sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

JESUS CONFORTA OS DISCÍPULOS E RESOLVE SUAS DÚVIDAS

                      JESUS CONFORTA OS DISCÍPULOS E RESOLVE SUAS DÚVIDAS
                                                               JOÃO 14:1-31

  Para compreender o capítulo 14 deste Evangelho é necessário penetrar na atmosfera da Paixão de Cristo. Por um lado, a aproximação da hora do Seu sofrimento deixava-O profundamente angustiado, especialmente porque isto envolvia uma traição tramada por um dos Seus discípulos (13:21; cf Lucas 12:50). Além disso, a separação daqueles Seus, a quem dedicara amor sem limite (13:1) e que agora ficariam neste mundo sujeitos a sofrimentos, perseguições e todo tipo de ataque maligno (cf 17:14–15), constrangia-Lhe fortemente a alma.
  Também é necessário entender a situação dos discípulos entristecidos com a notícia da separação imediata (13:35–36b) cuja necessidade e motivo eles não compreendiam. Além do mais, o fato deles não entenderem o significado das palavras de Jesus deixava-os afastados da realidade dos fatos.
  A partir do V.36 do capitulo 13, Jesus passa a confortar os discípulos com a notícia da separação que devia acontecer brevemente, quando Ele voltasse ao Pai (V.33). Ao mesmo tempo Ele explica o motivo da Sua volta e esclarece dúvidas que eles tinham por não compreenderem o sentido das Suas palavras.

V.1 - Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim.
V.2 - Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria
        dito. Pois vou preparar-vos lugar.
V.3 - E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim
        mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também.

         A notícia de Jesus aos discípulos, que Ele voltaria para o Pai e os deixaria em breve, transtornou a mente daqueles homens a tal ponto que, podemos dizer, eles imaginaram que o seu mundo desabaria, e que suas vidas ficariam vazias e sem sentido. Por isso Jesus interveio com palavras de conforto, dizendo que Ele ia preparar lugar para eles, mas depois ia voltar e levá-los para estarem sempre com Ele. Disto, eles deviam estar certos, porque eles criam em Deus e deviam crer n’Ele também, assim como em Sua promessa: “Na casa de meu Pai há muitas moradas...vou preparar-vos lugar”. A palavra traduzida aqui no V.2 por “morada” como também no V.23 é “monë” do Grego, que exprime o ato de permanecer ali, o fato de habitar ali, e não o local em si. A palavra “monë” provém do verbo grego “menö” que significa permanecer, habitar, hospedar-se etc.
           O que Jesus está dizendo é que a Sua volta para o Pai, que ocorrerá após a Sua morte, ressureição, ascensão, e glorificação no céu ao lado de Deus, é que vai dar condições d’Ele vir com o Pai, para fazer morada naqueles que O amam e guardam a Sua Palavra (V.23; cf Salmo 68:18). Mas isto não exclui a ideia de que estaremos para sempre com Ele, na sua volta, para habitar nos tabernáculos eternos (cf Lucas 16:9; I Tessalonicenses 4:17).

V.4 - E vós sabeis o caminho para onde eu vou.
V.5 - Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; como saber o  
        caminho?
V.6 - Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém
        vem ao Pai senão por mim.

