A CURA DO SERVO DE UM CENTURIÃO
LUCAS 7:1-10 (Mateus 8:5-13)
V.1 – Tendo Jesus concluído todas as suas palavras dirigidas ao povo, entrou em
Cafarnaum.
V.2 – E o servo de um centurião, a quem este muito estimava, estava doente,
quase à morte.
V.3 – Tendo ouvido falar a respeito de Jesus, enviou-lhe alguns anciãos dos
judeus, pedindo-lhe que viesse curar o seu servo.
Este episódio da cura do servo de um centurião é narrado também por Mateus, depois da conclusão do Sermão da Montanha, logo em seguida à cura de um leproso. O fato aconteceu em Cafarnaum.
O servo descrito no verso 2 e em Mateus 8:6 era um rapaz a quem o centurião amava como se fosse seu próprio filho. O seu afeto e cuidado por ele podem ser medidos pelas suas palavras registradas por Mateus, implorando:“O meu criado jaz em casa, de cama, paralítico, sofrendo horrivelmente”, e por Lucas: “a quem este muito estimava, estava doente, quase à morte”.
O que se observa é que este centurião tinha nobres sentimentos, como, aliás, todos os outros centuriões mencionados no Novo Testamento (cf Marcos 15:39; Atos 10:1-2; 27:42-43). Eles eram militares aposentados do exército romano, que, por terem exercido com eficiência o seu trabalho, eram conservados em postos especiais dentro do império, por serem dignos de confiança.
O verso 3 leva a crer que o centurião já tinha conhecimento de Jesus e, portanto sabia do que Ele era capaz. A sua decisão de mandar chamar o Mestre e a expectativa do milagre já antecipam a sua fé elogiada depois, pelo Senhor. Os anciãos que ele enviou podem ter sido pessoas representativas dos judeus da cidade, incluindo o chefe da sinagoga de Cafarnaum, onde ele era muito bem relacionado. Estes homens constituíam uma embaixada que o representava. Mateus informa que ele se apresentou pessoalmente a Jesus, para pedir a cura do servo. Lucas, porém, diz que ele enviou alguns anciãos dos judeus, pedindo que Jesus fosse curá-lo. O fato de Mateus dizer que ele foi ter com Jesus pessoalmente, e de Lucas dizer que ele se fez representar por uma embaixada, não implica em contradição, porque é comum alguém fazer-se representar por outra pessoa autorizada, como no caso de um procurador. Enquanto Lucas fala da embaixada, Mateus focaliza a pessoa representada, isto é, o centurião. Ao que parece, a humildade e o respeito do centurião não lhe permitiram chegar pessoalmente a Jesus.
V.4 – Estes, chegando-se a Jesus, com insistência lhe suplicaram, dizendo:
ele é digno de que lhe faças isto;
V.5 – porque é amigo do nosso povo, e ele mesmo nos edificou a sinagoga.
A súplica insistente daqueles embaixadores e as referencias que eles deram daquele centurião atestam o alto conceito em que ele era tido entre os judeus. O fato de ser amigo do povo e de ter ele mesmo edificado a sinagoga, provavelmente com seus próprios recursos e com o auxílio dos seus subalternos, levam a entender que ele tinha respeito pelas crenças judaicas e que estava convencido de que o verdadeiro Deus era o Deus de Israel. O zelo e o rigor dos seus amigos judeus por obedecerem à Lei também devem tê-lo influenciado neste sentido, uma vez que as religiões pagãs eram flácidas e muitas vezes imorais. Tudo isto faz pensar que aquele homemestivesse a um passo de tornar-se prosélito do judaísmo.
V.6 – Então Jesus foi com eles. E já perto da casa, o centurião enviou-lhe
amigos para lhe dizer: Senhor, não te incomodes, porque não sou digno
de que entres em minha casa.
V.7 – Por isso eu mesmo não me julguei digno de ir ter contigo; porém manda
com uma palavra, e o meu rapaz será curado.
Diante da insistência daqueles judeus e das informações a respeito do centurião, Jesus decidiu ir com eles. Mas o centurião, conhecendo o costume dos judeus de não entrar em casa de gentios, e não querendo forçar Jesus a tal constrangimento, mandou outros amigos para pedirem que Ele não fosse lá, pois ele não se julgava digno de recebê-lo e de hospedá-lo, nem por um momento. Também ele não se julgava digno de chegar até a Sua presença. É claro que Jesus não estava sujeito a tais preconceitos (cf João 4:40). Mas Ele não foi por causa da atitude daquele centurião que lhe mandou este recado: “... manda com uma palavra, e o meu rapaz será curado”.
V.8 – Porque também eu sou homem sujeito à autoridade, e tenho soldados às
minhas ordens, e digo a este: Vai e ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e
ao meu servo: Faze isto, e ele faz.
V.9 – Ouvidas estas palavras, admirou-se Jesus dele e, voltando-se para o povo
que o acompanhava disse: Afirmo-vos que nem mesmo em Israel achei fé
fé como esta.
V.10 – E, voltando para casa os que foram enviados, encontraram curado o
servo.
As palavras do centurião no verso 8 mostram o elevado grau da fé daquele homem. Conhecendo a autoridade e a disciplina na hierarquia militar da qual ele participava, onde um recebe ordens do superior e as transmite para serem obedecidas e executadas pelos subalternos e, conhecendo Jesus pelo que ele já ouvira a seu respeito, ele sabia que Jesus tinha autoridade para ordenar sobre tudo o que diz respeito às cousas sobrenaturais da vida. Por isto ele não precisava ir até a sua casa. Bastava ordenar com uma palavra.
O elogio de Jesus à fé daquele homem, conforme a Sua afirmação no verso 9, traz uma importante revelação: É que Ele procura ou quer “achar” pessoas com fé como a daquele homem. Em João 4:23 Jesus disse à samaritana que o Pai procura verdadeiros adoradores que O adorem em espírito e em verdade. Deus faz isso por meio de Seu Filho Jesus, o Messias (João 4:26). Aquele centurião estava pronto para adorar a Deus em espírito e em verdade.
É necessário prestar atenção ao simbolismo que envolve esta cura: Jesus curou à distância, com a palavra, dois gentios: este rapaz e a filha da mulher cananéia (Mateus 15:21-28). Este é um prenúncio da atuação missionária da igreja posteriormente, quando os gentios começaram a ser salvos por meio da fé na Palavra, sem a presença física de Cristo (cf Atos 10:1-48; 11:13-14). É assim que a igreja opera até hoje.
Em Mateus 8:11 o evangelista relata a alusão que Jesus faz à chamada dos gentios e à entrada deles no reino dos céus, por meio da parábola do banquete Messiânico (cf Atos 10:34,35; 15:12-18; Efésios 2:11-13; 3:6). No verso 12 Mateus relata como Jesus se refere à rejeição de Israel por falta de fé (Mateus 21:43; romanos 9:30-32).
A conclusão dos dois Evangelhos é que o servo do centurião foi curado por causa da fé daquele homem. Isto mostra a importância da intercessão do cristão a favor de outras pessoas, seja para a cura física ou para a salvação.