segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A ORAÇÃO DO PAI NOSSO

                                              A ORAÇÃO DO PAI NOSSO
                                          LUCAS 11:1-4      (Mateus 6:9-15)

Esta oração ensinada por Jesus, conforme registrada por Mateus, encontra-se no contexto do ensino geral sobre a oração em que, depois de falar de certos vícios praticados inclusive pelos gentios, Ele dá um modelo para os discípulos usarem em suas devoções. Para melhor compreensão consulte os títulos seguintes: COMO SE DEVE ORAR (Mateus 6:5-8) e O MODELO DE ORAÇÃO (Mateus 6:9-15).

V. 1 – De uma feita estava Jesus orando em certo lugar; quando terminou um
         dos seus discípulos lhe pediu: Senhor, ensina-nos a orar como também
         João ensinou aos seus discípulos.
V. 2 – Então os ensinou. Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome;
          venha o teu reino;
V. 3 – o pão nosso cotidiano dá-nos de dia em dia;
V. 4 – perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo o que
         nos deve. E não nos deixes cair em tentação.

Embora esta passagem de Lucas não venha relacionada com o contexto anterior, como acontece com a passagem paralela de Mateus, ela é relacionada com a parábola do amigo importuno, que vem em seguida (11:5-8) e com o incentivo à oração (11:9-13), que mostram a disposição de Deus atender aos pedidos de seus filhos.
Que Jesus era homem de oração, fica claro pela intenção de Marcos registrar, logo no início do seu Evangelho, que Ele se levantou “alta madrugada” e retirou-se para um lugar deserto a fim de orar (1:35). Lucas também mostra isso em várias ocasiões (3:21; 5:16; 6:12; 9:18,28,29; 22:41,44). Certa vez, um dos seus discípulos, depois de observar como Ele orava, pediu-Lhe que os ensinasse a orar. Naqueles dias, era costume dos rabis e de outros guias religiosos ensinarem seus discípulos orar, como João Batista fazia. Realmente, eles precisavam, como nós, ainda hoje, de uma orientação sobre como dirigir a Deus as nossas orações. Então Jesus lhes deu um modelo que pode ser usado, mas não com a intenção de fazer dele uma forma fixa, como se fosse uma regra para ser decorada e repetida constantemente.
Enquanto Mateus dá um exemplo de oração mais desenvolvido, Lucas dá um esboço mais simples, que os discípulos podem desenvolver conforme suas necessidades.
Ao orar, os discípulos devem dirigir-se a Deus, chamando-O de Pai. Isto enfatiza a relação de proximidade que Jesus estabelece entre seus discípulos e Deus, por meio do Espírito Santo (cf Romanos 8:15; Gálatas 4:6). Mateus mostra que a oração pode ser feita em sentido comunitário, usando a expressão “Pai nosso”, e também acrescenta “que estas nos céus”.
“...santificado seja o teu nome...” tem um significado muito profundo. O nome de Deus significa a totalidade do Seu ser, incluindo o Seu caráter e tudo o que se conhece a revelação que Ele dá de Si mesmo. O Seu nome deve ser respeitado e usado com reverência e temor. Esta cláusula diz respeito a muito mais do que pronunciar o nome de Deus até mesmo em oração, e deve levar o discípulo a uma atitude correta diante d’Ele, considerando quem Ele é. A oração deve ser entendida como que Deus santificará o Seu nome. Isto Ele vai fazer efetivamente (Ezequiel 39:7; Apocalipse 4:8). O que se entende com isto, é que Deus é Deus soberano e não pode ser reduzido à condição de um objeto manipulável na mão do homem. É Ele mesmo se santifica, e não é o homem que deve santificá-lo.
“...venha o teu reino...”
A respeito da vinda do reino de Deus, devemos considerar os seguintes aspectos:

1 – Jesus deu início ao Seu ministério, anunciando a chegada do reino de Deus
      (Marcos 1:14-15). A presença de Jesus, a pregação do Evangelho, a
      oportunidade oferecida de arrependimento e a fé na Sua palavra, ou nas
      suas promessas são os fatores que garantem a entrada imediata nele.
      assim, o reino está presente, aqui e agora, para todos aqueles que se
      sujeitarem a Deus e aceitarem as suas condições para entrar nele
     (cf 17:20-21; Mateus 11:12).