         Durante o Seu ministério, várias vezes Jesus deu a entender que veio de Deus e voltava para Deus (6:62; 7:33-34; 8:21-23). Mas os discípulos não entendiam a sua linguagem (cf Marcos 9:30-32; Lucas 9:44-45). Entre eles havia um que era homem honesto em suas crenças e rigoroso para aceitar ideias e linguagem figurada. Era Tomé. Ele não ficou satisfeito com a notícia dos outros apóstolos, de que tinham visto Jesus ressuscitado. Foi preciso ele ver e apalpar as Suas feridas para crer (João 20:24-29). Muito menos, eles entendiam que o caminho que Jesus trilhava era o caminho da cruz (cf Mateus 16:21).
          Tomé não teve receio de expor as suas dúvidas e a sua incapacidade de compreender as palavras de Jesus, quando disse: “Senhor, não sabemos para onde vais; como saber o caminho?” isto deu a Jesus a oportunidade de ensinar uma das maiores verdades do evangelho, que até hoje as crianças aprendem desde bem cedo nas escolas dominicais. Ele disse: “Eu sou o caminho e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai se não por mim”.
          Nesta afirmação Jesus reúne três dos principais conceitos da fé do Velho Testamento, que se cumprem totalmente na Sua pessoa. Primeiro,
“o caminho”, é bem explicado como o modo de se conduzir diante de Deus, em Deuteronômio 5: 32-33 ;31:29 ; Isaias 30:21 ; 35:8. O único meio de chegar a Deus é ouvindo e obedecendo aos ensinos de Cristo e seguindo o Seu exemplo. Ele indica, não somente o caminho. Ele vai à frente, porque Ele é O Caminho. Segundo, “a verdade”. O ideal dos justos do Velho Testamento era conhecer a verdade de Deus para pratica-la (cf Salmo 86: 11; 26: 3; 31:5; 25:5). É possível um moralista pregar a moral e viver na imoralidade. É possível um político falar contra a corrupção e ser corrupto. Todo esse paradoxo reside no fato destes apregoadores não viverem de acordo com o que eles apregoam. Mas a palavra deles não é bem recebida. Com Jesus, porém, não é assim. Ele é a própria encarnação da verdade (1:14,17). Terceiro, Jesus disse: “eu sou...a vida”.
             Os ensinos mais ricos e mais completos a respeito da “vida” encontram-se neste Evangelho de João, em que este conceito recebe o maior destaque. O autor afirma que escreveu este Evangelho “... para que... tenhais vida...” (20: 31). Jesus mesmo afirma: “...eu vim para que tenham vida e a tenham em abundancia” (10:10b). Os ensinos sobre o conceito de vida neste Evangelho não difere dos Sinóticos, mas apenas os complementam e completam o que Jesus falou sobre este assunto.
              O uso da palavra “vida” não é tão variado, concentrando-se em uma pessoa. Em poucos casos refere-se somente ao princípio vital que dá vida, ou que produz um período de vida (10:11,15-18; 13:17; 15:13). Também representa Jesus, o Verbo (Logos), como origem e meio de toda vida para o mundo. Como o Verbo pré-encarnado, Ele era a fonte de vida para o universo (1:4). Como Verbo encarnado, Ele disse que Sua vida tinha sido dada pelo Pai que tem vida em Si mesmo (5:26; 6:57; 10:18). Portanto Ele é o mediador da vida para o homem (3:15, 16; 4:14; 5:21, 39-40; 17:2); e este é o proposito pelo qual Ele veio a este mundo (6:33–35, 51; 10:10b). Entretanto, a ideia prevalecente é a referente ás atividades que agora são a expressão da comunhão com Deus e Jesus Cristo. Este tipo de relacionamento é que se chama “vida eterna”. O caminho mais curto para se chegar ao conceito de “vida eterna” é por meio de João 17:3. Não é uma definição metafisica ou filosófica, mas revela o conceito de Jesus de “vida eterna”, que é mais valioso do que qualquer definição formal. É conhecer o Deus verdadeiro e Jesus Cristo que Ele enviou.
Tal conhecimento de Deus está longe de ser simplesmente intelectual, via mental. É moral, por aproximação pessoal, comunhão de ideias e propósitos, contato de pessoa com pessoa. É a redução total da personalidade humana ao correto relacionamento com a personalidade de Deus. É o mais elevado dom e privilégio que o ser humano pode receber, isto é, de ter a vida e a natureza divinas em si mesmo (II Pedro 1:1-11). Ela é obtida pela participação pessoal das qualidades pertencentes a Jesus (cf 6:53 – não confundir com participar da ceia do Senhor). Esta vida de qualidade divina é dom de Deus, concedido no presente, mas tem um glorioso desdobramento no futuro. No presente, veja 4:10; 5:24,40. No futuro, veja 5:29a; 6:40,54.
João não dá tanta ênfase ao ensino escatológico da vida e eterna, como ele o faz quanto a tomar posse dela aqui, agora, na vida presente (cf Romanos 6:22-23b).
A resposta de Jesus no V.6 à pergunta de Tomé é uma negação terminante a toda argumentação de pensadores e de religiões que propõem caminhos alternativos para se chegar a Deus.

V.7 - Se vós me tivésseis conhecido, conheceríeis também a meu Pai. Desde
         agora o conheceis e o tendes visto.
V.8 - Replicou-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta.
V.9 - Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens
        conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?
V.10 - Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu
          vos digo não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim,
          faz as suas obras.
V.11 - Crede-me que estou no Pai, e o Pai, em mim; crede ao menos por causa
          das mesmas obras.

