sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

A PARÁBOLA DOS TALENTOS

                                                                    A PARÁBOLA DOS TALENTOS
                                                                     MATEUS 25:14-30

V.14 - Pois será como um homem que, ausentando-se do país, chamou os seus 
           servos e lhes confiou os seus bens.
V.15 - A um deu cinco talentos, a outro, dois e a outro, um, a cada um segundo
          a sua própria capacidade; e, então, partiu.
V.16 - O que recebera cinco talentos saiu imediatamente a negociar com eles e ganhou                  outros cinco.
V.17 - Do mesmo modo, o que recebera dois ganhou outros dois.
V.18 - Mas o que recebera um, saindo, abriu uma cova e escondeu o dinheiro do seu                      senhor.

Esta parábola continua tratando do tema da vigilância, mas enfatiza que, ao lado dela, as atividades de um servo do Senhor são muito importantes. O servo bom e fiel é prudente e usa o seu tempo inteligentemente a serviço de Deus. Ela tem semelhança com a parábola das minas de Lucas 19:11-27, mas cada uma tem suas particularidades, de modo que não podem ser consideradas como uma só. O fato de Jesus usar a figura de talentos para significar as habilidades que cada um recebe para usar na vida foi que consagrou essa palavra “talento” para identificar essas capacidades, como nós a usamos hoje. Mas, para os judeus, não tinha esse sentido. Para eles, o talento representava um volume muito grande de dinheiro, que correspondia a pesos de metais, como ouro, prata ou cobre.
É impossível encontrar um termo de comparação monetária para atualizar esses valores. Mas a ideia é que envolve grandes quantias. Por exemplo, cinco talentos valiam trinta mil dracmas ou denários, e estes dois últimos eram o salário de um trabalhador contratado por um dia de serviço. Hoje, no Brasil, no ano de 2014, corresponderia a R$ 3.000.000,00 (três milhões de Reais), considerando o salário de R$ 100,00 (cem Reais) por dia, de um trabalhador comum. Dois talentos corresponderiam a R$ 1.200.000,00 (Hum milhão e duzentos mil Reais).
A parábola fala de talentos ou de habilidades de um modo geral. Mas, no tocante ao seu uso na igreja, considerando os altos valores envolvidos, entende-se que eles representam a grande responsabilidade daqueles que os recebem, e o grande valor que Cristo atribui à igreja, comparada aos sete candeeiros de ouro em Apocalipse 1:20. Muitos membros do corpo têm habilidade, ou talento, para exercer atividades seculares, por exemplo, na indústria, na agricultura, na pecuária etc. e devem aplicar esses talentos em benefício do reino de Deus, para sustento das atividades da igreja.
A parábola gira em torno de um homem que, antes de ausentar-se do país, distribuiu talentos a três servos, em quantidades diferentes, cinco, dois e um, dependendo da capacidade e cada um. Estes três servos representam os diferentes tipos de servos daquele homem que se ausentou. Na ausência do senhor, os dois primeiros saíram a negociar e dobraram os seus talentos. O verbo “ganhar” usado nos Vs.16 e 17 é o mesmo usado para “ganhar para Cristo” em 18:15 (cf I Coríntios 9:9-22). O que recebeu um talento usou uma prática muito comum naquele tempo, que era enterrar o dinheiro “moedas” para evitar roubo de ladrões.

V.19 - Depois de muito tempo, voltou o senhor daqueles servos e ajustou contas com eles.
V.20 - Então, aproximando-se o que recebera cinco talentos, entregou outros
          cinco, dizendo: Senhor, confiaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos                 que ganhei.
V.21 - Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre
          o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.
V.22 - E, aproximando-se também o que recebera dois talentos, disse: Senhor,
          dois talentos me confiaste; aqui tens outros dois que ganhei.
V.23 - Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre
          o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor.

O prolongado período de ausência daquele proprietário significa a demora da chegada do Senhor Jesus na Sua “parousia” (cf 24:48; 25:5; II Pedro 3:4). Mas esta era também a ocasião da prestação de contas, em que cada um deveria apresentar os seus resultados. Os primeiros, que dobraram seus talentos, foram elogiados por serem bons e fieis, foram promovidos para maiores responsabilidades e honras na vida porvir, e vão participar da alegria do seu senhor, no mundo de glória (cf V.34; Romanos 8:17-18; Colossenses 3:4; I João 3:2).