2 – Um outro aspecto da chegada do reino de Deus é visto nas palavras de Jesus
      em 9:27, que prometem que isto aconteceria ainda na geração presente
      daquela época. Marcos acrescenta que isto aconteceria “com poder” (9:1).
      isto aconteceu no dia de Pentecoste (Atos 2). De lá para cá, a igreja é
      representante do reino nesta Terra (Hebreus 12:28; I Pedro 2:9;
      Apocalipse 1:6,9).

3 – Mas a um aspecto que mostra a implantação definitiva do reino de Deus.
      É que a Sua vontade deverá ser feita em todo o mundo. Mateus diz: “ Faça-se
      (seja feita) a tua vontade, assim na terra, como no céu” (6:10). Enquanto
      isto não acontece, devemos continuar orando por isso, porque, tanto o
      Evangelho de Mateus, como o de Lucas, foram escritos depois de Pentecoste.
      até lá, devemos aguardar com paciência, vivendo em santo procedimento,
      para apressar a vinda desse dia (II Pedro 3:8-13; Apocalipse 11:15).

“o pão nosso cotidiano dá-nos de dia em dia”, refere-se à provisão necessária para o dia de amanhã, possivelmente, incluindo o dia de hoje, mas nunca um acúmulo de previsões de que nos levem a esquecer de Deus. O sentido desta petição é que devemos estar conscientes de que dependemos de Deus diariamente. é oportuno lembrar que o maná no deserto caía a cada dia, e a porção a ser recolhida também era para cada dia, tão somente. Apenas na sexta feira era permitido colher o dobro, porque no sábado ele não caía. O que fosse colhido a mais apodrecia e não podia ser aproveitado (Êxodo 16:4-6, 16-21). É assim que deve ser entendida a nossa dependência de Deus: Diariamente e continuamente, com moderação (I Timóteo 6:8).
Muitos espiritualizam esta passagem, dizendo que o pão de cada dia é Cristo, ou a Palavra de Cristo, que é o nosso alimento espiritual. Mas isto já está à nossa disposição e nós precisamos usar essa oportunidade (João 6:56-57; Romanos 10:8-9; Tiago 1:21; I Pedro 2:1-3.
“Perdoa-nos nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo o que nos deve”, esta é uma súplica que será atendida sob a condição de contrição (arrependimento) e sob a condição de se perdoar a todo o que comete pecado contra nós. Mateus registra em 6:15 este oráculo de Jesus: “se não perdoardes aos homens [as suas ofensas], tão pouco vosso Pai perdoará as vossas ofensas. Isto não significa uma barganha com Deus em termos de troca de perdão, mas é um requisito da justa administração da economia de Deus e uma resposta à iniciativa de Deus perdoar os nossos pecados, e de nos reconciliar com Ele (Romanos 5:1,8-10).
As palavras dívida, ofensa e pecado, usadas por Mateus e Lucas nestas passagens são sinônimos e têm todas o mesmo significado de pecado.
“E não nos deixes cair em tentação”, esta é uma súplica devida à fragilidade humana. É um pedido do auxílio de Deus para podermos sair da tentação sem prejuízo (I Coríntios 10:13). Ser tentado não é pecado. Pecado é ceder àtentação. Isto pode acontecer com qualquer um. Gálatas 6:1 fala do tratamento que se deve dar a um irmão que foi surpreendido por alguma falta (por um tropeço), e exorta aos que forem aconselhá-lo a ficarem prevenidos porque uma tentação pode levar qualquer um a tropeçar. A palavra usada por Lucas, como também por Mateus, traduzida por tentação é “peirasmos” do grego. Ela significa também “provação”. Provação pode vir de Deus (cf II Crônicas 32:31). Mas a tentação não provém de Deus, porque Deus a ninguém tenta. Mateus esclarece bem este assunto, quando acrescenta: “...mas livra-nos do mal”, pois o livramento vem de Deus. A palavra “mal” usada aqui é tradução de “ponerós”, do grego, que tanto pode significar a “obra maligna”, como o próprio “maligno”.