Os discípulos acabaram de ter a confirmação dada por Jesus de que eles já conheciam o Pai e que já O tinham visto. Portanto eles sabiam também o caminho. Mas aquele conhecimento indireto feito por meio de Jesus, o mediador, não era o que Filipe desejava. Ele queria algo mais concreto, como foi a visão que tiveram Moisés, Arão, Nadabe e Abiú e os setenta anciãos do povo de Israel, quando subiram ao monte, no dia da confirmação da aliança (Êxodo 24:10) ou talvez como a visão de Isaias no Templo (Isaias 6:1). Tal pedido de satisfazer um desejo sensorial não fazia o menor sentido para quem havia convivido tanto tempo com o Mestre, observando tudo o que Ele fazia, e ouvindo tudo o que Ele falava. Por isso Jesus lhe explicou que Ele era o próprio Pai, falando a eles e fazendo as Suas obras por meio d’Ele. Portanto, quem via a Ele, via o Pai.
O fundamental nesta resposta de Jesus era que Filipe e os demais apóstolos deviam ter esta fé que Ele estava no Pai e de que o Pai estava n’Ele, num tipo de comunhão tão intima e constante, chamada “permanência”, sem o que não seria possível o Filho realizar as obras do Pai.

V.12 - Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará
          também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para
          junto do Pai.
V.13 - E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja
          glorificado no Filho.
V.14 - Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei.
V.15 - Se me amais, guardareis os meus mandamentos.

Mas isto não para aí. Aqueles apóstolos tinham sido escolhidos para dar continuidade ao ministério de Jesus. O Mestre, então, adiantou categoricamente; “em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fara também as obras que eu faço, e outras maiores fara, porque eu vou para o Pai”. O fundamental para a obra dos apóstolos era aquela fé em Jesus e em Deus, os levasse a uma comunhão íntima e constante, descrita como “permanente”, para que eles pudessem cumprir o seu ministério. A verdade é que isto aconteceu porque o Evangelho chegou aos quatro cantos da Terra até os dias de hoje, depois de ter-se expandido além da Palestina, do mundo greco-romano, da Europa, das Américas etc, cumprindo a “grande comissão” (cf Mateus 28:19-20; Marcos 16:15-16; Lucas 24:46-49). Lembrem-se de que esta obra de evangelização e doutrinamento foi acompanhada de muitos milagres, como se pode ver no livro de Atos dos Apóstolos. Assim, a promessa de Jesus produziu forte estimulo neles, porque foi grandemente testemunhada por sinais e por grande número de conversões (Atos 2:41; 3;6-10; 4:1-4; 5:12-16; 6:7; 8:4-8; 19:10-12).
Quando Jesus deixou os discípulos e voltou para o Pai para ser glorificado, Ele deixou neste mundo um grupo de discípulos que representa o Seu corpo glorificado, não mais limitado ao corpo físico no qual Ele estava encarnado, e nem confinado ao território da Palestina em que Ele viveu nesta Terra, mas agora é um corpo universal sem fronteiras, cuja vida e poder provêm do Espirito Santo (Lucas 24: 45-49; Atos 1: 8; 2: 33; cf. João 14:19).
No V.13 Jesus fala de orações feitas a Deus em Seu nome (nome do Filho) e promete que Ele (o Filho) atende, para que o Pai seja glorificado no Filho. O que é uma oração feita em nome de Jesus? É uma oração feita em lugar d’Ele, como se fosse Ele mesmo pedindo a Deus. Isto significa que essa oração deve enquadra-se perfeitamente no proposito, no interesse e na vontade de Jesus, que são os mesmos do Pai. Interesses pessoais ou de grupos, que não condizem com o plano de Deus e do Seu reino estão excluídos. As orações da igreja feitas corretamente, segundo as necessidades do reino glorificam a Deus e são atendidas.
O mesmo acontece com pedidos feitos diretamente a Jesus, em nome d’Ele. Portanto, é necessário ter discernimento quanto ao que pedir, para que Jesus nos atenda, e para que Deus seja glorificado nos nossos pedidos. É bom lembrar que, atendendo ao propósito de Deus, “...Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores...’ (I Timóteo 1:15) e que nesta Terra o Filho glorificou o Pai, consumando a obra que lhe foi confiada para fazer e, por isso, o Pai O glorificou com a glória que Ele tinha junto ao Pai, antes que houvesse mundo (Joao 17:4-5).
No seu Evangelho, João enfatiza que o amor a Deus resume-se na obediência aos Seus mandamentos. Jesus amava a Deus, a ponto de dar a vida pelas suas ovelhas, em obediência ao propósito do Pai. Por isso também, o Pai o ama (Joao 10:11,17). No Seu batismo ouviu-se uma voz do céu, dizendo: “Tu és o meu filho amando, em ti me comprazo” (Mateus 3:17; Marcos 1:112; Lucas 3:22). Novamente, na transfiguração, uma voz que saiu da nuvem dizia: “Este é o meu Filho amado, o meu eleito, em quem me comprazo; a ele ouvi” (Mateus 17:5; Marcos 9:7; Lucas 9:35).
No V.15 Jesus está falando aos discípulos de amor, não do tipo de sentimento emocional, mas de uma relação de caráter moral que se resume em obediência. Isto significa que, para terem sucesso no ministério, os discípulos deviam guardar o correto relacionamento com Ele, através da obediência aos Seus mandamentos. Isto significa que deviam amá-lO (cf 15:8-13).

