terça-feira, 13 de janeiro de 2015

A CURA DE UM JOVEM POSSESSO

                                          A CURA DE UM JOVEM POSSESSO
                       MARCOS 9:14-29        (Mateus 17:14-21; Lucas 9:37-43a)

V.14 – Quando eles se aproximaram dos discípulos, viram numerosa multidão
            ao redor, e que os escribas discutiam com eles.
V.15 – E logo toda a multidão ao ver Jesus, tomada de surpresa, correu para ele,
            e o saldava.
V.16 – Então ele interpelou os escribas: Que é que discutíeis com eles?

Os fatos registrados neste parágrafo ocorreram quando Jesus e três dos Seus discípulos, Pedro, Tiago e João tinham acabado de descer do monte, no dia seguinte à transfiguração. A riqueza de detalhes oferecida por Marcos em seu relato diferencia-o dos outros dois Sinóticos e faz pensar na presença de Pedro, naquele episódio que ele relembrava nas suas pregações em Roma.
O clima ao pé do morro não era o mesmo de paz e tranquilidade lá do alto da montanha. Em meio à multidão, os outros nove discípulos estavam envolvidos em uma discussão com os escribas. Jesus, certamente, percebeu que eles estavam em dificuldade e, por isso, interpelou os escribas, perguntando-lhes o motivo da discussão. Enquanto isso, a multidão, vendo Jesus, correu para Ele surpresa, pois não O esperava e, com alegria, O saldava.

V.17 – E um, dentre a multidão, respondeu: Mestre, trouxe-te o meu filho,
            possesso de um espírito mudo;
V.18 – e este, onde quer que o apanha, lança-o por terra e ele espuma, rilha
            os dentes e vai definhando. Roguei a teus discípulos que o expelissem, e
            eles não puderam.

A resposta da pergunta feita aos escribas veio de um homem desesperado que se chegou a Jesus, clamando em alta voz, implorando de joelhos, que curasse o seu filho único, pois ele tinha-o apresentado aos discípulos, mas eles não mostraram poder para curá-lo. Com certeza, os escribas estavam aproveitando o fato, para questionar a autoridade dos discípulos e, obviamente, do seu Mestre.
Marcos afirma que o moço era possesso de um espírito mudo, mas descreve-o com sintomas de epilepsia. Mateus descreve-o como lunático, que significa o mesmo que epilético. Lucas descreve-o semelhantemente a Marcos mas diz que ele era possesso de um espírito, adicionando que este o fazia gritar. O V.22 de Marcos sugere que se tratava de um espírito suicida que o queria matar.

V.19 – Então Jesus lhes disse: Ó geração incrédula! Até quando estarei convosco?
            até quando vos sofrerei? Trazei-mo.
V.20 – E trouxeram-lho; quando ele viu a Jesus, o espírito imediatamente o
            agitou com violência, e, caindo ele por terra, revolvia-se espumando.

A reação de Jesus diante da inépcia dos discípulos foi uma repreensão severa. Naquele treinamento missionário, eles haviam recebido autoridade sobre espíritos imundo (6:7) e para curar enfermos, o que eles realmente fizeram (6:12-13), mas agora fracassaram por falta de fé. Isto, de certo modo, sugere a queixa de Deus contra o povo de Israel no deserto, registrada no Salmo 95, V.5.
Atendendo à ordem de Jesus, trouxeram-Lhe o rapaz. Quando ele viu Jesus, o espírito manifestou-se com violência, derrubando-o no chão e fazendo-o revolver-se e espumar a boca.

V.21 – Perguntou Jesus ao pai do menino: Há quanto tempo isto lhe sucede?
           desde a infância, respondeu:
V.22 – e muitas vezes o tem lançado no fogo e na água, para o matar; mas, se
           tu podes alguma cousa, tem compaixão de nós, e ajuda-nos.
V.23 – Ao que lhe respondeu Jesus: Se podes! Tudo é possível ao que crê!
V.24 – E imediatamente o pai do menino exclamou [com lágrimas]: Eu creio,
           ajuda-me na minha falta de fé.