V.24 - Chegando, por fim, o que recebera um talento, disse: Senhor, sabendo que
          és homem severo, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste,
V.25 - receoso, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu.
V.26 - Respondeu-lhe, porém, o senhor: Servo mau e negligente, sabias que ceifo
          onde não semeei e ajunto onde não espalhei?
V.27 - Cumpria, portanto, que entregasses o meu dinheiro aos banqueiros, e eu,
          ao voltar, receberia com juros o que é meu.
V.28 - Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem dez.

A parábola chama à atenção para o terceiro servo que acusou o seu senhor de ser muito severo, muito exigente e, de medo de perder o talento e de não poder prestar contas ao senhor, enterrou-o para então devolvê-lo. Mas o senhor o censurou com palavras contrárias às que dissera aos outros dois: “Servo mau e negligente”, e refutou as acusações com as mesmas palavras com que ele justificou a sua atitude, e acrescentou: “já que você imaginava que eu sou assim, você devia ter dado aos banqueiros o meu dinheiro, e eu receberia com juros o que é meu”. Por esconder o seu talento, ele acabou perdendo-o. E, por ter sido inativo, o seu talento foi repassado ao servo que tinha mais expediente. Embora não fosse permitido pela Lei cobrar juros dos irmãos judeus, isto era permitido com estrangeiros (Deuteronômio 23:19-20). Deve-se observar que, nos tempos bíblicos, as taxas de juros eram muito mais elevadas que as atuais.

V.29 - Porque a todo o que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas ao que
          não tem, até o que tem lhe será tirado.
V.30 - E o servo inútil, lançai-o para fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes.

O resumo da parábola, no V.29, repete o princípio anunciado em 13:12 (cf Lucas 19:26). Esta parábola enfatiza o princípio moral, segundo o qual, o que não é usado é perdido, e exorta contra a indiferença e a preguiça. O servo que recebeu um talento demonstrou que não amava o seu senhor, caso contrário, ele teria procurado servi-lo. Ele tentou salvar a própria vida e acabou perdendo-a. ao invés de entrar na alegria do seu senhor, ele foi lançado nas trevas, o que significa ser rejeitado e mandado para o geena, onde os homens choram e rangem os dentes, por causa do tormento que sofrem.
Além do princípio fundamental enunciado no V.29, a parábola traz ainda muitos outros ensinos:

1 – Os dons de Deus, ou talentos, são distribuídos levando em conta a responsabilidade de cada um e a habilidade para utilizá-los.
2 – Os dons de Deus não são comparáveis ao dinheiro que se multiplica por meio de transações comerciais, mas são como sementes que caem em terra apropriada, germinam, crescem e produzem fruto.
3 – Não é importante a quantidade de dons recebidos e, sim, a fidelidade no uso dos mesmos. Os dois primeiros servos que receberam quantidades diferentes, foram dignos do mesmo louvor da parte do senhor.
4 – A recompensa pela fidelidade no serviço é uma maior oportunidade de servir, porque a fidelidade no pouco leva à promoção para o serviço no muito.
5 – A fidelidade no serviço resulta na participação da alegria do senhor, isto é, em tomar parte da glória do Senhor na Sua “parousia” (Romanos 8:18; Colossenses 3:4).
6 – A parábola foi dirigida aos discípulos, tendo como pano de fundo a atuação religiosa dos escribas e fariseus, indiciados pela má administração das cousas de Deus a eles confiadas. Ela ilustra a maneira como Cristo vai tratar com os Seus seguidores de modo geral, na Sua vinda. A intenção é ensinar que aqueles que desenvolvem bem os seus talentos para a própria salvação, ou em benefício de outros, serão recompensados na proporção do seu desempenho. Mas os que negligenciarem o seu talento e não o desenvolverem, serão punidos.
7 – Na comparação desta parábola com a parábola das minas (Lucas 19:1-27), vê-se que o ensino tem implicação escatológica, pela glorificação dos servos fieis, pela condenação final do servo inútil e pela execução sumária dos inimigos de Jesus (cp Mateus 25:30 e Lucas 19:27).