V.16 - E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja
          para sempre convosco,
V.17 - o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê,
          nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em
          vós.

Na condição de tristeza, de incerteza do futuro, e sem compreender as palavras e o plano do Mestre, Jesus intervém com uma promessa para fortalecer os discípulos, de modo que eles pudessem enfrentar futuras dificuldades, sabendo que seriam assistidos por um Personagem muito especial que Ele chamou “Paraklëtos”, aqui traduzido por “Consolador”. Mas a palavra grega tem uma grande riqueza de significados que abrange o conceito de auxiliador, alguém chamado para ser testemunha em tribunais, advogado contratado para defender o acusado em uma causa grave, ou um perito chamado para dar conselho sobre uma causa difícil de resolver. Podia também ser uma forte personalidade que pudesse levantar os ânimos de um batalhão desanimado, para prosseguir na batalha, como fazem os psicólogos com alguns atletas, quando caem em depressão.
Esse Consolador é identificado com o Espirito, que o Pai concederia por interseção do Filho. Jesus promete: “...afim de que esteja sempre convosco”. Jesus afirma que o mundo não pode rebê-lO, “porque não o vê nem o conhece”. Entretanto eles O conheciam porque “permanecia ao lado deles” e logo “estaria neles”. Isto se refere ao Espirito Santo que estava em Jesus desde o Seu batismo, e que viria para habitar neles (cf 20: 21-22; Atos 2:1-4). Então o Espirito Santo, que é o Espirito de Cristo, continuará o seu desempenho irreconhecível e incompreensível para o mundo, do mesmo modo que Jesus os assistiu durante todo o tempo do Seu ministério com eles na Terra.

V.18 - Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros.
V.19 - Ainda por um pouco, e o mundo não me verá mais; vós, porém, me
          vereis; porque eu vivo, vós também vivereis.
V.20 - Naquele dia, vós conhecereis que eu estou em meu Pai, e vós, em mim, e
          eu, em vós.
V.21 - Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama;
          e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e
          me manifestarei a ele.

  Antes que Jesus voltasse ao Pai e outro consolador fosse enviado para substituí-lO no coração dos discípulos, Ele afirma que não os deixaria abandonados como órfãos, mas eles O veriam em pouco tempo (na glória da Sua ressureição), conforme V.19. Isto lhes daria a segurança de que eles não estavam sozinhos, à mercê deste mundo perverso, mas participariam da Sua vida ressurreta, porque Ele vive, eles também viveriam. Naquele dia eles haverão de reconhecer a realidade da íntima comunhão d’Ele com o Pai e deles com o Mestre e do Mestre com eles (V.20), como eles puderam observar durante a vida em comum que tiveram durante o Seu ministério. Mas Jesus assegura que se manifestará a todo aquele que tem os seus mandamentos e os guarda, isto é, que O ama. Este será amado pelo Pai e Jesus o amará, e se manifestará a ele (V.21).

V.22 - Disse-lhe Judas, não o Iscariotes: Donde procede, Senhor, que estás para
          manifestar-te a nós e não ao mundo?
V.23 - Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu
          Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada.
V.24 - Quem não me ama não guarda as minhas palavras; e a palavra que estais
          ouvindo não é minha, mas do Pai, que me enviou.

Judas, não o Iscariotes, entendeu que, restringindo a sua manifestação apenas aos que creem, Jesus estava restringindo o Seu poder, que devia ser manifestado a todo mundo. Ele pede explicação por que tinha que ser assim. A resposta de Jesus, em paráfrase é: “quem recebe a minha palavra e obedece é o que me ama e meu Pai o amara porque a palavra que eu falo é d’Ele. Este é o coração em que nós fazemos morada. Mas o coração daquele que não recebe e não obedece a minha palavra, porque não me ama, nesse não podemos habitar” (Lucas 16: 31).