Em resposta à pergunta de Jesus, o pai informou que o filho sofria esses ataques desde a infância e, também, que muitas vezes o espírito o induzia à tentativa de suicídio por meio do fogo e da água. Mostrando uma atitude tipicamente humana naquela hora de desespero, aquele homem demonstrou uma fé vacilante no poder de Jesus, pois os Seus discípulos tinham fracassado. Mas o objeto da fé não deve ser os discípulos, e, sim, o Senhor. Por isso Ele estimulou a fé daquele pai aflito que buscava a Sua misericórdia, dizendo: “Se podes! Tudo é possível ao que crê!” Com a fé fortalecida, humildemente ele exclamou: “Eu creio, ajuda-me na minha falta de fé”.

V.25 – Vendo Jesus que a multidão concorria, repreendeu o espírito imundo,
            dizendo-lhe: Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: Sai deste jovem e
            nunca mais tornes a ele.
V.26 – E ele, clamando agitando-o muito, saiu, deixando-o como se estivesse
            morto, ao ponto de muitos dizerem: Morreu.
V.27 – Mas Jesus, tomando-o pela mão, o ergueu, e ele se levantou.

Durante o diálogo de Jesus com aquele homem, o moço continuava agitado pelo espírito maligno. Mas, isto Jesus não queria. Vendo também que a multidão concorria para Ele, por causa da discussão dos escribas com os discípulos, Jesus repreendeu o demônio “mudo e surdo” que saiu dele para nunca mais voltar (Mateus 17:18). A saída desse espírito foi marcada por forte antagonismo a Jesus. Ele saiu gritando, agitou muito o jovem e deixou-o como se estivesse morto. Então Jesus o tomou pela mão, levantou-o e o entregou a seu pai.

V.28 – Quando entrou em casa, os seus discípulos lhe perguntaram em
            particular: Por que não pudemos nós expulsá-lo?
V.29 – Respondeu-lhes: Esta casta não pode sair senão por meio de oração
            [e jejum].

A pergunta dos discípulos no V.29 é resultado da frustração que resultou da falta de poder para tratar com aquele demônio. A resposta de Jesus foi objetiva e breve. Faltava aos discípulos a suficiente comunhão com Deus, através da oração. Lucas sempre tem a preocupação de mostrar Jesus como modelo de homem de oração, através do seu Evangelho (Lucas 3:21b; 6:12; 9:28-29; 11:1ss; 22:32,41). Embora Marcos faça menos referências de Jesus em oração, ele mostra a importância deste ato para o ministério e para a vida do Mestre (Marcos 1:35; 6:46; 14:32,35,39).
Quando a palavra “jejum” aparece entre colchetes no V.29 do texto em estudo, assim como todo o V.21 de Mateus 17, isto significa que se trata de uma adição feita ao texto original destes Evangelhos. Ao que parece, estas adições foram feitas por escribas da igreja primitiva para chamar a atenção dos leitores para a necessidade de consagração a Deus, a fim de que os discípulos exerçam os seus ministérios com maior devoção. Jesus jejuou e orou quarenta dias no deserto, antes dedicar-se a Sua obra. Ele também afirmou que os Seus discípulos iriam jejuar, quando ele fosse tirado do seu convívio. Isto se explica pela importância que os judeus e a igreja primitiva davam à prática da oração e do jejum, para a vida de comunhão com Deus. E nós não devemos negligenciá-la, ainda hoje. É um estímulo para nós, observar quanto o apóstolo Paulo se dedicou à oração e ao jejum (II Coríntios 11:27) e quantas vezes nas suas cartas ele afirma que orava e pedia as orações dos irmãos a seu favor.
Uma observação interessante neste episódio da cura do jovem possesso é que os olhares dos escribas, da multidão e do pai do menino caíram sobre os discípulos e suas imperfeições, ao invés de se voltarem para o Mestre. O direcionamento correto é olhar para Jesus, porque Ele é o espelho que mostra como nós somos. Só depois disto estamos aptos a nos comparar com os discípulos, para reconhecermos as nossas falhas e limitações.