JESUS ENVIA OUTROS SETENTA
LUCAS 10:1-12
V. 1 –Depois disto o senhor designou outros setenta; e os enviou de dois em
dois, para que o precedessem em cada cidade e lugar aonde ele estava
Para ir.
Este episódio é narrado apenas no Evangelho de Lucas. Os enviados em questão eram discípulos verdadeiros, em contraste com os referidos no parágrafo anterior (9:57-62), que ainda não se haviam definidos. Portanto, Jesus escolheu estes setenta e os “designou” para irem pregar nas cidades em que Ele estava para ir. Eles estavam sendo postos em um treinamento importante e integrante do esquema do discipulado. O aprendizado dos discípulos incluía a pregação. A flexão verbal “designou”, usada nesta passagem, corresponde ao verbo “anadeiknumi”, do Grego, que significa mostrar publicamente a nomeação de alguém para um determinado cargo. Isto significa que Jesus tinha motivos para escolher aqueles setenta dentre os outros discípulos. Este mesmo verbo é usado em Atos 1:24.
Quanto ao número “setenta”, parece ser uma alusão ao número de anciãos ungidos pelo Espírito Santo, que Deus autorizou Moisés a nomear para o auxiliarem na condução do povo, conforme Números 11:16-17. Mas alguns manuscritos apontam o número setenta e dois. Ao que parece, é para incluir outros dois, que estavam no arraial, e também receberam o Espírito Santo (Números 11:26).
V. 2 – E lhes fez a seguinte advertência: A seara é grande, mas os trabalhadores
são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores
para sua seara.
Em vista do pequeno número de trabalhadores para um campo de trabalho tão grande, Jesus ordenou àqueles missionários que rogassem ao Senhor da searaque mandasse trabalhadores para a Sua seara.
Este versículo denuncia o costume de muitas igrejas contratarem pastores para aumentar o quadro dos seus líderes, ou de enviarem jovens para os seminários teológicos com este mesmo fim, sem, antes, analisá-los espiritualmente. Muitas vezes esses candidatos ao ministério não tem o chamamento do Espírito Santo, e acabam-se tornando profissionais do Evangelho, porque não são enviados por Deus. Este versículo deixa muito claro que a seara tem um dono que é o seu Senhor, que ele é o responsável por ela e que é ele quem manda trabalhadores para ela. Aos trabalhadores que foram designados para a obra, cabe suplicar a Deus que mande outros cooperadores qualificados, para os auxiliarem no plantio e na colheita. O ponto central deste versículo é que o reino de Deus cresce no poder do Espírito.
O fato dos discípulos serem enviados dois a dois era para reforçar o testemunho da mensagem que eles levavam. Esta prática baseia-se em Deuteronômio 19:15, que estabelece o princípio do testemunho!!!
V. 3 – Ide. Eis que eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos.
A advertência contidaneste verso é semelhante à de Mateus 10:16. Embora, com menos palavras, ela pressupõe os mesmos riscos da missão dos doze. Eles partiam sem recursos, dependendo da hospitalidade de terceiros, mas confiando definitivamente nas providências do dono da seara (12:24). Assim como os inimigos de Jesus nunca conseguiram barrá-lO, o mesmo aconteceria com eles (cf 12:35).
V. 4 – Não leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias; e a ninguém saldeis pelo
caminho.
As instruções quanto aos cuidados das provisões materiais diferem muito pouco daquelas dadas aos doze (Mateus 10:9-15; Lucas 9:3-5). Elas consideram o tempo limitado da viagem missionária, a urgência e a necessidade do trabalho. Nada deveria atrapalhá-los ou detê-los. As bolsas eram pequenos utensílios usados para guardar dinheiro. Uma vez que o trabalho missionário não tem o propósito de arrecadar fundos, essas peças eram dispensáveis. Os alforjes eram pequenas mochilas usadas por pastores e por viajantes, para carregar provisão de roupa e de alimento. Com isto eles não deviam preocupar-se (22:35). Quanto a sandálias, não deviam levar mais do que aquelas em uso nos pés. Aos doze Ele ornara que não levassem duas túnicas (9:3). A saudação pelo caminho devia ser evitada, não por descortesia ou falta de cordialidade, mas porque elas eram muito formais e demoradas entre os judeus, dando ocasião a longas conversas e perguntas. Isto demandava muito tempo (cf II Reis 4:29).