V.25 - Isto vos tenho dito, estando ainda convosco;
V.26 - mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos              ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito.
V.27 - Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se                turbe o vosso coração, nem se atemorize.
V.28 - Ouvistes que eu vos disse: vou e volto para junto de vós. Se me amásseis, alegrar-              vos-íeis de que eu vá para o Pai, pois o Pai é maior do que eu.
V.29 - Disse-vos agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós creiais.
V.30 - Já não falarei muito convosco, porque aí vem o príncipe do mundo; e ele nada tem                em mim;
V.31 - contudo, assim procedo para que o mundo saiba que eu amo o Pai e que faço como            o Pai me ordenou.Levantai-vos, vamo-nos daqui.

Apesar da presente apreensão de Judas, a ressureição de Jesus removeria do pensamento dos discípulos os sentimentos de aflição e de timidez que a separação causada pela crucificação provocaria, e, sob a inspiração e iluminação do Consolador as palavras faladas por Jesus enquanto estava com eles na Terra, seriam lembradas e se tornariam claras, com um significado autentico, não imaginado até agora (V.26; cf 2: 22; Lucas 24: 44-49; Atos 2: 14-36).
A existência do Evangelho de Joao e de todo o Novo Testamento não teria sido possível se não fosse esta operação do Espirito Santo. Os discípulos imaginavam, até aquele momento, que Jesus os deixaria confusos e angustiados com a Sua partida, e sem proteção no meio de um mundo perverso. Mas Ele os deixou com uma dádiva que o mundo nunca lhes poderia oferecer. É a Sua paz (V.27), bem diferente daquela que o mundo procura, como confiança em bens materiais, na prosperidade financeira, na despreocupação dos problemas e cuidados da vida, nas comodidades, na ausência de brigas e de guerras etc. A paz de Jesus é aquela da qual Ele mesmo desfrutou: Ele nunca deixou de dar atenção à vontade do Pai, de obedecer-lhe, nem de aceitar o cálice do Seu sofrimento, até suportar a morte a favor do pecador. A Sua vida de vitória sobre todo tipo de tentação para desviá-lO do Seu caminho, o Seu desprezo a todo tipo de seguridade temporal e esperança terrena, na recusa de acostumar-se a viver a seu modo, levou-O a conhecer a paz divina de tranquilidade interior, que nenhum desarranjo físico ou mental pode destruir. Baseado no Seu próprio exemplo de paz, Ele disse que os discípulos não deviam deixar que seus corações se inquietassem ou se atemorizassem. Antes eles deviam aceitar pacificamente  o sacrifício que Ele fazia a favor deles. Eles já tinham deixado o mundo para trás, e deviam prosseguir seguindo Jesus ( Mateus 19:27).
O V.29 esclarece que Jesus prediz os acontecimentos sobre a Sua morte, ressurreição e ascenção, para que os discípulos fossem confirmados e fortalecidos na fé pelas evidencias que Ele deu de que Ele veio de Deus.
A hora da Sua morte estava próxima e ocorreria no dia seguinte. Ele não tinha mais tempo para falar aos discípulos, porque o inimigo estava chegando, mas Ele não tinha nada a reivindicar em Jesus, por isso Ele não temia a sua chegada. Pelo contrario, Ele estava disposto a enfrenta-lo.  Lucas fala dos frequentes ataques do inimigo, até a hora da Sua prisão (Lucas 4:13; 22; 47-48, 53; cf. João 18: 3-12).
Jesus entregou-se espontaneamente, sem nenhuma resistência, porque esta era a vontade do Pai (cf. 10: 11, 17-18). Quando Ele disse aos discípulos:  “Levantai-vos, vamo-nos daqui”, não significa que Ele chamou os discípulos para saírem do senáculo e dirigirem-se o Monte Das Oliveiras. Isto aconteceu ainda depois d’Ele ter falado o que João registra nos capítulos 15,16 e 17 (cf. 18:1), cousas que os Sinóticos não registram (cf. Mateus 26: 30; Marcos 14: 26).
A expressão “Levantai-vos, vamo-nos daqui” exprime a Sua intrepidez e a Sua resolução de dar cumprimento ao propósito de Deus, porque havia chegado a Sua hora.