesus, que se negam a si mesmos, tomam a sua cruz e, assim, cooperam no serviço do reino. Ao mesmo tempo é uma advertência aos que rejeitam a Sua proposta, e continuam a viver para si mesmos. Marcos 8:38 e Lucas 9:26 falam dessa rejeição em termos morais, como envergonhar-se de Jesus e das Suas Palavras. Mas o resultado é o mesmo, porque Jesus também se envergonhará deles na presença do Pai e dos santos anjos. Assim, serão rejeitados, tanto os que viveram para si mesmos, como os que se envergonharam d’Ele e das Suas palavras. Este versículo está falando do julgamento no Juízo Final, o que se pode perceber pelas passagens paralelas de Mateus 25:31-46 e de II Coríntios 5:10. Mas o V.28 fala da implantação do reino, aqui na Terra. Os três Evangelhos Sinóticos falam sobre este evento, de modo semelhante, mas Marcos dá uma informação a mais, dizendo que o reino de Deus chegaria com poder (9:1). O fato de alguns dos ouvintes presentes estarem vivos quando dá chegada do reino, descarta a possibilidade de uma interpretação escatológica desse fato.
Restam duas possibilidades de interpretação para isto:

 1 – A descido do Espírito Santo, em que Pentecoste veio com poder (Atos 1:8),
       quando a igreja foi estabelecida com toda a Sobrenaturalidade descrita em
       Atos, capítulo 2, e com o seu crescimento descrito no restante deste livro.
2 – A destruição de Jerusalém no ano 70 da nossa era, quando o Estado Judeu
       foi destruído e cessou a perseguição por parte dos judeus, e a igreja teve
       um período de grande desenvolvimento dentro do Império Romano.

A interpretação mais provável é a primeira.