V. 5 – Ao entrardes numa casa, dizei antes de tudo: Paz seja nesta casa!
V. 6 – Se houver ali um filho da paz, repousará sobre ele a vossa paz; se não
houver, ela voltará sobre vós.
V. 7 – Permanecei na mesma casa, comendo e bebendo do que eles tiverem;
Porque digno é o trabalhador do seu salário. Não andeis a mudar de casa
em casa.
Ao entrarem numa casa, os discípulos foram instruídos a pronunciar uma oração de bênção sobre a família, segundo o costume judaico, com as palavras: “Paz seja nesta casa”, que corresponde à tradicional expressão: “Shalom”, e devia ser pronunciada ao cruzar a soleira da porta de entrada da casa. Este já era um teste para saber se estavam sendo bem recebidos ou não. Se houvesse ali um filho da paz, isto é, se o dono da casa fosse um homem de caráter pacífico, e se ele aceitasse a oração da benção, então os discípulos deveriam permanecer ali até o dia de saírem, desfrutando da hospitalidade, porque eles eram dignos disso, devido ao trabalho que realizavam. Neste caso a benção viria sobre aquela casa. Em caso contrário, eles deveriam sair em paz, mas a benção não alcançaria aquele que os rejeitou. Os discípulos, porém, não deveriam ficar passando de casa em casa à procura de maior comodidade
V. 8 – Quando entrardes numa cidade e ali vos receberem, comei do que vos for
oferecido.
V. 9 – Curai os enfermos que nela houver, e anuncia-lhes: A vós outros está
próximo o reino de Deus.
A respeito do comportamento dos enviados em qualquer lugar em que fossem recebidos, a ordem era não recusar nenhum tipo de alimento oferecido, mas, comer de tudo. Isto está relacionado com alimentos considerados impuros pelos judeus, como Paulo observa em I Coríntios 10:27. A medida visava não causar impecílio para os de fora aceitarem o Evangelho, tendo em vista que os alimentos são recursos materiais para as necessidades físicas naturais do ser humano e, portanto, não produzem contaminação espiritual (cf Marcos 7:18-19).
Quanto ao que eles deviam oferecer aos hospedeiros era a demonstração da chegada do reino de Deus, através do poder de cura e da pregação do Evangelho (cf 4:43). A proximidade, ou a chegada do reino de Deus é o assunto fundamental da pregação de Jesus no ministério da Galiléia (Mateus 4:12-13, 17; Marcos 1:14-15; Lucas 4:14-15), no comissionamento dos doze (Lucas 9:2) e agora, no envio dos setenta.
Jesus é anunciado como introdutor e detentor do reino de Deus, tanto no Velho Testamento (Daniel 7:13-14), como também no Novo Testamento (Lucas1:32-33).
V.10 –Quando, porém, entrardes numa cidade e não vos receberem, saí pelas
ruas, e clamai:
V.11 – Até o pó da vossa cidade que se nos pegou aos pés, sacudimos contra vós
outros. Não obstante, sabei que está próximo o reino de Deus.
V.12 – Digo-vos que naquele dia haverá menos rigor para Sodoma, do que para
aquela cidade.
A instrução dada aos setenta, no caso de não serem recebidos em alguma cidade, é semelhante à dada aos doze, apenas acrescida do reforço da exortação de que o reino de Deus estava próximo. O ato de sacudirem as sandálias para remover o pó da cidade que se apegou a elas significava que eles ficavam isentos de responsabilidade do que viesse a acontecer pelo fato deles terem rejeitado a pregação e as bênçãos provenientes da chegada do reino. Apesar disso, eles deviam ser notificados de que o reino de Deus esteve ao alcance deles. O fecho deste episódio é a declaração de Jesus que a rejeição da pregação do Evangelho do reino traz consequências mais graves do que as do conhecido pecado de Sodoma (Mateus 10:15). Este é o pecado de não crer quem é Jesus (João 8:24).